A semana passada publicámos uma review do Fables: Wolf Among Us, que fala um bocadinho da história das aventuras gráficas e do facto de elas parecerem estar de volta em grande nos últimos tempos. Esta moda, que é de louvar, chegou também à produção nacional de jogos com o Inspector Zé e Robot Palhaço.

A primeira coisa que se nota assim que se começa a jogar esta aventura é que o factor nostalgia está aqui em grande, particularmente nostalgia pelos jogos da LucasArts do início dos anos 90, e ainda mais particularmente o Sam & Max Hit the Road de 1993. As parecenças com este jogo são várias: duas personagens, uma mais séria com um sentido de humor mais inteligente, detective de chapéu (Inspector Zé, Sam) e outra mais surreal, sem filtro, com um sentido de humor mais “screwball”, que serve de sidekick (Robot Palhaço, Max); a estética pixelizada 2-D, própria dos jogos da altura, e a base humorística aliada à investigação de crimes. Isto não é necessariamente um ponto negativo do jogo, mas insere-o definitivamente num género de uma forma que me parece intencional da parte dos criadores; afinal de contas, os jogos Sam & Max foram grandes jogos, e se este for pelo mesmo caminho temos sucesso garantido.

Outras coisas que saltam logo à vista e aos ouvidos são o excelente design das personagens, no estilo muito próprio e automaticamente reconhecível do Nuno Saraiva, e uma óptima banda sonora que acompanha o jogo. Só por estas duas coisas já vale a pena jogar este jogo. A escrita dos diálogos das personagens está também com bastante piada, o que incentiva a continuar a jogar nem que seja para ver o que vai ser dito a seguir.

O gameplay é interessante também, misturando o “point and click” tradicional com uma mecânica de interrogação das personagens que lembra o sistema do L.A. Noire, uma espécie de minijogo em que se tenta apanhar as personagens em mentiras através das respostas anteriores.

Tendo estabelecido então que é um jogo que vale a pena jogar, e muito embora não queiramos senão incentivar a produção de mais jogos nacionais deste género, não podemos deixar de apontar algumas falhas, que felizmente são coisas algo pequenas e fáceis de resolver em futuras aventuras desta nova casa de produção, a Nerd Monkeys. Tivemos oportunidade de jogar tanto a versão em Português como em Inglês, e sem dúvida que a versão Portuguesa é vastamente superior, e isto por duas razões: primeiro, porque muito do humor depende de expressões idiomáticas e trocadilhos, sendo este um problema de difícil resolução, mas também porque a tradução para Inglês não é perfeita, com alguns erros que tornam o jogo em Inglês menos fluido e um bocadinho “awkward”. Tendo em conta que claramente há uma intenção da Nerd Monkeys para uma internacionalização do jogo, este é um aspecto a que deve ser dada maior atenção em jogos posteriores.

Outro problema tem a ver com a pixelização do jogo – enquanto isto nos remete para os jogos do final dos anos 80 e inícios de 90, existem algumas inovações gráficas que não funcionam tão bem com esta escolha estética. Os títulos de novos capítulos, por exemplo, que aparecem em texto flutuante como separadores são por vezes de difícil leitura; estes títulos não eram algo presente da mesma forma nos jogos antigos e não funcionam a 100% com a estética nostálgica do jogo. Encontrámos também alguns problemas técnicos na versão PC que impediram que o jogo voltasse a ser jogado depois da primeira sessão, informando-nos que os ficheiros tinham sido alterados e não permitindo a resolução desse problema, mesmo com re-instalação do jogo, sem que os ficheiros tivessem sido alterados pelo utilizador.  A versão jogada era uma Review Copy, pelo que esperamos que a versão para os jogadores que comprem o jogo não tenha este problema.

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Dito isto, é no entanto um jogo recomendável para fãs de aventuras gráficas, e para aqueles nostálgicos pelos jogos “point and click” da LucasArts. Acima de tudo, é um jogo que vale a pena comprar de forma a fomentar mais e melhores produções pela Nerd Monkeys, uma pequena editora independente que tem potencial para ir mais longe, e esse potencial só poderá ser concretizado se nós, os jogadores, lhes dermos o nosso apoio.