Developer: Dotemu, Guard Crush Games
Plataforma: PC, Nintendo Switch, PlayStation 4, PlayStation 5
Data de Lançamento: 9 de outubro de 2025
Para quem cresceu e teve grande parte da sua infância e adolescência na época dourada dos beat ’em ups – finais dos anos 80 e inícios dos anos 90 – este género tem um significado especial. Cada vez que surge um novo título de qualidade, a nostalgia apodera-se de nós, trazendo à memória nomes como Double Dragon, Final Fight, Golden Axe, Streets of Rage, Teenage Mutant Ninja Turtles, entre tantos outros que nos proporcionaram incontáveis horas de diversão.
Assim que vi Absolum, confesso que todas essas lembranças regressaram em força. E, quando percebi quem estava por detrás do projeto — a Dotemu e a Guard Crush Games — o entusiasmo aumentou. Afinal, foram estes dois estúdios que devolveram vida ao género com o excelente Streets of Rage 4, recriando com mestria aquela sensação mágica que tantos jogadores sentiram na altura.
Sabendo isso, era impossível não ficar entusiasmado com Absolum. A cada novo trailer, parecia mais evidente que estávamos perante algo especial. A única preocupação que tinha era o facto de o jogo adotar elementos roguelite, o que poderia torná-lo repetitivo, obrigando a várias runs semelhantes. Felizmente, isso não aconteceu, já que o jogo equilibra de forma notável o beat ’em up clássico com a estrutura roguelite, tornando cada nova tentativa gratificante. Mesmo ao revisitar locais já explorados, há sempre algo novo para descobrir, diferentes caminhos a seguir e uma clara sensação de progressão.
A história decorre em Talamh, um mundo devastado por um cataclismo mágico causado por feiticeiros ambiciosos. Esse desastre semeou a desconfiança entre a população, criando o cenário ideal para o tirano Rei Sol Azra ascender ao poder. Aproveitando o medo generalizado da magia, Azra escravizou os feiticeiros através da sua Ordem Carmesim e colocou as suas pessoas mais leais a governar os reinos conquistados, consolidando assim o seu domínio absoluto.
Felizmente, quando aparecem este tipo de regimes opressores, aparece sempre alguém para contrariar esse caminho, neste caso uma resistência clandestina ergueu-se para enfrentar o regime de Azra. Liderada pela feiticeira Uchawi, um pequeno grupo de rebeldes com poderes mágicos decide desafiar as forças de Azra para restaurar a ordem e a liberdade em Talamh. Os protagonistas que incluem a espadachim Galandra e o anão Karl, partem do refúgio mágico de Uchawi para iniciar uma luta desesperada contra o tirano.
Embora a narrativa pareça inicialmente simples, servindo para oferecer o enredo inicial ao jogo, vai-se expandindo de forma orgânica à medida que avançamos no jogo, uma característica bastante comum nos roguelite. E a cada novo desafio e cada nova derrota, descobrimos mais sobre o passado dos heróis e o destino de Talamh.
Em relação aos protagonistas, no início, apenas Galandra e Karl estão disponíveis, mas ao longo da campanha desbloqueamos mais duas personagens: Cider e Brome. Algo que me agradou bastante foi ver que cada um possui uma jogabilidade e personalidade distintas. Por exemplo, Galandra é uma guerreira equilibrada, empunhando uma espada pesada que combina força e precisão, ideal para jogadores que preferem um estilo mais clássico. Karl, o anão robusto, aposta num combate corpo a corpo brutal, usando bastante os agarrões e arremessos. Cider é uma das personagens mais fascinantes, consegue ser ágil, veloz e especializada em ataques à distância e armadilhas. Por fim, Brome, o mago-sapo, usa feitiços, mas revela uma fragilidade típica das personagens mágicas.
Esta diversidade obriga-nos a testar todos eles e perceber aquele que se adapta melhor ao nosso estilo de jogo. É rapidamente perceptível que alguns incentivam uma abordagem direta, enquanto outras exigem mais estratégia e timing.
O combate é o verdadeiro coração de Absolum. A jogabilidade é fluida e profunda, permitindo executar combos, esquivas, deflects e alternar entre ataques leves e pesados. Dominar os padrões de ataque dos inimigos é crucial para criar estratégias eficazes. Cada personagem dispõe ainda de habilidades únicas, que podem ser melhoradas ou substituídas ao longo das runs. O sistema de progressão, típico dos roguelite, permite desbloquear bónus permanentes, como aumento de vida, dano extra ou mais ouro inicial, tornando cada tentativa mais recompensadora.
A estrutura roguelite aplicada num beat ’em up é uma inovação refrescante. Cada mapa apresenta múltiplos caminhos e objetivos secundários, com decisões que afetam diretamente a experiência. Um caminho pode levar a encontros únicos com NPCs, novos desafios ou áreas secretas, enquanto outro pode esconder armadilhas e recompensas inesperadas. Esta abordagem incentiva a exploração e confere uma sensação constante de descoberta. Curiosamente, a morte em Absolum nunca é frustrante, serve antes como uma oportunidade de aprendizagem e crescimento.
Os bosses são outro dos pontos altos do jogo. Cada um apresenta padrões únicos e ataques exigentes, obrigando-nos a estudar cuidadosamente os seus movimentos. Nenhum deles é fácil, e cada vitória é sempre de uma enorme satisfação, amplificada pelo sentimento de progressão permanente, além das recompensas que cada um deles nos dá.
Outro aspeto que não posso deixar de referir, é o modo cooperativo, disponível tanto localmente como online. A possibilidade de enfrentar os desafios com um amigo ou com outro jogador desconhecido eleva verdadeiramente a experiência, permitindo coordenar ataques, dividir a atenção entre inimigos e criar combos devastadores. Além disso, torna o jogo mais acessível, quer a quem ainda está a aprender as mecânicas, como para conseguir-se avançar no mesmo.
Apesar de todas as suas qualidades, Absolum tem uma curva de aprendizagem considerável e exige algum grind para atingir as fases mais avançadas. No entanto, isso consegue ser superado pela surpresa e por toda a profundidade que oferece.
Graficamente, o jogo é impressionante. A direção artística é sombria e melancólica, com uma conjugação de cores contida que reflete perfeitamente o estado decadente de Talamh. As paisagens em ruínas e a iluminação dinâmica, que alterna entre penumbra opressiva e explosões de luz, criam uma atmosfera imersiva e coerente com a narrativa. As animações desenhadas à mão são fluídas e encaixam na perfeição em cada combate.
A componente sonora mantém o mesmo nível de qualidade. A banda sonora alterna entre temas minimalistas e composições intensas, acompanhando com precisão o ritmo do jogo. Os efeitos sonoros são excelentes, desde o impacto dos golpes até aos detalhes ambientais, assim como o voice acting, que é surpreendentemente competente, dando vida e emoção às personagens em todos os momentos.
Absolum é uma verdadeira surpresa. Uma fusão perfeita entre o clássico beat ’em up e o moderno roguelite, que mostra como ainda há espaço para inovação num género com tantas décadas de história. Dotemu e Guard Crush Games voltam a provar que sabem respeitar o passado e, ao mesmo tempo, criar algo novo e memorável. Sem dúvida, um dos melhores roguelite beat ’em ups dos últimos anos.





