Será “indie” a expressão mais adequada para descrever este jogo? Será “jogo” a designação correcta para esta experiência da Plastic? A ambas as perguntas, a resposta é sim, com o acréscimo de ser uma representação artística abstracta que nos desperta uma enorme variedade de sensações, através dos seus belos cenários, da sua gloriosa banda sonora e da sua profunda história.
O mundo de Bound existe na mente de uma mulher que deseja revisitar as suas memórias de infância.
Nesta experiência, acompanhamos a história de uma princesa que usa a gestualidade de uma bailarina de ballet para lidar com os obstáculos e reprimir as emoções mais sombrias que a tentam assombrar. Ás ordens de sua mãe, a Rainha, a princesa bailarina terá que fazer desaparecer um monstro que anda a destruir esse mundo fantasioso.
Na verdade, a sinopse deste jogo revela muito pouco acerca do mesmo, apenas serve para termos algum tipo de base para que possamos começar. O jogo consiste numa enorme metáfora, em que tudo tem um significado subliminar e profundo.
A questão que esta experiência nos implementa no cérebro é: será isto um jogo que nos apresenta arte, ou uma arte representada em forma de jogo?
A resposta? Não sei ao certo.
Sei que em Bound desfrutamos de 2 a 3 horas de algo sem uma explicação definida, com uma jogabilidade propositadamente básica, para que o jogador se foque na mensagem, nos cenários, na música…
Também a ordem de níveis que escolhemos em Bound irá alterar a maneira como vemos os mesmos, através de mudanças de ambiente, tais como cores, clima e atmosfera do nível.
Este “sonho” abre as portas a toda uma partilha de interpretações deste jogo, sendo que dois jogadores diferentes podem tanto ter a mesma interpretação, como ter interpretações exactamente opostas, como terem interpretações que se complementem ou como ter interpretações diferentes, sendo que ambas fazem todo o sentido para o que acabaram de experimentar.
É extremamente divertido de jogar? Não, mas o que lhe falta em diversão, compensa com beleza, com ambiência, com arte e com introspecção. A Plastic não se limitou a criar uma experiência para jogadores, mas sim uma experiência para artistas em geral.
A meu ver, Bound representa em todo o seu esplendor uma categoria de “jogo abstracto” pouco existente nos dias que correm. Bom para fugir um pouco aos jogos AAA que todos adoramos e aos quais estamos habituados, esta experiência tem um tom mais profundo e de reflexão.