Developer: Team Vivat
Plataforma: PC
Data de Lançamento: 18 de abril de 2024 (Early Access)

A apenas alguns meses do lançamento de Vivat Slovakia, um título que promete transportar-nos a um momento histórico cheio de mudanças e complexidade. A Team Vivat, uma pequena, mas ambiciosa produtora eslovaca, aposta em algo que vai além do entretenimento comum do género de mundo aberto, criando uma visão autêntica e intimamente ligada à sua própria cultura e história.

Este jogo, ao mesmo tempo que presta homenagem a clássicos como Grand Theft Auto, diferencia-se ao colocar as suas raízes em narrativas profundas e em representações fiéis de uma era marcada por transições políticas, económicas e sociais.

O pano de fundo do jogo é o período de transição que sucedeu à queda do Bloco de Leste. Após décadas sob influência soviética, a Revolução de Veludo em 1989 trouxe liberdade, mas também incertezas. Quando, em 1993, a Eslováquia e a República Checa se separaram, um novo país emergiu, enfrentando desafios de identidade e estabilidade. Este contexto oferece não só um cenário visual fascinante, mas também uma narrativa carregada de significados.

Algo que vão reparar facilmente é que o ambiente do jogo é verdadeiramente demonstrativo desse período de reconstrução nacional. Desde os outdoors nostálgicos até aos carros típicos da época, tudo em Vivat Slovakia reflete a tensão entre o passado comunista e o desejo de modernização ocidental.

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O enredo anda à volta de um polícia disfarçado de taxista, que usa este disfarce para se infiltrar nos círculos de crime organizado em Bratislava. Embora esta premissa nos remeta para os clássicos filmes noir e histórias de espionagem, o jogo rapidamente enriquece esta narrativa, oferecendo personagens secundárias complexas, dilemas morais e uma progressão que desafia as nossas expectativas.

Um ponto interessante é como a profissão de taxista, aparentemente banal, transforma-se numa excelente maneira para explorar a cidade, interagir com cidadãos, descobrir novos locais, e até as pequenas bisbilhotices de taxista estão bem presentes e enquadradas nas personagens. Cada passageiro traz uma pequena história única, revelando os contrastes sociais e culturais de uma sociedade em mudança.

O protagonista é uma figura cativante: um homem com um pé no lado da lei e outro no mundo do crime. A sua atitude carismática, combinada com um estilo de “durão” típico dos anos 90, à semelhança dos famosos filmes de ação com Arnold Schwarzenegger ou Sylvester Stallone. Diria que a personagem é uma figura memorável, enquanto as suas interações com as outras personagens mostram também alguma vulnerabilidade e humanidade.

A cidade de Bratislava não é apenas um cenário, mas também ela é protagonista no jogo. Cada rua, cada praça e cada edifício têm a essência necessária para nos transportar para a capital eslovaca nos anos 90. Desde os bairros mais humildes até aos centros de negócios emergentes, a atenção aos pormenores é facilmente visível.

Podemos explorar livremente a cidade, e embora tenha alguma vida, não é cheia como acontece em GTA. Ainda assim, os NPCs reagem á vida da cidade e têm os seus próprios comportamentos. Por exemplo, os passageiros comentam o nosso estilo de condução, e até mesmo pequenas ações que acontecem na cidade contribuem para a sensação de imersão.

As atividades secundárias são outro ponto de destaque. Além das missões principais, o jogo oferece corridas de carros, pesca, e até outras oportunidades menos lícitas. No entanto, podemos simplesmente fazer trabalho de taxista, transportando passageiros de um lado para o outro, e com isso aumentar o nosso dinheiro.

Embora o ADN de GTA seja evidente, Vivat Slovakia consegue ter o seu próprio estilo, numa abordagem com uma cadência mais calma, e um dos bons exemplos disso é a condução, que além de ser um dos pilares do jogo, tem uma física que procura equilibrar realismo e diversão. Cada veículo é uma cópia do design dos automóveis dos anos 90.

Outro elemento interessante são os conflitos, que, embora não tão central quanto em outros jogos do género, apresenta uma abordagem tática e realista. Em vez de tiroteios frenéticos, o jogo aposta em conflitos mais ponderados, sem a loucura de outros jogos.

Apesar disso, ainda existe muito espaço para melhorias. Durante o meu gameplay, ocorrerem diversos vezes bugs no sistema de colisões, com carros a serem projetados por vezes com um pequeno toque. A IA dos NPCs pode, por vezes, agir de forma incoerente, e por exemplo, aconteceu-me ir apanhar um passageiro, parar à sua frente e ele simplesmente começou a afastar-se do carro em vez de entrar, e passado uns momentos apareceu no carro. Tudo isto são problemas normais de um jogo em Early Access, e além disso a Team Vivat tem demonstrado compromisso em ouvir o feedback da comunidade e implementar atualizações constantes.

As incontornáveis estações de rádio também estão presentes no jogo, existem cerca de 6 estações para escolheremos, e todas elas com o seu género musical e com músicas dos anos 90. Tal como acontecia em GTA San Andreas, é possível criarem a vossa própria radio.

Visualmente, confesso que fiquei surpreendido, para um título de um estúdio independente, o jogo remonta-nos para o grafismo de GTA 4. Não sendo um grafismo de última geração, as texturas são detalhadas, e os efeitos de iluminação, tal como as animações das personagens, criam uma apresentação convincente e atraente.

No campo do som, o jogo também se destaca. Desde os sons ambientais da cidade até à banda sonora, tudo contribui para a imersão. O jogo apresenta um voice acting em eslovaco e inglês, e este está bastante competente e convincente.

Como qualquer título em acesso antecipado, o jogo ainda tem diversos desafios pela frente. Por exemplo, as questões de otimização e a oscilações de desempenho, são um dos desafios que a equipa de desenvolvimento tem pela frente.

Vivat Slovakia foi uma enorme surpresa, a narrativa prende o jogador, o mundo aberto está muito bem trabalhado, assim como oferece uma jogabilidade interessante e divertida. Diria que é um jogo com muito potencial e extremamente ambicioso, que se for bem trabalhado, poderá vir a ser um título que será uma surpresa para muitos jogadores.

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Rui Gonçalves
Desde o tempo do seu Spectrum+2 128k que adora informática. Programador de profissão nunca deixou de lado os jogos, louco por RPGs e jogos de futebol. Adora filmes de acção e de ficção científica, mas depois de ver o Matrix nunca mais foi o mesmo.