Developer: Remedy Entertainment
Plataforma: Xbox Series, PlayStation 5 e PC
Data de Lançamento: 27 de Outubro de 2023

Alan Wake, uma obra-prima da Remedy Entertainment, emergiu como um farol no vasto oceano dos jogos de suspense, estabelecendo-se como uma referência incontornável no género. Lançado em 2010, este título mergulha os jogadores numa narrativa intensa e carregada de mistério, incorporando elementos do horror psicológico e cinematográfico para criar uma experiência inesquecível.

O jogo segue a história de Alan Wake, um escritor em busca da sua esposa desaparecida numa pitoresca cidade fictícia. O enredo desenrola-se como um thriller literário, com o próprio Wake a enfrentar criaturas sombrias e forças sobrenaturais que emergem das páginas do seu próprio livro. Esta premissa original mergulha os jogadores num mundo onde as fronteiras entre a ficção e a realidade se desvanecem, gerando um ambiente de suspense constante.

Uma das características diferenciadoras de Alan Wake foi a sua abordagem singular relativamente à narrativa, estruturada em episódios, imitando uma série de televisão. A Remedy Entertainment apresentou-nos a novas maneiras de fundir história, atmosfera e mecânicas de jogo, gerando uma criação extraordinária que ainda hoje inspira os estúdios a experimentarem novas fronteiras no mundo dos jogos de terror e suspense.

Nesse sentido, o anúncio de Alan Wake 2, não apenas foi uma surpreendente revelação, como uma explosão de emoções para os fãs que aguardavam ansiosamente por um regresso ao envolvente universo criado pela Remedy Entertainment. A confirmação de uma sequela criou uma enorme expectativa e, simultaneamente, elevou de modo considerável a fasquia da antecipação.

Porém, o que tornou esta notícia ainda mais surpreendente foi a mudança assumida para o território do terror puro. A transição para um tom mais acentuadamente tenebroso sugere uma interessante alteração na abordagem narrativa da série. Se o primeiro jogo já mergulhava nas profundezas do suspense psicológico, a promessa de uma atmosfera mais centrada no terror despertou a curiosidade sobre os horrores que aguardam Alan Wake e os jogadores nesta nova jornada.

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O universo de Alan Wake, repleto de elementos surreais e mistérios ocultos, proporciona um terreno fértil para a exploração de temas de horror. A tensão construída meticulosamente no primeiro jogo, combinada com a mestria da Remedy em criar narrativas absorventes, deixava antever mais um título marcante para a indústria. E agora, não pretendendo ser apenas mais uma mera sequela, teve o arrojo de evoluir no modo como conta a história, entregando novamente uma experiência ímpar.

Treze anos depois dos acontecimentos do primeiro jogo, voltamos a Cauldron Lake, no entanto, inicialmente através dos olhos de Saga Anderson. Saga é uma agente do FBI que foi enviada ao local, juntamente com o seu parceiro Alex Casey, para investigarem um intrigante homicídio. Descobrem que na base deste caso, há uma estranha relação com um culto de fanáticos – aos quais chamam Culto f the Tree – com objectivos que estão longe de ser claros.

A dupla de agentes percebe rapidamente que não se trata de uma investigação normal, uma vez que estranhos eventos sobrenaturais começam a suceder durante a investigação. É após um desses incidentes que os dois protagonistas se conhecem, com Alan Wake a fazer a sua aparição depois de um desaparecimento de mais de uma década. O seu desnorte é evidente, mas não demora muito a começar a recordar-se do pesadelo no qual esteve envolvido e que teima em não o deixar escapar. É uma corrida contra os seus próprios demónios.

Iremos poder jogar com as duas personagens, cada uma oferecendo narrativas muito diferentes. Ambos com realidades distintas que se entrelaçam de uma maneira que nos faz questionar constantemente a realidade, mas com perspectivas que se vão explicando uma à outra, como duas faces da mesma moeda. A ligação entre as duas personagens? É que Alan está a escrever um livro na qual Saga é uma figura central do seu manuscrito, e o que é escrito supostamente acontecerá. É literalmente uma história dentro de uma história, cujo enredo está a ser escrito ao ritmo do nosso progresso.

Sim, estou a conter-me para não revelar muito sobre a história e não estragar a experiência. Todavia, tenho de dizer que a forma como é conduzida a narrativa, é simplesmente brilhante. A quantidade de pormenores, ângulos, e mesmo mecânicas que ajudam a explicar e a desvendar a história são incríveis, e tudo foi cuidadosamente colocado para que uma trama tão complexa possa fazer sentido.

E uma das maneiras que a Remedy encontrou para nos contar a história foi por meio das investigações. As duas personagens terão acesso a um Mind Palace, com quadros em que vão poder ver todos os desenvolvimentos até ao momento. Isso quer dizer que também a jogabilidade de cada um será diferente, com Saga Anderson num estilo tipicamente de investigação, e Alan Wake a receber a maior quantidade dos puzzles de progressão para resolver, com mecânicas muito especiais.

Saga pode consultar um quadro de investigações que funciona quase como um minigame, onde que temos de colocar as pistas nos locais certos e assim fazermos as ligações do que vamos descobrindo. Com a sua capacidade de profiling, cada vez que reunir uma quantidade suficiente de pistas, iremos poder usufruir do seu extraordinário poder de dedução, aproximando-nos cada vez mais da verdade.

Paga-nos o café hoje!Já no caso de Alan Wake, teremos algo similar a um storyboard para podermos seguir as ramificações da história e tentar fazer sentido de tudo o que este está a experienciar. Mas Alan tem uma importante habilidade, porque em locais específicos consegue mesmo reescrever a história e assim continuar a avançar na mesma. No fundo, são os seus bloqueios de escritor que precisam ser superados, e teremos de ser nós a ajudá-lo a encontrar as peças-chave deste gigantesco quebra-cabeças.

Todas estas mecânicas são parte fundamental da jogabilidade, visto que dada a natureza quase surrealista da narrativa, somos obrigados a participar activamente na sua construção. Funciona quase sempre bem – especialmente quando jogamos com Saga Anderson – e seja na recolha de provas ou na conversa com personagens secundárias, tudo oferecerá detalhes cruciais para que possamos desvendar o grande cenário das coisas.

No começo, achei parte dos capítulos de Alan algo confusos em termos de design level, porque juntando uma navegação que parece pouco intuitiva, não há uma clara orientação dos objectivos. No entanto, este desnorte é intencional, e o que torna realmente tudo mais difícil é termos algum backtracking e existir uma certa ordem para realizar certas acções. Porém, quando entendemos a lógica das mecânicas associadas, vai ficando mais fácil de saber o que fazer, e é aí que começamos a compreender a sua beleza..

Quando se dá esse “click, é verdadeiramente fantástico, e mesmo com alguma frustração é impossível não ficarmos rendidos à planificação que é necessária para proporcionar uma experiência tão única. Mistura-se espetacularmente com a atmosfera de mistério e suspense, e é mestre em criar distracções para que alguns sustos nos tentem apanhar desprevenidos.

Em certa fase da história ser-nos-á dada a possibilidade de alternarmos entre personagens como bem desejarmos. Assim sendo, a ordenação da história ficará ao nosso critério, e podemos escolher jogar primeiro com Saga Anderson, com uma atmosfera a semelhante a Twin Peaks, ou com o Alan Wake, numa conjuntura em parte fazer lembrar Dark City. Ou, se preferirem, misturarem inclusivamente os capítulos de um e outro. Não existe uma estrutura certa para seguirmos a narrativa, o que é óptimo, para recomeçarmos depois do início e experimentarmos uma abordagem diferente.

Ao contrário do seu antecessor, Alan Wake 2 tem um mapa semilinear. A vantagem é permitir uma maior exploração, onde visitamos os pontos de interesse assinalados no mapa em busca de pistas ou collectibles. É também uma maneira de aproveitar a espantosa ambientação de mistério que foi criada, já que sentimos uma vontade natural de investigar tudo o que nos desperta a curiosidade. Por outro lado, temos menos momentos de combate em comparação, sendo que o foco mudou consideravelmente para o lado da narrativa e da resolução de puzzles.

Há alguma semelhança com alguns princípios do gameplay de Resident Evil, seja na gestão do espaço do inventory, como na obrigatoriedade de encontrar itens cruciais para usar em alturas específicas. Outro exemplo é o backtracking que mencionei anteriormente, onde teremos de revisitar certos locais que não estavam acessíveis inicialmente. Não é tão rigoroso nessa disposição, dado que é muito mais óbvio nas indicações que dá, mas as relações estão lá.

Em muitos aspectos é uma enorme evolução para o jogo de 2010, embora os elementos base da jogabilidade com a flashlight transitem do jogo anterior para este, sem muitas alterações. Em termos de armas e equipamentos também não há uma grande diferença, e apenas no sistema de upgrades temos um desenho diferente. Alan precisa descobrir “Words” ao longo dos níveis que lhe conferem optimizar as suas capacidades, enquanto Saga tem de juntar Manuscript Fragments – normalmente encontradas em misteriosas lunchboxs com mensagens – para depois melhorar as suas armas. Pode não ser um sistema de progressão muito sofisticado, mas faz sentido tendo em conta a correlação com a narrativa.

Não diria que é um jogo de terror como foi publicitado pela própria Remedy. É antes um jogo de horror psicológico, que ganhou nesta sequela cenas de alguma inquietação visual e choque. Os jumpscares são causados sobretudo pelas visões súbitas que nos são atiradas quando menos esperamos, que são, ao mesmo tempo, as manifestações do transtorno e da luta interior de Alan Wake. No começo pode incomodar, mas eventualmente percebemos o seu significado narrativo.

É, simplesmente, o jogo graficamente mais bem executado de 2023 até ao momento. Tanto na floresta de Cauldron Lake, como na cidade de Nova York, a noite traz uma beleza que chega a tornar-se desconcertante de pesada. A atmosfera de suspense é alimentada pelos efeitos de luz, escuridão e sobreposições de imagem, assim como fenómenos climatéricos que deixam o cenário ainda mais tenso.

As texturas são quase fotorrealistas em alguns momentos, particularmente nas expressões faciais e nos interiores das casas e edifícios. É por isso que as cutscenes em live action se misturam tão bem com tudo o resto, oferecendo uma experiência teatral rara. Na verdade, todo o jogo é como se nos víssemos envolvidos numa longa-metragem, onde a realidade e o onirismo têm barreiras muito pouco visíveis.

Outro exemplo é sem dúvida a banda sonora. É uma obra musical de enorme dimensão, seja nas composições originais, como nos efeitos sonoros. A qualidade do voice acting é fabulosa, e é quase hipnotizante deixarmo-nos conduzir pelo profiling de Saga Anderson e pela narração de Alan Wake. É igualmente um dos elementos responsáveis para haver uma sensação de tensão constante, em que cada barulho ou mudança de tom musical nos deixam imediatamente de pé atrás. O estúdio soube aproveitar ao máximo o poder destes aspectos sensoriais, e é uma das grandes conquistas deste jogo.

Alan Wake 2 prometeu uma digna continuação e cumpriu. É um dos grandes títulos deste ano, e um dos mais fortes candidatos a ganhar o Game Of The Year Awards de 2023. Mais um exemplar da experiência única que só a Remedy Entertainment sabe entregar.

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Completamente obcecado por tudo o que tenha a ver com futebol, é daqueles indesejados que passa mais tempo a editar as tácticas do PES do que a jogar propriamente. Pensa que é artista, mas não conhece as cores primárias, e para piorar, é ligeiramente daltónico. Recusa-se a acreditar que o homem foi à Lua.
analise-alan-wake-2<h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #339966;">SIM</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Graficamente espetacular</li> <li style="text-align: justify;">A história é fantástica</li> <li style="text-align: justify;">Uma experiência cinematográfica única</li> </ul> <h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #ff0000;">NÃO</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Pequenos bugs</li> </ul>