A espera foi grande, 7 anos para ser mais específico. A Team ICO começou a desenvolver The Last Guardian em 2007, mas só foi anunciado ao mundo no Verão de 2009, na E3.

O mundo do gaming parou quando viu um pequeno rapazola e o seu companheiro de viagem, um ser estranho e adorável gigante que parece um pássaro, cão, gato, cabra ou um grifo. Afinal, o pedigree (pun uninteded) deste jogo era do melhor, pois é a mesma equipa de ICO e Shadow of Colossus, dois dos jogos mais bem cotados na história da PS2 e favoritos deste senhor que vos escreve.

https://www.youtube.com/watch?v=GCQ-RZrz5rI

Com lançamento marcado para final de 2011, o director criativo Yoshifusa Hayama (foto 1) sai da Sony para assumir o papel de director criativo noutra empresa. Houve rumores de cancelamento do jogo, para a tristeza de muitos fãs do pequeno trailer da E3, principalmente quando o grande mentor do projecto o criador Fumito Ueda (foto 2), também deixa a Sony. Mais tarde, há uma última lufada de ar com o criador a fazer um tweet a explicar que apenas ficaria ligado à Sony, como freelancer, até terminar o jogo. Depois de constantes adiamentos da data de lançamento, eis que chega Dezembro de 2016 e o jogo finalmente está cá fora.

fumito-ueda-pic hayama127

 

Publicidade - Continue a ler a seguir

 

 

 

 

 

 

 

Após tão atribulada viagem, a pergunta que se impõe é: Valeu a pena a espera?

SIM!

The Last Guardian é dos jogos mais bonitos e mais encantadores que alguma vez pus a vista em cima!

É um jogo perfeito?

Não, mas quando é bom é óptimo! Mas já vamos às partes negativas.

The Last Guardian começa com um rapaz a acordar sem saber como chegou à gruta onde se encontra. Ao seu lado encontra-se um “monstro” preso, conhecido como comedor de homens. Depois de algumas interações com o mesmo, o rapaz consegue libertar o “monstro” e aqui começa a aventura. O resto da história é contada com pequenas interações com ambiente e algumas frases do narrador.

O “monstro” chama-se Trico e é das personagens de inteligência artificial que mais me deu prazer interagir até hoje. O grande hook deste jogo é a relação do rapaz com Trico, não é uma coisa que acontece logo, mas é gradual, o que dá uma profundidade muito maior a esta relação. Dei por mim a temer pela segurança deste companheiro de viagem e a questionar como é que a Team ICO capturou movimentos tão reais e criaram uma personalidade tão perfeita. Como dono orgulhoso de um gato, vi movimentos e maneirismos iguais ao meu companheiro de estimação criando logo uma empatia muito maior com Trico.

2886483-tlg-e315-06-1_d6b5

 

 

 

 

 

 

 

158_160723084001_2

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Os cenários são vastos no exterior, dando uma sensação de mundo sem fim, o que contrata com os cenários interiores, claustrofóbicos mas com uma grande atenção aos detalhes. Não são os melhores gráficos do mundo em termos de realismo, mas percebe-se que não é essa intenção. São do género PS3 , um bocado devido ao inicio da concepção desta obra, mas com um facelift para a nova geração, fenómeno cada vez mais frequente hoje em dia. Podemos dizer que isto é até intencional, pois o grande habito que a Team Ico já nos deu é o seu objetivo de criar uma obra de arte como se de uma pintura impressionista se tratasse, vê-se inspirações de Visconti, Van Gogh, Monet ou Degas, tanto nos ambientes como nas animações das personagens.

Não estamos a falar de um jogo normal, ou melhor, de um jogo para as massas, se estão à espera de grandes cenas de acção este jogo não é para vocês. A mecânica é bastante simples, trata-se de um género de puzzle game que lembra um pouco o Portal ou ICO, entras numa zona e tens de sair com a ajuda de Trico. A certo ponto do jogo consegue-se dar ordens básicas ao nosso companheiro do género: salta, vem, ataca. De vez em quando, aparecem alguns cavaleiros misteriosos, inimigos que atacam Trico e tentam agarrar o rapaz e levá-lo para uma porta mística, aqui temos de descobrir a melhor maneira de Trico os enfrentar. De notar que depois dos ataques Trico fica muito nervoso e só se acalma quando lhe damos festas na sua penugem. No fundo há um grande factor de entreajuda, nem um nem outro conseguem sair deste mundo sem a ajuda um do outro. O rapaz serve para tarefas mais pormenorizadas, como entrar em fendas nos rochedos ou activar alavancas e Trico serve para atacar os inimigos e saltar dezenas de metros no ar alcançando plataformas que o rapaz nunca conseguiria alcançar sozinho. Um não sobrevive sem o outro, e isso sente-se em cada minuto que passa no jogo.

A banda sonora composta por Takeshi Furukawa e graciosamente actuada pela Orquestra Sinfónica de Londres e o Coro de Trinity Boys é do melhor oferecido pela Sony. Quem jogou ao “Shadow of Colossus” apercebe-se rapidamente que estamos perante outra obra prima deste compositor. Quem comprou a edição de colecionador poderá descarregar a banda sonora para vos acompanhar em qualquer viajem, quem for mais apologista da musica em estado puro, o lançamento da mesma em vinil está marcado mais lá para o final do mês.

Como não há bela sem senão, e como nem só de arte vive o jogo, a jogabilidade deixa por vezes algo a desejar, dei por mim a falhar muitos saltos e a cair no infinito devido a uma acção de câmara pobre que só confunde o jogador, isto é algo que já acontecia em ICO e que por esta altura já poderia ser melhorado. O rapaz move-se como um rapaz de verdade e é trapalhão q.b. mas este realismo não acrescenta movimento ao jogo e só serve para estorvar a continuidade do jogo. Uma das deficiências, algo frustrante, mas que ao mesmo tempo sentimos como real, é as ordens que damos a Trico. Ele nem sempre actua às ordens dadas, tal como um verdadeiro bicho de companhia com personalidade própria, e deixa-nos um pouco confusos para onde ir ou como resolver certos puzzles. Outra falha relacionada com as ordens,  é os diálogos/ordens que temos com Trico, ao fim de algum tempo torna-se saturante ouvir o rapaz a dizer sempre as mesmas coisas.

Mais grave que isto nesta fase num jogo com quase 10 anos em desenvolvimentos, é o framerate. Existem algumas quebras que se sentem e por vezes estragam a fluidez da jogabilidade, mas suponho que tenham sido problemas com a transição para a PS4, que devem ser resolvidos com um update futuro.

Termino dizendo, este jogo não me vai sair da memória tão depressa, tal como os seus antecessores, é uma belíssima obra de arte, como se um filme dos estúdios Ghibli se tratasse. É uma aventura que vou querer voltar a fazer daqui a uns tempos e recordar a dinâmica de deste duo. Neste jogo irão encontrar uma ternura como nunca foi captada num videojogo, não só pelo jogo mas por todo o amor que existe neste trabalho pela Team ICO. Mais jogos deviam ser assim! Terminamos 2016 em grande. Parabéns Sony!

2016-12-06

Artigo anteriorSkylanders com promoção de Natal
Próximo artigoFoi lançado Shin Megami Tensei IV: Apocalypse