Developer: Shiro Games
Plataformas: PC
Data de Lançamento: 4 de dezembro de 2025

Confesso que, embora Northgard tenha sido lançado em 2017, só nos últimos anos fui descobrir esta pérola. Este é um RTS que se destaca por apresentar características muito próprias, combinando estratégia, gestão e sobrevivência num mundo inspirado na mitologia nórdica. Com o lançamento da Definitive Edition, pareceu-me finalmente a altura ideal para escrever sobre este incrível jogo, que certamente surpreenderá muitos jogadores. Esta nova versão chega mais refinada, com a adição de uma expansão, melhorias na IA, novos clãs, biomas e modos, criando uma experiência mais equilibrada, completa e desafiante.

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Antes de falar dos modos do jogo, é essencial explicar aquilo que verdadeiramente distingue Northgard dos restantes RTS e, acima de tudo, compreender como tudo funciona. Cada partida começa com um pequeno grupo de aldeões de um clã Viking instalado numa zona inicial da ilha. Cada aldeão pode ser atribuído a diferentes tarefas, como cortar madeira, caçar, pescar, recolher comida, minerar, explorar ou treinar-se como guerreiro. Os aldeões surgem automaticamente, e à medida que construímos casas para expandir a população, novos habitantes vão aparecendo gradualmente, um de cada vez. A gestão destes aldeões é extremamente flexível, permitindo alterar funções conforme as necessidades do momento, seja para reforçar a produção de recursos, preparar a aldeia para enfrentar o inverno ou fortalecer o exército perante ameaças externas.

A expansão para novas zonas é um elemento central da estratégia em Northgard. Para colonizar territórios vizinhos, é necessário construir um acampamento de exploração e enviar um aldeão convertido em explorador para desvendar a área. Cada território oferece recursos limitados e espaço reduzido para edifícios, o que obriga a uma avaliação cuidadosa sobre onde e como expandir. Construir casas ou estruturas essenciais requer recursos como madeira, pedra e ferro, e cada edifício cumpre um papel específico, seja para aumentar a produção de comida e madeira, treinar unidades militares ou reforçar a economia. O planeamento é decisivo: expandir demasiado cedo pode levar ao esgotamento de recursos, enquanto fazê-lo demasiado tarde abre espaço para que outros clãs ocupem posições estratégicas de grande valor.

O objetivo do jogo passa por manter um equilíbrio constante entre crescimento, economia, exploração e combate, sempre tendo em conta o impacto das estações, especialmente o inverno, que já falaremos mais à frente. Existem vários caminhos para alcançar a vitória: dominar militarmente clãs rivais, erguer monumentos e conquistar fama, desenvolver uma economia sólida baseada em comércio ou cumprir objetivos específicos definidos por mapas e biomas.

Ao contrário dos RTS mais tradicionais, em Northgard não recompensam os cliques rápidos nem produção desenfreada de unidades. Aqui, cada ação tem peso e consequência. Decidir onde expandir, gerir os aldeões, distribuir recursos e escolher o edifício certo no momento certo é o que define o sucesso. A limitação de espaços de construção em cada zona reforça esta necessidade de raciocínio estratégico, uma má escolha de território ou uma expansão feita sem coerência pode comprometer toda a economia da colónia e até levar à morte de aldeões.

Os recursos são o coração do jogo. Comida, madeira e krowns são fundamentais para a sobrevivência. A comida alimenta os aldeões, a madeira mantém os edifícios aquecidos no inverno e os krowns permitem pagar manutenção e suportar o crescimento da aldeia. Mais tarde, ferro e pedra entram em cena, possibilitando melhorias estruturais e equipamentos avançados, sendo essenciais para escalar a eficiência da colónia.

O inverno representa um dos desafios mais marcantes e característicos de Northgard. Durante esta estação, a produção cai, os guerreiros tornam-se menos eficazes e tempestades podem rapidamente consumir recursos preciosos. Prepararmo-nos para esta estação é um exercício de planeamento antecipado e tomada de decisões muito cuidadosa, reforçando todo o carácter estratégico do jogo. A pressão que o inverno nos impõe transforma cada escolha económica e militar numa questão de sobrevivência, criando tensão constante e desafios que tornam cada partida única.

Algo fundamental no jogo é compreender que cada clã oferece estilos de jogo muito distintos, moldando por completo a forma como cada partida se desenrola. O clã do Veado aposta num início forte, orientado para a fama e para uma economia robusta, enquanto o clã Bode se destaca pela sua capacidade quase inigualável de sobreviver e prosperar mesmo em territórios reduzidos. Já o clã do Lobo privilegia a agressividade e cresce através do combate constante, em claro contraste com o clã Corvo, que se apoia no comércio, exploração e mobilidade para expandir rapidamente. Por sua vez, o clã Urso valoriza a resiliência e a segurança, sendo particularmente eficaz durante o inverno graças às suas unidades mais resistentes.

O clã do Javali apresenta uma ligação profunda ao conhecimento e desenvolve-se através da recolha acelerada de sabedoria, o clã da Cobra aposta em táticas furtivas, sabotagem e guerrilha, enquanto o clã do Dragão segue uma abordagem mais arriscada, mas extremamente poderosa, baseada em sacrifícios e no uso de unidades dracónicas. Por fim, o clã do Cavalo distingue-se pelo foco na engenharia e nos upgrades, avançando rapidamente graças aos seus artesãos especializados que permitem melhorias estruturais mais eficazes.

Outro ponto diferenciador de Northgard é a existência de duas árvores de progressão. A árvore militar cresce através da experiência obtida em combate, desbloqueando habilidades que fortalecem o exército e refinam o estilo de luta do clã. Já a árvore de sabedoria evolui através do progresso económico e da recolha de sabedoria, oferecendo melhorias permanentes que aumentam a eficiência da aldeia, desde melhorias na produção de madeira até reduções significativas das penalizações impostas pelo inverno. Esta dualidade cria um sistema de evolução amplo e flexível, permitindo adaptar estrategicamente o clã ao decorrer da partida.

Em termos de combate, temos uma aposta num sistema simples, mas extremamente funcional. As unidades atacam automaticamente qualquer inimigo presente na mesma zona, embora exista a opção de controlo manual para estratégias mais precisas. Antes mesmo de enfrentar outros clãs, temos de lidar com inimigos neutros, como lobos ou ursos, que criam desafios naturais e obrigam a uma gestão equilibrada entre economia, defesa e exploração. Cada batalha conquista experiência que alimenta a progressão do clã, tornando vitórias e derrotas em elementos relevantes para o crescimento a longo prazo.

Tendo agora uma visão geral da jogabilidade, podemos então avançar para os diferentes modos de jogo. Northgard oferece uma variedade de experiências, desde narrativas estruturadas até desafios cooperativos e competitivos. O modo História inclui duas campanhas: a campanha original, Saga de Rig, que acompanha Rig na unificação dos clãs enquanto procura vingar a sua família, e A Cruz de Vidar, que decorre após o Ragnarok, mostrando Rig a recuperar a influência perdida e a enfrentar um novo conjunto de obstáculos. Este modo é a forma ideal de aprender gradualmente mecânicas mais complexas como são a exploração, expansão e combate. Cada missão apresenta desafios equilibrados e introduz novos conceitos de forma acessível, enquanto cutscenes e diálogos ajudam a contextualizar a narrativa. É sem duvida a melhor porta de entrada para jogadores iniciantes, permitindo experimentar diferentes clãs de maneira guiada e progressiva.

O Single Player oferece partidas a solo contra a IA, permitindo configurar praticamente tudo: escolher o clã, o tamanho do mapa, o tipo de bioma, as condições de vitória e várias outras opções. Já no Multijogador, o jogo abre-se a uma vertente competitiva e cooperativa muito dinâmica. Podemos participar em partidas ranqueadas, jogos rápidos, confrontos 1 vs 1, partidas livres ou jogos de equipa 2 vs 2 e 3 vs 3. Existe ainda a opção de criar salas personalizadas, definindo dificuldade, regras, vitórias permitidas e se a sala é pública ou privada, ou simplesmente procurar salas abertas criadas por outros jogadores.

O modo Conquista apresenta uma abordagem distinta, focada numa progressão contínua, seja a solo ou em cooperação. Cada vitória concede bónus permanentes que acompanham o jogador nas missões seguintes, criando uma sensação de evolução constante. As missões introduzem desafios específicos, ora económicos, ora militares, obrigando a estratégias de longo prazo e a uma leitura cuidadosa do mapa. É um modo ideal para jogadores que procuram um nível de dificuldade crescente e recompensas consistentes.

O modo Bifrost é provavelmente um dos maiores desafios do jogo. Trata-se de um modo PvE que pode ser jogado sozinho ou até quatro jogadores. Aqui, o progresso funciona por fases, e cada vitória concede bónus que se mantêm ativos para as etapas seguintes, tal como acontece em jogos de inspiração roguelike. Para além de gerir economia e território, é também necessário enfrentar bosses. Após cada vitória, escolhemos o próximo caminho a seguir, cada um com recompensas distintas que influenciam diretamente o desempenho nas fases seguintes.

Além de tudo isto, o jogo inclui ainda um criador de mapas, perfeito para quem gosta de construir cenários personalizados. E, falando em personalização, não posso deixar de mencionar a loja do jogo, que permite adquirir novas skins de unidades, ornamentos, decorações e até skins de Townhall, que alteram visualmente o estilo dos edifícios, dando um toque único a cada clã.

Tenho de confessar que, embora seja um grande fã de RTS, há muito tempo que não encontrava um jogo do género que me deixasse tão agarrado. A jogabilidade está extremamente bem pensada, os modos de jogo são variados e a diversidade de clãs, bónus e habilidades disponíveis acrescenta uma profundidade estratégica que raramente se vê. O próprio sistema de vitória é bastante abrangente, permitindo diferentes abordagens e recompensando tanto estilos agressivos como estratégias mais defensivas ou económicas, o que torna cada partida gratificante à sua maneira.

Em termos gráficos, o jogo aposta num visual simples e apelativo, que por vezes evoca a estética de Warcraft 3. A arte é cuidadosamente trabalhada e cheia de personalidade, com modelos de unidades e edifícios que possuem um charme muito próprio, quase ilustrado, que combina na perfeição com o ambiente mítico e nórdico do jogo. Cada bioma apresenta uma identidade visual bem marcada, desde florestas densas envoltas em nevoeiro até regiões geladas onde o branco domina a paisagem. A leitura do mapa é sempre clara, intuitiva e organizada, mesmo quando o ecrã começa a encher-se de aldeões, guerreiros ou criaturas

A componente sonora reforça ainda mais esta atmosfera, contribuindo de forma decisiva para a imersão. As músicas acompanham o ritmo da partida com melodias inspiradas na cultura nórdica, variando entre temas tranquilos durante a gestão da aldeia e composições mais intensas nos momentos de conflito. Os efeitos sonoros são igualmente competentes, desde o corte rítmico da madeira ao uivo distante de um lobo, elementos que enriquecem o ambiente sem se tornarem intrusivos. O som do inverno, em particular, destaca-se pela forma como transmite a chegada do frio, com ventos fortes que nos fazem sentir a pressão da estação.

Northgard: Definitive Edition é o culminar de um jogo com oito anos de evolução, onde a jogabilidade e os modos de jogo foram sendo refinados até chegarem à sua forma mais sólida e completa. Esta edição representa não só a maturidade do conceito original, mas também a confiança de uma equipa que soube ouvir a comunidade e aperfeiçoar cada sistema, alcançando um equilíbrio exemplar entre profundidade estratégica e acessibilidade. Podemos dizer sem qualquer problema que este é um RTS moderno, diversificado, inteligente e profundamente imersivo.

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Rui Gonçalves
Desde o tempo do seu Spectrum+2 128k que adora informática. Programador de profissão nunca deixou de lado os jogos, louco por RPGs e jogos de futebol. Adora filmes de acção e de ficção científica, mas depois de ver o Matrix nunca mais foi o mesmo.
analise-northgard-definitive-edition<h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #339966;">SIM</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Estratégia profunda e envolvente</li> <li style="text-align: justify;">Grande variedade de clãs</li> <li style="text-align: justify;">Modos de jogo variados</li> <li style="text-align: justify;">Visualmente muito interessante</li> </ul> <h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #ff0000;">NÃO</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Curva de aprendizagem inicial elevada</li> <li style="text-align: justify;">Partidas longas podem cansar</li> </ul>