Developer: Experiment 101, THQ Nordic
Plataforma: Xbox One, Xbox Series, PlayStation 4, PlayStation 5 e PC
Data de Lançamento: 25 de Maio de 2021

Desde o momento da apresentação de Biomutant que a expectativa era altíssima. E houve um período sem novidades que se chegou a temer o pior, especialmente porque era um jogo que estava a ser desenvolvido por um pequeno grupo de pessoas, quando rebentou a pandemia. No entanto o silêncio foi quebrado e chegou inclusivamente com uma data de lançamento que nem estava muito distante.

Finalmente o lançamento. Biomutant vê agora a luz do dia, e as opiniões começam a ser conhecidas. Um jogo com um uma proposta ousada, tendo em conta o cocktail de concepções e a própria dimensão do mundo que fora criado. E louva-se a coragem de que um pequeno estúdio como o Experiment 101 tenha sonhado alto e sem receio de seguir as suas ideias até ao fim.

Biomutant inspira-se em vários clássicos, e uma das coisas mais incríveis que consegue é tornar a nossa aventura familiar e distinta ao mesmo tempo. Jogos como The Legend of Zelda: Breath of the Wild, Fable, Devil May Cry e Ratchet & Clank estão bem representados nas mecânicas do novo título da THQ Nordic. E na maioria das vezes funciona muito bem, entregando uma experiência original e divertida.

Tem, igualmente, uma inclinação muito oriental, tanto na materialização da história, como em numerosos dos elementos que a compõem. Esse estilo sobressai na música e no carácter artístico do jogo, mas também nas mensagens de sabedoria e nas lições de vida que vão acompanhando a jornada do protagonista.

Esse é um bom exemplo das imensas peculiaridades de Biomutant. Mas não é a única. Na verdade, quando olhamos para a sua complexidade e temos a paciência para tolerar um conjunto de tutoriais demasiadamente exaustivos, é um jogo que se liberta aos poucos, agarrando-nos mais e mais, à medida que nos vamos sentindo mais confortáveis com a história, a jogabilidade e os diversos subsistemas de progressão.

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O início encarrega-se logo de nos dar um enquadramento sobre a história. Era uma questão de tempo até que a perversa e arrogante ambição do homem levasse o planeta a arranjar forma de se defender. E os humanos são agora uma memória distante e praticamente desconhecida do passado. A sua aparente extinção deu origem a que uma nova espécie tomasse o seu lugar – seres antropomórficos que reproduzem hábitos que outrora foram nossos.

Nunca conhecemos o nome do protagonista, e isso até talvez seja o menos importante. No fundo, é apenas o veículo que nos transporta para um mundo que é hoje bem diferente do que conhecemos. O narrador é o nosso intermediário, não só na tradução dos diálogos com outras personagens (que usam de um dialecto que não entendemos), como na explicação de tudo o que nos rodeia.

A história é contada em tom de fábula, e aborda o velho conflito entre a luz e a escuridão. Todavia, não o interpretem como uma simples luta entre o bem e o mal, porque o que Biomutant tenta demostrar, é que não existe uma realidade sem um contexto, sobretudo quando se trata de sobrevivência.

A árvore da vida está à beira da destruição, e para piorar, quatro criaturas colossais chamadas de “Devoradores” pretendem acelerar o processo, comendo as suas raízes.  E, no fundo, seremos nós que, de uma maneira ou de outra, iremos influenciar o seu destino. Esse é o ponto de partida para a história e para o sistema de moralidade que é um dos principais elementos do jogo.

Enquanto vamos conhecendo a história global, teremos alguns vislumbres sobre o passado do protagonista, e em especial sobre a relação com a sua mãe, uma lendária mestre de Wung Fu. É uma jogabilidade paralela, e que inicialmente serve também como manual de introdução a algumas mecânicas.

 Se tivesse de definir Biomutant numa palavra, seria, certamente, “personalização”. Quase tudo pode ser modificado ao nosso gosto, começando pelo protagonista, que na sua criação, o seu aspecto físico está fundamentalmente ligado à escolha dos atributos, da espécie e da classe.

Temos seis Breeds – ou espécies, se preferirem – (Primal, Dumdon, Rex, Hyla, Fip e Mergel) que reúnem um conjunto de características e atributos (Vitality, Strenght, Intellect, Charisma, Agility e Luck). Podemos ainda escolher a cor primária e secundária, o que proporcionará os estilos mais excêntricos. Tudo terá uma importância na aparência final quando criamos a personagem.

Quanto às classes, são cinco (Dead-Eye, Commando, Psi-Freak, Saboutear e Sentinel. Todas geram uma jogabilidade singular, o que torna quase impossível não encontrarmos aquela com a qual mais nos identificamos. Algumas são mais especializadas, enquanto outras se focam na flexibilidade, no entanto, todas têm uma habilidade passiva que orientam para um certo tipo de gameplay.

As habilidades activas existem no separador das Mutações – os poderes que o protagonista vai aprendendo ao longo do jogo, e das mais variadas maneiras. As Mutações estão divididas em três categorias (Biogenetics, Psi-powers e as Resistências).

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 Os dois primeiros usam a nossa energia espiritual, o Ki, sendo que os Psi-Powers estão ligados aos elementos da natureza, como o fogo, gelo e electricidade, mas também aos poderes da mente, como a levitação e a telecinesia. Já as Biogenetics são mutações biológicas que infligimos ao nosso corpo, são normalmente mais bizarras, e muitas vezes ligadas à toxicidade que domina o mundo. Por fim, as Resistências, que são habilidades passivas que, tal como o nome indica, influenciam a protecção que temos contra determinado elemento, radiação, ou ameaça biológica.

Os Psi-Powers têm outra particularidade interessante, e relacionam-se com a nossa aura – o sistema de moralidade que se vai moldando às nossas decisões e diálogos. Significa por isso que alguns poderes estão do lado da luz, enquanto outros se alimentam dos nossos impulsos mais dissolutos.

Esses dois lados estão representados na forma de facções, que são tribos às quais nos vamos aliando e que vão alterando a nossa aura conforme o seu posicionamento. Tem a usa própria quest line, e é uma escolha importante, porque irá determinar os nossos poderes, assim como as armas e armaduras tribais que podemos usar.

As recompensas foram bem distribuídas pelas imensas missões que estão disponíveis, tanto principais, como secundárias. Podemos sentir que no caso das missões secundárias nem sempre há um enredo que seja interessante de desvendar, por outro lado, costuma compensar nos ganhos materiais para a personagem, e não sendo longas, não é nada que nos custe fazer.

O arsenal também é vasto, com diversas armas brancas e de fogo. Espadas de duas mãos, staffs, punhos, pistolas, espingardas, metralhadoras, enfim, o que possam imaginar. No topo disso, ainda podem ser modificadas por partes, num original sistema de crafting (o que se estende também às peças das armaduras).

As opções são tantas que, como devem calcular, só podiam proporcionar um combate frenético, onde cada batalha parece única. Embora tenha alguns problemas – nomeadamente na falta de sensação de impacto dos golpes – tem momentos em que consegue ser verdadeiramente espetacular, e em particular quando já aprendemos alguns combos associados à nossa arma de eleição; combos esses que vamos aprendendo à medida que vamos acumulando pontos quando subimos de nível.

Os inimigos são de diversos tipos, porém, recorre normalmente ao padrão de um mini-boss acompanhado de minions, que servem essencialmente para atrapalhar, já que não são propriamente uma ameaça. E não esquecer dos quatro world bosses, os tais “Devoradores” que serão depois parte central na história e na nossa progressão.

O mapa de Biomutant é enorme, e ainda que às vezes pareça pouco preenchido de inimigos, a sua atmosfera e ambientação são simplesmente deslumbrantes. Felizmente, temos outros animais que podemos montar e que nos ajudarão a deslocar mais rapidamente em direcção aos objectivos. Aqui, a variedade é igualmente grande, com animais terrestres, marítimos, aéreos e até mecânicos, ou seja, para todos os gostos.

A qualidade gráfica de Biomutant é absolutamente fantástica, especialmente na Xbox Series X e na PS5. Seja nos cenários verdejantes à nossa volta, no design das personagens, ou nos efeitos visuais durante o combate, há que dizer que a direcção artística é espantosa. Há uma quebra de frames ocasional, mas é algo que provavelmente será melhorado com alguns updates.

 Sonoramente, tem os seus altos e baixos. A escolha da música encaixa de forma perfeita, num tom oriental e místico que torna a aventura mágica. O problema está mesmo no exagero do papel que é dado ao narrador, que se torna por vezes saturante e nos distrai da experiência.

Ainda assim, somando tudo, Biomutant é um jogo que impressiona pela sua originalidade. Demora a desenvolver – talvez até demais – mas quando decide expor todas as suas virtudes vai ficando cada vez melhor, oferecendo uma jogabilidade que, com alguns ajustes, tem potencial para ser incrível.

Provavelmente, o início de uma nova e importante franquia.

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Nuno Mendes
Completamente obcecado por tudo o que tenha a ver com futebol, é daqueles indesejados que passa mais tempo a editar as tácticas do PES do que a jogar propriamente. Pensa que é artista, mas não conhece as cores primárias, e para piorar, é ligeiramente daltónico. Recusa-se a acreditar que o homem foi à Lua.
analise-biomutant<h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #339966;">SIM</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Uma mistura de várias influências que funciona na maioria das vezes</li> <li style="text-align: justify;">Um combate bastante promissor</li> <li style="text-align: justify;">Fantástico graficamente</li> </ul> <h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #ff0000;">NÃO</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Alguns bugs</li> <li style="text-align: justify;">O narrador consegue ser saturante</li></ul>