Developer: Tindalos Interactive, Focus Entertainment
Plataforma: Xbox Series, Xbox One, PlayStation 5, PlayStation 4 e PC
Data de Lançamento: 20 de Junho de 2023
Já é extensa a lista de títulos inspirados no universo de Alien, todavia, são raros aqueles que conseguiram ter um impacto significativo na indústria. Alien vs Predator e mais recentemente Alien Isolation, foram alguns dos raros exemplos de sucesso, portanto, não é de estranhar que o anúncio de Aliens: Dark Descent tenha deixado os fãs entusiasmados, contudo, sempre com muitas cautelas.
Adaptar o universo de Alien para o cenário dos videojogos pode ser uma tarefa desafiadora por diversos motivos. A atmosfera tensa e opressiva dos filmes de Alien é um elemento central que precisa ser transmitido de maneira eficaz no jogo, e a capacidade de criar uma sensação constante de medo, isolamento e vulnerabilidade é essencial para capturar a essência da franchise. Conciliar esses traços com a quantidade certa de acção não é simples de alcançar, mas foi algo que o estúdio Tindalos Interactive conseguiu magistralmente.
Era imperial encontrar um equilíbrio entre a acção e o horror. Enquanto a acção pode ser empolgante, é essencial manter a essência do terror que acompanha a história. Adicionalmente, a fidelidade aos detalhes à mitologia estabelecida nos filmes é fundamental para cativar os fãs e criar uma experiência autêntica, já que a falta de compreensão desses elementos pode resultar em jogos que não conseguem capturar a sua atmosfera única, acabando por decepcionar os fãs.
O segredo julgo ser a inspiração em filmes específicos, ainda que possam trazer novas histórias. Alien Isolation é um bom exemplo, onde recriou na perfeição a ansiedade e o desespero do primeiro filme, Alien, de 1979. É mais familiar para quem gosta dos filmes, já que estabelece uma proximidade com os jogos, sendo depois mais facil entender a intenção do estúdio e da sua proposta.
E é aqui que entra Aliens: Dark Descent, aplicando o mesmo princípio, e tentando uma afinidade àquele que é, para muitos, o melhor filme de toda a saga, ou seja, o Aliens, de 1986. E não é por acaso que é considerada uma das melhores sequelas da história do cinema, uma vez que consegue acertar na dose certa de suspense e acção. Nesse sentido, teria de ser encontrado o contexto ideal para que fosse possível reproduzir um cenário similar, com os mesmos elementos, e de forma funcional.
A solução foi decidir por um jogo de estratégia em tempo real, mas num quadro mais tático de squad based. E a verdade é que não podiam ter encontrado melhor conjuntura para que o jogador pudesse sentir o que é estar no comando de um grupo de Colonial Marines. O mais interessante, porém, é que com todo o treino, preparação, e ferramentas ao dispor dos nossos soldados, a inquietação é ainda assim inevitável quando o detector de movimentos dá sinal. E isto num jogo de estratégia, o que é incrível.
É o ano de 2198, e a nave USS Otago está numa missão de testes na lua de Lethe. Enquanto isso, na Estação Pioneer, ocorre um incidente mortal quando um misterioso agente infiltrado liberta os aliens que estão mantidos na zona de carga em segredo. Por essa razão, a directora-adjunta Maeko Hayes, vê-se forçada a dar início ao Cerberus Protocol de modo a controlar os danos. Nesse processo, as naves Betonville e Baldrin que estão nas proximidades são destruídas, ficando igualmente a USS Otago danificada.
Hayes é depois resgatada pelos Colonial Marines liderados pelo sargento Jonas Harper, que a levam para a Otago. Harper assume o comando e nomeia Hayes como a sua oficial de inteligência, que irá depois ajudando na coordenação de tarefas, e ficando com a parte administrativa e logistica das missões no planeta. Os marines começam então a ser enviados em operações de resgate, para depois descobrirem que terão de lidar também com um estranho culto que veneram os xenomorphs.
Enquanto isso, Hayes e Harper tentam encontrar uma maneira para levantar o Cerberus Protocol, para que a USS Otago possa escapar da órbita de Lethe. Será esse o principal objectivo das missões a partir de certa altura, o que irá gerar uma frequente luta pela sobrevivência, com muitas revelações, acção, suspense, além de alguns desfechos verdadeiramente surpreendentes. É uma história que, apesar de não beneficiar de uma enorme profundidade, é eficaz na condução da narrativa e no propósito das missões.
O prólogo é jogado quase na totalidade com Hayes a investigar os acontecimentos na Estação Pioneer, e no final do mesmo terá um breve período de sobrevivência até ser salva pela primeira squad de Marines que a levará até à USS Otago. Será aí que o jogo terá realmente início, e que através da directora-adjunta trataremos da preparação para as missões (aqui com o nome de Deployments).
Entre missões regressaremos à USS Otago, cuja UI se divide em cinco separadores: Barracks, Workshop, Command Deck, Medical Quarters e Laboratory. Nas Barracks, tal como o nome indica, é onde podemos recrutar e melhorar os marines, assim como personalizar o seu aspecto e mesmo o nome, o que quer dizer que até podemos recriar as principais personagens dos filmes – o que obviamente não resisti a fazer.
Os soldados irão precisar de dias para recuperarem tanto dos ferimentos, como dos danos psicológicos aos quais foram sujeitos, significando que muitas vezes não estarão disponíveis para a expedição seguinte. A função da Medical Quarters é precisamente reduzir esse tempo de ausência, designando Physicians (limitados aos recursos humanos que temos) para o marine que desejamos. Assim, ver-nos-emos sempre obrigados a alguma rotação e adaptação a soldados menos experientes e com qualidades diferentes, criando uma dinâmica interessante.
Tanto os Physicians como novos Marines poderão ser adicionados consoante vão sendo resgatados durante as missões. E em especial no caso dos soldados é importantíssimo numa perspectiva de preencher as vagas deixadas por quem for caindo durante as batalhas, já que aqui a morte é permanente. Portanto, todo o cuidado é pouco, porque a perda de um soldado bem treinado será sempre difícil de substituir.
Só após completarmos todos os objectivos de resgate no primeiro deployment “Dead Hills”, é que o Laboratory ficará desbloqueado. E este servirá para a pesquisa de novas tecnologias e equipar os marines, oferecendo melhores argumentos para as missões. O mesmo acontece na Workshop, que será onde desbloqueamos novas armas. Apenas as armas mais básicas estarão acessíveis inicialmente, como a Service Pistol, a Pulse Rifle e a Shotgun, mas depois vamos poder desbloquear algumas bem conhecidas dos filmes, como a Flame Thrower, a Smartgun, a Automated Sentry Gun, entre outras.
Por fim, o Command Deck – o local de preparar e lançar as deplyoments. Vamos poder escolher quatro Colonial Marines, sendo que cada um tem a sua própria personalidade e um conjunto de armas. A personalidade influenciará como se irão portar durante as missões, não só ao nível da eficiência e capacidade de combate, mas também na sua resiliência e saúde mental. Quanto às armas, será importante conseguir um loadout variado entre todos os soldados, para que possamos conseguir responder ao máximo de situações.
Os objectivos durante as missões são diversos e nunca parecem repetidos, estando muito bem entrelaçados na narrativa. Estão bem sinalizados no mapa (com certas áreas por descobrir), e outras tarefas vão sendo adicionados enquanto decorre a missão. O detector de movimentos mostra igualmente onde os aliens se encontram, e esta é uma parte importante, visto que existe uma mecânica de stealth. Esta particularidade faz de Aliens: Dark Descent um jogo de estratégia diferente de qualquer outro, deixando-nos sempre em alerta e com um contínuo sentimento de aflição e desassossego.
É mesmo uma peça central na jogabilidade, dado que o comportamento da hive – ou o ninho, se preferirem – é enviar primeiro xenomorphs isolados que funcionam como uma patrulha. Quando nos detectam iniciam uma caçada, que vai ficando cada vez mais agressiva, em maiores números e com tipos de aliens mais poderosos, até ficar imensamente difícil de contrariar. Por isso, até pelos elementos de suspense e terror, somos forçados a esconder-nos e evitar o conflito sempre que pudermos.
Algumas ordens estão dependentes de recursos, como barrar portas, ou abrir outras que estão seladas, assim como prestar cuidados médicos a soldados que estão feridos. Alguns recursos vão recarregando ao longo do tempo, mas a maioria terá de ser apanhada em caixas espalhadas ao longo do mapa, ou mesmo corpos de vitimas dos Aliens. Esses recursos são valiosos e o seu uso deverá ser bem calculado, porque poderão faltar na missão seguinte.
O ARC (veículo blindado bem conhecido do filme Aliens) vai ajudar a transportar a squad dentro do mapa, já que poderá ser chamado e enviado para locais específicos. Será útil para que os nossos soldados evitem riscos desnecessários entre objectivos, e também para a extracção de quem for resgatado durante a missão. E outro factor importante, é que estando fortemente artilhado, quando não estamos longe, podemos sempre fugir até onde se encontra para usufruir da preciosa ajuda das suas armas.
O combate está excelente. Como a dificuldade é alta, a ansiedade de conseguir sobreviver a um ataque está sempre lá. Tem um sistema de slow motion/pausa quando invocamos o menu de opções, para depois podermos escolher as habilidades que queremos utilizar. Não faltam opções (normalmente relacionadas com as armas), e mesmo com tempo para pensar, qualquer escolha parece difícil de fazer, particularmente quando os números de aliens são elevados.
A associação com XCOM é inevitável, no entanto, diria que se assemelha mais a Company of Heroes, por ser em tempo real. Exige decisões mais rápidas e táticas, ao contrário de XCOM que é por turnos e terá de ser pensado de modo mais estratégico. É um gameplay que encaixa na plenitude no contexto de horror sufocante e acção do universo de Alien, e que deixa o jogador completamente vidrado, num misto de concentração e apreensão, enquanto não chegamos ao ponto de extracção.
Graficamente, embora as cutscenes e as expressões faciais das personagens deixem algo a desejar, em tudo o resto, e sobretudo durante a jogabilidade, cumpre com aquilo que é exigido para um jogo deste género. O mesmo se pode dizer da parte sonora, que está bem executada, tanto na música, efeitos sonoros, voice acting, e no inconfundível som das armas, proporcionando uma fantástica imersão quando se mistura com os comentários dos marines no calor da batalha.
Aliens: Dark Descent é uma das surpresas do ano. Com tão poucos jogos de estratégia a chegar às consolas, este é absolutamente imperdível para quem gosta da franquia. Acerta em todos os aspectos que são fundamentais no género, e reproduz com excelência a atmosfera única dos filmes. Um dos melhores jogos inspirados no universo de Alien já criados.