Developer: Relic Entertainment
Plataforma: PC
Data de Lançamento: 23 de fevereiro de 2023
Uma das franquias de estratégia em tempo real que mais prazer tive a jogar foi Company of Heroes. Para além de a Segunda Guerra Mundial ser um dos conflitos que mais chama a atenção das pessoas, o jogo conseguiu recriar momentos históricos memoráveis de uma forma super interessante. Tanto o Company of Heroes como o Company of Heroes 2, juntamente com as suas expansões, estavam incríveis. No entanto, passados 10 anos, será que a Relic Entertainment ainda conseguiria trazer algo tão memorável como no passado?
Confesso que Company of Heroes 3 era um dos jogos mais aguardados do ano para mim, talvez um dos poucos pelos quais tinha algum hype, e por isso a desilusão poderia ser ainda maior do que o normal. No entanto, desde os vários testes realizados pelo estúdio que tive oportunidade de experimentar, percebi logo que o jogo iria estar à altura da grandiosidade dos outros títulos da franquia. Com o jogo completo, pude constatar que todas as adições relativamente aos títulos anteriores encaixaram-se de forma sublime, proporcionando não só uma excelente experiência de estratégia em tempo real, mas também uma nova abordagem na campanha relacionada com a Itália, agora em turnos. Esta adição revelou-se incrível e já irei abordá-la com mais detalhe.
Assim que entramos no jogo, o menu principal apresenta-nos logo o conteúdo disponível de forma clara e simples, sem grandes confusões. O jogo oferece o Modo de Um Jogador, o modo Multijogador, o modo Coop X IA e ainda o modo de Jogo Personalizado. Sem entrar em grande detalhe sobre estes três últimos modos, já que apresentam as opções habituais da maioria dos jogos do género, é importante referir que é possível jogá-los em partidas de 1×1, 2×2, 3×3 e 4×4, assim como escolher algumas habilidades adicionais e avançar na partida. Tudo é apresentado de forma simples e fácil, tal como se deseja. É importante mencionar que o modo Coop X IA não tem a opção 1×1, uma vez que não faria sentido sendo um modo cooperativo.
Ao analisarmos o modo de Um Jogador, verificamos que, ao contrário dos outros jogos da franquia, existem duas campanhas disponíveis, além do modo Skirmish e um tutorial. Para aqueles que já jogaram as versões de testes, o tutorial é o mesmo, pelo que não precisam de o repetir. No entanto, para aqueles que jogam o jogo pela primeira vez, o tutorial é uma boa opção, já que explica passo a passo as opções mais básicas do jogo. As outras opções mais avançadas são apresentadas e explicadas durante as campanhas.
As duas campanhas disponíveis são totalmente diferentes, uma passa-se no Norte de África e a outra em Itália. Na primeira, teremos o controlo das forças nazis, mais especificamente a Afrika Korps, enquanto na segunda usaremos as forças da Aliança.
A campanha italiana começa como uma primeira missão totalmente em RTS, onde desembarcamos na costa de Itália, e é ao finalizar essa missão que teremos a primeira surpresa do jogo. Já que teremos fases por turnos, misturadas com as missões totalmente em RTS, sendo que nestas missões por turnos, teremos bocados do mapa italiano, com diversas cidades, portos e pontos importantes que podemos escolher atacar. Simultaneamente, teremos o general Norton do exército britânico e o general Buckram do exército norte-americano e ainda a Eleonora Valenti, a líder do exército da resistência Italiano, cada um deles com planos totalmente diferentes, e cada um, a dar o seu palpite do que será melhor fazer. Além desse ponto já ser interessante, isso fará diferença na maneira como eles olharão para nós, já que as nossas escolhas terão impacto na maneira como lidarão connosco durante a campanha.
Porém, não é só na forma que lidam connosco que essas escolhas têm implicações, já que também terão nos bónus que recebemos, denominados prémios de lealdade, que variam desde apoio aéreo, defesa antiaérea, reserva naval, informações de civis, entre outros. Cada um desses prémios pode fornecer até quatro ajudas, mas as escolhas que fazemos afetam a nossa lealdade para com cada general, o que pode levar a ganhar ajudas de um general, mas perder a assistência do outro. Por vezes, até podemos ter que seguir uma ideia contrária à nossa, apenas para não perder um bónus que tanto nos é útil nas missões.
No modo por turnos, à medida que a nossa infantaria se move pelo mapa, podemos ver as cidades, portos e aeroportos ocupados pelos nazis. Também podemos encontrar a infantaria inimiga e, neste caso, temos duas opções para combatê-los: realizar uma pequena missão do estilo Skirmish (RTS) ou deixar que o combate ocorra automaticamente. Embora a segunda opção poupe tempo, pode resultar em algumas desilusões quando perdemos o combate.
Ao chegarmos a locais importantes que foram cenário de batalhas significativas na Segunda Guerra Mundial, o jogo volta a colocar-nos numa missão ao estilo RTS com informações relevantes, e muitas vezes a meio da missão, os objetivos podem mudar. Esse estilo de jogo é o que os jogadores da franquia Company of Heroes conhecem bem. Além disso, agora as missões concedem pontos que podemos usar para desbloquear habilidades, melhorias e novas unidades. Sempre que vencemos uma partida ou ocorre algo relevante, pontos são disponibilizados. Podemos usar esses pontos para desbloquear unidades, melhorias ou habilidades. As melhorias podem incluir o aumento de dano de certas unidades, o aumento do ganho de munições, a redução de certos custos ou o aumento do tempo de construção. As habilidades são variadas e podem ser usadas tanto em veículos como na infantaria, como, por exemplo, camuflagem de unidades de infantaria ou permitir que um veículo possa rebocar um canhão.
Saltando agora para a campanha do Norte de África, o jogo transporta-nos mais uma vez para cenários reais, já que na campanha do Norte de África, o general Erwin Rommel lidera as forças alemãs. Esta campanha segue a linha dos jogos anteriores, com missões consecutivas de RTS puro, sem a inclusão da fase de estratégia por turnos como na campanha anterior. Para aqueles que não estão familiarizados com o que se passou no Norte de África naquela época, após a Itália sofrer um ataque dos Aliados vindo do Norte de África, a força alemã conhecida como Afrika Korps decidiu avançar por aquela região. Tudo na tentativa de evitar novos ataques e tentar eliminar as forças dos Aliados que se agrupavam naquelas regiões.
A campanha retrata com precisão a importância do controlo de algumas cidades e pontos estratégicos, assim como as tentativas de interromper o fornecimento de abastecimentos e adquirir mantimentos inimigos, reflectindo alguns dos acontecimentos da Segunda Guerra Mundial. Em certas missões, será necessário emboscar os soldados da Aliança. Esta campanha é extremamente interessante, pois tenta recriar cenários reais. Embora não seja longa, oferece diversidade com a inclusão da nova força jogável.
Company of Heroes 3 segue as pisadas da sua franquia, mantendo uma jogabilidade simples que não representa grandes dificuldades para o jogador. A criação de tropas, veículos e edifícios não exige grandes conhecimentos e os recursos básicos continuam a ser os mesmos: combustível, munições e a força de combate (efectivo). Estes três recursos são obtidos ao capturar áreas do mapa (tal como nos jogos anteriores), e existe um limite de população que varia consoante a missão.
Uma novidade deste jogo, provavelmente adicionada a pensar nas consolas onde será lançado posteriormente, é a possibilidade de pausar o jogo e dar ordens aos nossos soldados e veículos. Esta opção torna o jogo mais fácil, já que não há o problema de sermos atacados em vários locais e só podermos ajudar um lado de cada vez. Além disso, ao visualizar o mapa, é possível criar estratégias ofensivas ponderadas que conduzam à vitória.
Outro ponto interessante é a introdução de verticalidade, onde pontos elevados oferecem maior alcance e uma boa forma de proteger soldados sem serem atingidos por inimigos que estejam em áreas mais baixas. Além de aumentar a realidade do jogo, este elemento pode ser utilizado como mais uma tática pelo jogador.
Em relação aos modos de jogo que não a campanha, existem quatro exércitos disponíveis, dois do lado dos nazis – Afrika Korps e o Wehrmacht – e dois do lado dos Aliados – o exército norte-americano e o exército britânico.
Graficamente, o jogo é impressionante, especialmente para um RTS desta escala. Os cenários de guerra em Itália e no Norte de África são bem trabalhados, com as cidades italianas construídas de forma realista e com áreas verdes que reflectem a realidade. Já no Norte de África, os cenários são mais desertos, com a areia como uma predominante e pouca vegetação, dando um aspecto seco e árido. Os detalhes na infantaria e nos veículos são incríveis, desde o lançamento de granadas e disparos, até a forma como os soldados se protegem, e os veículos a andarem pelo mapa. Até em termos de destruição o jogo está impressionante, com os edifícios a ruir quando são atingidos.
Saltando agora para a parte sonora, o jogo oferece uma banda sonora que, embora não seja divinal, se enquadra bem com o tipo de jogo e o cenário de guerra. No entanto, a parte mais relevante são mesmo os efeitos sonoros do jogo: os tiros, as granadas a explodir, os tanques a andar, enfim, todos os efeitos que tornam a envolvência do jogo grandiosa. Tudo está incrível. É importante também mencionar que o voice acting está muito bem feito, com diversas falas que tentam recriar o sotaque britânico, americano, italiano e alemão, o que se encaixa perfeitamente no jogo.
A Company of Heroes 3 conseguiu inovar e, ao mesmo tempo manter a jogabilidade que tanto sucesso lhes trouxe, melhorando ainda a qualidade gráfica e adicionando excelentes recursos, como a estratégia por turnos. Valeu a pena esperar por este jogo, mas esperemos que não tenhamos que esperar outros 10 anos pelo próximo lançamento.