Developer: Massive Entertainment, Ubisoft
Plataforma: Xbox Series, PlayStation 5, e PC
Data de Lançamento: 19 de Dezembro de 2025

From the Ashes, a nova expansão de Avatar: Frontiers of Pandora, chega num momento particularmente simbólico: em simultâneo com a estreia de Avatar: Fire and Ash, actualmente em exibição nos cinemas. Esta coincidência não é meramente estratégica do ponto de vista comercial — existe uma ligação clara quando se olha para a história e para os temas explorados em ambas as obras. A expansão funciona como um complemento narrativo ao filme, partilhando o mesmo tom mais sombrio e introspectivo, bem como uma abordagem centrada nas consequências da destruição, no impacto do fogo sobre Pandora e na escalada do conflito entre a RDA, os Na’vi e clãs que se afastaram do equilíbrio espiritual do planeta.

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Ao longo de From the Ashes, o jogador é confrontado com um mundo profundamente transformado, onde as cicatrizes deixadas pela guerra e pela ocupação são impossíveis de ignorar. A devastação do Kinglor Forest e a introdução de novas zonas marcadas pelo colapso ambiental refletem directamente os eventos e o clima emocional de Fire and Ash. Esta proximidade narrativa reforça a sensação de que o DLC não é apenas um conteúdo adicional isolado, mas sim uma peça pensada para dialogar com o cinema, explorando em detalhe aquilo que o formato de um filme não consegue desenvolver com a mesma profundidade temporal e interactiva.

Importa também sublinhar que From the Ashes é a terceira expansão de Avatar: Frontiers of Pandora, sucedendo aos DLCs Sky Breaker e Secrets of the Spires. No entanto, é também, de longe, a mais ambiciosa de todas. Não se limita a acrescentar novas missões ou áreas, mas propõe uma transformação estrutural do jogo em vários níveis — narrativa, ritmo, abordagem ao combate e forma como o jogador se relaciona com Pandora. Para muitos, esta expansão representa aquilo que o jogo original poderia — ou deveria — ter sido no lançamento, uma visão mais refinada, focada e coerente da experiência Avatar.

Essa sensação de reinvenção é reforçada pelo facto de From the Ashes coincidir com um update gratuito que introduz finalmente a opção de jogar na terceira pessoa. Esta adição altera profundamente a maneira como o mundo é percepcionado, aproximando ainda mais o jogo de uma linguagem cinematográfica e tornando-o mais acessível a jogadores que nunca se adaptaram totalmente à perspectiva na primeira pessoa. A conjugação entre expansão paga e actualização gratuita cria um ponto de entrada ideal, redefinindo por completo a identidade do jogo.

 

 

Este DLC assume também um carácter peculiar dentro do percurso do jogo. Apesar de Avatar: Frontiers of Pandora ter sido bem recebido pela crítica aquando do seu lançamento, é From the Ashes que está a concentrar uma maior expectativa e a atrair um novo olhar sobre o título. A expansão surge como um ponto de viragem, apostando numa narrativa mais focada, emocionalmente carregada e menos dependente da estrutura tradicional de mundo aberto. Joga-se em separado do jogo base, ainda assim, para quem está a iniciar-se agora neste universo, recomendo que joguem primeiro o original, e só depois passem para From the Ashes.

A narrativa de From the Ashes ocorre meses depois dos eventos de Frontiers of Pandora, e coloca os jogadores no papel de So’lek, um Na’vi guerreiro do clã Trr’ong, cuja vida é abruptamente virada do avesso. Para os jogadores que já exploraram Frontiers of Pandora, So’lek é uma personagem com quem nos encontramos algumas vezes no jogo base, mas que agora assume o protagonismo de forma completa. A história começa com uma emboscada traiçoeira montada pela RDA em conjunto com o Ash Clan, deixando So’lek ferido e à beira da morte. Ao despertar, encontra Pandora devastada: o Kinglor Forest transformado em cinzas. Motivado pelo luto, pela vingança e pela necessidade de proteger aqueles que ama, So’lek embarca numa missão desesperada para reunir os seus aliados e enfrentar os responsáveis pela destruição da sua terra natal.

O enredo decorre numa Kinglor Forest profundamente alterada pela guerra e pelo fogo, destacando a transformação do ambiente e o impacto da presença humana no ecossistema de Pandora. A narrativa é construída em torno de conflitos pessoais e políticos, explorando a destruição dos clãs, a sobrevivência em território hostil e a escalada de vingança que impulsiona o protagonista. O jogador não se limita a apenas a atravessar ambientes ou a derrotar inimigos; é desafiado a lidar com fortes vínculos familiares e culturais, a proteger aliados e a responder a emboscadas e a ataques coordenados.

As fortalezas e acampamentos da RDA funcionam como pontos-chave no desenrolar da narrativa, com cada conquista permitindo avançar na história e desbloquear novas áreas, equipas e informações sobre o inimigo. O enredo também integra elementos do universo cinematográfico de Avatar, funcionando como um complemento ao filme Fire and Ash. Enquanto os acontecimentos do jogo decorrem algumas semanas após os eventos do filme, a expansão oferece uma perspectiva única sobre os conflitos e a devastação provocada pelos Mangkwan e pela RDA. A interseção entre jogo e filme permite perceber as motivações de personagens secundários e de facções rivais, proporcionando uma experiência narrativa mais rica e detalhada.

 

 

Não é por acaso que a expansão é lançada pouco depois da atualização que nos traz a perspectiva em terceira pessoa, pois parece um verdadeiro convite para explorarmos a nova aventura a partir desta visão. Apesar de se notar, em algumas situações, que o jogo foi originalmente concebido para ser jogado em primeira pessoa — especialmente em certas animações —, o modo em terceira pessoa mostra-se muito sólido e permite desfrutar plenamente da experiência de jogo.

Aliás, em várias situações, esta perspectiva oferece mais do que teríamos em primeira pessoa, particularmente em momentos de parkour, onde conseguimos avaliar melhor o espaço ao nosso redor; no combate e no stealth, onde a visibilidade do cenário e dos inimigos é ampliada; e nos takedowns, em que conseguimos apreciar a cinematografia dos movimentos de So’lek de forma mais clara e satisfatória. Ou seja, aumenta as opções de gameplay, e reforça a imersão e a sensação de controlo em cada acção do jogador.

From the Ashes expande de forma significativa a variedade e a intensidade dos confrontos, trazendo novos inimigos que transformam o combate numa experiência mais estratégica, desafiadora e cinematográfica. Entre as novidades mais importantes estão os bosses das Warbands Mangkwan, que se destacam não apenas pelo visual imponente, mas também pelos padrões de ataque, tornando cada encontro único e exigindo que o jogador adapte constantemente a sua abordagem. Estes bosses, mais do que simples obstáculos, funcionam como verdadeiros testes de habilidade, combinando força bruta, inteligência artificial agressiva e ataques específicos que obrigam a pensar com antecedência, a explorar o espaço envolvente e a tirar partido do stealth, mas principalmente do Warrior Sense de So’lek.

O Warrior Sense é uma das mecânicas centrais do DLC, tornando o combate ainda mais visceral. À medida que o jogador derrota inimigos, a barra de Warrior Sense vai enchendo, permitindo, quando completa, ativar um estado temporário em que o personagem inflige mais dano e recebe menos dano dos inmigos. Durante este período, o jogador pode também executar habilidades especiais, como finishers mais poderosos ou incapacitar inimigos.

A barra pode ser parcialmente recarregada ao eliminar inimigos enquanto o efeito está ativo, e o jogador pode optar por desativar o Warrior Sense a qualquer momento para conservar parte do progresso. Esta mecânica altera a jogabilidade por completo, incentivando combates mais agressivos e calculados, e oferecendo uma sensação de poder ao enfrentar grupos maiores de inimigos. Além disso, fortalece a identidade de So’lek como um guerreiro lendário, permitindo ao jogador sentir o impacto das suas acções no campo de batalha de forma mais cinematográfica e tática.

 

 

Para além dos bosses, a presença de novos inimigos da RDA acrescenta uma maior complexidade ao combate. As forças humanas regressam mais bem equipadas e tecnologicamente mais avançadas, com AMP suits melhorados e novas unidades concebidas para contrariar abordagens furtivas. O exemplo mais marcante é o Hellhound, um cão mecânico altamente agressivo cuja principal função é caçar o jogador no terreno. A sua introdução altera profundamente o ritmo das incursões, forçando o jogador a priorizar alvos, a reposicionar-se com frequência e a lidar com situações de elevada pressão antes que cheguem reforços.

Esta escalada tecnológica da RDA não só torna os confrontos mais intensos e imprevisíveis, como reforça narrativamente a ideia de um inimigo cada vez mais adaptado a Pandora e disposto a recorrer a meios extremos para manter o controlo do território. A ameaça deixa de ser apenas frontal e passa a ser constante, criando um sentimento de perseguição permanente que se reflete diretamente na jogabilidade. Quebra rotinas estabelecidas e obriga o jogador a uma exigência tática mais rigorosa, tornando cada missão mais envolvente, perigosa e memorável.

Outro ponto particularmente relevante é a introdução de Na’vi hostis como inimigos, algo inédito até aqui em Frontiers of Pandora. Enfrentar membros de outras tribos Na’vi representa um desafio muito diferente daquele imposto por soldados humanos ou máquinas, já que estes são mais ágeis, resistentes e imprevisíveis, recorrendo a movimentos rápidos, ataques corpo a corpo e conhecimento profundo do ambiente. Esta mudança obriga o jogador a repensar abordagens, a ler melhor o campo de batalha e a reagir de forma mais instintiva.

A interação com o mundo e a exploração em From the Ashes assume um papel ainda mais crucial do que no jogo base, refletindo a ambição da expansão em transformar Pandora num espaço mais dinâmico, hostil e profundamente marcado pelos acontecimentos da narrativa. O território deixa de ser apenas um palco visualmente impressionante e passa a funcionar como um organismo vivo, em constante transformação, onde as consequências da guerra entre a RDA, o Ash Clan e os Na’vi são visíveis e sentidas a cada passo.

Um dos pilares desta renovação está nas novas regiões e na reinterpretação de áreas conhecidas. A Kinglor Forest regressa profundamente devastada, marcada por incêndios, ocupação militar e cicatrizes ambientais deixadas pela campanha destrutiva do Ash Clan e da RDA. Locais que anteriormente transmitiam equilíbrio e exuberância natural surgem agora queimados, alterados ou ocupados por estruturas inimigas, e continuam a evoluir ao longo da narrativa. Sobretudo para quem conhece o jogo base, esta transformação progressiva do mundo cria um forte impacto emocional ao sublinhar a ideia de uma Pandora em declínio, mas ainda em luta pela sobrevivência.

 

 

Dentro deste cenário surge The Ravines, uma nova sub-região da Kinglor Forest, desenhada com uma identidade muito própria. Inspirada em formações rochosas de colunas basálticas, esta área destaca-se não só visualmente, mas também pelas suas implicações directas na jogabilidade. A presença de gases sulfurosos impede a utilização do ikran, forçando o jogador a explorar a região a pé ou montado num direhorse. Esta limitação não é um simples artifício, mas uma decisão de design que altera o ritmo da exploração, tornando-a mais tensa, controlada e focada na leitura do terreno, na verticalidade e na escolha cuidadosa de percursos.

Ao nível da navegação, esta alternância entre exploração aérea e terrestre ganha um novo peso. O ikran continua a ser fundamental noutras zonas, permitindo uma leitura estratégica do mundo e deslocações rápidas, mas From the Ashes sabe quando o retirar para criar experiências mais claustrofóbicas. Os direhorses, por sua vez, assumem um papel reforçado, não apenas como meio de transporte, mas como parte integrante da identidade destas regiões mais hostis, incentivando uma exploração mais próxima do solo e uma maior atenção aos perigos envolventes.

A expansão também aprofunda a interação com o ecossistema, reforçando a ideia de que Pandora recompensa a observação e o conhecimento do seu mundo natural. Elementos como o Zeykoma, uma planta especial que concede segmentos adicionais de vida, incentivam a exploração atenta e consciente. A sua presença está frequentemente associada a caminhos naturais e à herança cultural do clã de So’lek, ligando progressão, narrativa e ambiente de forma subtil, mas eficaz. Pandora deixa de ser apenas um espaço a ser admirado e passa a ser um território em disputa, mutável e carregado de significado.

From the Ashes afirma-se como muito mais do que uma simples expansão para Avatar: Frontiers of Pandora. É uma reinterpretação ambiciosa da experiência original, que aproveita tudo o que o jogo base construiu, mas não hesita em o reformular, aprofundar e corrigir. A narrativa mais focada e pessoal, centrada em So’lek, dá um peso emocional que antes nem sempre se fazia sentir, enquanto o mundo devastado pelo fogo transmite de forma eficaz a urgência, a perda e a brutalidade do conflito em Pandora.

REVER GERAL
geral
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Nuno Mendes
Completamente obcecado por tudo o que tenha a ver com futebol, é daqueles indesejados que passa mais tempo a editar as tácticas do PES do que a jogar propriamente. Pensa que é artista, mas não conhece as cores primárias, e para piorar, é ligeiramente daltónico. Recusa-se a acreditar que o homem foi à Lua.
analise-avatar-frontiers-of-pandora-from-the-ashes<h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #339966;">SIM</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Narrativa mais séria e madura</li> <li style="text-align: justify;">Excelente integração no universo de Avatar: Fire and Ash</li> <li style="text-align: justify;">Combate mais visceral</li> </ul> <h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #ff0000;">NÃO</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Estruturas da RDA nem sempre são intuitivas</li> </ul>