Murdered: Soul Suspect foi daqueles jogos que passou por entre os pingos da chuva, sem se dar por ele desde que suscitou a curiosidade de vários meios que fizeram a cobertura da E3 do ano passado. Foi através de uma mão cheia de trailers que fomos conhecendo a estória de Ronan O’Connor, um detective com vários excessos tatuados no seu corpo como culpa ou redenção, que é assasinado e que fica a meio do caminho, entre a vida e a morte. Basicamente Ronan não consegue passar para o outro lado porque tem algo para resolver antes de o fazer. Lembra-se da série “Ghost Whisperer”? Com a Jennifer Love Hewitt, a única coisa interessante da série? Pronto, o conceito é o mesmo, só que em vez de um cenário, Donas de Casa Desesperadas é mais “Buffy”. Não teremos vampiros, mas sim demónios, almas que não conseguiram passar para o outro lado e que têm o único próposito devorar aqueles que não fizeram o mesmo. Estes serão os principais inimigos que iremos encontrar ao longo do jogo, demónios que apenas podemos vencer se os apanharmos pelas costas, libertando as antigas almas que viviam dentro deles, através de um Quick Time Event. No entanto se formos apanhados não podemos fazer mais nada a não ser fugir por entre nuvens de partículas de outras almas ou possuir humanos que encontremos nas redondezas. Se formos óbvios vamos levar um berro assustador e teremos que continuar a fugir.

Mas o mais importante de Murdered: Soul Suspect não é esta mecânica ou os seus inimigos, posso dizer que o mais importante, até certa altura, é o mistério que este assasinato produz em nós, aquele efeito do “mas porque raio? Isto não faz muito sentido…”, ambiente que geralmente encontramos em jogos como Broken Sword ou mais recentemente em Wolf Among Us, misturado com as séries de CSI; mas também podemos possuir um gato. Sim possuir um gato é de facto um dos pontos altos do jogo, para além de nos dar uma perspectiva totalmente diferente, dá-nos o controlo físico do mundo pelo qual vagueamos. E podemos fazer miawww e chatear pessoas, e ir para cima das mesas de jantar e etc. Apesar de podermos possuir também pessoas, não exercemos o mesmo controlo nelas, podemos ler as suas mentes, ouvir o que elas ouvem ou influenciá-los a fazer algo.

Com esta estrutura de possuir, investigar objectos, co-relacionar factos por entre cut scenes, fazer perguntas pré programadas, andar de cenário em cenário e fugir a demónios, o jogo peca pela mecânica e desenvolvimento acentar sempre neste mesmo conceito. Investigamos uma área, chegamos a uma conclusão, vamos para outra e assim sucessivamente. Não é que se torne chato com muita facilidade, mas não é empolgante e não é inovador. A estória vai nos dando o gás suficiente para nos levar ao fim do jogo e ficar a perceber toda a trama, mas sem ofegarmos para a descobrir e passar rapidamente os níveis para saber a verdade.

Graficamente e depois de Watch Dogs, fiquei surpreendido por aquilo que a Square Enix e a Airtight Games conseguiram alcançar, com o Unreal Engine a servir de motor do jogo, as texturas estão boas, os efeitos, especialmente ao passar por entre paredes, escondermo-nos nas nuvens de partículas, os demónios a desfazerem-se quando derrotados estão muito bem conseguidos e ao nível do melhor que temos visto na PS4, mais uma vez o processamento de partículas a surpreender. Os movimentos estão fluídos, o efeito de corrermos com um toque de blur agradou-me, não sendo incrivelmente belo, não desilude e não compromete, com as cut scenes, que são bastantes, como ponto alto a nível de grafismo.

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Murdered: Soul Suspect não é um mau jogo, de longe, aquilo que nos dá é apenas uma experiência “porreira” de detective a desvendar um crime, numa perspectiva mais negra e sombria e sensorial, mais do que física, e esse é o seu melhor momento, mas não é um jogo inovador e arrebatador. Será um jogo que daqui a anos poderá ser visto como um Alone in The Dark, no mesmo segmento, mas se tivesse num restaurante diria “come-se”…