Developer: Arrowhead Game Studios, PlayStation Studios
Plataforma: Xbox Series, PlayStation 5 e PC
Data de Lançamento: 26 de agosto de 2025
Quando pensamos em jogos com o selo PlayStation Studios, é quase instintivo associá-los em exclusivo às consolas da Sony. Por isso, ver o icónico logótipo a surgir no ecrã de uma Xbox Series é uma experiência curiosa, até algo bizarra. No entanto, essa estranheza rapidamente se transforma em entusiasmo: desenvolvido pela Arrowhead Game Studios, Helldivers 2 – um dos maiores fenómenos cooperativos dos últimos tempos – chegou finalmente à consola da Microsoft.
O anúncio, feito de forma inesperada no início de julho, apanhou muitos jogadores de surpresa, sobretudo porque continua a ser raro ver um jogo publicado pela Sony a chegar a uma consola Xbox. Embora não seja totalmente inédito — basta lembrar a série MLB The Show — a presença de Helldivers 2 na Xbox Series parecia, até há pouco tempo, altamente improvável. O improvável, porém, tornou-se realidade: esta chegada representa não só uma vitória para os fãs que pediam a versão há meses, como também mais um sinal de que as barreiras entre plataformas começam, lentamente, a ser quebradas.
Mais do que uma simples adaptação, esta versão carrega consigo todo o peso de uma estreia simbólica: um shooter cooperativo que conquistou comunidades inteiras no PC e na PlayStation 5, agora a abrir portas para um novo contingente de jogadores dispostos a lutar pelo ideal de “Managed Democracy”. É um momento especial não só porque alarga a base de jogadores, mas porque concretiza o sonho de milhares de fãs que, através de petições e pedidos constantes, nunca desistiram de ver o jogo chegar à Xbox.
Tal como é tradicional nos extraction shooters, a narrativa em Helldivers 2 não se constrói através de uma história propriamente dita, mas mais através de um universo cuidadosamente construído. O jogo situa-se no planeta Super Earth, um autoproclamado bastião da democracia que, ironicamente, revela um regime autoritário sobrecarregado por propaganda exagerada e absurdamente patriótica. Este contexto fornece a base para a sátira e o humor que percorrem toda a experiência: desde o nome das armas e os diálogos das personagens até à própria motivação para combater hordas alienígenas. A narrativa é, portanto, mais sobre a crítica e o escárnio do poder e da guerra, onde fica evidente a enorme influência de Starship Troopers.
O enredo global é simples e diretco: os Helldivers, soldados cidadãos de Super Earth, são enviados para enfrentar duas ameaças principais — os Terminids, criaturas semelhantes a insectos, e os Automatons, máquinas de guerra inteligentes. O objectivo é proteger a civilização e expandir a influência de Super Earth pelo espaço. Apesar de a personagem do jogador ser genérica, sem passado ou desenvolvimento pessoal profundo, existe um forte sentimento de agência, pois cada acção contribui para o contexto mais amplo da guerra galáctica. O jogador torna-se, assim, um agente activo num conflito contínuo, mesmo que a peso pessoal seja mínimo e descartável.
O tom do jogo combina humor, exagero e tensão, criando uma experiência que consegue ser ao mesmo tempo épica e hilariante. Os Helldivers são, muitas vezes, confrontados com situações absurdas ou imprevisíveis — que reforçam a sensação de que o universo é perigoso, mas não se leva demasiado a sério. Esta mistura de humor e ação confere à narrativa um carácter distintivo, permitindo que o jogador se envolva no mundo sem sentir a pressão de uma história complexa, mas ainda assim perceba a gravidade das consequências do seu papel na guerra.
Helldivers 2 posiciona-se como um shooter de extracção PvE cooperativo, focado em partidas intensas e estratégicas em que os jogadores enfrentam vagas massivas de inimigos para completar objectivos em planetas verdadeiramente hostis. Cada equipa é composta por até quatro jogadores, formando squads que precisam coordenar-se cuidadosamente para sobreviver e cumprir as tarefas. Embora seja tecnicamente possível jogar a solo, esta abordagem não é recomendada: a dificuldade do combate, combinada com a dependência de mecânicas cooperativas como os Stratagems e a gestão de respawns, torna a experiência significativamente mais exigente e, muitas vezes, frustrante sem a presença de aliados.
O jogo distingue-se pelo seu ritmo frenético e imprevisível, onde a cooperação entre os membros da equipa é essencial para lidar com inimigos variados — desde os Terminids, com ataques corpo a corpo rápidos e agressivos, até os Automatons, que pressionam à distância e obrigam a uma abordagem tática mais cautelosa. Cada missão exige que os jogadores façam escolhas estratégicas, planeiem posições de combate e usem os Stratagems de forma coordenada, transformando cada incursão num equilíbrio entre caos controlado e tensão constante.
Tal como já acontecia com as edições para PlayStation 5 e PC, também a versão para Xbox vem com a funcionalidade de cross-play entre todas as plataformas. Isto permite que jogadores de diferentes sistemas participem nas mesmas sessões de jogo, facilitando a cooperação entre amigos independentemente de onde estejam a jogar. No entanto, é importante notar que continua a não haver cross-progression, ou seja, cada versão mantém separadamente o progresso da personagem, desbloqueios e equipamentos.
A acessibilidade do multiplayer é, como uma experiência geral, bastante simples, especialmente no que respeita à formação de squads e à entrada nas missões. O matchmaking, apesar de ser funcional na maior parte do tempo, caso o cross-play não esteja activado, ainda tem algumas falhas. Entrar numa partida pode variar entre segundos e vários minutos, e ocasionalmente surgem erros que impedem temporariamente a ligação ao servidor. Estas limitações reforçam a importância de ter amigos ou contactos para formar squads, garantindo partidas mais consistentes e divertidas. Por outro lado, com o cross-play accionado, não há quaisquer problemas para encontrar partidas com randoms.
Cada missão inicia-se com uma escolha: os jogadores selecionam um planeta dentro da Galactic War – o mapa que reflete o progresso contínuo da guerra entre a Super Earth e os invasores. A selecção do planeta já define parte do estilo de jogo, pois diferentes mundos apresentam fatores ambientais distintos e tipos de inimigos predominantes. As tarefas seguem padrões relativamente simples, como destruir um objectivo, defender uma posição ou eliminar alvos específicos. Exemplos incluem destruir ninho de bugs, proteger um míssil nuclear em contagem regressiva, evacuar civis, ou activar instalações automatizadas para enfraquecer os inimigos.
Embora possa parecer repetitivo à primeira vista, a combinação de inimigos, ambiente e as variáveis da missão criam um sentido de imprevisibilidade e tensão constante, especialmente quando combinada com a física caótica do jogo e o risco de friendly fire. Outro elemento central é o uso de Stratagems, habilidades especiais fornecidas pelo Super Destroyer (a nave-mãe dos Helldivers), que podem ser acionadas pelos jogadores para criar efeitos de combate variados: desde torres de defesa, armamentos pesados, até ataques orbitais devastadores.
A gestão de todo destes recursos adiciona profundidade tática, exigindo coordenação entre a equipa e um planeamento pensado e cuidadoso, especialmente nas missões mais difíceis, onde o número de respawns é limitado. Cada morte gera a possibilidade de reaparecer via drop pod, mas isso tanto pode resultar em situações hilariantes ou desastrosas. A acrescentar a isso há também elementos de exploração e objetivos secundários, sendo que alguns mapas incluem áreas escondidas com loot ou pontos estratégicos que recompensam jogadores por arriscar-se em caminhos perigosos.
O sistema de progressão em Helldivers 2 é estruturado de forma a recompensar a dedicação e a perícia do jogador, oferecendo uma sensação contínua de avanço à medida que se participa das diversas missões pelo universo do jogo. Central à progressão está o desbloqueio de equipamentos, armas e Stratagems, que permitem ao jogador personalizar a sua abordagem em combate e adaptar-se às diferentes ameaças encontradas nos planetas da Galáxia. Oferece não apenas melhorias mecânicas e utilitárias, mas também uma sensação de crescimento constante dentro de um universo em guerra, onde cada missão completada contribui para um jogador mais preparado e uma galáxia mais segura.
A evolução do jogador ocorre através de créditos e recursos obtidos durante as missões, incluindo amostras raras recolhidas em campo. Esses recursos servem para melhorar o Super Destroyer, que funciona como um centro logístico e de preparação entre cada operação. É nele que os jogadores podem adquirir novas armas, equipamentos defensivos e suporte estratégico, aumentando a sua eficácia no campo de batalha. Além disso, é também na nave que os jogadores podem planear cada missão, definindo a abordagem mais adequada para os desafios que irão enfrentar.
O desbloqueio dos Stratagems é particularmente importante para a progressão. Cada missão bem-sucedida contribui para a ampliação do arsenal disponível, permitindo que os jogadores chamem suporte orbital, turrets, munição extra ou armas pesadas durante os confrontos. Este sistema cria uma sensação de crescimento claro, porque à medida que progredimos, ganhamos mais ferramentas para enfrentar inimigos cada vez mais complicados, ao mesmo tempo em que temos de aprender a gerir cooldowns e a coordenar com a equipa.
Além disso, o progresso não é apenas individual: as ações de cada jogador impactam a Galactic War, um sistema dinâmico em que os planetas mudam de estado conforme as vitórias ou derrotas da equipa. Dessa forma, o desenvolvimento pessoal e o avanço colectivo da guerra interligam-se, criando uma dinâmica que reforça a imersão do jogador. É também possível adquirir conteúdos cosméticos e premium através de Warbonds, mas todos os itens podem ser desbloqueados jogando, sem necessidade de gastos adicionais, mantendo o foco na competência e na dedicação.
Em Helldivers 2 há um razoável arsenal à disposição dos jogadores, que não só define o estilo de combate de cada esquadrão, mas também reforça a sensação de pertença a um exército intergaláctico em constante evolução. O jogo aposta numa mistura entre armamento convencional, inspirado em armas de fogo militares realistas, e equipamento de ficção científica que amplia o nosso leque de opções no campo de batalha. Desde espingardas automáticas versáteis até caçadeiras devastadoras em combates de curta distância, passando por metralhadoras pesadas, lança-rockets ou rifles de precisão, cada arma tem uma identidade própria.
Para além das armas primárias, existe uma grande variedade de secundárias e ferramentas de apoio que permitem adaptar-se a diferentes situações. Pistolas, SMGs, lança-chamas ou mesmo canhões experimentais podem ser desbloqueados e equipados, enquanto os famosos Stratagems trazem consigo desde ataques orbitais a torretas automáticas ou mochilas utilitárias que expandem as opções de combate. Esta gama de personalização é complementada por equipamentos defensivos, como armors com diferentes níveis de mobilidade e resistência, que permitem aos jogadores ajustar-se tanto ao estilo pessoal como aos desafios impostos por cada missão.
Um dos aspetos de maior destaque é o sistema de Warbonds. Ao investir os recursos recolhidos em missões, os jogadores desbloqueiam não apenas novas armas, mas também armaduras, gestos e cosméticos que ajudam a personalizar cada Helldiver. Entre eles, merece menção o Halo ODST Warbond, lançado como celebração simbólica da chegada do jogo à Xbox Series. Embora não traga todo o imaginário da saga Halo, inclui elementos icónicos como a clássica assault rifle MA5C, acompanhada de outro armamento e itens inspirados na estética militar futurista da série da Xbox. Este é apenas um exemplo de como o jogo está em constante expansão através de novos conteúdos, reforçado pela atualização Into the Unjust, que será lançada a 2 de setembro, e um bom exemplo do compromisso em manter a experiência sempre fresca e envolvente.
Além do combate frenético, outro pilar de Helldivers 2 são os mapas e os biomas planetários, que ajudam a definir a identidade de cada missão e acrescentam variedade visual e táctica. Os planetas explorados pelos jogadores são muitos mais do que meros cenários estáticos, visto que cada um possui características únicas que influenciam o movimento, o combate e até a estratégia de utilização de Stratagems. Desde desertos áridos e terrenos rochosos até selvas densas ou mundos gelados, a diversidade ambiental cria uma sensação constante de novidade, mesmo que os objetivos das missões sejam muitas vezes similares.
Visualmente, os mapas conseguem transmitir uma atmosfera única. O uso de efeitos climatéricos, iluminação dinâmica e partículas durante explosões ou ataques orbitalmente lançados contribui para uma sensação de escala e intensidade. Mesmo quando a acção acalma, pequenos detalhes — como fauna alienígena, estruturas inimigas ou vegetação animada — ajudam a construir um mundo coerente e credível. E, apesar da familiaridade de alguns elementos, a atenção ao design ambiental mantém a experiência fresca e estimulante.
O aspeto gráfico de Helldivers 2, apesar de não ser algo que impressione quando comparamos com jogos mais recentes, evidencia uma abordagem robusta e detalhada, com atenção particular à clareza e legibilidade durante o caos das missões. As animações de combate são fluídas e transmitem uma sensação de peso convincente. Explosões e destruição ambiental foram tratados com uma qualidade fantástica, reforçando a sensação de perigo constante sem comprometer a visibilidade em momentos de caos. Os modelos de inimigos, tanto os robóticos quanto os biológicos, apresentam detalhes incríveis que ajudam na rápida identificação e reação durante os encontros.
Adicionalmente, a iluminação dinâmica e os efeitos de sombra colaboram para criar atmosferas variadas entre os planetas, enquanto a distância de visão e o desempenho gráfico equilibram bem a necessidade de mostrar hordas massivas sem sobrecarregar o ecrã. A existência de dois modos, de qualidade e de performance, permite que os jogadores priorizem visuais mais apurados ou taxas de frames mais estáveis, sendo que, na versão actual, o modo performance surge como a escolha mais recomendada para uma experiência mais leve.
A componente sonora de Helldivers 2 desempenha um papel fundamental na imersão e na tensão do jogo. O áudio não se limita apenas aos disparos e às explosões, dado que cada inimigo e cada acção possui uma assinatura sonora própria. A música acompanha a acção de forma dinâmica: durante a exploração ou combates mais calmos, mantém-se relativamente contida, criando um ambiente de expectativa; já nos momentos de extração ou em confrontos intensos, a banda sonora intensifica-se, elevando a adrenalina e transmitindo o caos do campo de batalha.
Helldivers 2 consegue equilibrar tensão e humor de forma magistral, oferecendo uma experiência cooperativa intensa, estratégica e, muitas vezes, hilariante. É, sem dúvida, um shooter de extracção cooperativo que recompensa tanto a coordenação quanto a criatividade dos jogadores, deixando uma impressão duradoura e convidando a regressar continuamente à luta pela Super Earth.