Developer: Teyon
Plataforma: PS5, Xbox Series S|X e PC
Data de Lançamento: 17 de julho de 2025

Para quem já me conhece, ou leu a minha análise ao jogo RoboCop: Rogue City, sabe que eu sou fã do polícia de metal desde miúdo, e que este jogo editado pela Teyon, demonstrou precisamente que também o era, porque a homenagem saiu melhor do que a encomenda e conseguiu dar-nos talvez o melhor jogo de sempre da personagem das séries de TV e dos filmes.

Se bem se recordam, eu tinha referido que executar uma jogabilidade que nos fizesse sentir o RoboCop era a tarefa mais árdua, a transpor a personagem para um videojogo, “a sua movimentação e jogabilidade não poderia ser outra coisa senão dura que nem pedra. Sim, tínhamos que sentir que basicamente é um frigorífico a mexer-se a absorver balas e a disparar a sua arma automática a despedaçar corpos, e isso, está impecável, especialmente com o DualSense, pois sentimos mesmo o “peso” nos gatilhos hápticos e no feedback háptico”, tal como disse na minha análise.

A Teyon não inventou a roda neste DLC, que não é DLC, é um jogo em versão standalone, mas pelo preço de um DLC, e, francamente, não precisa. A expansão é uma extensão natural do que funcionou em Rogue City, polindo a fórmula, adicionando algumas boas novidades e mantendo o tom sombrio e violento que conquistou os fãs.

Para quem já gostou do jogo principal, trata-se de um complemento quase obrigatório. Para novos jogadores, pode ser o empurrão que faltava para mergulhar nesse mundo de distopia urbana, violência programada e moralidade de silício.

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Unfinished Business coloca os jogadores de volta nas ruas decadentes de Detroit, onde o crime parece ter sempre um novo truque na manga. A expansão acontece após os eventos da campanha principal, e mantém o tom sério e cínico que marcou o jogo base. A cidade continua suja, corrupta e desesperançosa — e cabe a RoboCop, com seu andar metálico e gatilho rápido, restabelecer a ordem.

Um novo grupo criminoso — The Reapers — começa a tomar territórios, absorvendo gangues menores, extorquindo comerciantes e até infiltrando-se nas forças de segurança. Mais do que uma nova ameaça física, os Reapers representam uma degeneração ainda mais cínica da estrutura social: não são apenas criminosos armados, mas agentes de anarquia organizada, com laços suspeitos a empresas privadas que desejam manipular a imagem pública do RoboCop.

A Teyon decidiu circunscrever-nos a um local com muitas ramificações e não o andar pelas ruas de Detroit e de várias localizações como no primeiro jogo. Provavelmente sentiu que quando o fez o jogo parecia relativamente vazio, a deslocação tornava-se lenta e o andamento do jogo tornava-se lento, apesar da sensação de liberdade de movimentos e de investigação ajudasse o jogo a torná-lo mais dinâmico, é também verdade que andar de ponto A ao ponto B, vezes sem conta, com um tanque, podia tornar-se aborrecido.

Aqui vamos entrar basicamente num arranha-céus, às vezes parece mesmo ter uma verdadeira cidade dentro dela, com várias comunidades a organizarem-se nos vários pisos, com lojas e bares, mas também com uma organização que tenta dominar todos os seus habitantes. E foi aí que RoboCop foi parar, para além da sua jurisdição, para tentar travar os Reapers, que mataram praticamente toda a gente da delegacia de Detroit, com Murphy à procura de vingança ou justiça, dependendo das vossas decisões ao longo do jogo.

Em termos narrativos, o grande destaque narrativo está no desenvolvimento emocional do protagonista. Enquanto no jogo base já víamos lampejos da humanidade de Alex Murphy tentando emergir, aqui isso é levado a outro patamar. Várias das missões secundárias e diálogos opcionais envolvem lembranças da sua antiga vida, incluindo o regresso de figuras do passado (sem spoilers, mas prepare-se para reencontros inesperados).

Além disso, há uma nova linha de missões opcionais que gira em torno de “memórias corrompidas”, em que RoboCop precisa distinguir entre bugs de software e recordações reais. O resultado é uma narrativa que desafia a lógica binária do personagem, propondo dilemas morais onde nenhuma escolha é ideal.

Em termos de jogabilidade, é claro que temos aqui um paradigma diferente, Alex Murphy o policial, não é uma esponja de balas, tem que se abaixar, esconder atrás de estruturas e afins para não levar com muitos tiros, e a não tem mais qualquer artifícios para usar, a não ser a sua pistola. Estes segmentos são interessantes na componente narrativa, têm um andamento diferente, porque estão mais focados para os puzzles de ambiente e de investigação, e acabam por oferecer momentos diferentes dentro do jogo.

Segundo entrevistas recentes com developers da Teyon, Unfinished Business foi desenvolvido com base numa análise cuidadosa dos dados de jogabilidade do título principal. A equipa percebeu que os jogadores valorizaram muito as missões investigativas e os dilemas éticos, e que havia margem para expandir essas áreas. Assim, a DLC foca-se menos em tiroteios incessantes e mais em criar missões híbridas, onde combate, exploração e diálogo se equilibram.

Há mais variedade nas missões: desde confrontos diretos a perseguições, missões de infiltração (com o peso realista de RoboCop gerando desafios adicionais), e até sequências de investigação com múltiplas abordagens. Em um dos momentos mais memoráveis, o jogador deve resolver um caso de corrupção policial sem disparar um único tiro — apenas com análise forense e decisões éticas.

Mas não se enganem, tiroteio em primeira pessoa continua com a mesma força: armas pesadas, impactos brutais, e a sensação de controle absoluto sobre um tanque humanoide. Mas há novidades:

  • Novas armas experimentais: como a Arc Blaster, que dispara raios de eletricidade em cadeia, e a Sentinel Shotgun, com projéteis inteligentes.
  • Sistema de escudo tático: uma nova habilidade ativa que permite a RoboCop absorver projéteis por alguns segundos — excelente para atravessar corredores de fogo intenso.
  • Aprimoramentos passivos inéditos: entre eles, melhorias no tempo de escaneamento e até um submodo de “reconhecimento de ameaça”, que permite detectar mentiras durante interrogatórios.

Apesar das melhorias, a IA dos inimigos continua o elo mais fraco da experiência. Alguns adversários reagem de forma inteligente, utilizando cobertura e tentando flanquear RoboCop, mas muitos ainda correm diretamente em linha reta ou ficam parados durante combates intensos. Isso reduz um pouco a tensão dos confrontos — especialmente para jogadores mais experientes.

Dependendo das decisões tomadas ao longo da campanha — como poupar ou eliminar certos personagens, denunciar ou acobertar atitudes ilegais de superiores, ou como lidar com inocentes em perigo — o DLC oferece dois finais diferentes: um mais alinhado com a ética da máquina, e outro mais humano, porém com consequências imprevisíveis. Essa variação narrativa dá um peso real às escolhas do jogador, algo raro em DLCs de ação.

RoboCop: Rogue City – Unfinished Business é mais do que um DLC — é um epílogo corajoso, narrativamente envolvente e tecnicamente refinado. Ele entende o coração do personagem, honra o espírito do universo criado nos anos 80, e ousa propor novos conflitos — não só externos, mas internos. Com cerca de 7 a 9 horas de jogo, mais o factor de ter mais do que um final, o que lhe confere algum grau de repetição, e pelo preço acessível, este jogo até pode ser uma lição à indústria no futuro.

Se o jogo base já era um presente para os fãs, esta expansão consolida Rogue City como uma das melhores adaptações de um ícone do cinema para o mundo dos videojogos.

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Pedro Moreira Dias
Fundador do Site - Salão de Jogos, o Commodore Amiga 500 foi o seu melhor amigo durante décadas e ainda hoje sabe de cor a equipa principal do Benfica do Sensible Soccer 94/95. Nos tempos vagos ainda edita as botas dos jogadores do FIFA e do PES.
analise-robocop-rogue-city-unfinished-business<h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #339966;">SIM</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">A excelente recriação do ambiente dos filmes originais</li> <li style="text-align: justify;">Todo o ambiente sonoro e voice acting de Peter Weller</li> <li style="text-align: justify;">Mais foco na investigação e na narrativa</li> <li style="text-align: justify;">Novos cenários e estrutura de missões aprimorada</li> </ul> <h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #ff0000;">NÃO</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">IA inimiga continua inconsistente</li> <li style="text-align: justify;">Linearidade ainda presente em partes da campanha</li> </ul>