Se clicaste neste artigo, foi porque efectivamente o título que te trouxe aqui é completamente absurdo. E a razão para eu afirmar já isto, explico seguidamente. A indústria dos videojogos já passou por diversas fases, algumas excelentes, outras menos boas, mas a verdade é que sempre se manteve minimamente estável.

É verdade que algumas companhias ao longo dos anos tiveram de alterar a sua forma de estar, e o caso mais paradigmático diria que até é a SEGA, que passou de uma rival da Nintendo para agora ser apenas uma companhia de jogos, sem nenhuma consola, quando no fim dos anos 80, início dos anos 90, era uma companhia com um marketing altamente agressivo em relação à sua concorrente directa. É difícil nos esquecermos da Sega Mega Drive (Genesis), ou mesmo da Game Gear, a consola portátil a cores da companhia. Um docinho para quem não sabe, a última consola da SEGA foi lançada em 2005 para crianças dos 2 aos 8 anos, chamava-se Advanced Pico Beena e teve direito a um jogo de Pokémon, Pocket Monsters Advanced Generation Pokémon Suuji Battle!!.

Nos anos 80 e 90 valia tudo, a indústria estava no pico do seu desenvolvimento, com muitas companhias a aparecer, com tecnologias a desenvolverem-se, ainda era vista como uma coisa de crianças, e provavelmente por isso, mas também porque como a informação não chegava tão depressa a todo o lado – lembrem-se que a internet nessa altura era algo francamente lenta, e em muitos países nem se sabia o que isso era – e por isso, também não existiam grandes políticas a combater tudo o que fosse pirataria. Para quem não sabe, nessa altura comprava-se cópias exactas da NES, as bonitas Family Game, que vinham muitas delas cheias de jogos, cópias exactas dos jogos da Nintendo. As lojas vendiam cartuchos originais da Nintendo, mas mesmo na prateleira do lado, tínhamos os cartuchos da Family Game, bem mais baratos, muitos deles com mais de um jogo, e que eram o jogo da Nintendo, mas noutro cartucho, sem ser original, onde tudo funcionava incrivelmente bem.

Family Game
Consola Family Game

Juntando agora diversos anos, quem tinha Spectrum, Commodore 64, Amigas, PC, era absolutamente normal, ir à loja de informática comprar uma cópia de um jogo, e acham que era algo original? Óbvio que não, o senhor da loja tinha o original e fazia a cópia à nossa frente, com uma capinha, uma cópia da disquete, ou da cassete, e vínhamos todos felizes para casa com um jogo novo. A pirataria era algo normal, existia, e diria que foi o melhor que existiu na indústria, a razão para eu dizer isso, é que foi a única maneira de muitas pessoas terem acesso a diversos jogos, de conhecerem o que eram os videojogos, e assim fazer com que esta indústria crescesse, provavelmente não monetariamente, mas no aspecto de um maior número de pessoas falarem dela. A conclusão que quero que percebam é que mesmo nos anos 80 e início dos anos 90, onde a indústria não era assim tão forte, onde valia tudo, e a pirataria em todos os modelos era fortíssima, ela aguentou-se e não desapareceu.

Tanto não morreu, como estava a crescer, daí em 1995 aparecer a primeira consola da PlayStation, foi a primeira consola a trazer CD-ROM, mais tarde também apresentou o seu comando com analógicos, algo que veio revolucionar o mercado nesse aspecto. Mas que também teve enormes problemas com a pirataria, já que a implementação de chips na consola permitia ler cópias piratas dos CDs, e era algo que se encontrava facilmente em muitas lojas. Muitas delas até perguntavam ao cliente quando se ia comprar uma consola, se queria que fosse logo implementado o chip. Incrível!

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O desenvolvimento de tudo o que está relacionado com a Internet, com novos protocolos, novas tecnologias, e aumento da sua velocidade foram algo incrível para a indústria dos videojogos, fazendo com que chegasse a possibilidade de jogar online, a possibilidade de chat dentro dos jogos, e mais tarde até a possibilidade de termos voz dentro dos jogos. Mas nem tudo foi bom para a indústria, com a velocidade chegou a pirataria de uma maneira ainda mais fácil, agora os jogos encontravam-se à mão de 2 ou 3 clicks. Não era necessário ir a qualquer loja, apenas ligar um computador com acesso à internet e arranjava-se facilmente o jogo que queríamos. Estávamos no início dos anos 2000, começava o P2P a ser algo cada vez mais na moda, e cada vez a existirem mais programas a implementar essa tecnologia, onde praticamente tudo o que se encontrava lá era pirataria, fosse jogos, músicas, software, entre outras coisas. Podemos dizer que mais uma vez a indústria dos videojogos estava perdida, provavelmente iria acabar! Obviamente que não.

Embora a Sega e a Commodore tenham perdido o comboio, e esta última tenha mesmo desaparecido, a PlayStation 2, lançada em 2000 era um enorme sucesso; a Nintendo continuava em alta; os jogos de PC estavam cada vez melhores; e a pirataria estava na crista da onda; entram no mercado as consolas da Microsoft. É bom lembrar que a companhia americana, bem conhecida de todo o seu software para PC, já estava ligada à indústria com os diversos jogos lançados para PC, e mesmo com toda a pirataria decidiu lançar a sua primeira consola, a Xbox.

Ao longo dos anos a indústria foi-se desenvolvendo e combatendo a pirataria de diversas formas, fosse com software antipirataria, com hardware, com obrigatoriedade de ligação à internet para verificação se o jogo era legítimo, entre outras coisas. O que se nota é que com todos os problemas a indústria foi crescendo em todos os aspectos. A Nintendo continuou a apostar em jogos mais amigáveis e familiares, com acessórios e consolas altamente inovadoras, a Wii e agora a Nintendo Switch a serem um exemplo claro disso. Já a Xbox e a PlayStation apostam mais no poder das consolas, e em jogos com gráficos altamente chamativos. E o PC, a ser sempre o PC, onde podemos ter um pouco de tudo, dependendo apenas da carteira de cada um, para ter o hardware que conseguir.

Com todas estas alterações da indústria ao longo dos anos, chegou também algo que os jogadores detestaram, os serviços, o PlayStation Plus, e o Xbox Live, onde os jogadores para poderem jogar online, ter chat de voz, entre outras coisas, tinham de pagar uma subscrição. Diria que foi a galinha dos ovos de ouro destas companhias, e mais tarde a Nintendo também aderiu a este tipo de serviço, com o Nintendo Switch Online. O PC continua a ser nesse aspecto o mais livre, já que tem acesso a tudo isso, sem os jogadores terem de desembolsar qualquer valor para continuar a ter acesso a diversas funcionalidades básicas dos jogos.

A verdade é que enquanto estes serviços foram a galinha dos ovos de ouro das companhias, tudo esteve bem, até que estes serviços agora começaram a ser alterados, a dar à luz novos tipos de serviços, e voltamos ao tal, a indústria dos videojogos vai acabar. Obviamente que estou a falar dos serviços de subscrição de jogos, onde tivemos primeiro o PlayStation Now (agora PlayStation Plus Extra e Premium), e agora o Game Pass, com uma atitude mais agressiva, no aspecto de tudo o que oferece aos jogadores em comparação com a rival.

Criou-se agora o problema que o Game Pass e até a aquisição da Activision-Blizzard por parte da Microsoft poderá ser um problema para a indústria dos videojogos. Mas será que assim é? Será que o Game Pass é o diabo da indústria? Será que irá acabar esta indústria? A resposta está na história. E sem tirar ilações ao que pode acontecer, a verdade é que de uma forma muito resumida mostrei como a indústria passou um pouco por tudo, e a verdade é que o que se viu sempre foi um crescimento, novidades, e uma escolha cada vez maior para os jogadores.

Aconteça o que acontecer, com estes serviços de subscrição de jogos (venham para ficar, ou não), a verdade é que a indústria irá continuar a crescer, a ficar cada vez mais forte, com mais jogadores e a ser uma das indústrias mais lucrativas de sempre. As mudanças de tempos em tempos são o melhor que pode acontecer, porque obriga as companhias a oferecer novidades, a pensarem em novas formas de lucrar e quem ganha com isso são os jogadores e a própria indústria.

A verdade é que tendo nascido no início dos anos 80, e tendo sempre adorado tudo o que estava ligado a esta indústria, primeiro como jogador, mais tarde programador, e hoje até a escrever sobre ela, consegue ao longo dos anos me ir fascinando, e cada vez tenho mais noção que continuará a crescer cada vez mais. E acreditem que anos mais fascinantes estarão para vir.

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Rui Gonçalves
Desde o tempo do seu Spectrum+2 128k que adora informática. Programador de profissão nunca deixou de lado os jogos, louco por RPGs e jogos de futebol. Adora filmes de acção e de ficção científica, mas depois de ver o Matrix nunca mais foi o mesmo.