Developer: 11 Bit Studio
Plataforma: PS5, Xbox Series X|S, PC
Data de Lançamento: 13 de Julho de 2025

Desde que vi o primeiro trailer de The Alters que fiquei entusiasmado com o conceito. Apesar da história parecer similar a tantos outros jogos, onde uma expedição no espaço corre mal, a maneira como íamos ter de sobreviver é que me fascinou. Era preciso criar clones de nós próprios para nos ajudar a sair vivos daquela situação. O mais engraçado é que cada um, a certa altura da nossa vida, tinha tomado uma decisão diferente e seguido outro caminho que não o nosso. Essas versões de nós mesmos são chamados de Alters.

Com tudo o que isso implica, a 11 Bit Studio, que já nos habituou a fazer jogos de sobrevivência de alto calibre como Frostpunk ou This War Of Mine arriscou dar esse passo e trouxe-nos mais um excelente jogo deste género, onde não só interessa a gestão de recursos materiais, como também importa a gestão de cada um dos Alters que criamos, porque sem eles, a jornada termina muito rápido. Importa também ter em atenção as escolhas narrativas que fazemos porque cada uma delas acaba por ter consequências. Às vezes boas, outras vezes más.

A nossa aventura arranca no papel de Jan Dolski, um minerador que foi numa expedição espacial à procura de Rapidium, a tal substância que permite criar versões alternativas de nós próprios. A missão é conhecida como Projeto Dolly, numa clara alusão ao primeiro mamífero a ser clonado. Jan faz parte da empresa AllyCorp, que está interessada nesta substância, que nos dizem ser muito importante para o planeta Terra e pedem-nos para trazer o máximo possível. No entanto, como já vos disse, as coisas correm mal e a nave tem um acidente ao qual apenas sobrevive estranhamente este Jan Dolski. A partir daqui estamos por nossa conta e risco e teremos de encontrar solução para regressar com vida e com Rapidium, segundo eles.

Para tal acontecer, o jogo divide-se em várias camadas, mas todas estão interligadas. Entre a gestão da nossa base e exploração no exterior, uma não sobrevive sem a outra, porque se é na nossa base que controlamos as operações e gerimos os Alters,  o exterior permite-nos explorar os recursos materiais necessários para fazer com que a base funcione sem sobressalto. Há ainda a camada narrativa que alimenta o jogo do início ao fim, levando-nos por vários caminhos e que permite que o jogo seja jogado novamente com outras escolhas que darão origem a outros fins e caminhos diferentes.

Tendo isto em conta, na nossa base existem vários departamentos, bem ao estilo do que acontece em This War Is Mine, aliás as parecenças visuais são notórias. Um desses departamentos é onde há uma espécie de telefone que estabelece contacto com a Terra e com alguns responsáveis pela missão. É aqui que nos vão dando algumas indicações do que devemos fazer, mas como este é um jogo de muita escolha narrativa,  algumas das coisas que nos pedem para fazer colocam-nos dúvidas e poderemos decidir se fazemos ou não. Uma das certezas que temos é que precisamos mesmo de criar os tais Alters para nos ajudar a fazer a manutenção da base e a estudar uma maneira de sair dali com vida.

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É então que depois de uma experiência, de onde sai a ovelha Molly, que se decide avançar para a criação de outros Jan Dolski. Se viram o filme Mickey 17, a maneira como é formado é mais ou menos a mesma, mas aqui são criados tendo em conta várias fases da nossa vida e fazendo sempre a pergunta: “E se eu tivesse seguido outro caminho?”. Ora a história de Jan Dolski pode e deve ser consultada no menu de jogo e é através de uma linha temporal de vida que em certos momentos chave poderemos criar um Alter, que depois teve outras escolhas de vida a partir daquela situação. 

Para se perceber melhor, a mãe de Jan sofria de violência doméstica e a certa altura, Jan tem de decidir se vai estudar para a universidade ou não. Enquanto o nosso Jan seguiu os estudos e se afastou da mãe, é possível criar um Alter que não o tenha feito e tenha ficado perto da mãe para a proteger. Outra, é no sucesso ou falta dele na nossa relação conjugal. Será que se Jan não tivesse passado tanto tempo numa investigação, ainda era casado? Será que se ele se tivesse mantido na mesma empresa estava ali agora? E por aí fora, colocando sempre em perspectiva todas as decisões de vida que foram tomadas. 

Cada um dos Alters tem a sua área específica de especialização, mas podem ajudar noutras tarefas. Existe por exemplo o Cientista, que nos ajuda e muito a entender os fenómenos que se vão passando e que é essencial para estar no nosso laboratório de investigação. Existe o refinador, ideal para o enviar ao exterior de forma a minerar materiais. Existe o médico, que ajuda a curar os Alters de queimaduras radioativas entre outros acidentes de trabalho que vão acontecer, há o técnico, entre outros que nos vão ajudar a sair daquela situação. 

Engraçado é a maneira como eles vão trabalhar para nós. Temos de garantir que há recursos para sobrevivermos todos. Ter comida é essencial, manter os Alters contentes é fundamental para desempenharem bem a sua função, caso contrário, podem recusar-se a fazer as tarefas e ainda provocam algumas confusões com os outros. Podemos pedir-lhes para fazerem turnos maiores de trabalho, sabendo o que isso pode implicar e prometer-lhes coisas que convém cumprir, se não a nossa amizade com eles pode ficar em cheque. É possível criar dormitórios, salas de convívio, material de ginásio, entre outras coisas, não esquecendo que uns preferem mais a “vida boa” e outros, o trabalho. É preciso conversar com eles e entender os seus estados de espírito, até porque em certas alturas podemos aproveitar as suas personalidades para se passarem por nós em algumas conversas com a Terra.

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Isto é tudo muito bonito enquanto temos materiais e recursos necessários, mas The Alters não nos deixa estar muito tempo sossegados porque ora vem uma tempestade radioativa e nos leva metade do nosso stock de materiais, estraga a sala de controlo, o laboratório, a cozinha, entre outras máquinas essenciais para o bom funcionamento da base. Uma dica que vos posso deixar é para terem sempre à mão filtros de radioatividade porque sem eles, no meio destas tempestades, não iremos sobreviver. Ainda tive alguns “Game Over”, ou não fosse este um jogo da 11 Bit Studios, mas felizemnte existe uma data de slots de gravação automático que nos permite recuar no tempo um, dois, ou três dias de jogo para evitar que tal aconteça.

O loop de gameplay utilizado em The Alters é a simulação de dias em que nos levantamos às 7h e devemos ir para a cama às 23h. Durante este tempo temos de aproveitar para resolver situações e explorar o exterior o máximo possível, tendo em conta que a radioatividade vai acumulando e quanto mais tarde for, o nosso cansaço também é maior e acabamos por produzir menos do que nas primeiras horas do dia. Cada segundo é como se passasse um minuto e se estivermos a fazer uma tarefa que demora 2h, o tempo acelera automaticamente fazendo com que essas horas passem muito rapidamente. 

É neste tempo que devemos aproveitar para explorar o exterior. É ele parte da solução para sair dali com vida, não só pela exploração de novos caminhos que vamos fazendo a cada dia, como também pela mineração de vários recursos essenciais para a base funcionar. Normalmente o que acontece é que descobrimos algo novo ou estamos condicionados por um caminho porque precisa de um outro material para poder ser ultrapassado. O nosso trabalho é descobrir e arranjar maneira de tal ser feito, o que leva algum tempo em algumas situações. É também necessário descobrir zonas ricas em determinados materiais e criar postos de exploração nessas mesmas zonas, conectando-os através de pilares até à nossa base. Estes postos são muito importantes para nos facilitar a vida, não só para minerar, como para usá-los como viagens automáticas até à base ou até outros postos de exploração.

Apesar de isto estar tudo muito bem pensado e bem feito, The Alters tem alguns problemas que talvez o tempo resolva num futuro próximo. Um deles é que, às vezes, os Alters “desaparecem” e é necessário voltar a uma gravação anterior, algo que deve ser resolvido já com patches iniciais, o outro é o ritmo lento e repetitivo de jogo que encontrei em algumas fases da jornada. É claro que depende da dificuldade em que estamos a jogar, mas para quem jogou em normal, achei que algumas partes do jogo demoravam muito para avançar. Desde logo no Ato 1 em que até à criação de 2/3 Alters as coisas avançam a bom ritmo e depois abrandam, quando deveria ser o contrário até porque tens mais gente para trabalhar. 

Claro que com mais gente precisamos de mais recursos, mais armazéns de stock, mais salas sociais, melhorar a cozinha, a oficina, a refinaria, entre outras coisas. É preciso ir evoluindo de nível e de categoria de base para poder ter acesso a novos departamentos e também a novos Alters que só se podem criar já com com um certo nível para evitar que façamos logo todos de uma vez só. Não se esqueçam que The Alters pode ser jogado várias vezes para ver outras situações acontecer ou até criar outros alter egos que não tiveram oportunidade de usar numa primeira abordagem ao jogo.

Graficamente o jogo cumpre as expectativas para um jogo desta geração, até porque também não é o seu foco principal e os efeitos sonoros do jogo estão bem colocados em pontos chave fazendo-nos perceber se descobrimos algo novo, ou se alguma coisa de mal vai acontecer. Para quem possa estar preocupado se isto se joga bem sem rato, eu joguei numa PS5 com comando e não senti grandes dificuldades na jogabilidade. Talvez as experiências com Frostpunk tenham ajudado. 

The Alters é um excelente jogo de sobrevivência e gestão com uma narrativa cativante que nos agarra do início ao fim. Os caminhos que escolhemos, as escolhas que fazemos e a maneira como tratamos cada um dos nossos Alters faz com que cada jogador possa ter uma experiência diferente de jogo. Permite ainda que seja jogado várias vezes para vermos coisas e comportamentos novos que não vimos antes, o que lhe dá uma longa vida para os próximos tempos. 

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Élio Salsinha
Aprendeu a jogar ao Pedra, Papel, Tesoura com o Alex Kidd e a contar até 100 com o Sonic. Substituiu a Liga da Malásia pela Liga Portuguesa no Fifa 98 e percebeu que havia jogos melhores que filmes com o Metal Gear Solid.
analise-the-alters<h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #339966;">SIM</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">A ideia do jogo</li> <li style="text-align: justify;">As escolhas narrativas</li> <li style="text-align: justify;">Gestão dos Alters</li> <li style="text-align: justify;">Várias formas de jogar</li> </ul> <h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #ff0000;">NÃO</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Alguns bugs fazem com que os Alters desapareçam</li> <li style="text-align: justify;">Ritmo lento e repetitivo em algumas fases da história</li> </ul>