Developer: LocalThunk, PlayStack
Plataforma: PlayStation 5, Xbox Series X|S, PlayStation 4, Xbox One, PC
Data de Lançamento: 20 de fevereiro de 2024

Em alguma fase da vida, de uma maneira ou de outra, é quase certo que acabamos por jogar Poker com amigos e desconhecidos. Seja numa cartada na praia, em casa com amigos, online ou até mesmo dentro de um videojogo, mesmo que ele não seja sobre isso é fácil tropeçarmos num dos jogos mais famosos de cartas. Assim de repente, lembro-me de jogar em Red Dead Redemption 2, GTA San Andreas e Watch Dogs, tudo jogos que nem estão relacionados com a temática, mas graças aos seus ambientes, são propícios para que tal aconteça em Saloons ou Casinos. Lembro-me ainda, há uns bons 15 anos, de passar algumas horas em Governor of Poker, esse sim dedicado ao específico jogo de cartas que conhecemos como Poker.

Aqui a jogada é outra, Balatro é um jogo que agarra nos fundamentos do Poker, mas dá-lhe uma nova vida, uma nova alma e para mal, ou bem, dos nossos pecados, um novo vício. Estamos perante um Poker roguelike, mas com os Jokers em cima da mesa para mudar o sentido daquilo que são as bases deste jogo de cartas original. Para quem acha que jogar poker é uma valente seca e é repetitivo, tem aqui uma boa oportunidade de mudar de opinião e quem sabe até ficar com o vício deste novo género.

O jogo é um indie que saiu em fevereiro deste ano de 2024, mas só este verão consegui jogá-lo com o tempo necessário para vos trazer aqui as minhas impressões. E não podiam ser melhores. Para um jogo em que “se vendesse 10 cópias já era bom”, segundo o seu criador independente conhecido como LocalThunk, a verdade é que as vendas superaram em muito todas as expectativas, de tal maneira que chegará aos dispositivos móveis ainda neste mês de setembro, o que dará ainda uma maior dimensão ao jogo. Também vimos muito recentemente a sua integração noutro indie de sucesso do ano passado, o Dave The Diver, o que mostra o respeito e consequentemente a qualidade que o jogo tem. Até podia ser só um daqueles jogos em que se vai tornando moda e acabamos por jogar, mas não é esse o caso. Balatro não é nenhum bluff, mas sim uma aposta ganha que estará certamente na minha lista de jogos do ano. 

Baralhadas as cartas é hora de ir a jogo, o que é relativamente simples no início. Tal como no Poker, o objetivo é apresentar à mesa uma boa mão, seja com um ou dois pares, um full house, um seguido, cor ou mesmo um poker com quatro cartas iguais. A cada mão que apresentamos são atribuídos pontos pelas cartas que jogamos. Esses pontos podem ser exponenciados conforme os jokers que temos ativos, mas já lá vamos a essa parte. Para já a preocupação é jogar o puro poker e na primeira ronda só interessa as cartas que nos calham. Podemos apresentar um certo número de mãos e temos também a hipótese de descartar um certo número de vezes. Numa primeira vez podemos ir a jogo três vezes, as mesmas que podemos mandar fora uma data de cartas que não nos interessa naquele momento. Este número de vezes também altera conforme o tipo de baralho, mas lá chegaremos.

Aqui percebemos também como funciona o jogo e que cada fase é composta por três duelos. No primeiro temos a chamada small blind, que é como quem diz, uma pequena aposta, em que temos de bater uma certa pontuação. Passando essa, teremos depois a big blind, com o objetivo de ultrapassar uma pontuação ainda maior e por último um boss que nos coloca sempre com uma situação de desvantagem. Para chegar ao fim, se é que Balatro tem um fim, o número de rondas que teremos de passar são oito. Feitas as contas serão 24 rondas, mas na maior parte das vezes não chegarão lá, ou não fosse isto um roguelike. Entre estas rondas, fazemos dinheiro que serve para comprar cartas de vários tipos para nos ajudar ao longo da jornada. 

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Existem vários tipos de cartas com especial destaque para os jokers. São imensos os que vão encontrar e cada um bastante específico naquilo que faz. Vão ver cartas que vos dobram ou triplicam a pontuação, outras que vos dão mais extras se apresentarem dois pares, um full house, ou outro tipo de mão, se tiverem uma figura ou um ás e por aí fora. Pode parecer que há poucas hipóteses para jokers, mas acreditem que as possibilidades são quase infinitas. No nosso jogo base podemos contar com até cinco jokers, mas não está fora a hipótese de usar mais um ou outro em certas rondas, conforme as cartas que nos calham ou que compramos. 

Aos jokers, juntam-se os planetas, cartas que aumentam o nível de cada tipo de mão que apresentamos. Estas cartas podem dar mais valor às nossas jogadas e à medida que vamos passando bosses, torna-se fundamental que o nosso jogo esteja muito evoluído para obtermos uma pontuação grande. Há também as cartas de tarot, que podem acrescentar mais diversidade ao nosso jogo, como por exemplo conseguir ir a jogo com mais uma mão, ter mais uma ronda de descarte ou por exemplo colocar a carta da direita igual à da esquerda. Há mais uma data de possibilidades que associadas aos jokers, permitem que cada sessão de jogo de Balatro seja diferente daquelas que já jogamos anteriormente.

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Estas cartas de tarot permitem também, em certos casos adicionar ao nosso baralho novas cartas mais valiosas que ficam marcadas e valem mais que as normais. Não é estranho terem um baralho com duas ou três cartas iguais no final de algumas rondas. Sabem que estão a fazer tudo bem se elas forem mais valiosas e por isso quantas mais tiverem, melhor. Imaginem ter três ases de espadas no baralho, isto significa que têm ainda mais outros três ases dos restantes naipes. Pior é que os bosses muitas vezes não permitem usar cartas de um determinado naipe, mas isso são tudo decisões que vamos adaptando conforme os bosses que teremos de enfrentar.

É por isso importante estudar um pouco cada fase, pelo menos ver qual a vantagem que o boss vai usar. Se ele não permitir cartas de ouros, de nada vale melhorar cartas desse tipo durante essa fase. Podem vir a ser importantes nas outras mas arriscamo-nos a um game over prematuro sem necessidade. Os bosses também variam de jogo para jogo e os seus “poderes” idem. Há uns que nem nos permitem ver as cartas das primeiras jogadas e outros que destroem algumas cartas nossas específicas. Tudo para nos dificultar a vida. 

Como um bom roguelike, digno de seu nome, vão perder muitas vezes e voltar ao zero. É preciso ter sorte, às vezes, muita sorte para chegar o mais longe que conseguirmos em Balatro. Para dar mais aleatoriedade e possibilidades ao jogo, em cada sessão de jogo vamos desbloqueando novos baralhos com novas cores. Cada cor tem uma característica específica e normalmente espelha-se na possibilidade de ir mais vezes a jogo ou de mandar fora cartas um maior número de vezes. 

A isto junta-se ainda a dificuldade do jogo que no início está bloqueada, bem como diversos desafios que teremos de desbloquear também. Há também a parte da coleção, com uma espécie de caderneta com as cartas joker que já compramos, com todas as fichas de bosses que já derrotamos e com todos os itens que existem dignos de serem colecionados.

A cada sessão de jogo há muitas surpresas lá pelo meio e quanto mais jogamos, mais vamos aprendendo e sabendo com que jokers contar. Não significa que numa das sessões eles nos ajudem e noutra não, mas há uns que são demasiado bons para serem desperdiçados à partida. Também é bom serem bons a fazer contas de cabeça, ou pelo menos a ter uma noção de matemática, não vá um par de valetes ser mais valioso que um trio de ases. Sem jokers, seria fácil saber que não, mas com tanta condicionante, nem sempre o que parece é.

Visualmente, o jogo utiliza o badalado pixel art, mas daqueles que parecem atuais e não os que continuam a ser os jogos do passado. Para quem jogou Dave The Diver, é praticamente o mesmo estilo, mas em cartas. A disposição da informação e a própria mesa de jogo é limpa e dá-nos uma ideia clara daquilo que está em jogo, tornando muito simples aquilo que é, na realidade, bastante complexo.

A única característica que eu não gosto no jogo é a banda sonora que se resume umas trilhas um bocado chatas, mas é um pormenor facilmente ultrapassável, basta colocarem o spotify a tocar na própria consola, ou um podcast a acompanhar o vosso jogo. É uma bela forma de fazer duas coisas ao mesmo tempo. Já agora, este é daqueles jogos que podem jogar dez minutos ou horas a fio, o problema é que muitas vezes quando se dá por nós, esses dez minutos transformam-se em meia hora bem passada. Com a chegada aos dispositivos móveis, algo me diz que vão existir muitos ecrãs com o jogo nas viagens de metro ou autocarro entre a casa e o trabalho.

Balatro é um vício divertido que se pega muito facilmente. Para um jogo indie com um preço baixo é uma das pérolas deste ano que merece ser jogado por todos. Reinventa o Poker e acrescenta-lhe um estilo roguelike, dando uma nova vida a um dos jogos mais famosos de cartas. Sem batota nem bluffs está aqui um forte candidato a indie do ano. Da minha parte, está no topo da lista.

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Élio Salsinha
Aprendeu a jogar ao Pedra, Papel, Tesoura com o Alex Kidd e a contar até 100 com o Sonic. Substituiu a Liga da Malásia pela Liga Portuguesa no Fifa 98 e percebeu que havia jogos melhores que filmes com o Metal Gear Solid.
analise-balatro<h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #339966;">SIM</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Nunca Jogar Poker foi tão divertido</li> <li style="text-align: justify;">Imensas possibilidades e combinações de jogo</li> <li style="text-align: justify;">Os diversos tipos de joker</li> <li style="text-align: justify;">Torna simples o que parece complexo</li> </ul> <h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #ff0000;">NÃO</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">A trilha sonora é chata</li> <li style="text-align: justify;">Há bosses muito complicados que às vezes calham nas primeiras rondas e estraga a progressão</li> </ul>