Developer: Ubisoft
Plataforma: Xbox Series, Xbox One, PlayStation 5, PlayStation 4 e PC
Data de Lançamento: 5 de Outubro de 2023
Foi exactamente há 15 anos que a indústria dos videojogos testemunhou o surgimento de uma das franquias mais emblemáticas e revolucionárias da história – Assassin’s Creed. Desde o seu primeiro título em 2007, este épico da Ubisoft tem cativado milhões de jogadores em todo o mundo, levando-os numa jornada única e imersiva através das páginas da história humana. Esta franquia, conhecida pela sua narrativa intricada, jogabilidade envolvente e atenção aos detalhes históricos, rapidamente se tornou uma referência para muitos.
Ao longo dos anos, Assassin’s Creed experimentou várias evoluções, desde as suas raízes numa jogabilidade mais centrada na narrativa até ao formato de RPG em títulos como Assassin’s Creed Origins, Odyssey e Valhalla. Cada iteração explorou diferentes períodos históricos, desde o Renascimento Italiano até à Antiga Grécia e a Era Viking, proporcionando aos jogadores uma oportunidade única de explorar mundos ricos em pormenores e mergulhar nas vidas de personagens carismáticas.
No entanto, como o tempo e o contexto histórico são a essência de Assassin’s Creed, a série prepara-se agora para retornar às suas raízes com Assassin’s Creed Mirage, oferecendo aos fãs uma experiência mais próxima do estilo original em termos de gameplay. Isso marca uma interessante reviravolta na saga, enquanto descobrimos um novo período histórico e exploramos uma narrativa que celebra o legado dos Assassinos.
Assassin’s Creed Mirage transporta-nos para a um cenário exuberante e exótico, onde os segredos da antiga Irmandade de Assassinos aguardam para serem desvendados. Num mundo repleto de intrigas e misteriosas conspirações, somos chamados, mais uma vez, a vestir o manto da Brotherhood e a traçar o nosso próprio caminho através da história.
Não é uma viragem radical, visto que aproveitou – e bem – diversos elementos que foram fundamentais no gameplay dos últimos jogos. Ainda assim, o sistema de missões e o esquema geral são muito mais parecidos com aquele formato que estabeleceu o franchise. E isso sente-se imediatamente, com a narrativa a assumir-se como a peça central.
Assassin’s Creed Mirage é mais um jogo de aventura do que um RPG, e este é um pormenor que irá certamente agradar a quem estava um pouco saturado da fórmula mais recente. No entanto, conseguirá igualmente agradar a quem conheceu a série a partir de um dos três jogos anteriores, dado que é, ainda assim, muitíssimo familiar na jogabilidade.
A maior diferença é, sem dúvida, a duração. Daí ter também um preço mais acessível. Para quem quiser dedicar-se exclusivamente à história, poderá terminá-lo em cerca de 20 horas. Porém, recomendo que deem uma oportunidade às Tales of Bagdad, que é uma questline alternativa de missões secundárias que valem bem a pena, acrescentando ao lore do jogo e adicionando aproximadamente mais cinco horas à duração total. Resumindo: é mais curto, mas mais intenso enquanto dura a experiência.
A história leva-nos até Bagdad, no século IX, cujo protagonista é uma personagem bem conhecida do jogo anterior, já que seremos apresentados a uma versão muito diferente do Basim que pudemos conhecer em Assassin’s Creed Valhalla. Aqui, mais jovem, ingénuo, e não mais do que um ladrão que cresceu nas ruas da cidade. Apesar de ambicioso, é notório o seu bom coração e como se sente responsável pelas outras crianças de rua, no entanto, o seu desejo de mostrar que está pronto para mais, coloca-o no centro de uma tragédia que mudará a sua vida para sempre.
Basim é agora procurado, e não tem alternativa senão fugir da cidade. Felizmente para si, tem a ajuda dos Hidden Ones, e mais particularmente da veterana Roshan, que vê em Basim potencial para se tornar um membro valioso da irmandade. Basim entrega-se ao seu destino, porque no fundo sente que este sempre foi o seu caminho. A partir daí teremos um processo de treino que levará anos até à iniciação, aprendendo as técnicas necessárias para tanto atingirmos a excelência no combate, como a subtileza própria de quem usa as sombras como a sua mais importante ferramenta.
Basim sente-se agora pronto, mais maduro, e um último acontecimento inesperado exige que regresse a Bagdad para enfrentar as memórias mais dolorosas. Já não é o mesmo rapaz inocente, e sabe hoje que o mundo se move nos bastidores do poder, mas dificilmente estará preparado para o que tem pela frente. É exactamente este aspecto que faz dele um protagonista muito interessante na franquia, especialmente para quem compreende a transformação que foi necessária na sua personagem, para chegar ao que tivemos em Valhalla.
A narrativa é conduzida de forma bastante fluída, com um maior investimento nas cutscenes, mas também nos diálogos, sendo que muitos são até opcionais. O formato de missões mudou ligeiramente, e funciona de uma maneira mais orgânica. Em vez dos habituais separadores de missões principais e secundárias, agora temos investigações, onde vamos desvendando pistas até se desbloquearmos as suas ramificações. É um modo muito interessante e eficiente de deixar a história cativante, e é uma das novidades felizes de Assassin’s Creed Mirage.
Nos Contracts temos as missões secundárias propriamente ditas. São tarefas inteiramente opcionais que são disponibilizadas por três das facções presentes (Merchants, Scholars e Rebels), e podemos aceitá-las no Painel de Missões do Hidden Ones Bureau. São agradáveis de realizar e recompensam-nos generosamente, uma vez que recebemos Tokens, uma nova moeda no jogo, e que podemos trocar por favores. Estes favores são bastante diversos, incluindo desde descontos nas lojas até à possibilidade de adquirir mapas que revelam segredos, ou mesmo contratar mercenários para nos auxiliarem em diversas situações. Este sistema funciona muito melhor do que eu esperava, já que nunca senti que estava a ser obrigado a fazer repetidamente a mesma coisa, e acabava por ser eu a procurar este tipo de tarefas de livre vontade.
Podemos não ter um mapa com o tamanho do Assassin’s Creed Origins, por exemplo, mas Bagdad parece realmente viva. A sua atmosfera é absolutamente incrível, e dá gosto andar a a correr pelos telhados da cidade á procura de segredos e tesouros. De todos os settings árabes que a série já nos trouxe, Mirage oferece claramente o mais belo e imersivo. É um jogo fértil em exploração, e cada canto parece esconder algo que vale a pena descobrir.
Na verdade, motiva-nos mesmo a explorar, já que se não nos entregarmos a actividades que normalmente nos levam até áreas vigiadas, será impossível encontrarmos novas armas ou armaduras, e inclusivamente os seus upgrades. Melhorar o nosso equipamento está directamente ligado a este tipo de dinâmicas, e há que dizer que acontece com naturalidade, visto que sabe exactamente como atrair a nossa curiosidade.
O combate em Assassin’s Creed Mirage é fortemente inclinado para o stealth, não por ser intrinsecamente difícil, mas porque o jogo reintroduz o sistema de notoriedade presente nos títulos mais antigos da série. Sempre que somos observados a cometer uma acção ilegal, o nosso wanted level aumenta, e somos confrontados com a necessidade de pagar para eliminar esse estatuto ou de remover os cartazes espalhados pela cidade. Dessa forma, é aconselhável evitar ao máximo chamar a atenção, uma vez que, caso contrário, até mesmo navegar pela cidade se torna um desafio com todos os guardas a tentar a nossa captura.
Mesmo o sistema de progressão foi desenhado nesse sentido, com habilidades mais direccionadas para matar os inimigos sem deixar rasto. As armas e o equipamento vão no mesmo sentido, e com muito menos oferta em relação a Valhalla e Odyssey, porém, totalmente adequadas ao estilo de jogabilidade em questão. Temos mais do que suficiente por onde escolher, sendo os bónus das armas ou dos outfits que acabam por pesar mais nas nossas decisões, em detrimento dos stats, como nos três títulos anteriores.
Utilizando o mesmo game engine de Assassin’s Creed Valhalla, o combate é bastante semelhante em termos de animações e mecânicas. Por isso mesmo, o parry é outra vez extremamente poderoso, o que foi um ponto negativo para mim. Acertar no timing certo é fácil, o que proporciona logo de seguida a oportunidade de uma execução. Ainda assim, o combate é sólido, e tem momentos de enorme satisfação, brilhando principalmente na furtividade.
O parkour é desse modo igualmente mais encorajado, uma vez que, como queremos passar despercebidos, procuramos frequentemente os melhores locais para podermos abordar os objectivos. A própria arquitectura da cidade composta por edifícios de dois e três andares é perfeita para este tipo de jogabilidade, e será útil quando a fuga é a melhor solução. E sim, a águia está de volta, e é um complemento importante para podermos ter uma noção do que temos em nosso redor.
Graficamente, Assassin’s Creed Mirage está incrível. Não é uma evolução relativamente a Assassin’s Creed Valhalla, até porque usa o mesmo motor gráfico, mas o misticismo das ruas de Bagdad foi aqui recriado de uma forma fantástica. Aquele tom mais torrado, a iluminação, e as sombras combinadas com os efeitos da poeira do deserto criam uma atmosfera de tirar o folego. O que juntamente com as extraordinárias cutscenes, fazem de Mirage, provavelmente, a experiência mais cinemática de toda o franchise.
A qualidade da banda sonora é notável e, ousaria dizer, a mais envolvente de toda a série Assassin’s Creed. Embora não seja um tema completamente novo, uma vez que já havíamos sido introduzidos a esse tipo de música característica do Médio Oriente e Norte de África em Origins, acredito que em Mirage atinge um nível ainda mais elevado, o que, por si só, é um elogio significativo. As melodias são incrivelmente cativantes e parecem sempre surgir nos momentos mais apropriados.
Assassin’s Creed Mirage é um excelente retorno às origens. Combina os melhores elementos tanto dos jogos antigos, como dos mais recentes, produzindo numa experiência obrigatória para qualquer fã da franquia. Num cenário onde os estúdios optam, cada vez mais, por reciclar fórmulas já existentes, a Ubisoft soube arriscar e convencer com o resultado final.