Developer: Metamorphosis Games
Plataforma: PC
Data de Lançamento: 16 de julho de 2024
Os jogos do estilo metroidvania têm uma fanbase sólida que garante a sua permanência ao longo do tempo, sendo que muito se deve os estúdios que continuam a introduzir inovações e melhorias que mantêm o género fresco e apelativo. Quando Gestalt: Steam & Cinder foi apresentado criou grandes expectativas entre os jogadores. Com um estilo artístico pixelizado que evoca a era dos 32-bits, combinando os elementos clássicos com a inovação dos títulos modernos.
A história centra-se em Aletheia, uma Soldner, uma mercenária que faz trabalhos arriscados por dinheiro, usando as suas habilidades de combate. Aletheia distingue-se facilmente devido aos seus cabelos vermelhos e uma forte personalidade, e além das suas excelentes habilidades de combate, ela também possui um passado misterioso, que é revelado ao longo da aventura, e que torna esta personagem bastante intrigante.
Iniciamos o jogo quando recebemos uma missão para resgatar um homem que ficou preso numas ruínas antigas, localizadas numa parte abandonada e perigosamente instável da cidade. Durante essa missão, Aletheia ativa um antigo dispositivo que parece estar ligado aos acontecimentos que moldaram o mundo atual, isto é, ao Cataclismo. Esse dispositivo, ao ser ativado, desbloqueia um poder desconhecido em Aletheia, mas também desencadeia uma série de visões enigmáticas. Essas visões misturam memórias passadas, sonhos e premonições, deixam-na confusa sobre a sua própria identidade e o propósito das suas novas habilidades.
À medida que avançamos, descobrimos que o dispositivo está conectado a uma antiga força que ameaça a cidade de Canaan. O enredo revela que o Cataclismo não foi um evento natural, mas sim uma consequência de experiências tecnológicas e mágicas que saíram do controlo. Aletheia começa a entender que a sua própria história está entrelaçada com esses eventos antigos, e a cidade está à beira de um novo desastre iminente. A partir daí, ela vê-se envolvida numa conspiração que inclui facções rivais e figuras poderosas que têm os seus próprios interesses em jogo.
É fácil perceber que a cidade de Canaan é um dos locais-chave do jogo. Uma cidade onde tudo se desenrola a partir da tecnologia a vapor. O seu passado ficou marcado por um cataclismo, que transformou a superfície num local inóspito e forçando a humanidade a viver escondida e com medo. Quer pela história que vamos percebendo ao longo da aventura, como com a parte visual, o jogo cria um enredo e um cenário intrigante para toda a narrativa do jogo.
Ao longo da nossa jornada, encontramos tanto aliados como antagonistas, que adicionam camadas-extra à narrativa. Aletheia irá interagir com as personagens que têm as suas próprias motivações e segredos, algumas das quais ajudam-na a desvendar a verdade por trás do Cataclismo e da sua conexão ao tal dispositivo.
A narrativa é construída principalmente através dos diálogos entre as personagens, cada uma trazendo as suas próprias histórias e motivações. Embora essa abordagem ofereça algo diferente do habitual, os diálogos, por vezes, podem estender-se em demasia, dificultando a fluidez da história. Algo que achei bastante interessante foi a mistura de tecnologia e mistério que criam uma atmosfera envolvente no jogo, e mantêm-nos sempre curiosos sobre os segredos que descobriremos.
Como em qualquer metroidvania, a jogabilidade é um ponto crucial para o jogo ter sucesso, e podemos dizer que em Gestalt: Steam & Cinder, é mesmo um dos pilares que sustenta a experiência oferecida pelo jogo, misturando com mestria elementos de plataformas e combate que nos levam a conseguir explorar e combater de maneira fácil e ágil durante todo o jogo.
Para que tudo funcione bem, a personagem principal possui um conjunto de movimentos essenciais. Desde habilidades básicas de movimentação (como saltar e escalar), até o desbloqueio posterior do salto duplo, crucial para superar obstáculos e acessar áreas anteriormente inacessíveis. Teremos também a opção de saltar entre paredes, que permite explorar novos locais, entre outras surpresas.
No que diz respeito ao combate, é fácil destacar a combinação de ataques corpo a corpo e à distância. Teremos à nossa disposição uma espada e uma pistola, onde a espada permite a execução de combos rápidos e fortes, enquanto a pistola é equipada com balas normais e elétricas. As balas elétricas têm a capacidade de atordoar inimigos, adicionando uma camada estratégica ao sistema de combate. A gestão da munição é um aspecto crucial, pois as balas são recarregadas ao atingir inimigos ou ao destruir elementos do cenário.
Outra mecânica importante é a esquiva, que nos permite ficar “invulneráveis” durante uns breves instantes, esta funciona num rolamento que a personagem faz, fornecendo-nos um controlo preciso durante momentos críticos, seja para escapar de ataques rápidos ou para evitar armadilhas mortais.
Algo que também achei bem equilibrado foi como o combate foi criado pela equipa de desenvolvimento do jogo, já que oferece um bom equilíbrio tanto nos ataques corpo a corpo, como nos ataques à distância, no entanto, obrigando o jogador a estar sempre pronto para desviar ou mesmo dar uns passos atrás para fugir dos ataques inimigos. Além disso, existem também habilidades especiais que vão sendo desbloqueadas ao longo da aventura, oferecendo novas opções de ataques, e não só.
Esse é um ponto vital para termos sucesso durante o jogo, já que o sistema de habilidades, à medida que avançamos, é possível ganhar pontos que podem ser usados na árvore de habilidades, permitindo a personalização das técnicas de combate, e melhorias de atributos essenciais como saúde e energia. Essa árvore de habilidades oferece uma variedade de opções, desde ataques especiais até melhorias que facilitam a exploração e o combate.
Algo também essencial nos metroidvanias são os mapas, já que muitas vezes só atingimos certas áreas depois de desbloquear certas habilidades, ou mesmo depois de adquirir certos dispositivos. Gestalt: Steam & Cinder está estruturado para promover isso mesmo, uma exploração rica, mas também que nos recompensa por isso. Os mapas são extensos e interconectados, fazendo-nos explorar cada área com bastante atenção. As seções do jogo variam entre áreas lineares e ramificadas, algumas com segredos ou mesmo itens escondidos. Vamos encontrar puzzles que nos obrigam a utilizar algumas habilidades da personagem, e várias vezes esses puzzles – que vão desde desafios de plataforma até mecânicas baseadas em lógica – são projetados para testar a capacidade do jogador de pensar de forma diferente e aproveitar ao máximo as habilidades desbloqueadas.
Em relação aos inimigos encontrados ao longo do jogo, embora a variedade não seja extensa, há inimigos interessantes com padrões de ataque distintos. Diria que o problema está na falta de uma maior variedade de ataques dos mesmos, que, depois de os conhecer, é fácil sabermos exatamente o momento de desviar, de atacar, e isso torna o combate por vezes repetitivo. Conforme vamos progredindo, nota-se que vamos encontrando inimigos mais desafiadores, ainda assim, que sofrem do mesmo problema.
A parte gráfica chama a atenção, especialmente para os fãs do estilo pixelizado característico da era dos 32-bits. Porém, mesmo nesse estilo, tem bastantes detalhes que chamam a atenção, criando uma atmosfera vibrante e imersiva. A cidade de Canaan é representada com um design muito interessante e diferente, e cada ambiente é cuidadosamente construído para oferecer uma sensação de profundidade e complexidade. A animação das personagens, principalmente de Aletheia, é fluida e contribui para todos os movimentos quer em combate, quer na exploração, funcionando muito bem.
Apesar de o jogo oferecer uma experiência visualmente coesa e atraente, alguns aspetos poderiam estar melhores. E a minha crítica neste aspecto chega devido a alguns ambientes por vezes serem repetidos, com áreas que apresentam semelhanças em termos de design e estrutura. Ainda assim, isso não afeta a jogabilidade, e não estraga a arte apresentada no jogo, que é cativante e bem-executada, proporcionando uma experiência nostálgica e visualmente satisfatória.
A parte sonora acompanha bem a atmosfera do jogo, variando entre melodias e faixas intensas durante os combates. Embora a música contribua para a imersão, algumas faixas podem tornar-se repetitivas ao longo do tempo, o que diminui um pouco o impacto no jogo. Os efeitos sonoros são bem projetados e ajudam a criar um ambiente envolvente, embora, mais uma vez, a repetibilidade de alguns sons possa ocasionalmente começar a notar-se.
Gestalt: Steam & Cinder é um título atraente que captura a essência dos grandes clássicos metroidvania, trazendo nostalgia para os jogadores veteranos. A narrativa consegue prender-nos até ao fim, e Aletheia é uma protagonista cativante durante toda a aventura. Apesar de alguns elementos que poderiam ser melhorados, principalmente no combate que por vezes pode-se tornar repetitivo, o jogo, como um todo, oferece uma experiência agradável, e que certamente agradará aos fãs do género.