Developer: Today’s Games
Plataforma: PC
Data de Lançamento: 30 de janeiro de 2025
O género Metroidvania renasceu na última década, com inúmeros títulos a chegarem e a oferecerem experiências inovadores e algumas até bastante marcantes. Resetna, a estreia do estúdio croata Today’s Games, junta-se agora a este crescente catálogo com uma proposta sólida e com a sua própria identidade. O estúdio, conta com profissionais experientes que já participaram no desenvolvimento de títulos como Serious Sam e League of Legends.
A narrativa de Resetna é apresentada de forma não-linear e exige que tenhamos um papel ativo nessa descoberta. Encarnamos Resetna, um robô ativado misteriosamente após anos de inatividade. Sendo a nossa missão investigar a origem de um sinal enigmático que está a levar as restantes máquinas à loucura.
O mundo onde a aventura se passa está num estado pós-apocalíptico e é inteiramente dominado por tecnologia degradada, onde a civilização tal como a conhecemos parece ter desaparecido. Os poucos robôs funcionais com quem interagimos fornecem-nos fragmentos de informação — pistas que nos ajudam a montar o cenário do que aconteceu. O jogo não nos oferece a história de caras, grande parte da história está escondida em colecionáveis opcionais, que na grande maioria dos casos torna-se frustrante para os jogadores, sendo sempre preferível a narrativa estar mais explícita.
Um detalhe interessante é o uso de Leetspeak na grande maioria dos textos que recolhemos: letras substituídas por números (por exemplo, “E” torna-se “3”), reforçando a sensação de colapso tecnológico. Esta escolha estilística não é apenas estética, é também uma metáfora para a decadência e corrupção do sistema operativo que outrora sustentava o mundo.
O mundo é dividido em sete biomas interligados, cada um com a sua estética e identidade própria. Desde cavernas a colapsar a corredores metálicos corroídos e zonas piscinas de ácido, cada zona proporciona uma sensação distinta. Sendo um metroidvania, o level design favorece bastante a curiosidade, recompensando quando nos aventuramos por caminhos alternativos.
A direção artística é um dos grandes trunfos do jogo. A paleta de cores, a iluminação e os efeitos visuais trabalham em conjunto para criar ambientes distintos. Nota-se a existência de atenção aos detalhes, e isso é visível por exemplo no desgaste visível nos inimigos — muitos deles enferrujados, com peças soltas ou instabilidade evidente nos seus movimentos — dando assim também um reforço na sensação de um mundo em ruínas, abandonado pelo tempo.
Um dos aspetos mais cativantes do jogo é a forma como cada bioma introduz novos inimigos, desafios ambientais e obstáculos que requerem uso criativo das habilidades desbloqueadas. Existe uma progressão natural e orgânica na dificuldade, que nunca se torna injusta, mas sim mais exige.
No aspecto da jogabilidade, desde os primeiros minutos, sentimos que estamos a jogar algo responsivo, ágil e polido. Com o desenrolar da campanha, vamos desbloqueando habilidades como double jump, air dash, wall grab e grapple pull, todas integradas de forma coesa no sistema de movimento.
Mas nota-se claramente que a parte mais interessante acontece quando conseguimos usar as habilidades de forma sequencial. Passarmos de uma esquiva no chão para um salto duplo, agarrarmo-nos a uma parede, impulsionarmo-nos com o grapple e aterrar com um golpe certeiro é verdadeiramente satisfatório. Sendo fácil admitir que a sensação de fluidez e liberdade de movimento é um dos pontos positivos de Resetna.
O sistema de combate complementa bem a excelente movimentação. Temos três tipos de armas: os machados (rápidos e letais), o sabre (equilibrado entre velocidade e dano), e a naginatana (mais lenta, mas poderosa). A troca de armas pode ser feita em tempo real, o que permite uma grande adaptabilidade em combate. A esta dinâmica somam-se o escudo recarregável, que absorve dano, e um drone que nos cura periodicamente.
Outro dos destaques vai para o sistema de evolução baseado em chips, funcionando como uma árvore de talentos com inspiração em Tetris. Cada chip ocupa um ou mais blocos num espaço limitado, e o jogador precisa organizá-los de forma eficiente. A gestão deste espaço obriga-nos a decisões estratégicas, vamos dar por nós a pensar: será que vale a pena remover um chip de defesa para colocar outro que aumenta o ataque? Este sistema é interessante, porque oferece mais personalização, e incentiva-nos também a experimentar combinações diferentes.
Os inimigos além de terem alguma variedade também oferece padrões de ataque e comportamento distintos, forçando-nos a adaptarmo-nos a cada nova abordagem. O combate não é monótono, nem nunca se torna, graças à introdução constante de novos inimigos, armadilhas e desafios.
Um ponto que fiquei um pouco desagradado foram os bosses, que deixam a desejar. Apesar do seu visual impactante e das introduções cinematográficas, muitos deles apresentam padrões de ataque pouco inspirados, baseando-se em repetição e resistência em vez de criatividade ou inovação. São momentos de tensão, sim, mas que raramente surpreendem.
Por fim, há momentos em que o combate, apesar de sólido, carece de um polimento mais afinado — especialmente em situações com muitos inimigos em simultâneos, onde a leitura visual do caos se torna difícil. Ainda assim, não compromete a experiência geral de combate.
A componente sonora de Resetna é subtil, mas competente. A banda sonora mistura tons eletrónicos suaves com ecos metálicos e industriais, criando uma atmosfera melancólica e imersiva. Nos momentos de combate, o áudio torna-se mais intenso, com sons de impacto e explosões sonoras que realçam cada golpe desferido.
É evidente que a equipa de áudio teve um cuidado especial em criar uma paisagem sonora coerente com o mundo visual. Não há excesso de música nem efeitos exagerados — tudo é equilibrado e bem posicionado para reforçar a imersão. Os momentos de silêncio são igualmente poderosos.
Resetna é um projeto ambicioso que acerta em quase todos os pontos essenciais de um bom Metroidvania: movimentação de excelência, combate envolvente, progressão recompensadora num mundo visualmente fascinante. Para primeiro jogo da Today’s Games, nota-se bastante potencial para um estúdio indie. Além disso, o jogo estabelece uma base robusta e deixa tudo pronto para uma futura sequela.