Developer: Shift Up
Plataforma: PC
Data de Lançamento: 11 de junho de 2025
Como tem vindo a ser hábito por parte da PlayStation, depois de lançar os seus exclusivos nas consolas, e passado cerca de um ano (pelo menos tem sido mais ou menos esse o intervalo), os títulos acabam por chegar também ao PC. Desta vez, foi Stellar Blade que, depois de um lançamento de enorme sucesso na PlayStation 5, chega agora com uma versão tecnicamente refinada, visualmente arrebatadora e incrivelmente bem optimizada.
Ao contrário de alguns jogos que precisaram de vários patches após o lançamento devido a problemas reportados pelos jogadores, a Shift Up estreou uma versão verdadeiramente polida, que tem sido um sucesso tanto na Steam como na Epic Games Store – as plataformas onde o jogo ficou disponível. Para quem não está a par, estamos perante um jogo de acção que mistura vários estilos — desde o Soulslike ao hack and slash — e que se inspira em elementos de ficção científica e no clássico cenário pós-apocalíptico que tantos jogos exploram.
Nesta análise, não vamos aprofundar todos os aspectos do jogo, até porque isso já foi feito pelo Pedro Moreira Dias na análise dedicada à versão da PlayStation 5. Aqui, vamos fazer uma abordagem geral às várias componentes de Stellar Blade e depois focar-nos nas melhorias que acompanham a chegada do jogo ao PC.
A história não é algo que fiquemos a conhecer logo ao entrar no jogo — muito pelo contrário. O início é claramente construído para nos deixar curiosos e sem respostas imediatas. O jogo desenrola-se num futuro distante, onde vemos diversas naves a tentar chegar à Terra. Muitas são completamente destruídas antes de aterrar, outras conseguem enviar cápsulas para o planeta, embora nem todas cheguem ao solo em segurança. Algumas, ainda que em mau estado, conseguem aterrar — é o caso da cápsula de Eve, a protagonista, e de Tachy, a sua mentora.
O objectivo é recuperar o planeta, devastado por criaturas misteriosas conhecidas como Naytibas. A maior parte da humanidade foi forçada a abandonar a Terra e a estabelecer-se em colónias orbitais, enquanto a superfície permanece mergulhada numa paisagem pós-apocalíptica. Neste contexto, Eve e Tachy, membros da 7.ª Unidade Aerotransportada, chegam com a missão de enfrentar os Alpha Naytibas, embora rapidamente percebam que a operação será muito mais difícil do que esperavam.
É neste contexto que estas duas guerreiras da 7.ª Unidade Aerotransportada chegam e percebem que a missão será bastante mais dura do que previam, já que o cenário encontrado é de destruição, diversas criaturas ameaçadoras, e com um objetivo claro: encontrar e erradicar os Alpha Naytibas do planeta. Com Eve bastante debilitada, já que a sua cápsula aterrou com diversos problemas, é nos minutos iniciais da conversa com Tachy que percebemos logo que elas não são verdadeiramente humanas, algo que se verifica rapidamente quando numa batalha com um Alpha Naytiba, Tachy morre a tentar proteger Eve, e percebe-se que a sua estrutura esquelética é metálica e elétrica.
Com Eve debilitada após uma aterragem forçada da sua cápsula, os momentos iniciais do jogo servem não só para apresentar a relação entre as duas, mas também para revelar que nenhuma delas é inteiramente humana. Isso torna-se evidente logo na primeira grande batalha, onde Tachy se sacrifica para proteger Eve, expondo uma estrutura interna metálica e elétrica. Esta introdução impactante marca o tom do jogo, ao mesmo tempo que nos ensina as mecânicas básicas. Após estes acontecimentos, e já com Eve em Eidos-7, recebemos as restantes informações importantes como desbloquear as habilidades de combate, passando pelos pontos de salvamento e os diversos sistemas de progressão.
Como disse anteriormente, a nível narrativo, há muitos elementos que não são explicados inicialmente, de forma claramente intencional. Isso contribui para manter o nosso interesse e curiosidade. À medida que exploramos o mundo, percebemos que tudo é mais complexo e fragmentado do que imaginávamos, e isso reflete-se também em Eve: encontramos ruínas enigmáticas, tecnologia esquecida e vestígios de uma humanidade que afinal não desapareceu por completo.
Ao longo da campanha, encontramos várias personagens — humanas e artificiais —, cada uma com as suas próprias motivações e perspectivas sobre o que resta da civilização. A história desenvolve-se não só através de diálogos, mas também pela exploração de ambientes extremamente detalhados, onde terminais, hologramas e artefactos nos ajudam a compreender e a reconstruir o passado da Terra. Um dos aspectos mais interessantes é ver como Eve começa gradualmente a questionar tudo aquilo em que acreditava, ou seja, o que realmente aconteceu à Terra, qual a sua verdadeira missão e, sobretudo, a sua própria natureza.
Um dos pontos mais fortes do jogo é, sem dúvida, o seu sistema de combate. Repleto de elementos Soulslike e hack and slash. Exige uma boa utilização dos parries, esquivas e contra-ataques precisos, e com o ritmo dos combates sempre elevado, obrigando-nos a manter a atenção total para conseguirmos ultrapassar grande parte dos inimigos. Como é habitual neste género, os adversários apresentam padrões de ataque distintos, o que nos obriga a estudar o comportamento de cada um, exigindo aprendizagem constante e reflexos apurados.
À medida que vamos progredindo no jogo e dominando as suas mecânicas, começamos a perceber o quão recompensador pode ser este sistema. Os combates tornam-se cada vez mais fluidos, tanto contra inimigos comuns como nos confrontos com bosses mais exigentes. O desbloqueio progressivo de habilidades, através de árvores de talentos — divididas entre ataques normais, especiais (Beta e Burst) e técnicas defensivas — oferece profundidade e personalização suficientes para manter o interesse e a evolução de Eve ao longo de toda a campanha.
Para além da história principal, o jogo inclui também missões secundárias, que infelizmente tendem a tornar-se repetitivas com o tempo. Muitas consistem em tarefas simples, como ativar terminais ou eliminar grupos de inimigos em áreas específicas. No entanto, para quem aprecia o sistema de combate, vale a pena completá-las, já que apresentam por vezes combates interessantes e recompensam frequentemente com itens úteis e cosméticos.
Algo que certamente agradará aos jogadores da versão PC é o facto de esta chegar como uma Complete Edition, isto é, inclui todos os DLCs previamente lançados na PlayStation 5. Destacam-se, em particular, os pacotes de colaboração com NieR: Automata e Goddess of Victory: Nikke, que adicionam missões, fatos e itens exclusivos. O crossover com Nikke introduz um minijogo de combate com armas de fogo em arenas, com jogabilidade na terceira pessoa centrada em cobertura e tiroteios cronometrados. Estas missões estão surpreendentemente bem concebidas e representam uma variação interessante da fórmula principal, oferecendo diversidade ao conteúdo original.
Análise: Stellar Blade x GODDESS OF VICTORY: NIKKE DLC
Para além disso, esta edição inclui dezenas de fatos cosméticos desbloqueáveis e oferece ainda bónus adicionais para quem optar por vincular a sua conta PSN — embora essa ligação não seja obrigatória para jogar.
Como referi anteriormente, Stellar Blade chega ao PC com uma optimização impressionante. O jogo oferece suporte para tecnologias como DLSS 4, FSR 3, DLAA e Nvidia Reflex, com os frames por segundo (FPS) totalmente desbloqueados — e acreditem, não é preciso uma máquina topo de gama para ultrapassar facilmente os 60 FPS, diria até que com uma máquina minimamente “interessante” conseguem chegar aos 120 FPS. Para terem uma ideia, na Steam Deck, que tem um hardware relativamente modesto, o jogo apresenta um desempenho bastante interessante, mantendo-se próximo dos 60 FPS e com um aspecto visual sempre apelativo.
Um detalhe que me agradou particularmente foi a compatibilidade com monitores ultrawide (21:9 e 32:9). E não se limita apenas ao gameplay: até as cutscenes estão adaptadas a estas resoluções, o que nem sempre acontece noutros títulos. Existe ainda total compatibilidade com rato e teclado, bem como com diversos tipos de comando. No entanto, tal como na PlayStation 5, jogar com o DualSense continua a ser a melhor opção para quem procura uma experiência mais imersiva, graças ao feedback háptico e aos gatilhos adaptativos.
No aspecto visual, Stellar Blade é verdadeiramente brilhante — é impossível não ficarmos rendidos ao ambiente do jogo e à sua estética. Os cenários contribuem imenso para esta imersão, desde a decadência industrial com toques de ficção científica até às cidades completamente em ruínas. O jogo alterna entre zonas mais lineares, como Eidos-7 (a primeira área, parcialmente disponível na demo), e outras regiões que, apesar de não serem de mundo aberto, apresentam áreas bastante vastas para explorar — com destaque para o Great Desert e o Wasteland. Ao longo de toda a experiência, nota-se uma constante sensação de desolação, com a cidade de Xion a ser praticamente o único local onde ainda é possível perceber vestígios de vida e comunidade.
Quanto às criaturas que habitam este mundo, podemos encontrar desde criaturas mais robóticas a outras que apresentam características grotescas – mas incrivelmente bem desenhadas e animadas. No entanto, é impossível não destacar os Naytibas, que representam o maior desafio ao longo da aventura. Os Alpha Naytibas, em particular — muitos deles alguns dos bosses — elevam esse desafio a outro nível, com designs que misturam formas orgânicas com aberrações bizarras. Cada um deles possui padrões de ataque únicos, poderes distintos e comportamentos imprevisíveis, o que torna cada combate memorável e exigente.
Também no campo sonoro o jogo merece destaque. A banda sonora alterna entre momentos épicos e passagens mais melancólicas, acompanhando na perfeição as diferentes fases da aventura. Os efeitos sonoros são nítidos e impactantes, especialmente durante os combates, onde cada golpe, parry ou explosão transmite um verdadeiro sentido de peso e urgência. Os ambientes estão recheados de sons subtis — desde o eco metálico de instalações abandonadas ao som distante de criaturas em movimento — que ajudam a construir um mundo vivo e inquietante.
No que toca ao voice acting, o inglês apresenta-se bastante competente, mas o jogo também está disponível noutras línguas, embora, o português de Portugal — habitual nos títulos da PlayStation — não esteja presente entre as opções de áudio. Ainda assim, a localização está assegurada nos menus e nas legendas.
É impossível não referir que Stellar Blade é, para mim, um dos melhores títulos lançados na PlayStation 5 — e que agora chega de forma sublime ao PC. Foi o melhor jogo de acção que tive oportunidade de jogar em 2024, e poder revivê-lo desta forma, com todas as melhorias desta versão, deixou-me verdadeiramente satisfeito e empolgado. Revivi muitos dos momentos incríveis que experimentei quando o joguei originalmente na consola da Sony.
Stellar Blade no PC é o exemplo perfeito de como se deve trazer um exclusivo para outra plataforma, com dedicação, cuidado e uma qualidade técnica irrepreensível. A jogabilidade continua brilhante, visualmente é impressionante, e a optimização — não me canso de repetir — está verdadeiramente exemplar. É um daqueles títulos imperdíveis, especialmente para quem ainda não teve a oportunidade de o jogar na PlayStation 5.