Developer: EIRAS
Plataforma: PC
Data de Lançamento: 25 de Setembro de 2025

Quando olhamos para o jogo do estúdio EIRAS de João Eiras Antunes – Employee 925, começamos logo por perceber as suas influências e os “wordplay”. Desde logo o nome, o Empregado das 09h00 às 17h00, mas assim que entramos no jogo, o lado Severance torna-se claro e óbvio e a forte mensagem também.

O jogo coloca-nos na pele do tal Empregado metido num cubículo, ao lado de tantos, mas tantos outros que só serve de carne para canhão. Por isso, não tem direito sequer a um nome, mas sim a um número, o 925. Vidrados no ecrã, como vivemos hoje em dia, e não apenas para trabalhar, mas muitas vezes para “viver” daquilo que o ecrã projecta; estamos incumbidos, numa primeira instância a passar por uma fase de formação.

Essa “Escuta Activa” com o colega guia-nos para a mecânica do jogo que passa por darmos indicações ao nosso colega através de código morse e receber indicações do outro lado para nos movermos no mesmo pequeno labirinto que aparece no ecrã. E se nas primeiras vezes que o fazemos parece simples, utilizando a barra de espaços para comunicação via morse, pressionando durante mais tempo ou mais rapidamente, para replicar o código para as 4 direcções possível: cima, baixo, esquerda e direita, rapidamente as coisas mudam de figura. É que, de repente, recebemos uma mensagem no nosso ecrã para falharmos ou para levar o nosso colega ao erro, para dar cabo da máquina corporativa.

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Eu como tenho a mania de ser anti-sistemas corporativos, fui logo fazer com que tudo explodisse, neste caso, o meu computador. E quando tal aconteceu tive direito ao primeiro fim, talvez o mais simples, o do “Dispensado” e levado para dentro da “máquina”. Aí percorremos outro labirinto, tal como aquele em que comunicamos com o nosso colega, e muito ao estilo do Severance, com corredores apertados e longos, até chegarmos a uma porta. Abrindo essa porta temos então a entidade suprema que nos julga pelo nosso comportamento e aproveitamento.

Ironia, ou talvez não, somos colocados de novo em frente ao nosso computador porque há muito a fazer e a empresa precisa que despachemos o trabalho pendente, mas agora sem ter direito a sermos pagos. Todos nós, pelo menos uma vez na nossa vida, vê aqui o reflexo de uma empresa para a qual trabalhou e tinha esta postura tóxica, em que nada do que fizéssemos era o suficiente, nem as horas de trabalho, e ai de quem ousasse em pensar em pedir um aumento ou sequer a refutar fazer determinada tarefa.

É neste formato um pouco de Stanley Parable, que o trabalho do João Eiras consegue nos fascinar e a nos viciar em tentar saber todos os fins do jogo, mas mais do que tudo, se conseguimos efectivamente fugir a este ciclo vicioso. Cada final é uma representação de um desfecho possível no mundo empresarial e que nos deixará sempre a pensar, mas a reflexão maior é mesmo aquela que fazemos se conseguirmos sair deste ciclo infernal. A tentativa de sermos um Homem Livre, de conquistarmos a nossa liberdade, mesmo que com custos adjacentes, mas tentando manter elementos tão raros nos dias de hoje, como a meritocracia, a humanidade e a moralidade, só nos fará lembrar o quão difícil é segui-los nesta era moderna.

Dizer que nome da empresa – Daedalus – é uma referência bastante subtil, mas muito inteligente ao labirinto que refere-se a Dédalo, o notável inventor e arquitecto da Grécia Antiga, que criou um labirinto para aprisionar o Minotauro, um monstro meio homem, meio touro, filho da esposa do Rei Minos de Creta. Localizado nas profundezas do Palácio de Minos em Cnossos, era um labirinto complexo de corredores e portas secretas projetado para prender a criatura e ninguém conseguiria sair dele.

Em termos gráficos Employee 925Employee 925 não impressiona por assim dizer, mas consegue criar o ambiente certo, através de uma escolha acertada de verdes para a ligação mais informática, até mais Matrix, se quiserem, em contraste com as cores mais “reais” de alguns elementos da nossa secretária onde trabalhamos. O jogo já está traduzido em Português de Portugal, mas não tem voz, tem sons que emulam o discurso.

Employee 925 demonstra como os estúdios independentes nos podem surpreender pela proposta que apresentam, pelo seu conceito e pela reflex-ao que oferecem, muito mais do gráficos estonteantes ou mecânicas apuradas durante anos. Recorrendo a uma das mecânicas mais simples do mundo, o Código Morse, aliado a puzzles intricados, consegue dar uma boa dose de desafio nas cerca de 4 a 5 horas que nos propõe. No entanto, mais do que as horas de jogo é a experiência que oferece no campo da reflexão do mundo corporativo e da mente humana.

REVER GERAL
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Pedro Moreira Dias
Fundador do Site - Salão de Jogos, o Commodore Amiga 500 foi o seu melhor amigo durante décadas e ainda hoje sabe de cor a equipa principal do Benfica do Sensible Soccer 94/95. Nos tempos vagos ainda edita as botas dos jogadores do FIFA e do PES.
analise-employee-925<h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #339966;">SIM</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Atmosfera imersiva</li> <li style="text-align: justify;">Combate sólido</li> <li style="text-align: justify;">Acrescenta ao lore da saga</li> </ul> <h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #ff0000;">NÃO</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Puzzles um pouco repetitivos</li> </ul>