Developer: OhDeer Studio, RG Crew, 100 GAMES, Ultimate Games
Plataforma: Xbox Series, Xbox One, PC e Nintendo Switch
Data de Lançamento: 4 de outubro de 2023

Nos últimos anos, testemunhámos um renascimento assombroso do género do terror, não pelas mãos dos gigantes da indústria, mas sim nas mentes inovadoras e corajosas que constituem o cenário indie de desenvolvimento de videojogos. Este fenómeno não apenas ilumina as possibilidades inexploradas do terror no mundo dos jogos electrónicos, mas também destaca a habilidade incomparável destes estúdios mais pequenos em criar experiências envolventes e genuinamente aterrorizantes.

O terror, enquanto género, é intrinsecamente humano. Mergulha nos nossos medos mais profundos, desafia as nossas percepções e, quando é bem executado, proporciona uma catarse única. No entanto, a narrativa do terror nem sempre foi tão acessível ou inovadora quanto é hoje. Foi nos cantos obscuros e experimentais do desenvolvimento independente de jogos que encontrámos uma nova era de horrores interativos.

Enquanto os grandes estúdios, muitas vezes, se inclinam para fórmulas testadas e lucrativas, os developers indie arriscam-se a explorar estilos alternativos, dando vida a experiências que desafiam as convenções e ressuscitam o suspense autêntico. E o que torna os jogos indie de terror tão intrigantes é a sua capacidade de aproveitar os elementos fundamentais do medo, muitas vezes negligenciados em favor de visuais impressionantes e ação frenética.

O som, a atmosfera, o desconhecido — esses são os alicerces sobre os quais os desenvolvedores indie constroem mundos capazes de arrepiar a espinha e provocar reflexões muito pessoais. O minimalismo muitas vezes adoptado por estes estúdios revela-se uma ferramenta poderosa, permitindo que a imaginação do jogador preencha as lacunas, criando assim um terreno fértil para o crescimento do suspense.

É inegável que o advento dos jogos indie trouxe uma nova luz ao género do terror. Estúdios menores, frequentemente a operar com orçamentos modestos, têm a liberdade de experimentar e inovar de maneiras que os titãs da indústria às vezes hesitam em fazer. E assim, vemos o terror florescer em formas inesperadas: seja através de experiências narrativas não lineares, mecânicas de jogo únicas ou o uso magistral de ambientes e bandas sonoras.

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Ao examinarmos de perto estas criações, percebemos que os jogos indie de terror não são apenas experiências assustadoras, mas sim manifestações artísticas que exploram a psique humana e desafiam as convenções estabelecidas. O ressurgir do terror nos jogos é um bom exemplo da qualidade que já é possível encontrar fora do espectro das publishers mais importantes, e encoraja, simultaneamente, a que se tentem novas abordagens e ideias como factores diferenciadores.

Anthology of Fear, do OhDeer Studio, segue a mesma fórmula, mas acrescentando ideias próprias à estrutura da narrativa. Adopta uma tendência que atingiu algum sucesso nos últimos 10 anos, onde aponta ao terror psicológico numa perspectiva da primeira pessoa através de uma atmosfera de suspense, contando a história por meio de uma investigação. É um conceito que também aqui resulta bem, apostando visivelmente na tensão criada nos momentos de exploração.

Paga-nos o café hoje!A narrativa está dividida em duas partes, ocorrendo em locais diferentes, e com personagens distintas. Inicialmente, seremos um detective que busca pelo seu irmão desaparecido num hospital abandonado que foi local de uma misteriosa experiência científica relacionada com sonhos. Neste caso, o clima de suspense irá depender quase exclusivamente de manequins que parecem perseguir-nos silenciosamente sempre que olhamos para a frente.

A segunda fase passar-se-á na típica casa familiar e sinistra que esconde um acontecimento horrível. Aqui, uma entidade sobrenatural atormenta uma mulher com memórias da criança que esta perdeu. É um tipo de proposta que tenta ser mais inquietante, e apesar de não tentar ir pelo caminho dos sustos, confesso que achei mais desconcertante, dado que tem algumas cenas perturbadoras. Não é inteiramente explícito, mas usa a nossa imaginação para compor grande parte do que nos é sugerido.

É, por isso mesmo, um conceito original para este género em específico, e há que dizer que foi muitíssimo bem pensado.  É quase como se fossem dois jogos separados, em que o primeiro é um conto mais clássico de suspense, com a típica atmosfera causadora de ansiedade e pequenos sustos, e o segundo a lidar com temas emocionalmente mais pesados.

Nem sempre funcionam bem, já que muitos sustos são fáceis de perceber à distância, e várias vezes sentimos que está a tentar em demasia. É um aspecto que joga contra si, visto que por estarmos sempre à espera de que algo vá acontecer, dificilmente nos deixamos surpreender. Um elemento que é fundamental nos bons jogos de terror, é a arte de saber distrair para desviar a atenção, e neste particular, Anthology of Fear tem algumas dificuldades em convencer.

Por outro lado, contexto de exploração e investigação é onde o título da OhDeer Studio mais sobressai. O ambiente sinistro e surrealista está bem construído e contribui para sentimento de tensão que sempre nos acompanha enquanto juntamos as peças da história. Atrai a nossa curiosidade sem grande esforço, e mantém-nos constantemente interessados em descobrir o que virá a seguir. Mas claro, sempre desconfiados.

A sua duração é bastante curta, e é perfeitamente possível terminá-lo em duas horas. O que nos faz questionar se não seria até merecedor de mais alguns contos, tendo em consideração o próprio nome do jogo. Ainda assim, consegue entreter enquanto dura, e quem sabe não serão adicionadas outras histórias em futuras expansões. Talvez o plano seja mesmo esse, ou seja, esperar pelo sucesso e decidir depois.

Graficamente, para um jogo de baixo orçamento tem uma qualidade acima da média, sendo que o ambiente escuro ajuda muito nesse sentido. Artisticamente está igualmente bem idealizado, especialmente no conceito surrealista que nos faz, por vezes, questionar a realidade. A banda sonora também cumpre, particularmente no aspecto de causar alguma ansiedade que é sempre importante para ajudar na atmosfera de suspense.

Anthology of Fear pode estar distante do melhor que temos dentro do género do terror, porém, tem os seus próprios méritos. As histórias são intrigantes, e embora saiba a pouco, é uma experiência interessante para quem é fã deste estilo de jogos.

REVER GERAL
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Nuno Mendes
Completamente obcecado por tudo o que tenha a ver com futebol, é daqueles indesejados que passa mais tempo a editar as tácticas do PES do que a jogar propriamente. Pensa que é artista, mas não conhece as cores primárias, e para piorar, é ligeiramente daltónico. Recusa-se a acreditar que o homem foi à Lua.
analise-anthology-of-fear<h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #339966;">SIM</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Narrativa interessante</li> <li style="text-align: justify;">Uma boa atmosfera</li> <li style="text-align: justify;">Graficamente bem executado</li> </ul> <h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #ff0000;">NÃO</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Demasiado curto</li> </ul>