Developer: Square Enix
Plataforma: PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One, Xbox Series, Nintendo Switch e PC
Data de Lançamento: 7 de Abril de 2022

Se há sector onde a nostalgia é realmente um recurso inegável, é nos videojogos. É por isso que as remasterizações são cada vez mais comuns, especialmente nos grandes clássicos. É praticamente inevitável que jogos que conquistaram um lugar na memória, possam hoje renascer com outras condições. Desta forma, tanto aqueles que jogaram o original, como novos jogadores, podem ter uma experiência que façam uma ponte com ambas as obras.

Admito que ocasionalmente possam existir exageros, e que remasters sejam usados mais para reciclar do que para modernizar versões já existentes. Contudo, na maioria dos casos, considero que se justificam e são excelentes oportunidades para experimentar jogos que deixaram a sua marca no passado. Assim, seria sempre uma questão de tempo até que Chrono Cross fosse escolhido para esse propósito.

Chrono Cross: The Radical Dreamers conheceu finalmente a luz do dia, e é a edição remasterizada de um jogo lançado há mais de 20 anos. É a primeira vez que o jogo é lançado na Europa, o que torna esta ocasião ainda mais especial para nós, dado que há vários exemplos de como temos sido esquecidos neste lado do mundo no que diz respeito a JRPG’s. Felizmente, é algo que aparentemente está a mudar, e este é um bom exemplo.

Acredito que quando saiu tenha sido uma experiência realmente única para quem é apreciador do género, mas ainda hoje consegue ser bastante especial. Tem aquela aura dos elementos tradicionais dos JRPG’s dos anos 90, que nos envolve e conduz por uma viagem de muita magia e fantasia que eventualmente se torna inesquecível. Nesse sentido, se fosse um jogo que tivesse sido lançado originalmente agora, não surpreenderia ninguém e não ficaria atrás dos exemplares mais populares que podemos encontrar actualmente.

À primeira vista, a história pode parecer a típica narrativa de qualquer outro JRPG, porém, à medida que a vamos conhecendo, a sua complexidade sobressai e é verdadeiramente extraordinária. Não é uma sequela directa de Chrono Trigger, mas tem lugar no mesmo universo, e conta a história de Serge, um jovem que vive entre dois mundos paralelos, sendo que num deles, a sua versão faleceu quando era uma criança. Esse é o ponto de partida da história, uma vez que o protagonista decide descobrir o porquê desse pormenor que divide os dois mundos.

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Não é só a história que é interessante, visto que todas as personagens que Serge vai encontrando na sua aventura pelo arquipélago de El Nido, são incrivelmente cativantes. O fantástico desenvolvimento das personagens é um elemento-padrão neste tipo de jogos, e esta franquia teve uma enorme contribuição para aquilo que é hoje tradicional no story telling dos JRPG’s. É uma das grandes histórias dos videojogos, e vale muito a pena descobrir.

Não é a história mais fácil de compreender, porque a dado momento é um vai-e-vem de viagens interdimensionais e pelo tempo. No entanto, é precisamente esse o seu grande trunfo, já que provoca várias questões importantes e oferece uma incrível profundidade à narrativa, essencialmente quando todas as personagens solidificam relações.

Tudo é conduzido através de missões e tarefas que subtilmente nos colocam perante os fenómenos mais inacreditáveis. Seja por meio de puzzles ou de batalhas por turnos, a acção vai tomando conta, e só queremos saber onde nos vai levar. O que começa por ser um formato mais corrente de quests, rapidamente se torna numa discussão filosófica e existêncial, que nos fará pensar para além do jogo em si.

Tal como em Chrono Trigger, a deslocação entre regiões acontece através de um mapa do estilo overworld. É bastante comum no género e útil na navegação, particularmente quando a história se complica. E não seria um JRPG sem as obrigatórias dungeons, que se juntam às áreas mais triviais, como as florestas e as aldeias que ocupam algumas das ilhas. É um jogo que requer exploração, porque estará aí igualmente a descoberta de detalhes importantes para desvendarmos os mistérios ligados à história.

O sistema de batalhas é também deveras convencional, todavia, com um aspecto que os diferencia dos demais. O combate em Chrono Cross tem uma grande dependência dos elementos, e tudo acaba por ser gerido com isso em mente – tanto para Serge, como para os restantes membros da party.

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Na verdade, os elementos são mesmo as habilidades, que escolheremos estrategicamente para que as personagens possam depois responder durante o combate. Deste modo, os efeitos serão variados, e tudo terá de ser pensado ao pormenor, seja relativamente às restrições, como às vantagens e possíveis combinações, proporcionando uma perspectiva mais tática no terreno.

O combate surpreendeu-me pela positiva, até porque não esperava algo tão complexo. Mas este jogo tem destas coisas, e vai-nos encantando quanto mais o conhecemos. Mesmo quem não tiver paciência para a jogabilidade por turnos, este remaster vem com a opção de um auto-battle e um God Mode, que podem ser activados quando quisermos, tal como opções de fast-forward e slow-motion. Podemos, assim, dedicar-nos às partes do jogo que nos são mais apelativas, sem perdermos tempo com as batalhas.

Outra das novidades é a adição do New Game Plus, que fica imediatamente desbloqueado após completarmos o jogo pela primeira vez. É uma excelente forma de conhecermos os outros finais disponíveis, mantendo a maioria dos itens, personagens e elementos que adquirimos no progresso anterior. Há outras funcionalidades que estão incluídas neste modo, como o Time Egg, que nos dá acesso ao portal de Opassa Beach para enfrentarmos o Time Devourer quando bem entendermos.

Para quem está a perguntar a razão de se chamar “Radical Dreams Edition”, é porque vem incluída uma versão do videojogo de 1996 com o mesmo nome. É uma aventura text-based que foi lançada na altura somente na Satellaview, um periférico via satélite exclusivo da Super Nintendo, e que permitia aos jogadores transferirem jogos. A história do jogo serve de ponte entre Chrono Trigger e Chrono Cross e acompanha a jornada do pequeno grupo de ladrões formado por Serge, Magil e Kid.

É imperdível para quem pretende saber tudo sobre a saga e quer viver mais uma história da franquia, até porque é uma pérola quase perdida no tempo. Foi uma óptima ideia incluírem o jogo no pacote, e deve ser saboreado como um aperitivo antes de se entregarem ao prato principal.

Mas passando para a parte gráfica – uma vertente fundamental em qualquer remaster – diria que não é das remasterizações mais impressionantes que já vi, em especial nas cutscenes, que mereciam uma melhor atenção. Mas sendo justo, tendo em conta que o original foi lançado na PS1, acredito que as melhorias tenham sido as possíveis. Não obstante, as diferenças são consideráveis, dado que os modelos 3D levaram um upgrade para HD, e foram adicionadas novas ilustrações das personagens.

Tem a alma do original, mas com muito melhor aspecto visual, o que o transforma quase num jogo totalmente novo. E conseguimos ver as diferenças, uma vez que nos é permitido jogar com os gráficos originais! Podemos ainda experimentar o antigo formato de 4:3, com barras laterais, mas também estão disponíveis outros dois modos: o de 16:9 e um zoomed, que é o meio-termo entre os outros dois. A componente musical foi igualmente refinada, e teve o dedo de Yasunori Mitsuda, notando-se claramente a melhoria na qualidade.

Chrono Cross: The Radical Dreamers Edition é uma oportunidade única para quem sempre quis jogar e nunca teve o tão desejado acesso. Com muitas coisas melhoradas e o brinde do jogo Radical Dreamers, é completamente imprescindível para os maiores fãs da saga.

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Nuno Mendes
Completamente obcecado por tudo o que tenha a ver com futebol, é daqueles indesejados que passa mais tempo a editar as tácticas do PES do que a jogar propriamente. Pensa que é artista, mas não conhece as cores primárias, e para piorar, é ligeiramente daltónico. Recusa-se a acreditar que o homem foi à Lua.
analise-chrono-cross-the-radical-dreamers-edition<h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #339966;">SIM</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Conversão dos modelos de 3D para HD</li> <li style="text-align: justify;">Qualidade sonora melhorada</li> <li style="text-align: justify;">A adição do jogo The Radical Dreamers ao pacote</li> </ul> <h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #ff0000;">NÃO</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">As cutscenes não levaram upgrade</li> </ul>