Developer: Ironward
Plataforma: PC
Data de Lançamento: 17 de Julho de 2022
Existem jogos que se destacam por criar sub-géneros, misturando padrões que são comuns em separado, mas não num único e mesmo jogo. E um desses casos é The Red Solstice, que pegou em ideias de diversos títulos da mesma família de estilos, e montou uma conjuntura singular, e recebendo boas críticas aquando do seu lançamento, há seis anos.
São raríssimos os jogos de grande orçamento que exploram o género da estratégia, e não fosse a indústria independente dos videojogos, já há muito tempo que teriam caído no esquecimento. E é essencialmente através da originalidade e inovação que os estúdios conseguem manter esta tipologia de jogos relevante, mostrando que ainda existe muito para apresentar.
Sabendo isso, o estúdio Ironward decidiu juntar num mesmo jogo várias características que podemos encontrar que se tornarem populares no universo da estratégia e dos RPG’s táticos. O resultado foi um jogo que soube apelar a vários públicos, tornando-se uma bela surpresa em 2014, e sendo altamente recomendado. Agora, em 2022, finalmente a sequela, que não só tenta oferecer alguma continuidade, mas também dar o passo em frente que se exige da franquia.
O que começou por ser uma equipa de modders de Warcraft III, eventualmente deu origem ao estúdio Ironward. Significa por isso que já existe uma longa experiência em conceitos que se sustentam na estratégia para desenvolverem a sua proposta. No entanto, proporciona muito mais do que isso, uma vez que até começa por ser parecido a um twin-stick shooter, e alargando depois a sua jogabilidade a elementos que podemos encontrar em jogos como XCOM, ou até Company of Heroes.
Red Solstice 2: Survivors tem lugar após os eventos do jogo anterior, e conta a história de um planeta terra que não é mais habitável. Como consequência, deu-se a colonização de Marte, passando a ser a nova casa da humanidade. Parecíamos determinados a evitar os problemas do passado, não fosse a trágica libertação de um vírus, com o nome de STROL, que chegou para transformar qualquer ser-vivo em criaturas monstruosas e sedentas de violência. O desespero levou a que o homem criasse um soldado modificado geneticamente, o Executor, com capacidades extraordinárias de forma a nivelar o jogo e liderar uma autêntica luta pela sobrevivência.
A história desenrola-se através de um sistema de missões, cujo briefing no início de cada uma nos dá uma pequena perspectiva do lore do jogo, além dos objectivos e outras informações sobre os desafios e tipos de ameaça podemos esperar. Durante as missões teremos a ajuda adicional de uma Inteligência artificial que se apresenta como EMMA, e que nos guiará pelo básico do jogo, assim como pelas tarefas. Também teremos missões secundárias e facultativas, que depois serão úteis em termos de recompensas de maneira a progredirmos mais rapidamente.
A jogabilidade recorre muito às ondas de inimigos que nos tentam sobrecarregar cada vez mais à medida que vamos aguentando e sobrevivendo. As mecânicas de RTS são centrais na dinâmica de combate, e há que dizer que foram muito bem encaixadas, propiciando uma óptima sensação de controlo e estratégia ao jogador. Para isso, os supplies que vamos encontrando são essenciais para que o nosso pelotão de soldados comandados pela IA beneficie de melhor equipamento. Além disso, também a pesquisa é crucial para que esse mesmo equipamento e estruturas possam avançar e acompanhar a dificuldade crescente das missões.
É um jogo que funciona mais numa lógica defensiva do que ofensiva. Vamos percorrendo de ponto a ponto, onde teremos de resistir às forças de mutantes. Há alturas em que é realmente difícil e sufocante, e é aí que a função “Overwatch” é fundamental, levando a que possamos disparar automaticamente contra os inimigos mais próximos sem que tenhamos de clicar. E porque é tão importante? Porque nos dá tempo aquele precioso para conseguirmos reagir ao momento, curando os nossos soldados, tal como a possibilidade de usarmos minas, granadas e turrets. Porém, há que ter em atenção às munições, que se tornam menos fáceis de gerir. Infelizmente, noutros momentos, tudo se torna tão fácil e repetitivo, que afecta um pouco o ritmo da missão, entediando um pouco.
Outro aspecto negativo é a visibilidade, onde muitas vezes só temos noção da localização dos inimigos quando já estão perto de nós. Parte de uma perspectiva isométrica, mas com um campo de visão demasiadamente curto, que nos retira ligeiramente a capacidade de planear com alguma antecedência. Eventualmente acabamos por nos adaptar, mas acaba por contrariar a ideia principal de criar situações estratégicas, já que por vezes já não restam grandes opções senão ripostar como conseguirmos. É, por isso, indispensável conhecerem bem todos os atalhos, porque cada segundo poderá ser decisivo para conseguirem resistir a certas hordas mais numerosas.
É possível jogar em multiplayer com até mais sete jogadores, o que sobe, claramente, o nível de diversão. Juntar as forças com amigos em co-op leva Red Solstice 2: Survivors para outro patamar de estratégia, especialmente quando se combinam builds. Isto significa que há um pertinente sistema de progressão incluído que se reflecte numa skill tree de atributos passivos, que se juntam a um variado leque de personalização, além das classes disponíveis. O matchmaking tem alguns problemas, particularmente quando tentamos juntar-nos a jogadores aleatórios, funcionando muito melhor quando temos alguém conhecido para jogar connosco.
Tem uma direcção gráfica interessante, que apesar de nada trazer de novo para estilo, é, ainda assim, bastante envolvente atmosfericamente. O ambiente sombrio e sinistro acrescenta à intenção de colocar o jogador perante uma circunstância de sobrevivência, causando uma inevitável emoção, tendo em conta o contexto de nos vermos frequentemente numa significativa inferioridade numérica. Sonoramente está igualmente bem pensado, seguindo o desígnio de provocar alguma adrenalina na hora de decidir.
Red Solstice 2: Survivors pode não ser o passo de gigante que o estúdio esperava, mas consegue ser um digno sucessor dentro da franquia. É inteligente na conjugação de elementos, e para quem gosta de RPG’s de acção com alguma estratégia, é, sem dúvida, um jogo que merece ser descoberto. Um bom trabalho da equipa da Ironward.