Developer: Ubisoft
Plataformas: Xbox One, PlayStation 4, Xbox Series S | X, PlayStation 5, PC
Data de Lançamento: 10 de Novembro de 2020

Com os dois últimos Assassin’s Creed a terem um enorme sucesso, a Ubisoft tinha uma tarefa bastante complicada em mãos, que passava por trazer algo novo, mas que ao mesmo tempo conseguisse deixar satisfeitos os fãs dos dois últimos jogos, porém, ao mesmo tempo convencer aqueles que por um ou outro motivo não tinha ficado convencidos com Assassin’s Creed Odyssey.

A ideia de pegar na história nórdica com as suas grandes conquistas foi uma “machadada” muito bem dada, desde logo porque o tema está na moda, e basta ver as diversas séries televisivas que relatam esses eventos, começando pela série Vikings que relata a história de Ragnar Lothbrok e dos seus filhos, ou por Last Kingdom, onde conseguimos conhecer mais aprofundadamente a história do Rei Alfredo, e do Reino de Wessex.

A verdade é que a história do império Viking sempre foi algo que me apaixonou, além das conquistas e dos feitos que conseguiram, ainda hoje alguns dos costumes desse povo ficaram na cultura dos vários países por onde eles passaram. Algo também fascinante tem a ver com o misticismo desse povo, as suas crenças em Odin e nos vários deuses que veneravam; e a ideia de deuses que castigavam, que eram bons ou maus, é bastante diferente do que estamos habituados na nossa cultura. Por vários desses motivos, foi com bastante interesse que me dediquei a Assassin’s Creed Valhalla, já que a Ubisoft na grande maioria das vezes consegue transportar bastante bem os costumes, edifícios e paisagens das várias épocas para os seus jogos.

Mal começamos a jogar Assassin’s Creed Valhalla, a percepção do ambiente, da convivência e da brutalidade do povo nórdico daquela época está incrivelmente bem demonstrada. Estamos a referirmo-nos ao século IX, onde Eivor ainda é uma criança. Tudo começa num enorme banquete dado pelo rei Styrbjorn, onde Eivor está com os seus pais, e estão a comemorar a aliança entre dois clans quando ocorre um ataque à aldeia. Os seus pais são brutalmente assassinados por Kjotve, o líder de um clan rival, no entanto, Eivor consegue escapar graças a Sigurd, filho do rei Styrbjorn. Será a partir desta premissa que começa a verdadeira narrativa do jogo.

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Depois desse acontecimento começamos a jogar já com Eivor adulto, mais precisamente em 872 DC, ainda na Escandinávia. Posso dizer que esta parte dura entre 5 a 10 horas de jogo, esta diferença de tempo terá a ver com a vossa abordagem ao jogo, isto é, se completam apenas a história principal ou se vão completar tudo o que o jogo tem para se fazer, como missões secundárias, procurar itens valiosos, artefactos, mistérios (estes três falamos mais à frente) e claro, explorar os diversos locais. Quando completarem toda a história nesta região, e perceberem os diversos acontecimentos (não vamos divulgar para não dar spoil), Eivor, Sigurd e outros habitantes do clan do rei Styrbjorn partem para Inglaterra, em busca de fama, ouro e novas terras para conquistar.

Para se situarem bem na historia, no século IX, Inglaterra era bem diferente do que conhecemos hoje, principalmente onde o jogo se passa, isto é, na parte oriental de Inglaterra. Nessa altura existiam diversos reinos, Nortúmbria, Mércia, Ânglia Oriental, Essex, Kent, Sussex e Wessex. Este último bem conhecido pelo reinado do Rei Alfredo que fez frente às invasões vikings. Quando Eivor chega a Inglaterra, o seu destino é o Reino de Mércia, onde iremos montar a nossa aldeia. Também é importante perceberem que nesta altura já existiam diversos nórdicos a habitar aqueles locais e com grandes conquistas.

Algo que devem estar a pensar é: “nisto tudo, onde entra a ordem dos assassinos?” Bem, este é o ponto da história em que sinceramente achei que o jogo falhou. E passo a explicar:

Eivor irá conhecer dois assassinos amigos de Sigurd, ainda na Escandinávia, que lhe oferecem a lâmina oculta e lhe ensinam a usá-la. Um pormenor interessante, é que Eivor foi inteligente o suficiente para usar a lâmina ao contrário, sem ter de cortar o dedo anelar. Na chegada a Inglaterra um desses membros conta a Eivor sobre a Ordem dos Anciões – uma organização secreta de pagãos que está infiltrada na sociedade, que conta com diversos membros desconhecidos e pede ajuda a Eivor para os encontrar e eliminá-los. Para isso, iremos precisar de pistas, que podem ser encontradas durante as nossas missões, falando com pessoas e até a eliminar membros da própria organização, e claro, com isso receber informações sobre outros membros. Esta ordem tem uma hierarquia, e só eliminando certos elementos é que vamos descobrindo os que estão acima na hierarquia. Embora este ponto da Ordem dos Anciões seja bastante importante, até porque estamos a falar de um Assassin’s Creed, devia ter um enredo bastante melhor.

Em Inglaterra há muito para fazer. Além das missões principais que nos fazem progredir na historia, existem as missões secundárias que encontramos quando vemos NPC com um símbolo de conversação. Devo dizer que este é um ponto bem interessante do jogo, porque além de serem apenas opcionais, não são repetitivas, o que nos leva muitas vezes a interessar-nos por elas; depois existem ainda as incursões, e estas são os tão conhecidos ataques que os vikings faziam a igrejas, ou locais onde sabiam existir riquezas. As incursões – ou o raids, se preferirem – estão bastante interessantes, já que foi uma ideia bastante bem implementada; com os barcos vikings a chegarem, os sinos a tocarem em sinal de ataque, os soldados todos a posicionarem-se para atacar. Gostei bastante de ver esta ideia, e até a parte de uma incursão só terminar depois de roubadas todos os itens importantes daquele local.

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Esses itens são essenciais no jogo, já que são eles que fazem com que possamos evoluir a nossa aldeia. Temos diversos locais para melhorar, como a Padaria, Ferreiro, Estaleiro, Estábulo, Cartógrafo, entre outras. Cada uma delas irá oferecer-nos diversas coisas: por exemplo o Estaleiro irá conseguir modificar os nossos barcos; já o Ferreiro dá-nos a possibilidade de melhorar a qualidade das nossas armas e armaduras; no Estábulo teremos a possibilidade de melhorar as habilidades do nosso cavalo; e o Cartógrafo, onde podemos arranjar mapas que nos indicam locais com recursos e itens valiosos.

Algo de extrema importância, e que a Ubisoft faz muitíssimo bem nos jogos de Assassin’s Creed, relaciona-se com as personalidades que podemos encontrar no jogo, muitas delas alteradas no aspecto físico, e até na sua personalidade em relação ao que se sabe originalmente, mas fazerem parte deste obra de ficção é bastante interessante, e dá-nos um enquadramento ainda mais imersivo. Neste jogo vamos conhecer por exemplo alguns dos filhos de Ragnar como Ivar e Ubba, e até a ajudar a coroa, com o rei Ceolwulf II. Estes são apenas alguns dos exemplos – para não falar do Rei Alfredo, claro.

Para toda esta história funcionar não podemos fugir do mapa, e este, como já é habitual nos jogos de Assassin’s Creed, é enorme. Terão acesso a todos os reinos que referi acima, e mais uma vez, o mapa está maioritariamente oculto. Como é habitual, teremos de nos dirigir a diversos pontos altos para conseguirmos ir desbloqueando o mapa (a chamada Sincronização), que depois também permitirá fazer viagens rápidas para aquele local. Além desses pontos, os portos marítimos também permitem fazer viagens rápidas, e pelo tamanho do mapa diria que é essencial usarem estes locais para se deslocarem. Ainda nas deslocações termos a possibilidade de chamar o nosso cavalo, assim como em qualquer local perto dos rios podemos chamar o barco para nos deslocarmos rapidamente. No mapa também irá aparecer os locais onde podem procurar itens valiosos, assim como os artefactos e os mistérios. Se no caso dos itens valiosos, estes são bastante úteis para melhorarmos os nossos equipamentos e a nossa aldeia, já os artefactos são apenas itens coleccionáveis os quais temos de procurar. Quanto aos mistérios, são pequenas missões que não costumam demorar muito tempo.

Algo que não podemos deixar de falar é do nosso Inventário, e aqui é o local onde teremos o nosso equipamento desde a armadura, luvas, botas, a nossa bolsa de comida, a aljava onde guardamos as flechas e a bolsa onde guardamos os itens encontrados. Todo o equipamento pode ser trocado, mas talvez ainda mais importante é poder ser melhorado, e este ponto é essencial para conseguirem ter sucesso, principalmente quando já estiverem avançados no jogo.

Falando em armas, não podemos de deixar de referir os combates, sendo que estão bastante bons. A maioria dos soldados são fáceis de matar, bastando 2 a 3 golpes, mas existem alguns mais rijos, o que traz um certo desafio ao jogo, principalmente quando 4 ou 5 soldados nos cercam e aparece um que dá mais trabalho, e temos de conseguir arranjar ali uma boa táctica para os conseguir matar sem irmos desta para melhor. Para isso, muito ajudam as opções de desviar, defender, ataque forte e ataque rápido e fraco; mas foi acrescentado o vigor, ou seja, agora sempre que fazem um ataque rápido e fraco, ou se desviam de um golpe adversário vão gastar vigor, e quando a barra de vigor se esgotar não conseguirão usar mais essas técnicas. Existem ainda três aspectos extremamente importantes no que toca aos combates, o primeiro é as armas que podem usar, desde espadas, machados, escudos, lanças; e aqui está um ponto bastante interessante neste Assassin’s Creed Valhalla: as combinações possíveis. Podem usar dois machados, um em cada mão por exemplo, um machado e um escudo, uma espada e um escudo, dois escudos, um escudo de duas mãos, um machado de duas mãos, isto é, as combinações são incríveis, e até é possível trocarem as armas de mãos (quando adquirirem uma habilidade para isso). Estas combinações permitem termos diversos tipos de combate diferentes, conforme as armas que escolhemos, e aqui podemos dizer que a Ubisoft acertou em cheio.

O segundo ponto importante tem a ver com as habilidades, onde teremos uma skill tree gigante para aprendermos as diversas habilidades. Na parte de cima (e representada a vermelho) teremos tudo o que é virado para combate corpo a corpo; já o lado direito, a azul, está relacionado com ataques à distância; já o lado esquerdo, e representado a amarelo, é toda a parte stealth. Cada ponto de habilidade que usarem na vossa skill tree aumenta o vosso poder de jogo, significa por isso que deixou de existir o nível que existia nos jogos anteriores, mas passamos a ter um poder, que tem a ver com as habilidades que fomos desbloqueando. É uma forma camuflada de não ter sistema de nível do jogador, mas que no fundo continua a existir, já que precisamos de XP para conseguirmos obter os pontos de habilidade para gastarmos na skill tree. A skill tree também tem uma particularidade interessante, isto é, ela é construída por pequenas outras skill trees, o que acontece porque a maioria dos pontos de habilidade que vamos gastar serão em coisas como +2 de dano, +2 de chance de critico, +7 de resistência, entre outras coisas. Mas no centro das pequenas skill trees existe sempre uma habilidade especial, como por exemplo Eivor rolar quando salta de grandes alturas para sofrer menos danos; desviarmos no tempo certo e o tempo ficar parado momentaneamente, diminuindo a velocidade para darmos golpes nos inimigos; esmagar a cabeça do inimigo quando este estiver no chão; entre outros.

O terceiro e último ponto importante nos combates tem a ver com as aptidões. Existem as aptidões à distância e as aptidões corpo a corpo. Ao todo podemos ter equipadas 8 aptidões (4 para cada uma delas), e que vamos adquirindo ao longo da nossa jornada. Existem para todos os gostos, e não podemos estar sempre a usá-las, já que precisamos de adrenalina para isso, sendo que esta é ganha quando acertamos golpes nos inimigos, quando nos desviamos, ou mesmo quando os matamos ou defendemos golpes. Existem aptidões incríveis, que dão bastante dano, e conseguem por vezes fazer-nos ganhar um combate que parecia pedido.

Os combates mais complicados são mesmo aqueles que teremos de fazer contra os membros da Ordem dos Anciões. Chega a ser frustrante por vezes, já que são várias as vezes que estamos a defender um golpe com o nosso escudo, mas de nada isso serve já que as armas deles acertam-nos como se o escudo não existisse. Para não falar do nível ilimitado de itens que possuem, e se nós temos por exemplo 12 setas para usar, eles têm setas infinitas, assim como granadas de fogo infinitas, entre outras coisas. São aqueles pormenores que chegam para frustrar o jogador, e que na verdade não havia necessidade de serem assim.

Quando à componente gráfica está muito boa, os cenários estão excelentes, levando-nos ao século IX. Obviamente que sempre numa versão bastante mais soft, não sendo possível verificar a pobreza daquele tempo, ou mesmo a crueldade da época, e um exemplo disso é sermos penalizados por matar um civil, algo absurdo, uma vez que estamos a falar de um tempo em que não haviam limites para a brutalidade; os Vikings quando pilhavam, destruíam e matavam tudo e todos, e sem qualquer tipo de moralidade. Tudo isso foi suavizado pela Ubisoft, não dando essa ideia, e acho mesmo que a parte mais cruel que vamos encontrar é sempre que fazemos as incursões os vikings que nos acompanham queimam tudo o que encontram. Graficamente as lutas estão também bastante boas, com sangue a saltar quando atingimos alguém, e por vezes até uma animação da nossa espada a acertar num órgão vital do adversário. Existem igualmente animações quando cortamos a cabeça de alguém, e nesse aspecto gostei bastante do visual apresentado. Algo que ficou a faltar foram alguns caminhos mais movimentados, e mais animais a vaguearem por zonas não habitadas. As movimentações dos personagens estão bem feitas, embora por vezes os NPC façam coisas completamente absurdas, como andar contra paredes, dar saltos de 20 metros e caírem à nossa frente passado uns segundos, isto é, aqueles pequenos bugs que a maioria destes jogos de mundo aberto apresentam.

Não me esqueci de Layla Hassan e do Animus, mas a verdade é que ao contrario dos primeiros jogos de Assassin’s Creed, em que Desmond Miles tinha um papel bastante importante, agora Layla parece apenas um acessório para a franquia continuar a ter um Animus e continuar ligada à história original do jogo. Seja como for, quem acabou Assassin’s Creed Odyssey na sua totalidade vai perceber o seguimento da história, quanto aos outros ficaram um pouco confusos com o que se passa e até porque alguns personagens conhecidos da franquia voltam a aparecer.

Assassin’s Creed Valhalla conseguiu oferecer o melhor que Origins e Odyssey tinham, ainda acrescentando algumas novidades muito boas, é um jogo que ultrapassa facilmente as 50 horas de jogo, mas que ainda assim não cansa, já que o equilíbrio foi muito bem alcançado pela Ubisoft, e em muitos poucos momentos senti que estava a ser um jogo repetitivo. Se são fãs da franquia vão adorar certamente este Valhalla, se não são, é uma boa oportunidade de voltarem ao mundo de Assassin’s Creed.

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Rui Gonçalves
Desde o tempo do seu Spectrum+2 128k que adora informática. Programador de profissão nunca deixou de lado os jogos, louco por RPGs e jogos de futebol. Adora filmes de acção e de ficção científica, mas depois de ver o Matrix nunca mais foi o mesmo.
analise-assassins-creed-valhalla<h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #339966;">SIM</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Missões principais e secundárias com bom conteúdo</li> <li style="text-align: justify;">Mapa interessante e com bons locais para explorar</li> <li style="text-align: justify;">As incursões estão bastante interessentes</li> </ul> <h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #ff0000;">NÃO</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Pequenos bugs</li> <li style="text-align: justify;">Inventário infinito dos membros da Ordem dos Anciões</li> </ul>