Developer: Keen Games GmbH
Plataforma: PC
Data de Lançamento: 24 de janeiro de 2024

O mercado no que se refere a jogos de sobrevivência está tão saturado que é difícil acompanhar o lançamento de todos eles. Foi, no entanto, com o trailer da última actualização de Enshrouded, que o jogo captou a minha atenção e decidi embarcar nesta nova aventura. Enshrouded é um jogo de sobrevivência e exploração que combina elementos de RPG num enorme mundo aberto.

Um dos pontos que rapidamente cativa quem o experimenta é como ele foge ao que é habitual no género. Apesar de manter tudo o que os jogos de sobrevivência têm de especial – como a habitual exploração, o combate, a recolha de recursos e a construção – o jogo consegue oferecer algo bastante diferente, e isso é a sua liberdade. Outro ponto que me surpreendeu desde início foi a sua história, bem mais interessante que a maioria destes jogos – que muitas vezes no larga simplesmente num mundo aberto -, aqui somos guiados por uma que evolui ao longo da nossa progressão. Existem diversos desafios, missões principais e secundárias, mas que nunca nos são verdadeiramente impostas.

A história de Enshrouded consegue ser um dos seus pontos fortes, apresentando-se de forma simples e subtil, dando-nos a vontade de explorar para descobrir mais do que aconteceu naquele mundo. O jogo inicia-se com a nossa personagem, um Flameborn a acordar numa terra devastada pela insaciável procura da humanidade pelo Elixir – uma substância que prometia poder ilimitado. Essa procura levou a uma exploração sem limites de recursos naturais que resultou numa catástrofe ambiental. Essa catástrofe tem um nome, Shroud, uma neblina misteriosa e mortal que consome tudo o que toca, com os humanos a serem incapazes de resistir a essa ameaça.

O Flameborn aparece como a última esperança para a recuperação do mundo, uma figura que irá explorar, reconstruir e desvendar o segredo por trás do Shroud, cujo lore do jogo é explorado de forma orgânica, sem depender de longos diálogos ou explicações. Iremos conhecer os diversos pormenores do mundo a partir de pistas que estão espalhadas pelo mapa, quer em ruínas, monumentos antigos e vestígios de uma civilização que se autodestruiu devido à sua ambição.

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Ao explorar o vasto mundo do jogo, somos gradualmente imersos nesta história de decadência e redenção. Cada região revela-nos mais sobre os erros do passado, e também revela facilmente como a construção deste mundo é impressionante, com uma diversidade de paisagens, desde vastos campos verdes a montanhas áridas, passando por florestas densas e zonas devastadas pela presença do Shroud.

O Shroud é uma das mecânicas que mais influencia a nossa exploração – uma espécie de nevoeiro mortal que torna certas áreas perigosas. Para terem uma ideia, esta névoa percorre todas as zonas mais baixas do jogo, onde muitas vezes existem recursos bastante importantes para evoluirmos. Para sobreviver nestas áreas é essencial melhorar a personagem e agir com muita cautela, já que o tempo para lá estar é limitado.

Num jogo destes, obviamente que o pilar principal é a jogabilidade e a progressão. Este processo assenta numa dinâmica bem equilibrada entre exploração, crafting, combate e construção. Começando pela exploração, este é talvez o ponto que mais atrai os jogadores a entrarem neste tipo jogos. Com um mundo aberto detalhado que nos convida a percorrer as suas paisagens, descobrir locais misteriosos e até a desbloquear certos quebra-cabeças..

A construção, um elemento adorado por muitos jogadores, oferece-nos a possibilidade de criar bases personalizadas. Podemos usar vários tipos de matérias para construir, como por exemplo: madeira, pedra, ferro. Algo que tem de ser destacado é o sistema de construção do jogo, que apresenta-se como um dos melhores dentro do género. É intuitivo e altamente versátil, permitindo a criação de estruturas incríveis sem grande esforço — apenas com recurso à imaginação.

Isto acontece devido à capacidade de personalização avançada, que nos dá liberdade para modificar estruturas pré-existentes ou criar tudo de raiz. O sistema utiliza blocos pequenos, permitindo ajustar detalhes minuciosos, como remover ou adicionar partes específicas, para construir exatamente aquilo que imaginamos. É um modelo que se adapta perfeitamente ao jogador, promovendo a criatividade sem complicações.

Quanto à mecânica de crafting, esta é igualmente fundamental. A necessidade de adquirir recursos do ambiente é crucial para criar novos itens, e esta componente liga-se diretamente ao combate. O combate, embora simples, é eficaz e até adiciona alguma tensão ao jogo. Ao longo da aventura, teremos de enfrentar diversos tipos de inimigos, desde animais selvagens, guerreiros, magos, entre muitos outros, para não falar dos desafiantes bosses que guardam locais importantes.

Em relação ao sistema de progressão, este mantém-se interessante ao longo do jogo, embora como é habitual neste género, o início seja onde sentimos mais intensamente a evolução e o entusiasmo de descobrir novas mecânicas. É ao aprendermos as novas habilidades de crafting e de construção que começamos a perceber a grandeza do jogo nesse campo. A enorme quantidade de recursos que existem, muitos dos quais difíceis de obter, incentiva-nos a explorar mais e a afastarmo-nos, por vezes, das missões principais para nos focarmos na evolução da personagem.

Um ponto muito diferenciador de Enshrouded é a forma como funciona o sistema de crafting e de missões. Em vez de desbloquearmos habilidades ou receitas ao subir de nível ou apanhar novos recursos, o jogo introduz NPCs que resgatamos durante a jornada. Cada um deles desempenha um papel específico: um artesão ajuda na criação de armas e armaduras, uma caçadora ensina técnicas de caça e fabrica equipamentos leves, e um alquimista guia-nos na preparação de poções, o carpinteiro que nos ensina novos tipos de construções, a fazendeira que nos ajuda a cultivarmos diversas plantas e frutas, e outros personagens que temos de resgatar. Cada NPC traz consigo missões que, ao completarmos, desbloqueiam novos conteúdos, criando quase uma relação de troca contínua.

No meu caso, optei por resgatar o máximo de personagens antes de me dedicar às missões individuais de cada uma. Esta abordagem permitiu-me ter uma noção clara do que cada NPC podia oferecer, deixando-me preparado para planear melhor a progressão. Este sistema reflete bem a filosofia do jogo: é o jogador quem decide como avançar, oferecendo uma liberdade rara neste género, não existindo a ideia do que está certo fazer primeiro. Além disso, as missões dos NPCs vão além das habituais ordens, integrando histórias próprias que nos ajudam a compreender melhor o seu percurso no mundo. Este toque narrativo enriquece ainda mais a experiência e dá profundidade às interações.

Enshrouded oferece outras funcionalidades interessantes, mas também algumas que podem ser melhoradas, algo compreensível para um jogo que se encontra em early access. Uma das funcionalidades mais práticas e das quais adorei é a possibilidade de viagem rápida para as nossas bases a partir de qualquer local do mapa, desde que estejamos fora das zonas afetadas pelo Shroud. Um item extremamente útil que o jogo tem são caixas mágicas para guardar recursos, e tem esse nome devido ao facto de permitem armazenar recursos que, uma vez depositados, ficam automaticamente acessíveis em qualquer mesa de criação ou mesmo nos NPCs que fabricam itens por nós.

Outro detalhe que merece destaque é a intensidade das noites. Nessas alturas, a quantidade de inimigos aumenta e a visibilidade fica obviamente reduzida. As noites oferecem um desafio considerável, mas, para o jogo permite evitar este cenário, basta dormir numa cama, e a noite passa de maneira bastante acelerada.

Obviamente que nem tudo é perfeito, e existem algumas coisas podiam melhorar, por exemplo, no sistema de crafting, se quisermos criar um item que depende de outros recursos fabricados previamente, somos obrigados a criá-los manualmente um por um, em vez de termos uma opção para automatizar o processo, o que tornaria a experiência ainda mais interessante.

Um dos maiores trunfos de Enshrouded é, sem dúvida, a componente social, sendo a possibilidade de jogar em modo cooperativo com até 16 jogadores um dos seus grandes destaques. Diria que, como em muitos jogos de sobrevivência, este é um dos pontos chaves, permitindo a colaboração na construção de bases, exploração do mundo e realização de missões. Um detalhe particularmente interessante é que as missões não pertencem a um jogador em específico, mas sim ao mundo partilhado. Isto significa que, quando um jogador completa uma missão, esta é considerada concluída para todos. Isto acontece mesmo nas missões mais extensas e que têm vários passos, ficando esses passos também concluídos para os outros jogadores, sempre que finalizamos algum.

Como todos sabemos, a componente co-op é uma daquelas que mais atrai jogadores, e isto muito se deve não só a parte social, mas também à capacidade de distribuir tarefas entre os jogadores. Uns podem focar-se na parte agrícola, outros na extração de minérios, enquanto outros dedicam-se por exemplo à construção. Esta divisão de tarefas não só torna a progressão mais eficiente, mas também contribui para uma experiência mais divertida. A colaboração no modo cooperativo transforma tarefas que poderiam ser monótonas em momentos de verdadeira interação social, promovendo a criação de estratégias conjuntas e um forte sentido de comunidade.

A parte gráfica do jogo é um dos seus maiores trunfos, apresentando um mundo meticulosamente detalhado e envolto numa atmosfera que combina mistério e beleza. Desde as vastas planícies verdes até às áreas desoladas pelo Shroud, cada cenário é cuidadosamente concebido, evidenciando um design ambiental que nos prende rapidamente a atenção. O jogo evita a tendência de dependência de geração procedural, optando por um mundo totalmente feito à mão, o que resulta numa paisagem coesa e visualmente impressionante.

A utilização de cores e iluminação é particularmente eficaz na construção da atmosfera do jogo. As áreas dominadas pelo Shroud apresentam tons escuros e opressivos, em nítido contraste com as zonas mais seguras e vibrantes. Este contraste não só ajuda na navegação como também reforça a narrativa, simbolizando a luta constante entre a sobrevivência e o caos. Contudo, há um detalhe que pode causar estranheza: a ausência de rios ou lagos. Este foi um aspeto que devo confessar que passado algum tempo começou a causar-me alguma impressão, especialmente num mundo que parece tão vivo e natural.

A vertente sonora é um excelente complemento ao jogo, aumentado a sua imersão com grande eficácia. A banda sonora adota uma abordagem habitualmente calma e subtil, intensificando-se em momentos de perigo ou combate, criando uma sensação de tensão crescente. Os efeitos sonoros também merecem destaque: desde o som dos passos nas diferentes superfícies até ao ruído sinistro do Shroud a consumir o ambiente, e o som das armas nas batalhas. Tudo contribui para uma atmosfera densa e envolvente.

Enshrouded caminha para ser um dos melhores jogos de sobrevivência com elementos de RPG de ação que o mercado já viu. Mesmo em estado de Early Access, apresenta uma qualidade surpreendente além de já se encontrar num estado bastante robusto, praticamente sem problemas. Com atualizações frequentes e melhorias consistentes, é um título que já vale a pena experimentar, especialmente para fãs do género. Para aqueles que preferem esperar pelo produto final, vale a pena mantê-lo debaixo de olho, pois tem tudo para se tornar uma referência no seu género.

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Rui Gonçalves
Desde o tempo do seu Spectrum+2 128k que adora informática. Programador de profissão nunca deixou de lado os jogos, louco por RPGs e jogos de futebol. Adora filmes de acção e de ficção científica, mas depois de ver o Matrix nunca mais foi o mesmo.
analise-enshrouded<h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #339966;">SIM</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Visualmente incrível</li> <li style="text-align: justify;">Narrativa bem construída</li> <li style="text-align: justify;">Mecânicas de construção excelentes</li> </ul> <h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #ff0000;">NÃO</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Ainda pode melhorar em alguns aspectos da qualidade de vida</li> </ul>