Developer: Massive Entertainment, Ubisoft
Plataforma: Xbox Series, PlayStation 5 e PC
Data de Lançamento: 5 de setembro de 2025
Foi já no final da minha adolescência (já lá vão muitos anos), que Star Wars se tornou uma das minhas franquias favoritas, e foi também nessa altura que percebi a razão de tamanha loucura (por vezes em demasia) por parte dos fãs. É bom lembrar que o legado de Star Wars faz quase 50 anos, sendo ainda hoje algo icónico no que diz respeito à cultura pop.
Já existiram muitos jogos lançados que tentaram trazer para os jogadores o universo de Star Wars, uns com mais sucesso, outros com menos, mas a cada jogo, os fãs ficam sempre entusiasmados com o que vai chegar. A Ubisoft que raramente falha em acertar no universo dos seus jogos no aspecto cultural como histórico, basta nos lembramos da franquia Assassin’s Creed, fez em Star Wars Outlaws mais um trabalho de excelente. Basta visualizar o jogo, que se mesmo não sabendo do que se trata rapidamente percebíamos que estávamos perante algo relacionado com a franquia. Esse mérito tem de ser dado, mais propriamente à Massive Entertainment — estúdio por trás de Tom Clancy’s The Division e Avatar: Frontiers of Pandora — ainda para mais, quando conseguiu algo inédito, trazer o primeiro jogo de mundo aberto dentro da franquia Star Wars.
Não é segredo para ninguém que o jogo é verdadeiramente incrível, e para isso basta ver a maioria das críticas que o jogo recebeu, maioritariamente positivas, muitas delas com notas verdadeiramente incríveis, como a análise escrita pelo Nuno Mendes aqui no Salão de Jogos que adorou completamente o jogo. Falta apenas saber, se o jogo está assim tão surpreendente nesta nova versão lançada para a Nintendo Switch 2, e a verdade é que o trabalho está verdadeiramente excecional.
Mas comecemos então pela história do jogo. Star Wars Outlaws situa-se num período pouco explorado da galáxia, entre O Império Contra-Ataca e O Retorno de Jedi, quando a luta entre o Império e a Aliança Rebelde se intensifica e o submundo criminoso prospera à margem da ordem estabelecida. É neste cenário de tensão e oportunidades que conhecemos Kay Vess, uma jovem fora-da-lei com um talento natural para a furtividade e a sobrevivência nas ruas de Canto Bight, a cidade casino famosa pelos excessos e corrupções de todo tipo. Desde cedo, Kay aprendeu a confiar apenas em si mesma, desenvolvendo habilidades que a tornam uma ladra formidável e astuta, mas também com um forte senso de moralidade pessoal, ainda que flexível.
O jogo inicia-se com Kay envolvida num golpe aparentemente simples: um pequeno assalto que ela acredita ser apenas mais um trabalho para ganhar dinheiro rápido. No entanto, como em muitas histórias do submundo galáctico, nada é simples. As motivações por trás do trabalho são mais profundas e perigosas do que ela imagina, envolvendo interesses de facções poderosas e uma figura misteriosa que manipula acontecimentos à distância. É a partir desse momento que Kay se vê com a sua cabeça a prémio, tendo de fugir não apenas do Império, mas também de criminosos e mercenários que a consideram uma ameaça aos seus próprios objetivos.
É aqui que a narrativa começa a expandir-se. Kay não é apenas uma fugitiva; ela transforma-se numa figura central de uma rede complexa de alianças e traições. Durante a história, ela vai formando relações com diferentes facções do submundo: os Hutts, conhecidos pelo seu poder e crueldade; os Pykes, mestres do contrabando; os Ashigas, um grupo de mercenários astutos; e a Aurora Escarlate, uma organização criminosa menor, mas igualmente perigosa. Cada facção tem os seus próprios objetivos, métodos e interesses, e Kay deve navegar entre alianças temporárias, contratos arriscados e emboscadas, equilibrando a sua ambição com a necessidade de sobrevivência.
Acompanhando Kay está Nix, o seu leal e astuto companheiro merqaal. Nix não é um mero parceiro de combate ou suporte nas missões furtivas, e funciona como um elemento emocional chave na história, mostrando que, mesmo num universo marcado por traições e perigos constantes, a lealdade e amizade verdadeira têm valor. Ao longo da narrativa, observamos a evolução da relação entre Kay e Nix, que se fortalece através de desafios, resgates e momentos de vulnerabilidade compartilhados, oferecendo um contraste humano num mundo de alienígenas, gangues e burocracia imperial.
O antagonista principal do jogo é Zerek Besh, líder de uma das maiores organizações criminosas da Orla Exterior. Besh é manipulador, inteligente e implacável, e rapidamente se torna uma sombra constante na vida de Kay. Cada passo que ela dá para construir a sua equipa, executar roubos ou formar alianças, Besh tem conhecimento e influência suficientes para tornar a sua vida mais complicada, criando tensão e urgência na narrativa. O confronto entre Kay e Besh não é apenas físico; é estratégico e psicológico, exigindo que a protagonista pense vários passos à frente, evitando emboscadas e usando o submundo a seu favor.
A história do jogo alterna entre diferentes planetas, cada um com os seus próprios conflitos internos e desafios. Em Canto Bight, Kay deve navegar pela vida de casino, entre festas, apostas e informações valiosas, equilibrando furtividade com charme e persuasão. Em Tatooine, o deserto impiedoso e a cidade de Mos Eisley oferecem oportunidades de furtos, espionagem e combates estratégicos contra mercenários e caçadores de recompensas. Akiva, com a sua floresta densa e vida selvagem hostil, adiciona elementos de sobrevivência e escalada, enquanto Toshara traz desafios urbanos, combinando exploração, negociação e confronto com facções rivais.
A narrativa não se limita a confrontos e roubos, já que também explora escolhas morais e dilemas éticos. Kay é frequentemente colocada em situações onde deve decidir entre lucrar ou ajudar aliados, trair para sobreviver ou manter promessas, e escolher entre métodos rápidos ou planeados para alcançar os seus objetivos. Cada decisão influencia o desenrolar da história, impactando relações com facções, recompensas e até eventos futuros. O jogo oferece múltiplos caminhos para completar a missão principal, garantindo que cada experiência seja única e personalizada.
Além disso, Star Wars Outlaws explora a interação com o Império Galáctico, que atua como um elemento de tensão constante. Stormtroopers, patrulhas e operações imperiais reforçam a sensação de perigo e vigilância, obrigando Kay a planear cuidadosamente cada passo. O Império é simultaneamente uma força de oposição e um mecanismo de narrativa, pois interfere nas missões e altera o comportamento de facções e NPCs, criando um ambiente dinâmico que reage às nossas acções.
Por fim, a história é enriquecida com detalhes do lore de Star Wars. Referências a eventos históricos, locais icónicos, tecnologias e personagens secundárias contribuem para um universo autêntico e coerente. Os diálogos, cutscenes e interações ambientais ajudam a construir uma narrativa que, embora centrada em Kay, dá vida a um mundo galáctico vibrante, crível e multifacetado.
A Ubisoft, conhecida pelos seus jogos de mundo aberto, adota aqui uma abordagem inovadora. Em vez de mapas extensos repletos de ícones e missões repetitivas, Outlaws oferece cinco planetas distintos, cada um cheio de pontos de interesse que só podem ser descobertos através da exploração e da nossa curiosidade. Missões secundárias, tesouros, contratos e segredos não são marcados no mapa; é necessário ouvir conversas, subornar NPCs ou investigar áreas escondidas para desbloquear conteúdo. Esse design incentiva uma exploração orgânica, reforçando o realismo do submundo galáctico.
Os sistemas de reputação e alianças com as quatro facções principais — Pykes, Aurora Escarlate, Hutts e Ashigas — adicionam a obrigatoriedade de fazermos escolhas e ações que podem fortalecer ou deteriorar relações com esses grupos, criando oportunidades e riscos. Por exemplo, favorecer uma facção em detrimento de outra pode desbloquear equipamentos exclusivos ou abrir novas missões, mas também atrai a ira de rivais. O Império, atuando como força policial, acrescenta tensão contínua, perseguindo Kay quando ela interfere em operações imperiais e exigindo estratégias para limpar sua notoriedade.
A jogabilidade de Outlaws apoia-se em três pilares principais: furtividade, combate com blasters e exploração. A furtividade é central, exigindo que Kay utilize o ambiente, distraia inimigos com Nix ou realize abates silenciosos. Quando o combate é inevitável, o jogo transforma-se num cover-shooter em terceira pessoa, com armas limitadas e mecânicas que privilegiam a estratégia sobre o tiroteio desenfreado. Três modos de disparo para a blaster de Kay permitem variações táticas, embora o gunplay seja menos refinado comparado a outros títulos de ação. O sistema de adrenalina permite ataques em slow motion, adicionando uma sensação cinematográfica nas sequências mais intensas.
A progressão de Kay é gradual e contextual. Em vez de pontos de experiência tradicionais, habilidades e melhorias são desbloqueadas através de ações específicas e itens encontrados no mundo, o que cria uma sensação de evolução orgânica e realista. Melhorias no uso da blaster, ferramentas como Grappling Hook, Smoke Bombs e Holotracker, e upgrades da nave Trailblazer dependem de interações com personagens-chave e do sucesso em micro-missões, incentivando-nos a explorar e interagir com o mundo para crescer.
Além das missões principais, Outlaws oferece uma variedade de atividades secundárias: jogos de cartas como o Kessel Sabacc, corridas de speeders, caça a tesouros escondidos, plataformas e escalada mais inspiradas em Tomb Raider do que em Assassin’s Creed, e minijogos. A nave Trailblazer permite exploração espacial, combates contra patrulhas imperiais e investigação de destroços, enquanto o speeder bike agiliza a locomoção terrestre.
Em termos gráficos o jogo oferece visuais detalhados e atmosferas imersivas. Cada planeta tem características únicas: iluminação, vegetação, clima e condições dinâmicas de dia/noite impactam tanto a jogabilidade quanto a narrativa. Os modelos das personagens e as animações faciais são expressivos, ajudando e muito a dar credibilidade à história que estamos a vivenciar. Algumas limitações técnicas aparecem por vezes, não nos esqueçamos que estamos perante uma consola que, embora recente, não tem o hardware de uma PlayStation 5 ou Xbox Series X, logo é normal por vezes algumas texturas e efeitos não estarem perfeitos, mas é importante ter em mente que não é nada que comprometa a experiência geral.
No geral, temos de dizer que na Nintendo Switch 2, a performance é muito sólida, oferece a possibilidade de usar os controlos de movimento dos joy-cons 2 e usar o touchscreen em alguns momentos. Jogado em modo Dock como em modo Portátil o jogo tem uma performance muito boa, sem comprometer demasiado os visuais ou a jogabilidade. Diria mesmo que em modo Portátil é surpreendente a qualidade que nos oferece.
A componente sonora reforça de forma notável a imersão no jogo. A banda sonora inspira-se nos temas clássicos de John Williams, mas acrescenta novas composições que variam entre momentos de tensão furtiva e sequências épicas de ação. Os efeitos sonoros são autênticos e detalhados — desde o disparo característico dos blasters ao rugido dos speeders e ao ambiente vivo de planetas como Tatooine ou Canto Bight. Já o voice acting é consistente e convincente, dando personalidade às personagens e reforçando a ligação emocional entre Kay, Nix e os restantes aliados. A cada diálogo temos mesmo a impressão que estamos perante um diálogo saído de um filme de Star Wars, o que só por si mostra como está muito bem feito pelos atores que interpretam as personagens.
Star Wars Outlaws é um jogo que foi transportado para a Nintendo Switch 2 de forma notável. Para quem nunca o jogou, acreditem que têm aqui um excelente jogo do universo de Star Wars, que oferece uma ótima narrativa, uma boa quantidade de exploração, stealth e combate. Kay Vess é uma protagonista que nos cativa facilmente, assim como o seu inseparável Nix. É um jogo que qualquer fã de Star Wars não pode perder.