Contrast é um jogo que poderia ser excelente e que tem tudo, ou quase tudo, para o ser. Uma boa história, uma mecânica de jogo interessante, bons actores de voz, excelente design artístico e banda sonora, em suma aquilo que se quer de um bom jogo, neste caso uma mistura de aventura e plataformas. No entanto não chega lá.

Neste jogo encarnamos uma espécie de amiga imaginária de uma criança que vive um pouco negligenciada, a mãe é cantora em bares à noite, o pai está na prisão, não tem grandes amigos, e então toma como amiga imaginária um ser acrobático (o jogador) que pode entrar e sair das sombras de forma a resolver puzzles de plataformas que vão ficando mais complexos ao longo do jogo. Se juntarmos a esta mecânica interessante de jogo (que lembra um pouco uma mistura do Fez com o Limbo) a um excelente design artístico a fazer lembrar os jogos da Double Fine – como Psychonauts, por exemplo – aliado a uma atmosfera anos 20/30 em Paris, temos um jogo que é artisticamente um sucesso.

No entanto, um jogo não vive só das ideias e arte, e Contrast falha num grande número de elementos mais técnicos. Em primeiro lugar o jogo é curtíssimo. Ao fim de uma hora reparámos que já tínhamos grande parte dos collectibles o que não prometia um jogo lento, de facto ninguém deve demorar muito mais do que duas ou três horas para concluir o jogo, dependendo da capacidade de cada um para resolver os puzzles que são maioritariamente fáceis.

Outro problema, que acaba por tornar o jogo mais longo pelas piores razões possíveis, é o facto de o jogador ficar frequentemente preso na geometria do jogo. Se um jogador salta para o sítio errado é possível ficar a pairar entre o tecto e uma plataforma sem qualquer maneira de sair, exigindo um re-load a partir do último save. Isto por vezes não é grave, mas quando se acabou de passar uma sequência chata de plataformas torna-se bastante frustrante. Frustrante também é a má capacidade de resposta do boneco aos comandos que lhe são dados. Tentamos saltar para a esquerda e o boneco decide frequentemente saltar para a direita ou em direcção ao ecrã, por exemplo, isto em jogos de plataformas dá aquela sensação de atirar com o comando contra a televisão (no caso de consolas) ou fazer Alt+Tab e ver filmes de gatinhos no Youtube para acalmar (no caso PC). Para além de tudo isto, o movimento parece pouco sólido, estamos sempre um pouco a pairar, falta corpo à personagem.

É-me difícil recomendar a compra deste jogo então, se tiverem a oportunidade de o jogar emprestado força nisso, agora 15 dólares é demasiado para um jogo que por muito bonito, e cativante que seja, falha no essencial de proporcionar uma experiência satisfatória ao jogador ao nível de gameplay e até de própria duração do jogo, que se não se alongasse em problemas técnicos demoraria ainda menos tempo a acabar.

Publicidade - Continue a ler a seguir