Developer: Ninja Theory, Xbox Game Studios
Plataforma: Xbox Series X|S, PC
Data de Lançamento: 21 de Maio de 2024

Que jogão!!! Talvez não seja esta a maneira mais ortodoxa de começar uma análise, mas vim escrevê-la instantes depois de terminar Senua’s Saga Hellblade II e como não podia deixar em palavras aquilo que verbalizei assim que apareceram os créditos finais, isto foi o melhor que me ocorreu para vos dar a certeza que estão na presença de uma obra de arte. 

Para entender bem a história de Senua, é obrigatório recuar até 2017, quando a Ninja Theory lançou Helblade: Senua’s Sacrifice apenas para a PS4 e PC. Só no ano seguinte é que o jogo chegou à Xbox, altura que coincidiu com a compra do estúdio por parte da Microsoft. O jogo foi um sucesso e com a sua chegada ao serviço Game Pass, milhares de jogadores puderam testemunhar a mente distorcida e sombria da personagem que ouvia vozes na sua cabeça. 

Eu joguei-o já este ano para me recordar da história e terminar o que tinha deixado a meio. Sinto que foi o melhor que fiz porque assim cheguei a esta nova aventura com tudo bem mais fresco na minha cabeça. Caso não tenham jogado e quiserem começar por este, podem fazê-lo, até porque no início é mostrada uma explicação de todos os acontecimentos desse jogo, igual ao vídeo lançado pelos desenvolvedores uns dias antes do seu lançamento. Ainda assim, é preciso ter em consideração que não viver a guerra que Senua trava consigo mesma no primeiro jogo, é perder as explicações para algumas decisões que acontecem neste.

Ora na primeira aventura, Senua apresenta-se como uma guerreira que acredita ter uma maldição consigo, ouvindo vozes constantes na sua cabeça. O seu objetivo era salvar a alma do seu amado Dillion. Enfrentou deuses e os seus próprios medos para o conseguir, levando-nos a perceber porque é que agia de determinada maneira em algumas situações. Tal como a sua mãe, vê coisas que mais ninguém vê e sente tudo de uma forma diferente. Já do seu pai tem marcas mentais profundas porque ele nunca foi a pessoa mais simpática do mundo e isso leva-a a duvidar e a questionar tudo o que faz, mesmo quando parece fazer o bem. 

É com este setting mental e com a aceitação de que as vozes fazem parte de si que chegamos a Senua’s Saga Hellblade II que começa num barco repleto de escravos, do qual fazemos parte. No entanto, um naufrágio faz com que Senua consiga escapar com vida, ainda que a muito custo. Não quero, nem posso contar grande parte da história que vão encontrar, porque isso tiraria a piada toda ao jogo, mas é daquelas que agarra do início ao fim. Está mais bem contada do que no primeiro jogo e tem mais personagens com os quais vamos interagir ao longo da narrativa. São elas: Thórgestr, Fargrímr, Ástríðr, entre outros.

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Senua continua com as vozes na sua cabeça, mas é quase como se já não desse conta. Controla as suas decisões de forma mais adulta, mesmo quando na maior parte das vezes as vozes discordem uma da outra, numa espécie de anjo contra o diabo em que uma diz por exemplo: “não acredites nele”, enquanto a outra diz “acredita”. Além destas duas “furies” como lhes chamam, volta e meia continua a ouvir a voz da escuridão, que a puxa para baixo, mesmo quando acaba por salvar alguém. A mente é um lugar estranho para todos nós e a de Senua é o reflexo disso. De resto, é de notar o trabalho que a Ninja Theory fez com este tema de saúde mental e da psicose, criando programas de ajuda e tentando mudar vidas através de um videojogo.

O jogo é uma autêntica aventura cinematográfica com alguns puzzles e combates pelo caminho. É cinema em estado puro. Cada ação, cada movimento de imagem, os cenários e o acting dos personagens foi tratado ao pormenor para dar uma experiência inesquecível a quem joga. É óbvio que para isto correr bem, muito contribui o seu grafismo soberbo. É um grande exemplo das potencialidades do Unreal Engine 5 e um marco para esta geração. Acredito sinceramente que a partir daqui, esta qualidade terá de ser a base de um futuro jogo do Tomb Raider ou de um hipotético Uncharted. 

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É realmente impressionante aquilo que está aqui. Existem pormenores deliciosos como as marcas que Senua tem na cara, os restos de sangue a escorrer ou as suas expressões faciais. Os cenários de uma Islândia Viking também acrescentam beleza, bem como alguns elementos, nomeadamente o fogo que é dos melhores que já vi num videojogo. Resumindo, é tal como nos aparece nos trailers e eu até arrisco dizer que na minha TV ainda ficou mais bonito, mas posso estar a ser só exagerado. 

Para elevar esta experiência ao nível de obra de arte, muito contribuem os combates que levaram uma melhoria significativa em relação ao primeiro jogo. Há mais tipos de adversários e vão dar de caras com inimigos que cospem fogo, os que lançam armadilhas, lanças ou até machados contra nós. Do nosso lado continuamos com a poderosa espada que é pau para toda a obra. Cada luta é sentida por nós com um peso que ela própria carrega. As danças das espadas e a brutalidade dos golpes são fantásticos. A mecânica é parecida com o seu antecessor, onde existe a possibilidade de travar o tempo e conseguir dar mais golpes certeiros, mas não uns atrás dos outros como antes acontecia. Parece que foi acrescentada uma forma mais realista, se é que se pode chamar assim. Apesar destas novidades, senti que podia existir mais tipos de movimentação, principalmente do nosso lado que acaba por estar limitado ao defender, desviar e atacar de forma rápida.

As mecânicas dos puzzles de Senua’s Saga Hellblade II continuam idênticas aos do primeiro jogo, principalmente no que toca a abrir caminhos através de símbolos. O desafio é encontrar no cenário pontos que façam as figuras que procuramos. O jogo dá algumas dicas de onde pode estar determinada parte de cada símbolo, mas desta vez, não sei se foi por estar com a habituação que vinha de andar a jogar Helblade: Senua’s Sacrifice, não senti que fossem tão difíceis como anteriormente. Achei bem mais intuitivo e fácil. Também notei que não houve em tanta quantidade, talvez para não quebrar o ritmo do jogo que considero estar no ponto. 

Além deste, há novos tipos de puzzles, nomeadamente quebra-cabeças de caminhos que mudam com o recurso a umas esferas que aparecem suspensas no cenário e que podem alterar as passagens ou virar tudo do avesso. Em alguns casos também existem umas bases que podem levar chama ou não, conforme os caminhos que queremos seguir. Em ambos, e embora ninguém nos diga exatamente o que é para fazer, achei tudo bem mais claro e menos secante que no primeiro. Ao longo da jornada, há alguns extras para encontrar, nomeadamente hieróglifos, mas devo confessar que não encontrem muitos nesta primeira passagem pelo jogo.

A juntar a isto, devo enaltecer o grande papel que os actores fizeram, nomeadamente Melina Jurgens que interpreta Senua. É claro que beneficia muito do MetaHuman, uma tecnologia do Unreal Engine 5, mas ver as expressões faciais do personagem em várias situações, bem como ela a dizer certas frases e a boca coincidir com a maneira como se diz, está qualquer coisa. Há poucos jogos que nos provoquem as sensações que este Senua’s Saga Hellblade II é capaz de o fazer. Do medo à ansiedade, sentimos que somos Senua em qualquer das situações. 

O que não vos pode faltar são uns fones de relativa qualidade. O próprio jogo aconselha a jogarmos com eles. É também uma obra sonora, até porque assim ouvimos as constantes vozes que foram capturadas de forma binaural, para nos dar uma sensação 3D do som total. A música que acompanha o jogo é também ela envolvente que não me sai da cabeça, recorrendo aos coros e a melodias mais orquestrais para dar um ar mais arrepiante em determinados momentos. 

A duração do jogo tem sido um dos temas mais controversos nas comunidades, mas eu sinceramente fiquei satisfeito. Cerca de 6/7 horas de jogo para concluir a história pode não ser muito, mas tudo o que me deram foi bem feito. Claro que jogava na boa mais umas quatro horas, mas mais vale assim, sem nunca secar, do que um jogo que nunca mais acaba só para esticar sem acrescentar nada à história. Até vos digo que quando terminarem o jogo, terão uma surpresa.

Ainda antes de terminar a análise, só referir que outra das controvérsias é que o jogo apenas roda a 30fps no Xbox, mas talvez por eu ter crescido na altura dos bits, não vi mal nenhum nisso, uma vez que não afetou a jogabilidade. Acrescento que este jogo é uma lufada de ar fresco numa indústria que cada vez mais insiste em jogos de mundo aberto gigantescos em que muitas vezes, tudo espremido dá pouco sumo. Creio que a Microsoft acertou na mouche quando comprou a Ninja Theory, que já provou ser capaz de criar grandes jogos single-player que tanto fazem falta ao catálogo de exclusivos da Xbox.

Senua’s Saga Hellblade II é um jogo inesquecível que eleva o patamar gráfico para os próximos jogos que dizem ser de nova geração. Tem uma excelente narrativa e melhora tudo em relação ao jogo anterior. Os combates são do melhor que há, os puzzles mais intuitivos e o ritmo que o jogo tem é perfeito. Um grande exclusivo Xbox/PC que ainda por cima fica disponível no Game Pass.

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Élio Salsinha
Aprendeu a jogar ao Pedra, Papel, Tesoura com o Alex Kidd e a contar até 100 com o Sonic. Substituiu a Liga da Malásia pela Liga Portuguesa no Fifa 98 e percebeu que havia jogos melhores que filmes com o Metal Gear Solid.
analise-senuas-saga-hellblade-ii<h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #339966;">SIM</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Graficamente brilhante</li> <li style="text-align: justify;">Um verdadeiro jogo de nova geração</li> <li style="text-align: justify;">Sentimos o peso de cada luta</li> <li style="text-align: justify;">O acting</li> <li style="text-align: justify;">A história</li> </ul>