Developer: Intelligent Systems, Nintendo
Plataforma: Nintendo Switch
Data de Lançamento: 21 de abril de 2023
Os jogos de estratégia por turnos estão a recuperar a sua popularidade no mercado de videojogos. Embora tenha havido um tempo em que parecia que esse género estava em declínio, a introdução de novas mecânicas e ideias fazem com estejam novamente no centro das atenções de muitos jogadores, com títulos com grande impacto a adoptar novamente essa técnica que dominava nos anos 80 e 90.
O lançamento de Advance Wars 1+2 Re-Boot Camp na Nintendo Switch é um excelente exemplo disso. A franquia já era extremamente popular no Japão, tendo sido lançada inicialmente para NES, mas foi com o lançamento para Game Boy Advance que alcançou o seu maior sucesso e tornou-se conhecida mundialmente através de Advance Wars e Advance Wars 2: Black Hole Rising. Nesta nova edição, ambos os jogos foram completamente refeitos e reunidos num único pacote, além de diversos extras adicionados, incluindo opções online que permitem aos jogadores competir contra amigos.
Embora muitos fãs da Nintendo tenham tido a oportunidade de jogar os dois jogos originais, para muitos jogadores da Nintendo Switch, Advance Wars 1+2 Re-Boot Camp é completamente desconhecido. Diria até que esta nova versão foi criada especialmente para eles, oferecendo um jogo de estratégia por turnos bastante diferente do habitual, mas com um nível de desafio consideravelmente elevado.
Para aqueles que nunca jogaram ou conhecem a franquia Advance Wars, trata-se de um jogo militar de estratégia por turnos. As partidas passam-se em mapas divididos em quadrículas, semelhante a um tabuleiro de xadrez, onde serão posicionadas as unidades do jogador. Cada unidade tem as suas próprias especificidades, como a quantidade de quadrículas nas quais se podem movimentar, assim como a distância a que podem disparar e o tipo de unidades que podem causar mais dano, tornando cada decisão importante para o sucesso do jogador.
Falando em sucesso, há duas maneiras de conseguir a vitória sobre o adversário no jogo: a primeira é derrotando todas as unidades inimigas, e a segunda é conquistando o quartel inimigo. Apesar de a primeira hipótese poder parecer mais fácil, muitas vezes, especialmente nas duas campanhas disponíveis, a segunda opção é a mais utilizada. Isso ocorre porque a desvantagem numérica pode exigir que os jogadores conquistem o quartel adversário para vencer a partida.
Antes de falarmos concretamente das unidades militares que temos à nossa disposição, falemos dos mapas, já que as suas características também são importantes para o desenrolar de cada partida. Os mapas podem ser muito diversificados, tornando tudo mais desafiante. Podemos ter combates navais, combates no terreno e combates aéreos. Há outras características especiais que tornam os mapas ainda mais desafiadores, como as montanhas, que podem bloquear a passagem de unidades terrestres ou dar vantagem a unidades posicionadas em pontos mais elevados, que sofrem menos danos dos ataques adversários.
Além das montanhas, os mapas também contam com florestas, que são áreas onde as unidades terrestres podem esconder-se dos adversários e surpreendê-los com emboscadas. As florestas funcionam como um tipo de camuflagem para as unidades terrestres, que não são detetadas pelos inimigos, a não ser que estejam posicionados em quadrículas adjacentes. Com isso, as florestas tornam-se locais estratégicos para colocar as unidades e atacar o inimigo de surpresa.
Falando sobre os diversos tipos de unidades, podemos classificá-las em três categorias: aéreas, terrestres e navais. Todas são relevantes, ainda que as unidades terrestres sejam as mais frequentemente utilizadas. Nessa categoria, encontramos unidades de infantaria armadas com espingardas ou bazucas, além de veículos como tanques, jipes, lança-rockets, unidades de transporte, canhões de longo alcance e outros. A diferença entre eles reside principalmente na distância do ataque e no tipo de unidades que conseguem causar mais dano, exigindo, portanto, uma estratégia cuidadosamente planeada, uma vez que uma unidade mal posicionada pode levar ao fracasso da partida.
Além das unidades terrestres, as unidades aéreas também são bastante importantes, uma vez que conseguem cobrir grandes áreas do mapa e atacar algumas unidades terrestres e navais sem sofrer danos. Existem helicópteros, que podem ser de ataque e de transporte, bem como caças e bombardeiros estratégicos. Cada um tem a sua função específica no campo de batalha e é importante saber usá-los adequadamente. Obviamente que existem também unidades de defesa terrestres e navais que são altamente poderosas conta as unidades aéreas, destruindo-as muitas vezes com um único ataque.
As unidades navais, por sua vez, apresentam uma variedade que vai desde navios de patrulha até submarinos, entre outras. Os submarinos, em particular, são de extrema importância, pois além dos ataques que fazem, podem permanecer escondidos debaixo de água e só são detectados quando tentamos ocupar a mesma quadrícula que ocupam ou uma adjacente. Isso muitas vezes é uma excelente maneira de obter uma visão ampla do mapa sem ser detectado pelo inimigo.
Tanto as unidades aéreas quanto as navais exigem dos jogadores muita atenção em relação ao combustível, pois caso acabe, a unidade não será capaz de se mover. Para isso, existem unidades de suporte, que servem para fazer o reabastecimento. Além disso, existem diversas unidades terrestres e navais que precisam ser reabastecidas com munição, uma vez que só conseguem transportar um número limitado. Geralmente, essas unidades causam um dano significativo, e caso o jogador queira tê-las sempre prontas para disparar, é necessário prestar atenção a este ponto.
Há um último aspecto importante a ser mencionado relativamente ao jogo: os edifícios encontrados nos mapas. Além do quartel, que já foi mencionado anteriormente, há também prédios e fábricas. As fábricas são locais onde podemos construir novas unidades, e em alguns mapas já começamos com uma ou duas unidades. Noutros, precisamos conquistá-las. Para fabricar unidades, é necessário ter recursos que podem ser obtidos a partir dos prédios. Quanto mais prédios tivermos sob o nosso controle, mais recursos receberemos a cada turno. Durante as partidas, a luta pela obtenção de prédios é intensa, pois é possível roubar prédios dos inimigos e vice-versa
Como devem ter percebido, não abordei a história do jogo, e a razão é simples: tanto Advance Wars como Advance Wars 2 oferecem histórias simples que perderiam a surpresa se fossem reveladas antecipadamente. Em ambas as campanhas, o jogador lidera Max, Andy e Sami, membros do exército Orange Star. Esses líderes são de extrema importância, não apenas porque fazem parte da trama, mas também porque cada um possui habilidades especiais que podem mudar o rumo da partida em diversos momentos.
Durante as duas campanhas, terão a oportunidade de conhecer líderes de outros exércitos, como Blue Moon, Green Earth e Gold Comet (chamado Yellow Comet nos jogos originais), além dos implacáveis líderes da Black Hole. Cada um desses líderes tem habilidades especiais únicas que, se conhecidas, podem dar vantagem na previsão das suas próximas jogadas. Nos outros modos de jogo, terão a oportunidade de escolhê-los e jogar com eles, embora tenham de os comprar na Hachi’s Shop.
Os fãs de jogos por turnos notarão imediatamente que Advance Wars 1+2 Re-Boot Camp apresenta certas peculiaridades que o diferenciam da maioria dos outros jogos por turnos. Embora isso não signifique que o jogo seja perfeito ou que todos os aspectos serão sensacionais para todos os jogadores. Por exemplo, para mim, mapas com o “fog of war” activado são horríveis, pois o inimigo tem sempre uma vantagem e acaba por tornar-se um jogo de tentativa-e-erro, especialmente no modo campanha.
Mas o que torna este jogo tão especial é a sua simplicidade e, ao mesmo tempo, a variedade de opções que oferece, tornando a componente táctica fundamental e, consequentemente, tornando-o num jogo complexo. Embora as unidades sejam todas simples de entender, obter sucesso contra os adversários exige que o jogador se organize estrategicamente de uma forma que poucos jogos conseguem igualar, o que o torna incrível para quem aprecia este tipo de desafios.
Mas mesmo que o jogo seja verdadeiramente desafiante e tenha um estilo muito próprio, alguns jogadores podem achá-lo ultrapassado para os tempos atuais. Eu próprio acho que a Intelligent Systems poderia ter ido mais longe em certos aspectos, implementando algumas modificações que tornassem o jogo mais moderno.
Quanto ao conteúdo do jogo, além das duas campanhas, há também diversas outras opções disponíveis, como o Design Room, Versus, Online, War Room, Hachi’s Shop e a Gallery. A última mencionada permite o acesso a músicas e pequenas cinemáticas do jogo, bem como a colecionáveis. Já a Hachi’s Shop está diretamente relacionada à Gallery, permitindo que sejam adquiridas tanto as músicas quanto os colecionáveis referidos anteriormente. Além disso, é possível comprar Battle Maps para jogar nos outros modos de jogo e desbloquear os líderes de outros exércitos para jogar com eles.
O War Room é um modo de desafios onde os jogadores podem batalhar contra o CPU em mapas e contra adversários definidos, visando não só a vitória, mas também conseguir a melhor pontuação possível. No modo Versus, os jogadores podem enfrentar o CPU ou outros jogadores localmente, podendo envolver até quatro jogadores numa única consola ou em várias Nintendo Switchs conectadas localmente. Por fim, o modo Online é um local onde os jogadores podem jogar contra amigos, e embora seja uma novidade, é ao mesmo tempo a maior falha significativa do jogo, pois deveria ter matchmaking para jogar contra qualquer jogador, não apenas amigos.
O Design Room é uma funcionalidade extremamente bem implementada, permitindo que os jogadores criem e partilhem seus próprios mapas de maneira fácil e intuitiva. É possível escolher os elementos que compõem o terreno, como água, terra, pontes, edifícios, florestas, montanhas e praias, além de posicionar as unidades de combate das diferentes facções nos locais desejados. Essa ferramenta permite que os jogadores criem cenários completamente personalizados de acordo com suas preferências e estilos de jogo.
Graficamente, o jogo apresenta um design cartoonesco com muita cor, no entanto, sem grandes detalhes, sendo bastante simples mas bem executado. Em comparação com o jogo original, notam-se melhorias significativas. As curtas cutscenes dos líderes a activarem as habilidades especiais e os ataques das unidades estão bem conseguidos, mas infelizmente são sempre iguais, tornando-se monótonas com o tempo. Nesse aspecto, o jogo poderia ter mais diversidade e inovação, já que apenas seguiu a ideia dos jogos originais, ainda que, felizmente, possam ser desactivadas nas opções. Em relação ao aspecto sonoro, os efeitos são simples e as músicas estão bem elaboradas para o tipo de jogo, tornando-se uma componente competente.
Advance Wars 1+2 Re-Boot Camp é um jogo que certamente agradará aos fãs de jogos de estratégia por turnos, contudo, pode não ser a escolha ideal para todos os jogadores. Apesar de ter desfrutado da experiência, não foi um jogo que me tenha cativado por horas a fio como acontece por exemplo com um Fire Emblem. De qualquer maneira, para aqueles que se aventurarem a jogá-lo, terão muitas e muitas horas de jogo para desfrutar, e para aqueles que são fãs deste género, certamente não se arrependerão.
