Desde sempre o que nos fascinou nos videojogos foi o facto de sermos sobre-humanos, de podermos morrer e voltar a viver, de construir e reconstruir todo um novo mundo que não o real. Viver num videojogo é muito mais fácil que na vida real, transformar e mudar o mundo é possível e por isso mesmo quase todos nós gostamos de jogar, de viajar para um mundo alternativo ao da realidade. Desde cedo foram criados mundos alternativos para nós, gamers e não só, podermos expandir o nosso pequeno universo, montar e desmontar, criar e destruir. O Sim City e o Sims são exemplos claros de como todos nós, ou quase todos, adoramos fazer de Deus, adoramos criar personagens e não chorar com a sua morte, criar cataclismas, monstros destruidores de populações inteiras para depois voltar a construir tudo de novo. Ora bem, o Scribblenauts Unlimited é isso tudo outra vez, vamos fazer de Deus tendo apenas de saber escrever o léxico correcto. E é tão bom fazer de Deus.

Na verdade não somos bem, bem Deus, somos um rapazito chamado Maxwell cujos pais nos deram um livro todo porreiro onde todas as palavras que escrevemos se tornam ou objectos ou adjectivos.

Tudo vai bem, ou melhor, não vai nada bem pois este presente maravilhoso tornou-nos numa criança mimada. Ora quando resolvemos ser mais uma vez mimados e parvos e “criamos” uma maçã estragada para dar a um pedinte tudo fica ainda pior… O pedinte não ficou nada contente e lança um feitiço na nossa irmã Lili que devagarinho se vai transformando em pedra… tudo porque não usámos os nossos poderes de semi-deus para o bem. Lição de moral: tens poderes, tens de os usar para o bem dos outros. Singela premissa para um jogo bem simpático para crianças e não só. Agora o nosso personagem, o Maxwell, tem de fazer uma série de boas acções a fim de recolher as “Starites” suficientes para quebrar o feitiço e fazer com que a Lili volte ao normal. O gameplay não é diferente dos demais Scribblenauts o que torna a tarefa de sermos “Deus” simples. Apenas temos de usar uma tonelada de imaginação e ter um bom sentido de humor para quando as coisas não correm como gostaríamos (pois caso uma das peças fulcrais do nível seja destruída é preciso voltar ao início).

E vamos passeando por diferentes mundos com o nosso personagem Maxwell, ou com os outros irmãos do Maxwell – pois à medida que vamos andando vamos desbloqueando os inúmeros irmãos de Maxwell e de Lili. Sempre com o objectivo de fazer boas acções e de ajudar toda a gente que está metida em sarilhos vamos navegando por diferentes mundos, todos com muito sentido de humor. Há sangue, há monstros, há vampiros e caveiras, há incendiários e há, claro: dinossauros!

O jogo da 5th Cell é muito interessante e tem muito humor, é aliás, muito necessário sentido de humor e imaginação para passar os níveis, pois muitos dos objectos que temos de criar são realmente tolos e requerem uma lógica “tola” para lá chegar. Mas a parte realmente interessante é a parte “aberta” do jogo. Não é necessário escrever/criar certo e determinado objecto para fazer a boa acção que nos faz avançar no nível, é preciso criar “algo” que provoque a reacção que queremos e isso faz com que o jogo seja bastante acessível e que principalmente nos dê espaço de manobra para criar objectos/animais/pessoas que embora não façam qualquer sentido estarem ali, de repente estão.

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Adorei poder criar do nada um psiquiatra ou um terapeuta para “curar” um incendiário, criar monstros parvos para fazer um festa com mais outros dois monstros que por ali andavam, ou apenas mudar a personalidade do meu “evil twin” escrevendo apenas o adjectivo “nice”. E de repente é isto o que temos nas mãos: um mundo onde atravessamos várias terras com mil e um personagens diferentes com as quais podemos interagir e mudar a sua personalidade (sim basta escrever o adjectivo evil numa personagem qualquer para a dita começar a distribuir fruta como se não houvesse amanhã), criar objectos sem querer e de repente ter um castelo medieval no meio do cenário, monstros verdes que não são nada simpáticos mas que nos fazem rir.

O jogo em si não é muito longo, mas é o suficiente para nos fazer perder umas boas horas a fazer de deus num universo 2D com bonecos simpáticos e com uma história divertida. Não é um jogo directo e linear pois obriga-nos a pensar um pouco fora da caixa, e isso é muito bom. Diverte e faz-nos dar umas pequenitas gargalhadas quando estamos sozinhos, principalmente quando criamos qualquer coisa (como um fogo ou um monstro) que inadvertidamente põe todos os personagens a correr que nem loucos (é tão bom lançar o caos num mundo imaginário).

O Scribblenauts é isto tudo o que foi dito em cima: é um jogo para pessoas com mente aberta e que gostam de fazer boas acções, mas é também um jogo para o nosso “evil twin” que adora lançar o caos e que adora destruir para, neste caso… repetir o nível desde o início.