Developer: Treyarch, Raven Software, Activision
Plataforma: Xbox Series, Xbox One, PlayStation 5, PlayStation 4 e PC
Data de Lançamento: 14 de Novembro de 2025
O lançamento de um novo Call of Duty é, todos os anos, um dos acontecimentos mais marcantes e impactantes dentro do universo do gaming. Poucas séries conseguem gerar a mesma antecipação, debate e mobilização comunitária. Desde sua criação, tornou-se um verdadeiro fenómeno cultural, moldando tendências, impulsionando o género FPS e estabelecendo padrões que durante mais de uma década definiram a indústria. A cada novo capítulo, milhões de jogadores regressam, prontos para descobrir de que forma a série irá evoluir — e, inevitavelmente, como irá honrar o legado que tornou este nome numa das marcas mais poderosas e influentes do entretenimento moderno.
Contudo, Black Ops 7 não chega ao mercado num cenário simples. Este lançamento acontece num contexto de concorrência feroz, com títulos como Arc Raiders e, sobretudo, Battlefield 6 a ocuparem espaço mediático e a disputar o mesmo público. Os FPS de grande escala nunca estiveram tão competitivos, e isso eleva as expectativas ao máximo. Além disso, os últimos anos da franquia foram marcados por debates intensos: muitos fãs afirmam que a série perdeu parte da sua identidade, afastando-se de elementos que eram considerados essenciais desde os primeiros tempos.
Seja pelas decisões criativas, pela direção narrativa ou por mudanças estruturais no multiplayer, criou-se um clima de divisão que torna cada novo lançamento um verdadeiro teste de força — não apenas técnico, mas também emocional e histórico. E é precisamente dentro deste contexto sensível que Call of Duty: Black Ops 7 se torna ainda mais importante. Para além das pressões naturais que pesam sobre uma franquia de dimensão colossal, existe também a delicada questão da Microsoft. Desde a aquisição da Activision Blizzard, a empresa tem procurado redefinir, reposicionar e até compreender qual deve ser o espaço de Call of Duty dentro do ecossistema Xbox.
Estas dúvidas — que vão desde os modelos de negócio à filosofia multiplataforma, passando pelo impacto no Game Pass — transformam este lançamento num marco estratégico para a companhia. A Microsoft precisa que Black Ops 7 seja não apenas um sucesso comercial, mas também um sinal claro de que a franquia encontrou um novo rumo no seu portefólio, capaz de agradar aos fãs, fortalecer o catálogo da Xbox e justificar as enormes expectativas que acompanham cada passo desta integração. Nesse sentido, as circunstâncias que rodeiam este lançamento criam um cenário carregado de expectativa — exatamente o tipo de ambiente em que a série Call of Duty sempre prosperou.
A campanha de Call of Duty: Black Ops 7 era, desde o início, o elemento mais coberto em mistério. Enquanto o multiplayer e o modo Zombies tiveram sessões de teste amplamente divulgadas — permitindo aos jogadores experienciar mecânicas, mapas e sistemas ainda antes do lançamento — a campanha permaneceu trancada a sete chaves até ao dia oficial de estreia. A Treyarch evitou mostrar sequências extensas, manteve detalhes narrativos em absoluto segredo e limitou-se a deixar escapar algumas pistas vagas sobre o tom e a direção temática. Esta aura de sigilo acabou por tornar o arranque da campanha num dos momentos mais aguardados e especulados do lançamento, especialmente para os fãs que valorizam a componente narrativa como uma parte essencial da saga Black Ops.
Quando finalmente chega o momento de entrar na história, rapidamente se percebe porque foi tudo mantido tão discreto, visto ser a campanha mais psicadélica de toda a franquia. A narrativa mergulha profundamente nos temas clássicos de Black Ops — manipulação mental, operações clandestinas e realidades distorcidas — mas eleva esses elementos a um novo patamar de intensidade. A história de Call of Duty: Black Ops 7 acompanha David “Section” Mason e a sua equipa Specter One em 2035, dez anos após os eventos de Black Ops 2. A missão começa quando um vídeo de Raul Menendez surge online, sugerindo novas ameaças, levando a equipa a investigar a cidade de Avalon, sede da corporação tecnológica Guild, liderada por Emma Kagan.
Durante a infiltração, a equipa é exposta a um tóxico alucinogénico que provoca visões partilhadas, transportando-os para cenários surreais ligados a um passado doloroso. Ao longo das missões da campanha, vamos enfrentar aparições e manifestações das suas memórias, incluindo figuras importantes da história da série, ao mesmo tempo que tentamos compreender a ameaça da substância tóxica, chamada de Cradle. Estas experiências psicadélicas dão à narrativa um tom único, alternando entre o habitual realismo militar e sequências quase oníricas que desafiam a percepção do jogador.
A equipa descobre que a Guild manipula informações e utiliza tecnologia avançada para seus próprios interesses. David e a Specter One terão diversos confrontos pela frente, onde se infiltrarão em instalações da Guild para tentar impedir os planos de Kagan de espalhar terror global, enquanto desvendam traições dentro das forças aliadas. O enredo combina elementos de intriga tecnológica e confrontos com inimigos inesperados, explorando relações pessoais e dilemas morais dos membros da Specter One de forma bastante intensa.
A campanha foi concebida essencialmente para o modo cooperativo, permitindo que até três outros jogadores se juntem online. É uma particularidade que influencia diretamente a jogabilidade, cuja impossibilidade de pausar a campanha em modo solo é um dos aspetos mais incompreensíveis. Não apenas não se pode pausar — algo já de si desconfortável num modo pensado para narrativa — como o jogo não permite permanecer inativo durante muito tempo. Se o jogador se ausentar por alguns minutos, arrisca-se a ser expulso da missão e a ter de recomeçar a mesma, uma vez que não existem checkpoints. Isto coloca uma pressão artificial sobre quem tenta desfrutar da história ao seu ritmo, impedindo que a campanha funcione como uma experiência verdadeiramente single-player.
E o problema agrava-se porque, ao contrário do que se poderia esperar, também não existem companheiros controlados por IA. Apesar de ser possível jogar a campanha com até três outros jogadores online — sejam amigos ou desconhecidos atribuídos através do matchmaking — quem decide jogar sozinho fá-lo completamente desacompanhado no terreno. Ainda assim, de forma paradoxal, as cutscenes continuam a mostrar a equipa completa a interagir como se estivesse presente ao nosso lado, com diálogos e enquadramentos visuais que ignoram completamente o facto de o jogador estar a avançar sozinho. Esta discrepância entre narrativa e jogabilidade torna a experiência estranha e, por vezes, até desconcertante, reforçando a ideia de que a campanha foi concebida com prioridade absoluta para o co-op.
No que diz respeito à jogabilidade, as novidades introduzidas este ano têm um impacto direto no ritmo e no estilo das missões. Novamente, campanha abraça um design particularmente focado na cooperação, com arenas mais abertas, encontros que favorecem a coordenação entre múltiplos jogadores e momentos onde as habilidades complementares fazem uma diferença clara no desenrolar das sequências de combate. A verticalidade, o uso de gadgets táticos e a liberdade de abordagem são visivelmente inspirados por elementos vindos do multiplayer, o que aproxima a experiência de algo mais dinâmico e menos linear. Há uma sensação de fluidez constante, de movimento, como se cada missão tivesse sido pensada com o caos cooperativo em mente.
Isso fica bem vincado quando terminamos a campanha e passamos para o Endgame, que representa uma extensão ambiciosa e ousada, trazendo o conceito de PvE para dentro do universo de Avalon. Diferente das missões lineares da campanha, o Endgame está estruturado como uma experiência de extração em mundo aberto, concebida para desafiar equipas de até quatro jogadores, mas capaz de acomodar a participação de até 32 jogadores simultaneamente. A ideia central é simples: cada jogador começa com um nível de poder baixo, e, à medida que completa objetivos, elimina inimigos e progride pelas zonas do mapa, aumenta gradualmente de nível, enfrentando desafios cada vez mais difíceis. O objetivo final é alcançar as zonas mais avançadas, exigindo coordenação e decisões rápidas para sobreviver e extrair com sucesso.
Endgame transforma o mundo de Avalon numa espécie de “campo de treino massivo”, onde inimigos humanos e robóticos convivem com criaturas grotescas e bosses impressionantes, criando uma mistura de ação arcade e tensão estratégica. Cada zona do mapa é projetada para ser progressivamente mais perigosa, e moldada para ser adaptável a diferentes estilos de jogo. O sistema de progressão é profundo, sendo que cada operador melhora as suas habilidades e desbloqueia novas armas e capacidades, permitindo que a continuidade entre sessões se torne um elemento central da experiência. Este loop de progressão, aliado à necessidade de extração bem-sucedida, cria uma tensão contínua que mantém os jogadores com vontade de voltar, transformando o Endgame numa das partes mais interessantes de Black Ops 7.
E há alguma semelhança com o modo Zombies de Call of Duty: Black Ops 7, dado que assume, pela primeira vez na história da série, o papel de um dos centros gravitacionais do jogo. Deixa de ser apenas um complemento divertido para se tornar numa experiência de grande escala, com ambição própria e uma identidade muito marcada. Se em títulos anteriores o Zombies já era um dos pilares mais adorados da comunidade, aqui transforma-se numa verdadeira superprodução, expandindo o alcance narrativo, mecânico e estrutural do universo Black Ops e aproximando-se do estatuto de um jogo autónomo dentro do próprio jogo.
A primeira grande novidade está na dimensão da campanha Zombies, descrita como a maior alguma vez criada para a série. O novo mapa, Ashes of the Damned, expande-se por seis locais distintos, cada um com o seu próprio tom, desafios e atmosfera, criando uma sensação de progressão que se afasta do típico formato de arenas isoladas. Há uma lógica quase “road trip infernal” nesta nova abordagem: o mundo é tão grande que os jogadores terão ao seu dispor um veículo amaldiçoado, com o nome “Tessie”, e que será um dos elementos simbólicos deste modo. Servirá de meio de transporte, fortaleza móvel e ferramenta estratégica, e é totalmente personalizado.
Ashes of the Damned coloca os jogadores na pele de oito personagens jogáveis, incluindo versões clássicas da tripulação Ultimis — Dempsey, Nikolai, Takeo e Richtofen — e os novos personagens introduzidos em Black Ops 7, como Grigori Weaver, Elizabeth Grey, Mackenzie Carver e Maya Aguinaldo. A narrativa combina elementos de terror, ficção científica e viagens surreais entre dimensões, ligando diretamente o modo Zombies ao enredo principal da campanha e ao novo Endgame mode. A história gira em torno de derrotar o vilão Great Voice e desvendar os segredos do Dark Aether, oferecendo tanto desafios estratégicos quanto momentos de fan service para veteranos da série.
Mas o regresso não é apenas uma fórmula segura para agradar velhos jogadores; é também uma forma de sublinhar como o Zombies de Black Ops 7 se assume como um tributo às suas próprias raízes, reinterpretando personagens e referências míticas enquanto empurra a jogabilidade para novas direções. É um amor assumido aos fãs da saga, transformado numa experiência que olha para trás com carinho e para a frente com coragem. E, dentro deste novo capítulo da saga, é o lugar onde o jogo mais arrisca, mais cresce e mais se reinventa.
A estrutura de jogo mantém o ADN clássico: ondas de inimigos, progressão constante, descoberta de áreas, melhorias de armas e aquela curva de dificuldade crescente que define a essência do modo. No entanto, o Zombies de Black Ops 7 vai além disso ao investir profundamente numa sensação de escala e movimento. Os jogadores são frequentemente encorajados a deslocarem-se entre zonas, explorar novos caminhos, cumprir objetivos espalhados pelo mapa e utilizar o camião para reposicionar a equipa perante ameaças avassaladoras.
Além do Ashes of the Damned, Black Ops 7 traz de volta o Dead Ops Arcade 4, uma experiência top-down cooperativa (mas que também pode ser jogada a solo), que combina ação frenética com aquele humor característico. Os jogadores percorrem 20 áreas diferentes, muitas baseadas em mapas clássicos, para resgatar a mascote Fidolina, enfrentando inimigos e angariando moedas e power-ups. Dead Ops Arcade 4 mantém a fórmula já conhecida, mas introduz novos modos de dificuldade e variações, garantindo uma enorme rejogabilidade mesmo para quem conhece bem o modo.
Passando agora para o multiplayer, o verdadeiro core do jogo e a experiência que tem sustentado a longevidade da série, não apenas mantém as bases consagradas da franquia, mas também introduz ajustes e inovações que têm uma clara influência no ritmo, a estratégia e a variedade das partidas. Call of Duty sempre se destacou pela sua jogabilidade rápida, intensa e altamente competitiva, e Black Ops 7 reafirma esse compromisso com uma mistura equilibrada de nostalgia e modernidade. Para veteranos e novos jogadores, o multiplayer deste título confirma a capacidade da Treyarch em criar experiências competitivas rápidas e justas, dentro do possível.
Em termos de sensação e ritmo, o jogo retorna a um estilo mais próximo do clássico Black Ops 2, desacelerando ligeiramente a experiência em relação aos lançamentos mais recentes. Elementos como o tac-sprint foram ajustados, permitindo uma cadência de combate que recompensa tanto a habilidade individual como a coordenação em equipa. Ao mesmo tempo, a mobilidade recebeu um upgrade com a adição de mecânicas como o wall jump, que introduz verticalidade às arenas sem quebrar a familiaridade da jogabilidade. Este tipo de elementos dá aos jogadores maior liberdade tática, permitindo abordagens criativas durante os combates.
Os mapas de Black Ops 7 são um dos grandes destaques do multiplayer, combinando arenas clássicas, como Hijacked, Raid e Express, com novas arenas visualmente impactantes, incluindo locais como Homestead, um cenário coberto de neve iluminado pela aurora boreal, e Toshin, uma cidade japonesa neon cheia de oportunidades para combate vertical. Cada mapa foi cuidadosamente projetado para acomodar diferentes estilos de jogo, seja no confronto direto em espaços menores ou estratégias de flanqueamento em áreas mais abertas. A inclusão de 16 mapas padrão no lançamento, juntamente com a promessa de suporte pós-lançamento, garante uma experiência robusta e duradoura para os jogadores.
Black Ops 7 também diversifica suas opções de modos de jogo. Além dos tradicionais 6v6, como o Team Deathmatch e o Kill Confirmed, introduz novas experiências que adicionam complexidade estratégica e escalabilidade. O modo Overload, uma variante de Capture the Flag, exige um trabalho de equipa intenso, já que quem carrega o dispositivo torna-se visível para todos os adversários, aumentando a importância da comunicação. O Skirmish 20v20 oferece combates em mapas grandes com veículos, objetivos variados e o uso de wingsuits, promovendo batalhas massivas que lembram pequenas experiências do tipo Battlefield, mas com o ritmo acelerado característico de Call of Duty.
O sistema de armas e perks também recebeu ajustes. As combinações de habilidades, perks e armamento mantêm a profundidade estratégica já vista em Black Ops 6, mas com novas funcionalidades, como a capacidade de copiar e partilhar loadouts completos, simplificando a adaptação a builds de outros jogadores. A progressão unificada entre todos os modos – campanha, Zombies e multiplayer – fortalece o senso de continuidade e recompensa o investimento de tempo, permitindo aos jogadores progredir e desbloquear habilidades e armas sem precisarem de se concentrar exclusivamente num modo específico.
A vertente gráfica de Call of Duty: Black Ops 7 representa um dos trunfos de toda a experiência, combinando fidelidade visual, um design artístico coeso e otimizações técnicas que se encaixam no padrão esperado de um título AAA moderno. Apresenta um nível de detalhe impressionante, com texturas refinadas, iluminação dinâmica e efeitos visuais que dão vida a cada elemento do mundo virtual. A coerência entre estilo artístico, qualidade técnica e jogabilidade faz com que cada mapa, personagem e arma não apenas pareçam impressionantes, mas também se sintam essenciais para a imersão do jogador.
O motor gráfico de Black Ops 7 permite uma experiência consistente em diferentes plataformas, variando apenas em resolução ou taxa de frames. Consolas de última geração rodam o jogo em 4K nativo com 60fps, enquanto PCs bem equipados conseguem atingir 120fps com configurações máximas, mantendo a estabilidade mesmo em combates caóticos e com múltiplos efeitos simultâneos. A consistência do desempenho é crucial, sobretudo no multiplayer, onde cada microsegundo e cada avistamento do inimigo podem alterar o resultado de um confronto.
O jogo mantém a tradição da série em oferecer uma envolvência sonora de alta qualidade, e transversal a todos os modos. A banda sonora, assinada por compositores de renome como Trent Reznor, combina temas bombásticos com momentos de alta tensão, criando a atmosfera certa para cada situação. As composições elevam a sensação de grandiosidade das missões, reforçando o impacto dos momentos épicos, desde os momentos mais intensos até aos confrontos com bosses gigantescos em ambientes caóticos.
Os efeitos sonoros são também detalhados. Cada arma possui sons distintos que transmitem peso e realismo, enquanto explosões, passos, drones e veículos recebem uma atenção meticulosa para que o jogador perceba a distância, a direção e a intensidade das ações à sua volta. Suporta tecnologias modernas de áudio, como Dolby Atmos, que proporcionam uma espacialização precisa do som, significando que o jogador consegue localizar inimigos apenas pelos efeitos auditivos, tornando o gameplay mais estratégico e intuitivo. A mixagem entre música, efeitos e diálogos é equilibrada, garantindo que nenhum elemento sobreponha outro, mesmo nos momentos mais caóticos da acção.
Call of Duty: Black Ops 7 combina nostalgia e inovação, oferecendo uma campanha caótica e cinematográfica, ainda que com problemas que podem afastar alguns jogadores. Por outro lado, o maior e mais ambicioso Zombies da série, e um multiplayer equilibrado que retorna a elementos clássicos são pontos extremamente positivos que elevam a experiência no seu todo. A progressão unificada entre todos os modos reforça o senso de continuidade, e um desejo cada vez mais claro de transformar a franquia numa plataforma mais orgânica.



