Developer: Nintendo
Plataforma: Nintendo Switch
Data de Lançamento: 19 de janeiro de 2024

Quando, em 2005, a Cing lançou pela primeira vez Another Code: Two Memories para a Nintendo DS, o jogo obteve um sucesso considerável, especialmente entre o público que aprecia narrativas envolventes. Este tipo de enredo cativante, onde desvendamos uma história à medida que progredimos, descobrindo segredos e superando quebra-cabeças, conquistou a atenção dos jogadores, tornando-se cada vez mais envolvente até ao final da história.

Depois desse sucesso, era esperado que o jogo recebesse uma continuação, o que aconteceu em 2009 com o lançamento de Another Code: R – A Journey into Lost Memories para a Nintendo Wii. Mais uma vez, o jogo foi bem recebido pelo público, especialmente por expandir a história de Ashley Mizuki Robins.

Com o sucesso contínuo da Nintendo Switch, que celebra oito anos em março deste ano, sendo uma das consolas mais bem-sucedidas da Nintendo (ficando apenas atrás da Nintendo DS no que toca a vendas), foi uma excelente notícia para os jogadores e uma jogada inteligente, marcando o lançamento de um remake desses dois jogos, intitulado Another Code: Recollection. O jogo funciona como uma compilação dos dois títulos, totalmente recriados, apresentando ajustes na narrativa, novos quebra-cabeças e uma jogabilidade aprimorada.

Para aqueles que não estão familiarizados com o jogo, esta nova versão para a Nintendo Switch pode ser comparada a Life is Strange, para dar uma ideia do género. Estamos a falar de uma aventura gráfica, ou como alguns preferem chamar, novela gráfica. Nestes jogos, a ênfase recai sobre a narrativa, onde os jogadores interagem com várias personagens, procuram objetos, resolvem quebra-cabeças e até tomam decisões que podem influenciar o desenvolvimento da história. Embora este último elemento não aconteça na franquia Another Code.

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Este jogo apresenta duas histórias separadas por uma diferença de dois anos, ambas centradas em Ashley Mizuki Robins como protagonista. Conjuntamente, as narrativas exploram o passado de Ashley, ao mesmo tempo que se entrelaçam de forma a criar duas linhas temporais que se desenrolam simultaneamente. Apesar da distinção entre os dois jogos, é importante notar que é impossível iniciar Another Code: R – A Journey into Lost Memories sem primeiro concluir Another Code: Two Memories.

Este remake foi desenvolvido de maneira a criar uma conexão direta entre os dois jogos, tratando-os quase como se fossem um único jogo. Isso faz sentido, uma vez que os jogos apresentam distinções em certos pontos em relação aos originais. Não seria lógico para os jogadores saltarem diretamente para o segundo jogo sem passar pelo primeiro, para compreenderem as novas mecânicas, a jogabilidade renovada e as mudanças nas narrativas, bem como nos locais que vamos explorar.

Começando com Another Code: Two Memories, Ashley, com 14 anos neste jogo, recebe um dispositivo chamado DAS — Dual Another System — da sua tia Jessica, irmã do seu pai. O dispositivo tem um design semelhante a uma consola de jogos portátil, como a Nintendo Switch, mas com características distintas, como tirar fotos, armazenar mensagens, fazer a ligação entre personagens e revelar surpresas à medida que a história avança.

Ao receber o DAS,  Ashley depara-se com uma mensagem que a instrui a dirigir-se à ilha de Blood Edward. A mensagem é do seu pai, Richard, que ela acreditava estar morto desde há muito, assim como acontecera com a sua mãe, Sayoko, que falecera diante dela quando ainda era criança. À medida que o enredo se desenrola, torna-se evidente que Richard e Sayoko eram cientistas que trabalhavam num dispositivo peculiar, e será à volta disso que grande parte da história se desenvolve.

Após receber a mensagem, Ashley e Jessica embarcam rumo à ilha mencionada para encontrar Richard. O jogo efetivamente começa nesse momento, durante a viagem de barco até à ilha, proporcionando uma visão geral da vida de Ashley. Com a chegada à ilha, a narrativa principal desenrola-se. No entanto, a receção é peculiar, já que, ao contrário das expectativas criadas pela mensagem, Richard não está presente na praia à espera de Ashley e Jessica. A adolescente, emocionalmente perturbada, expressa imediatamente a sensação de ter cometido um erro ao ir até lá e querer partir daquele local.

Apesar da relutância de Ashley, a sua tia convence-a a ficar prometendo procurar o seu pai enquanto Ashley espera na praia. Contudo, à medida que o tempo passa e sem sinal de Jessica, Ashley decide iniciar a sua procura. Podemos dizer que é neste ponto que começará a fase de exploração e da envolvência que aquela ilha nos irá trazer. Durante a procura por Jessica, deparamo-nos com uma personagem chamada “D”, uma alma ou espírito perdido na ilha, incapaz de recordar o que lhe aconteceu.

“D” está intrinsecamente ligado a uma família que residia na mansão da ilha, um local que se tornará central para o desenvolvimento da história. Ao explorarmos a mansão, desvendaremos muitos dos mistérios envolvendo “D” e a sua família, ao mesmo tempo, vamos também descobrindo segredos relacionados ao DAS. Tudo isto enquanto investigamos o que aconteceu com Jessica, onde afinal está o seu pai, e todo o que se passa à sua volta.

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No segundo jogo, Another Code: R – A Journey into Lost Memories, é inevitável mencionar que Jessica reencontra o seu pai no primeiro jogo, pois a narrativa reinicia-se com um convite de Richard para Ashley passar férias no novo local onde ele está a trabalhar.

Dois anos passaram-se desde os eventos do primeiro jogo, e depois de um período em que Richard morou com Ashley, ele partiu para trabalhar, no Lake Juliet, onde realiza pesquisas para um laboratório chamado J.C. Valley. Após seis meses sem ver o pai, Ashley, ainda que de forma relutante, atende ao seu pedido. Ainda assim, o jogo faz-nos ter sempre aquela perceção de que a adolescente acha que o seu pai é bastante distante e parece não se importar muito com ela.

Toda essa premissa é revelada durante a viagem de autocarro de Ashley até Lake Juliet. Ao chegar finalmente ao local, Ashley depara-se novamente com a ausência do pai, o que a perturba profundamente. Para agravar a situação, enquanto deixava a sua mala num banco para procurar o pai na área, a mala é roubada por um rapaz mais jovem, Matthew Crusoe. Esse rapaz desempenhará um papel semelhante ao de “D” no jogo anterior. Ou seja, além da narrativa centrada nas memórias passadas de Ashley, o jogo também se concentrará na história de Matthew, desafiando-nos a descobrir o que aconteceu ao seu pai e a saber se está ligado a um incidente que aconteceu naquele local há 5 anos atrás.

Algo que vão observar é que A Journey into Lost Memories oferece uma área de exploração significativamente maior do que Two Memories. Lake Juliet é consideravelmente mais extenso do que a ilha de Blood Edward. Além disso, teremos um número consideravelmente maior de NPCs para interagir, incluindo colegas de trabalho de Richard, alguns dos seus filhos e diversos habitantes locais. A história de Matthew, para além da procura pelo seu pai, acrescenta outra camada de complexidade, uma vez que ele está fugido de casa. Dessa forma, torna-se evidente que a narrativa deste jogo oferece um conteúdo mais expansivo em comparação com o primeiro. Isso não implica que o primeiro jogo tenha uma história inferior; pelo contrário, apenas ressalta que esta é mais abrangente, abordando uma variedade de temas.

Quanto à jogabilidade, podem esperar algo muito diferente em comparação com os jogos originais, uma vez que a Nintendo Switch apresenta um hardware mais avançado, possibilitando um tipo diferente de grafismo e a substituição de alguns quebra-cabeças por outros mais adequados à plataforma e à actualidade. Há outros aspetos cativantes no jogo, como a qualidade do voice acting, onde todos as personagens têm vozes no jogo, acompanhadas sempre por legendas.

Para aprimorar ainda mais a experiência, há um detalhe que apreciei bastante, e devo confessar ter sido bastante útil em alguns momentos. Muitas vezes, esses jogos podem tornar-se entediantes quando os jogadores ficam perdidos sem saber qual o próximo passo a dar. Isso leva a que muitos jogadores desistam ou procurem soluções online. Neste caso, nada disso é necessário, pois o jogo oferece a opção para o jogador pedir dicas ao pressionar o botão “—”, e, caso as dicas não sejam suficientes, podem ainda pressionar o analógico esquerdo para ativar um círculo com uma seta ao redor de Ashley, guiando-nos diretamente para onde devemos ir e indicando os passos a tomar.

Embora seja recomendável não utilizar essas ajudas constantemente para preservar a diversão do jogo, confesso que em momentos de frustração ou quando ficamos realmente presos, essa funcionalidade é extremamente útil e revela-se como uma adição perfeita ao jogo. Considero uma das melhores ferramentas de ajuda que já vi num jogo desse tipo, sendo incrivelmente bem executada e uma adição valiosa à experiência.

A nível gráfico, como já foi mencionado, o jogo recebeu significativas melhorias, apresentando agora um visual moderno, detalhado e muito atrativo. Em vários momentos, o estilo gráfico evoca a estética utilizada em muitos animes, sobretudo nas personagens, que exibem uma aparência única e distintiva. Os cenários estão meticulosamente elaborados, e, como é comum neste tipo de jogos, é essencial que o jogador tenha uma boa compreensão do ambiente à sua volta, sendo que os detalhes são fundamentais para não deixar nenhum pormenor ao acaso.

Infelizmente, é de notar que o jogo não disponibiliza tradução para a língua portuguesa. Seria benéfico ter legendas em português para aqueles que enfrentam maiores desafios com o inglês conseguirem acompanhar a história. Mais uma vez, a Nintendo optou por não incluir essa opção.

Another Code: Recollection é um jogo extraordinário, que os entusiastas deste género não devem deixar passar. Confesso que o primeiro capítulo de Two Memories não me cativou instantaneamente, mas fui sendo gradualmente conquistado pela história, tornando-se impossível largar o jogo até à sua conclusão. Já A Journey into Lost Memories é muito mais eficaz em prender a atenção do jogador desde os momentos iniciais, especialmente porque já estamos familiarizados com Ashley, criando um desejo constante de descobrir mais sobre o seu passado e a sua história. Este remake é uma excelente forma de a Nintendo iniciar o ano de 2024, apresentando uma qualidade notável.

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Rui Gonçalves
Desde o tempo do seu Spectrum+2 128k que adora informática. Programador de profissão nunca deixou de lado os jogos, louco por RPGs e jogos de futebol. Adora filmes de acção e de ficção científica, mas depois de ver o Matrix nunca mais foi o mesmo.
analise-another-code-recollection<h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #339966;">SIM</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Um remake bem concretizado</li> <li style="text-align: justify;">A história de ambos os jogos é cativante</li> <li style="text-align: justify;">Jogabilidade muito bem conseguida</li> <li style="text-align: justify;">As opções de dica se ajuda estão incrivelmente bem implementadas</li> </ul> <h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #ff0000;">NÃO</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Falta da língua portuguesa</li> <li style="text-align: justify;">Em alguns momentos pode trazer alguma frustração se não usarmos as ajudas</li> </ul>