Developer: FromSoftware
Plataforma: PlayStation 5, PlayStation 4, Xbox Series X|S, Xbox One, PC
Data de Lançamento: 25 de fevereiro de 2022
Quem havia de dizer que uma frase de Fernando Pessoa conseguia personificar tão bem um videojogo? E a frase é fácil de adivinhar: “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.” do livro a Mensagem. Elden Ring não é um mero videojogo, e diria que é o melhor trabalho de sempre de Hidetaka Miyazaki. Quase como algo iniciado em 2009 com Demon’s Souls, toda a franquia Dark Souls, Bloodborne e Sekiro para acabar nesta obra prima.
Não significa que por achar que o jogo é uma obra prima, que este não continue a ter alguns bugs extremamente irritantes, e continua a ter, desde nos acertarem por paredes, a outros pequenos problemas bem conhecidos dos Souls de Miyazaki. Mas a verdade é que o jogo está simplesmente brilhante. Quando o comecei a jogar estava bastante relutante, até porque existem tantas críticas positivas e o jogo chega à mão dos jogadores cheios de problemas como foi o caso no PC e na Xbox, onde os jogadores nem aos servidores se conseguiam ligar. É muito mau sinal.
Felizmente, esses problemas já se encontram na sua maioria resolvidos, e os jogadores já conseguem desfrutar desta obra. Elden Ring consegue oferecer uma grande mistura de todas as franquias de Miyazaki, adicionando-lhe o open world e a exploração como nunca se tinha visto num jogo deste género. Mas calma, isto não é um The Legend of Zelda: Breath of the Wild – como já vi por aí escrito – aqui a exploração não é assim tão abundante, nem tem a liberdade como no exclusivo da Nintendo. Até porque Link consegue escalar, tem um parapente, entre outros pormenores que Elden Ring não consegue chegar. Mas também não era esse o objectivo.
Seja como for, o que foi introduzido no jogo oferece ao jogador algo extremamente competente e acima de tudo viciante. Começando pela história, que continua a ser um dos pontos fracos dos jogos de Miyazaki, e a explicação disso, é que a história não é oferecida ao jogador, são vocês que têm de explorar cada cantinho do mapa para encontrar os NPC’s que vos vão contando pedacinhos da história do jogo, e depois vocês terão de a montar como se de um puzzle se tratasse. Provavelmente há quem goste deste tipo de narrativa, no entanto, no meu caso pessoal, quando pego num jogo, gosto mesmo de ter uma base forte e aliciante que me faça progredir, e no caso de Elden Ring, isso não acontece.
O jogo começa com uma incrível cinemática, que de uma maneira muito suave nos dá um ou outro pormenor do que aconteceu há diversos anos em The Lands Between – local onde se passa o jogo. Basicamente existia um anel, o Elden Ring, que continha o poder daquele local, a Grace, esse anel foi partido, fragmentando-se em diversos pedaços. Alguns deles estão com os filhos da Rainha Marika, os chamados Semi-Deuses e que serão os bosses principais do jogo. Existe também uma árvore gigante – a Erdtree – que simboliza o poder do anel, essa árvore é bem visível, já que o seu brilho dourado se espalha por todas aquelas terras. Basicamente, nós somos um dos muitos convocados que terão de encontrar todos os fragmentos do anel, de maneira a restaura-lo e com isso tornarmo-nos o Elden Lord.
Embora isto seja a pouca informação que temos sobre a história no início do jogo, é quando damos de caras com o seu mundo que começamos a perceber a grandiosidade deste título. Muito se deve a George R. R. Martin – escritor dos diversos livros de fantasia As Crônicas de Gelo e Fogo, também conhecidos como A Guerra dos Tronos – que ajudou na criação do mundo do jogo. Este mundo é vasto, cheio de áreas para explorar, sejam dungeons, grutas, castelos, ruínas, entre tantas outras coisas. Além disso, não podemos deixar de referir a enorme variedade de cenários que vamos encontrar.
Esses cenários vão desde zonas verdejantes, cheias de relva e árvores, a locais mais montanhosos com torres e castelos cheios de segredos, elevadores e inimigos prontos para nos matar a cada sala que entramos. Existem também zonas pantanosas, zonas desérticas, entre muitas outras. Ao todo vamos ter 9 áreas principais, Limgrave, Caclid, Weeping Peninsual, Liurnia of the Lakes, Altus Plateau, Forbidden Lands, Concecrated Grounds, Mountainstops of the Giants, Crumbling Farum Azula e mais as áreas subterrâneas. A maioria delas é bastante grande, e com diversas dungeons e castelos como referi anteriormente.
Se os cenários por si só já nos deixam uma sensação arrebatadora, então ao cavalgarmos por eles ficamos ainda mais pasmados, porque conseguimos ter a real dimensão das várias zonas. Esta é outra das novidades em relação aos jogos Souls da FromSoftware, até porque nas zonas de mundo aberto podemos lutar com os inimigos em cima do nosso mount. Não é bem um cavalo, é uma espécie de espectro, parecendo um cavalo com cornos. Esta nova perspectiva é bastante útil, já que serve para atacarmos os inimigos e bosses de outra maneira, assim como fugir nos momentos de maior aperto.
Já nos castelos, dungeons, grutas, isto é, nos locais mais fechados, o jogo funcional tal e qual os outros Souls. Podemos explorar tudo, não podemos usar o nosso mount, e os bosses encontram-se em salas que depois de entrarmos já não podemos fugir, já que a escapatória é matá-los ou sermos mortos. O balanceamento entre bosses em zonas abertas e em zonas mais fechadas está muito bem feito, embora os bosses principais estejam sempre nas zonas fechadas.
Sendo o mapa gigantesco, é obviamente necessário existir viagens rápidas, para isso será necessário activar as Site of Grace que se encontram espalhadas por todo o mapa, quer nas zonas mais abertas como nas zonas mais fechadas. Para terem uma ideia por todos os caminhos do mapa vão encontrar estes locais, que são como as bonfires dos jogos de Dark Souls. Agora a grande diferença é que não precisam de chegar a uma Site of Grace para se deslocarem para outra, dado que a qualquer altura podem abrir o mapa e simplesmente fazer uma viagem rápida para uma dessas Site of Grace.
Aliado a um mapa gigantesco, e às diversas zonas, existem algumas bem mais complicadas que outras, ou melhor, existem algumas que será prudente irem com o personagem com uns atributos mais altos e com um equipamento bastante melhor do que aquele que têm inicialmente. Por isso é também prudente irem falando com os diversos NPCs que vão encontrando para terem uma ideia para onde devem dirigir-se. Outra das ajudas nesse ponto são algumas Site of Grace, que criam uma espécie de risco amarelo no mapa, indicando o caminho que devem seguir. Obviamente que este caminho apenas vos leva aos locais principais do jogo, e tudo o que é secundário terão de ser vocês a explorar por vontade própria.
Falando por mim, se nos outros Souls – por a exploração ser tão fechada – muitas vezes tentava sempre apanhar atalhos, seguir pelos caminhos principais para matar os bosses, e o mais rapidamente possível (isto é relativo, obviamente) finalizar o jogo. Em Elden Ring acontece o contrário, e antes de matarem o Boss principal daquela zona vale a pena explorar toda a área, entrar em todos os cantinhos, falar com todos os NPCs, apanhar equipamentos, subir de nível, enfim, tudo para estarmos o mais preparados possíveis, e também para usufruir do jogo a 100%.
Para terem uma ideia, nas primeiras 40 horas de jogo tinha apenas matado 2 dos bosses principais, porque o resto do tempo andei a explorar o mapa, entrar em dungeons, melhorar o personagem, encontrar novos equipamentos, aprender feitiços, isto é, andei verdadeiramente a usufruir do jogo. Neste aspecto, e aqui até para aqueles que acham este tipo de jogos demasiado difíceis, diria para testarem o jogo em modo cooperativo. Juntem-se com 1 ou 2 amigos e divirtam-se, quer a explorar, quer a matar bosses. Este modo cooperativo não abre todo o mapa para explorarem, e quando se juntam ficam circunscritos a uma determinada zona, e apenas podem andar por ali. As zonas ainda são bastante grandes e podem ser exploradas neste modo até matarem o boss daquela região, por isso diria que o melhor é explorar tudo, curtirem a zona ao máximo e no final ir até ao boss. Uma das novidades em relação aos outros Souls, é que agora o jogador que se junta pode apanhar itens dos vários locais, tornando assim mais justa a partilha. Além disso, as Runes (as antigas Souls), já não são divididas, são partilhadas de igual forma entre o Host e os restantes jogadores.
Falando de equipamentos, aqui a regra não foge aos habituais Souls da FromSoftware, e temos para todos os gostos, desde espadas, katanas, marretas, machados, lanças, escudos de todas as formas e feitios, arcos, bestas, bastões, varas, entre muitas e muitas outras armas. Temos também os habituais equipamentos, as botas, as luvas, a armadura e o capacete, todos eles podem ser de vários tipos, mais pesados, mais leves, com mais defesa física ou mais defesa no aspecto de magia ou fogo, ou outros atributos.
Ainda em relação às armas e ao escudo, podem ainda ser melhorados, e para isso precisam apenas de ter Runes e os itens necessários. Isto já acontecia também nos outros Souls, agora a diferença é que as armaduras não podem ser melhoradas. Uma das boas novidades são as Ashes of War, que permitem colocar um ataque especial nas armas, assim como nos escudos. Esta modificação pode levar à alteração dos atributos que necessitam para usar a arma, por isso cuidado antes de se aventurarem e tenham atenção a esses pormenores.
A subida de nível do personagem também acontece como nos outros Souls, e embora tenhamos de contar com a mudança de alguns atributos, agora existe um atributo chamado Endurance, que além de aumentar a Stamina do personagem também aumenta o Peso que podemos carregar – algo que anteriormente estava dividido em dois atributos distintos. Ao todo são 8 atributos que podemos subir e que vão fazer diferença nos nossos atributos defensivos, nos atributos atacantes e nas nossas resistências, são eles: Vigor, Mind, Endurance, Strenght, Dexterity, Intelligence, Faith e Arcane.
Uma das boas novidades do jogo está relacionado com o sistema de crafting, e agora, durante a exploração dos cenários, podemos apanhar ervas e outros itens que nos ajudam a craftar alguns itens bastante úteis, como colocar a espada em fogo durante alguns segundos, diversos tipos de setas para o arco e para a besta, algumas bombas para enviarmos aos inimigos, entre outras coisas. No início, para conseguirmos começar este crafting, temos de comprar o Kit de Crafting e posteriormente ir adquirindo novos Cookbooks para ir aumentado a lista de itens que podemos criar. Estes Cookbooks podem ser encontrados em diversos locais, assim como podem também ser comprados em certos NPCs.
Quanto aos inimigos que vamos encontrar, muitos deles são reciclados da franquia Dark Souls e Bloodborn, apesar de existirem também outros novos. Não vejam esta reciclagem de muito dos inimigos como algo mau, até porque é devido a isso que os mapas conseguem estar repletos de inimigos, e isso faz até com que aqueles jogadores que gostam de evoluir bastante o personagem antes de se aventurarem pelos Bosses, o possam fazer, tendo ao mesmo tempo uma grande variedade no mapa open world.
Quanto aos Bosses de Elden Ring, devo confessar que são o ponto alto do jogo, não é algo que os jogadores acostumados a estas andanças já não soubessem, mas a verdade é que cada um que vamos matar têm sempre golpes surpreendentes. Para não falar da imaginação fértil do pessoal da FromSoftware, como acontece por exemplo com o primeiro main boss de jogo, Godrick the Grafted, que a meio de combate corta o seu próprio braço para colocar a cabeça de um dragão como braço. Embora seja o ponto alto do jogo, devo confessar que por vezes também é o ponto irritante, principalmente quando morremos várias vezes no mesmo boss.
Algo que achei bastante diferenciador em relação aos outros Souls é que agora a maioria dos bosses, além dos ataques de curto alcance, passaram também a ter ataques de longo alcance, sendo bastante mais difícil ao jogador se afastar para recuperar vida. Muitas vezes os ataques de longo alcance são muito mais devastadores do que os de curto alcance. Seja como for, a dança entre o jogador e o boss continua a existir, e por muito difícil que eles sejam, todos eles têm os seus movimentos comuns, quase sempre divididos por duas partes, isto é, metade da vida fazem uns golpes, e quando lhes tiramos metade da vida, passam a outros, muitas vezes mais difíceis de desviar. O truque é recordarem-se dos golpes que eles fazem, e com isso tentarem desviar-se, bloquear e depois contra-atacar.
Falando em contra-atacar, esse é um novo sistema que Elden Ring implementou, tornando bastante mais simples as lutas contra os inimigos mais casuais. Agora, quando defendemos um golpe, se carregarem no ataque forte rapidamente, o nosso personagem faz um contra-ataque que muitas vezes retira grande parte da vida do inimigo, tornando assim as lutas bastante mais simples.
Graficamente, Elden Ring está absolutamente incrível, e nesse aspecto nem parece um Souls da FromSoftware que muitas vezes tinham gráficos bastante datados, principalmente nos NPCs e no nosso personagem. Agora tudo está incrível, e ao iniciar o jogo isso percebe-se logo na personalização do personagem, mas é no mundo aberto que isso se torna ainda mais perceptível. Tudo está absolutamente incrível, com texturas de nova geração, e não são raras as vezes que damos por nós a parar apenas para apreciar a paisagem e tirar fotos desses mesmos locais.
Algo que também não pode deixar de ser falado é a sua componente sonora, com músicas que tornam os combates com os bosses épicos, ou mesmo quando estamos a explorar certos locais as músicas estão sempre de acordo com a situação. Os efeitos sonoros também estão incríveis, quer os pormenores dos personagens a andar, quer os barulhos das espadas como dos feitiços. O voice acting também está incrível, embora não exista assim muitas falas, as que existem são óptimas, quer em jogo, como nas poucas cutscenes que o jogo apresenta.
Elden Ring é sem dúvida o melhor jogo da FromSoftware, tirando o pódio a Sekiro, e tornando-se assim o Elden Lord de todas as franquias Souls. É um jogo extremamente viciante, onde a exploração, os bosses e a perspicácia no combate são os seus grandes pilares. Estará certamente no top 3 dos melhores jogos do ano.