Developer: Destructive Creations
Plataforma: PC, PS5, Xbox Series S|X
Data de Lançamento: 26 de setembro de 2024
Desenvolvido pela Destructive Creations, o estúdio por detrás do incrível War Mongrels, que já analisei aqui para o nosso site, 63 Days é um jogo de estratégia em tempo real, com visão top-down, que mistura furtividade e tática num cenário sombrio e baseado em factos históricos. Inspirado em jogos como Commandos e Desperados, o jogo é ambientado durante a Segunda Guerra Mundial e acompanha a luta da resistência poloca contra a ocupação nazi. A história é contada através de cinco personagens jogáveis, cada um com habilidades específicas e personalidades distintas, oferecendo uma experiência rica e detalhada. Tal como acontece com War Mongrels, este 63 Days prima pela proximidade com a realidade e com o relato histórico.
O jogo é ambientado na Revolta de Varsóvia de 1944 e coloca-nos numa visão um pouco diferente de War Mongrels, especialmente pela idade das personagens com que jogamos e nos deparamos. A ideia dos criadores é dar uma perspectiva, mais uma vez, gutural, onde as crianças, que foram a primeira de uma geração nascida numa Polónia livre, após de 123 de ocupação estrangeira e que, com o despontar da Segunda Guerra Mundial viram-se sem família, sem casa e sem futuro e, com isso em mente, lutaram heroicamente para tentar resgatar a sua cidade e a sua nação.
O enredo começa com um prólogo que apresenta dois irmãos, Youngster e Lynx, protagonistas carismáticos e acessíveis. O tutorial inicial introduz os jogadores às mecânicas básicas, estabelecendo uma base para as missões seguintes, cada uma mais complexa e desafiadora que a anterior. A campanha é estruturada em capítulos, e, até agora, o jogo conta com seis missões principais, cada uma projetada com áreas grandes e detalhadas que podem levar de duas a três horas para serem concluídas. Durante o progresso da história, outras personagens, como Heniu, Storm e Helga, são introduzidas, e com eles novas habilidades, como a rajada de SMG do Storm, o esgueirar-se em locais estreitos e apertados de Heniu ou a capacidade de curar de Helga.
As missões em 63 Days são diversificadas, contando com mapas que exploram edifícios, torres e diferentes camadas de verticalidade, o que enriquece o ambiente e proporciona uma sensação de realismo e desafio. Cada missão possui objetivos secundários, que elevam a dificuldade e oferecem uma experiência mais completa para os jogadores que buscam dominá-las completamente. Estes mapas e a variedade de objetivos principais e secundários incentivam os jogadores a explorar todos os cantos do cenário e usar habilidades especiais para eliminar inimigos com ataques furtivos ou aproveitar oportunidades de distração. O que também acontece, tal como em War Mongrels, é que o mapa é extremamente dinâmico, isto é, por vezes, acontecem coisas ao longo do capítulo que despontam uma nova organização do mapa, dos objectivos e da nossa estratégia. Não quero spoilar muito, mas acho relevante dar conta de um ou dois exemplos para perceberem do que este a falar.
Num capítulo vamos ter libertar reféns e sabotar uma espécie de campo de concentração e fortaleza, e assistimos, pela primeira vez, a um jogo desta natureza ter um ciclo de dia/noite, começando à noite, passando pela madrugada e acabando de dia. É impressionante. Outro, é num capítulo onde estamos a tentar salvar alguns dos nossos camaradas numa cidade dos arredores e que vai sendo bombardeada ao longo do nível, criando uma série de dificuldades e adaptações.
As habilidades dos personagens complementam a jogabilidade, mas apresentam algumas redundâncias, sobretudo comparado a War Mongrels onde a panóplia de habilidades e possibilidades é mais vasta. O jogo pede uma maior utilização da furtividade, até mesmo por essa limitação, que exige planejamento meticuloso, pois os inimigos possuem um campo de visão que, se invadido, ativa um medidor de alerta. Para monitorar o campo de visão dos inimigos, o jogador precisa selecionar manualmente um alvo. Também é importante esconder corpos de inimigos eliminados, já que guardas alertados podem atirar granadas na área onde encontrarem rastros de infiltração. Esta é uma das novidades, comparado com War Mongrels, porque as granadas não dão grande hipótese de fuga, o que também aumenta bastante a dificuldade, especialmente se adicionarmos o factor de que os inimigos têm uma mira quase perfeita, o que nem sempre parece realista.
Recursos no mapa, como pontos para sincronizar eliminações ou realizar “acidentes”, são recompensas para os jogadores que observam com atenção os detalhes ao seu redor. Apesar dessas mecânicas bem elaboradas, o combate direto, que já é quase uma marca registada da Destructive Creations, está de regresso, mas apresenta uma série de problemas que podem frustrar o jogador, como controles pouco intuitivos e um atraso de resposta que torna a experiência de confronto difícil. Isso e o factor de, quando escolhemos mais do que uma personagem, o jogo não faz uma gestão acertada das balas que estamos a utilizar e ficando “presa” na arma de assinatura da personagem, não recorrendo a outra arma que possam utilizar.
O modo de planeamento também está presente, e permite ao jogador emitir um comando simultâneo para todos os heróis, essencial para ataques coordenados ou movimentações estratégicas. Esta ferramenta ajuda a sincronizar ações e permite que o jogador planeie em detalhe as eliminações furtivas e criem estratégias mais elaboradas. Para tornar o ambiente mais fácil de navegar, um recurso permite destacar objetos interativos, ajudando o jogador a encontrar oportunidades de cobertura e distração.
Os gráficos de 63 Days são bem elaborados, com mapas detalhados e cenas cinematográficas que criam uma atmosfera imersiva e convincente. O ambiente histórico é retratado de forma realista, com uma estética sombria que reforça a gravidade do contexto da Segunda Guerra Mundial. A dobragem das personagens também é bem conseguida, com diálogos que destacam a personalidade única de cada protagonista, mas devo confessar que, comparando mais uma vez a War Mongrels, aqui não existe tantas conversas entre as personagens que ajudava na imersão da devastação e desgraça, mas também do heroísmo e esperanças que as personagens carregam. A trilha sonora, apesar de não ser memorável, cumpre o seu papel de construir uma atmosfera tensa e dar profundidade ao cenário.
Numa indústria saturada de histórias da Segunda Guerra Mundial, 63 Days traz uma perspectiva fresca e honesta sobre as lutas da resistência civil, tornando-se uma opção interessante para fãs de tática furtiva e estratégia em tempo real. Não é tão apurado e rico nas suas personagens como War Mongrels, mas o facto de ter as mesmas mecânicas, o mesmo co-op online e conseguir trazer mais um rol de personagens novas e uma nova frente de batalha, só me faz acreditar que a Destructive Creations não ficará por aqui, e ainda bem, para os jogadores.