Developer: Media Vision
Plataforma: PlayStation 5, Xbox Series X|S, PC,
Data de Lançamento: 2 de outubro de 2025

Foi em 1997 que apareceram os primeiros Digimon, na altura brinquedos eletrónicos criados pela Bandai que funcionavam de maneira semelhante aos Tamagotchi, mas que neste caso os jogadores podiam treiná-los e fazer lutas contra outros jogadores. A verdade é que o sucesso foi tanto, que esta febre expandiu-se para outros meios, primeiro com um anime a aparecer em 1999, depois os videojogos, os mangá, filmes e as tão viciantes cartas colecionáveis.

Para quem não conhece este universo, muitas vezes faz logo uma comparação rápida e simplista com os tão famosos Pokémon, no entanto, tirando a parte de existirem muitos Digimon e de também existir a possibilidade de termos vários, a história é bastante diferente e centrada noutros pontos. Embora continue a ser algo pensado para os mais novos, a verdade é que existe uma sensibilidade maior na parte emocional e na evolução das personagens, quer humanos, quer digitais, com enredos mais maduros e até complexos.

Depois de vários jogos, alguns com bastante sucesso, outros nem tanto, a verdade é que surge Digimon Story: Time Stranger, um dos jogos mais ambiciosos e marcantes da série, representando um novo fôlego para a franquia e ao mesmo tempo uma homenagem aos primeiros fãs da série desde os fins dos anos 90. Aqui os jogadores vão encontrar um RPG por turnos que aposta numa narrativa mais madura, complexa e até viciante do que qualquer jogo de coleção de monstros do mercado, misturando elementos de ficção científica, viagens no tempo e dilemas que colocam em confronto o mundo real, o Digimundo e as consequências das nossas próprias ações.

Como já deu para perceber, a história é um dos pilares fundamentais, trazendo desde logo uma diferenciação em relação aos outros jogos do género. Inicialmente temos de escolher quem vamos controlar, Yuki Dan ou Yuki Kanan, agentes da organização secreta ADAMAS, cujo trabalho é investigar e conter as chamadas “anomalias” – manifestações perigosas do mundo digital no nosso mundo.

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Logo nos primeiros momentos de jogo ocorre uma sucessão de eventos dramáticos em Shinjuku que precipita uma guerra entre Digimon e humanos, culminando numa explosão de proporções devastadoras. O nosso protagonista encontra-se no centro deste turbilhão e acaba misteriosamente projetado para o passado, mais precisamente oito anos antes dos acontecimentos iniciais, numa Tóquio muito diferente, pacífica e nostálgica, onde não existem sinais da catástrofe iminente. É a partir daí que o enredo se desenvolve como um thriller temporal, com mistérios interligados que obrigam o jogador a compreender a origem deste conflito e a tomar decisões que podem alterar o futuro. A presença do misterioso Digiovo do Grande Guardião e a sombra ameaçadora que persegue o protagonista tornam-se elementos centrais desta intriga, ampliando a sensação de que cada pista, cada detalhe e cada revelação são peças de um quebra-cabeças maior.

Ainda assim, a narrativa não foge totalmente a certos clichés já familiares aos fãs de Digimon, mas a forma como tudo acontece e como é conduzida mantém um ritmo constante, com reviravoltas, personagens carismáticas e um equilíbrio entre drama, mistério e momentos mais calmos. É na verdade uma história que consegue rapidamente agarrar os fãs mais veteranos que procuram algo mais profundo como aqueles que chegam pela primeira vez à série.

Além da história, é impossível não dar destaque à jogabilidade que consegue prender-nos verdadeiramente durante dezenas de horas. Digimon Story: Time Stranger assenta no habitual combate por turnos, onde os sistemas de sinergias, fraquezas e combinações estratégicas tornam as batalhas estratégicas. O conhecido sistema de atributos – Vírus, Dados e Vacinas – funciona como uma mecânica do jogo “pedra-papel-tesoura”, mas adicionando ainda os elementos, como fogo, água, vento, entre outros, que multiplicam os danos quando usados de forma inteligente.

Conhecer o inimigo e conhecer ainda melhor os nossos Digimon proporcionam combates bastante divertidos, onde conseguimos explorar as fraquezas dos inimigos. Isto mostra como esta mecânica não é algo acessório, mas sim, uma ferramenta fundamental para sairmos vitoriosos, incentivando-nos a analisar os novos adversários e a montarmos equipas diversificadas capazes de responder a cada momento.

No que toca ao combate existe um sistema muito interessante, e falo do Cross Arts, um ataque especial cooperativo entre Digimons que é muitas vezes transformador entre combates, principalmente quando estamos em momentos de maior aperto. No que toca à gestão dos Digimon, esta também está muito inteligente, podemos ter três Digimon connosco, pronto a começar os combates, e mais três prontos a entrar em batalha fazendo a troca entre os Digimon que estão em combate. Algo que muitos jogadores vão gostar, é que temos liberdade para trocar os Digimon quando quisermos, sem isso nos impeça ficarmos sem atacar, ou sem podermos usar itens, ou seja o que for. Além disso, o mesmo acontece com os itens, que podemos usar sem isso nos custar a possibilidade de atacar, oferecendo-nos assim muito mais liberdade, e flexibilidade, além de não nos estragar as estratégias de combate.

Algo muito importante e que agradará a muitos jogadores é o processo de captura e progressão dos Digimon que foi muito bem pensado e cuidadosamente trabalhado. Em vez de recorrer a capturas diretas, como acontece com a maioria dos jogos deste tipo, usamos um sistema de análise dos Digimon inimigos e quando os derrotamos, ganhamos dados sobre essas análises, sempre que atingirmos 100% dos dados, podemos materializar esse Digimon. No caso de deixarem os dados chegarem aos 200%, o máximo de dados analisados por cada Digimon, então quando o materializarmos, estes ficam com especificações melhores.

Este sistema cria assim um ciclo natural de progressão e recompensa, incentivando-nos a querer combater com todos os Digimon que encontramos. Outro ponto importante, prende-se com a Digivolução e a De-Digivolução, sendo um processo que permite evoluir as criaturas mas também regredi-las estrategicamente para reconfigurar atributos, herdar habilidades e explorar linhas evolutivas alternativas. Ao contrário por exemplo dos Pokémon que tem uma linha muito certa de evoluções, os Digimon podem evoluir em mais do que um Digimon, algo que incentiva as Digivolução e De-Digivolução.

Algo que agradará a muitos é o Digifarm, um espaço onde podemos deixar Digimon a treinar, aprender novas skills ou até desenvolver patches e itens. Essa evolução também está ligada à personalidade de cada Digimon, que além de poder ser moldada através de itens, tem a sua influência na forma como os atributos aumentam. É um sistema que ao usá-lo sente-se a recompensa no tempo investido.

Um dos pontos que mais me agradou foi alguns pormenores que fazem muita diferença depois de algum tempo de jogo, e estou a referir-me a certas coisas que melhoram a qualidade de vida, desde logo a possibilidade de acelerar animações durante o combate, assim como a possibilidade de gerir a equipa em qualquer momento a partir do Digivice, sem dependermos de quaisquer dispositivos espalhados pelo mapa.

Falando em mapa, não podemos deixar de falar da exploração, onde todos os inimigos estão bem visíveis, quer para entrarmos em combate, como para tentarmos fugir deles. Com esta abordagem foi adicionada a possibilidade de os atacarmos antecipadamente, antes de entrarmos no campo de combate, causando assim danos iniciais nos inimigos. Esta ideia de ataques antecipados, feitos a partir do RT ou R2 se estivemos a falar do comando a Xbox ou da PlayStation funciona tanto para inimigos, mas também para abrir passagens que podem estar escondidas. Isto é possível, visto que podemos analisar cenários a qualquer altura, ficando marcados todos os pontos importantes desse local, quer paredes que podemos derrubar com ataques, quer inimigos, quer itens que podemos apanhar.

Algo que vale a pena ressalvar, é que Digimon Story: Time Stranger não é um jogo open world, mas sim um conjunto de áreas interligadas que formam uma rede de zonas exploráveis tanto no Digimundo como em Tóquio. Cada região é dividida em mapas de pequenas e médias dimensões, conectados entre si através de corredores, portais ou pontos de transição. E algo que até poderia ser considerado algo mau, na verdade oferece uma sensação de progressão constante, ainda que controlada. A exploração é feita na terceira pessoa, com total liberdade de movimento dentro de cada área, e temos a possibilidade de consultar o mapa geral da zona, ou ter um mini-mapa no canto superior direito para nos irmos guiando.

Referir ainda que o jogo permite ajustar a dificuldade a qualquer momento, ficando assim acessível tanto para aqueles que apenas querem seguir sem dificuldades para se focarem na história como para quem procura desafios mais intensos.

Por fim, e não menos importante, a quantidade de Digimon disponíveis, são mais de 470, o maior número de sempre num jogo da série, e se imaginarmos que cada um conta com as suas animações é algo impressionante num jogo deste género. É fácil perceber que não faltará o que fazer, para todos os jogadores que gostam de colecionar e evoluir cada um dos Digimon.

Dentro de Digimon Story: Time Stranger, existe um minijogo de cartas que funciona como um passatempo divertido, e que devo admitir me agradou bastante, acredito que acontecerá o mesmo com outros jogadores. Este minijogo evoca a nostalgia dos anos 90, quando os combates entre Digimon eram realizados com dispositivos eletrónicos; aqui, a mecânica é adaptada, com o digivice a ler a carta que desejamos jogar. Cada carta representa um Digimon e possui duas caraterísticas principais: a força e os atributos clássicos — Vírus, Dados e Vacina. O objetivo é derrotar os NPC que vamos encontrando espalhados por toda a cidade. Em cada duelo, recebemos cinco cartas e enfrentamos cinco confrontos contra o mesmo NPC, sendo necessário vencer pelo menos três para garantir a vitória.

O minijogo, além de apelativo, é rápido, já que cada sessão não dura mais do que um minuto. As regras simples tornam-no ainda mais divertido, bastando ter em atenção os atributos e a força da carta que escolhemos jogar. Sempre que vencemos, podemos adquirir cartas do adversário, com a quantidade recebida a depender do número de confrontos ganhos. No total, existem mais de 450 cartas para colecionar, o que incentiva a exploração da cidade e a procura por todos os NPC, na tentativa de completar a coleção. Para facilitar, algumas lojas dentro do jogo também vendem cartas, oferecendo uma forma adicional de expandir o nosso baralho.

Devo confessar que o minijogo é bastante apelativo e divertido, sendo também bastante simples perceber as suas regras, mais uma vez é bastante importante ter em mente os atributos – Vírus, Dados e Vacinas – para ganhar os confrontos. Estes minijogos fazem-se em pouco mais de um minuto, logo é uma maneira também de descontrair enquanto vamos fazendo a história do jogo. Sempre que vencemos, podemos ficar com algumas cartas dos adversários, a quantidade de cartas depende do número de confrontos que saímos vitoriosos. Ao todo existem mais de 450 cartas para colecionar.

Em termos gráficos, nota-se claramente uma enorme evolução para o que estávamos habituados na franquia. A transição para a geração atual permitiu dar nova vida ao mundo digital, com modelos de Digimon e personagens humanas muito mais detalhadas, texturas limpas e animações expressivas que reforçam a identidade única de cada criatura. As cidades de Tóquio, como Shinjuku e Akihabara, foram recriadas com bastante cuidado, cheias de luzes, reflexos e pequenas animações que ajudam a transmitir a sensação de estar realmente num espaço urbano. Ainda assim, encontramos muitos NPC simplesmente parados, apenas para encher o cenário, em vez de andarem a movimentar-se como se de uma cidade viva se tratasse.

Já no Digimundo, o contraste é grande, com as zonas naturais, as fábricas metálicas ou os templos inspirados na mitologia grega a apresentarem paletas de cores distintas e efeitos de iluminação que destacam o tom de cada área. Embora o jogo não seja um open world, a profundidade do campo de visão está sempre presente, oferecendo sempre uma volumetria como se fosse um open-word. O desempenho é bastante sólido durante a maioria do tempo, mesmo nas batalhas mais dinâmicas, e por vezes até podem ocorrer pequenas quedas de framerate em zonas mais densas, mas além de serem raras não comprometem em nada o gameplay.

Merece também destaque o enorme trabalho feito em todos os Digimon e nas personagens fundamentais para a história do jogo. Todos eles com bastantes detalhes, e falando propriamente dos Digimon, a sua representação está bastante fiel. Por vezes, um ou outro cenários podem apresentar algumas texturas não tão detalhadas, mas devido ao estilo usado no grafismo do jogo deixa sempre a dúvida se foi algo propositado, ou simplesmente com menos detalhe para pesar menos no jogo.

Já a componente sonora complementa de forma eficaz a nossa imersão no jogo. As vozes dos Digimon durante os combates trazem um toque especial, evocando o espírito dos animes clássicos e criando uma ligação com cada criatura. O jogo apresenta dobragem em japonês e inglês, e devo confessar que está bastante competente, com interpretações que conferem credibilidade e emoção aos momentos mais intensos da narrativa. A banda sonora, embora não seja memorável, cumpre o seu papel, alternando entre temas eletrónicos e melodias mais atmosféricas que se adaptam ao tom das cenas e das batalhas. Já os efeitos sonoros, desde o som característico das digievoluções até ao impacto dos ataques especiais, são satisfatórios.

Digimon Story: Time Stranger consegue cumprir tudo aquilo que esperava dele, principalmente depois da revelação de alguns trailers. Pode dizer-se que não é apenas um novo capítulo da série, mas um novo marco na franquia. Cria um excelente equilíbrio entre uma narrativa complexa e cheia de mistério, uma ótima jogabilidade, e uma apresentação visual e sonora de qualidade. Diria que é dos poucos jogos deste género que mesmo não sendo fã da franquia, os jogadores vão gostar imenso.

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Rui Gonçalves
Desde o tempo do seu Spectrum+2 128k que adora informática. Programador de profissão nunca deixou de lado os jogos, louco por RPGs e jogos de futebol. Adora filmes de acção e de ficção científica, mas depois de ver o Matrix nunca mais foi o mesmo.
analise-digimon-story-time-stranger<h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #339966;">SIM</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">História mantém-nos agarrado</li> <li style="text-align: justify;">Sistema de combate</li> <li style="text-align: justify;">Grande variedade de Digimon</li> </ul> <h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #ff0000;">NÃO</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Alguns cenários com texturas menos detalhadas</li> </ul>