Developer: Permanent Way Game
Plataforma: PlayStation 5, Xbox Series X|S, PC
Data de Lançamento: 7 de outubro de 2025

A primeira vez que vi os trailers de Blood of Mehran, devo confessar que achei que estávamos perante um jogo com potencial. Primeiramente porque a história, embora um pouco cliché, tinha margem para crescer já que se tratava de uma vingança pessoal. Depois, o tipo de combate mostrava uma mistura entre God of War e Assassin’s Creed, e o cenário, ambientado na antiga Mesopotâmia, trazia um toque de Prince of Persia.

Mas vamos então à história. O protagonista é Mehran, outrora um guerreiro respeitado nas terras da antiga Mesopotâmia, um homem de honra, devoto à família e à sua pátria. No entanto, o seu mundo desaba quando a sua mulher e o seu filho são brutalmente assassinados por ordem do rei que outrora serviu. O jogo inicia-se precisamente nesse momento de vingança, com Mehran a entrar no quarto do monarca responsável pela atrocidade cometida contra a sua família, dando início a um duelo intenso, carregado de raiva e desespero.

É a meio desse duelo que o jogo recua no tempo, mostrando o assassinato da família de Mehran e a sua incapacidade de os salvar. Além de assistir à tragédia, acaba por ser aprisionado numa cela por esse mesmo rei. Já nesse cativeiro, algum tempo depois, retomamos o controlo do personagem na tentativa de fugir daquele local, dando início à sua jornada de vingança. Mehran jura caçar todos aqueles que participaram na morte da sua família, um a um, e eliminar qualquer um que se atreva a colocar-se no seu caminho.

O enredo é linear e direto, e embora existam pequenos momentos que tentam expandir o mundo, inspirados em lendas, essas referências acabam por surgir de forma breve e pouco desenvolvida. Ainda assim, ajudam a criar uma certa atmosfera mística, dando a sensação de que há uma mitologia antiga por trás dos eventos, mesmo que o jogo nunca chegue a aprofundar esses elementos.

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Durante a jornada, percorremos cidades devastadas, desertos poeirentos e templos em ruínas, encontrando aliados e inimigos. Algumas dessas personagens são mercenários, sacerdotes corrompidos e antigos companheiros de guerra, muitos ajudam-nos em determinados momentos, enquanto outros aproveitam qualquer oportunidade para trair-nos.

À medida que a história avança, surgem flashbacks e visões espectrais em que Mehran revive memórias da esposa e do filho. Além de oferecerem peso emocional, esses momentos mantêm viva a motivação da vingança. Também há instantes em que Mehran fala sozinho, como se tentasse convencer-se de que a vingança ainda faz sentido, numa forma eficaz de mostrar o seu tormento interior.

Como é habitual neste tipo de jogos, em que a vingança é o motor da narrativa, vamos eliminando gradualmente os responsáveis pela tragédia, cada um deles guardando uma peça do passado de Mehran. Essa estrutura quase episódica culmina num reencontro final com o rei, o mesmo que vimos no início.

Embora o enredo sirva de contexto, é na jogabilidade e no sistema de combate que o jogo aposta mais forte. Blood of Mehran é um hack-and-slash que combina ataques leves e pesados, esquiva, parry e habilidades especiais que variam consoante a arma utilizada. Mehran começa com uma espada simples, mas ao longo da aventura vai desbloqueando novas armas que alteram significativamente o estilo de jogo.

As espadas duplas permitem ataques rápidos e eficazes em combos curtos, ideais para lidar com inimigos mais ágeis. Já a combinação de espada e escudo oferece uma abordagem mais defensiva, permitindo bloquear projéteis com relativa facilidade. Por fim, o arco-e-flecha surge como opção para ataques à distância, exigindo precisão e um bom posicionamento estratégico.

Cada arma tem a sua própria árvore de progressão, podendo ser melhorada nas lojas espalhadas pelos níveis e potenciada com pontos de experiência obtidos ao derrotar inimigos. A alternância entre armas torna-se essencial, já que diferentes adversários requerem abordagens distintas — arqueiros exigem bloqueio e contra-ataque, assassinos ágeis obrigam a reflexos rápidos e soldados com escudo só cedem a ataques pesados.

Apesar dessa variedade, o sistema de combate apresenta algumas fragilidades notórias. Os hitboxes inconsistentes fazem com que ataques falhem mesmo quando visualmente parecem acertar. O parry é inconsistente e nem sempre regista o timing correto. A esquiva carece de invulnerabilidade imediata, o que torna os confrontos com múltiplos inimigos frustrantes. Além disso, certos ataques imbloqueáveis punem o jogador de forma exagerada, exigindo reflexos quase perfeitos.

O jogo introduz também um sistema de Rage Meter, que oferece momentos de combate mais intensos. Quando ativado, Mehran entra num estado de fúria que lhe permite desferir ataques rápidos e devastadores contra grupos numerosos de inimigos, conferindo uma sensação momentânea de poder.

Outra mecânica presente é a furtividade. É possível atrair guardas com assobios, realizar eliminações silenciosas e explorar rotas alternativas. No entanto, o sistema é algo rudimentar e, por vezes, falha de forma frustrante, estragando completamente a experiência furtiva.

Os bosses destacam-se pelo seu tamanho e pelas múltiplas fases e ataques característicos, contudo, tendem a repetir padrões previsíveis, exigindo mais persistência do que estratégia. Alguns confrontos são puramente de combate direto, outros introduzem momentos de furtividade, e há ainda batalhas em que o boss é acompanhado por minions que tentam travar o nosso progresso.

No que toca ao design dos níveis, o jogo apresenta uma estrutura linear, com ambientes variados e visualmente apelativos, com alguns detalhes muito bem conseguidos. Cada cenário procura transportar-nos para uma Mesopotâmia antiga repleta de contrastes — desde locais banhados por uma luz dourada até ruínas silenciosas que “respiram” solidão e mistério.

Para dar uma ideia mais clara e entrando nos detalhes gráficos, encontramos mercados vibrantes com barracas que vendem tecidos coloridos e diversos produtos, multidões a circular e uma luz solar intensa. Há também castelos e torres que exigem escalada, corredores sinuosos, escadas estreitas, dunas e desertos que transmitem de forma convincente a sensação de isolamento e vastidão.

Assim, é fácil perceber que o jogo apresenta uma boa riqueza ambiental e artística. Ainda assim, há pormenores que saltam à vista, como personagens com modelos pouco detalhados e animações com falhas; brilhos excessivos em certas superfícies e expressões faciais algo artificiais. Nada de surpreendente num jogo ambicioso vindo de um estúdio indie sem os recursos dos grandes produtores.

Um dos problemas que o jogo apresentou e que se espera resolvido com as próximas atualizações foram as quedas de frame rate, especialmente em batalhas com muitos inimigos, além de texturas e objetos que por vezes demoram a carregar. Apesar disso, nada que impeça a experiência de jogo.

A banda sonora cria bons momentos, especialmente nas passagens mais calmas ou dramáticas, acompanhando adequadamente a ação. Já as vozes das personagens, incluindo a de Mehran, deixam bastante a desejar, faltando-lhes a emoção que as cenas tantas vezes pedem, o que prejudica a imersão entre o visual e o sonoro. Os efeitos durante os combates, por outro lado, são competentes e eficazes.

Blood of Mehran é um jogo ambicioso, mas com diversas limitações técnicas. O combate oferece variedade de armas e momentos satisfatórios, embora precise de melhorias para evitar frustrações e falhas que podem comprometer o seu sucesso. É um hack-and-slash que precisava de mais polimento para atingir o que se propõe. Esperemos que futuras atualizações o melhorem, pois tem tudo para ser uma experiência bastante interessante.

REVER GERAL
Geral
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Rui Gonçalves
Desde o tempo do seu Spectrum+2 128k que adora informática. Programador de profissão nunca deixou de lado os jogos, louco por RPGs e jogos de futebol. Adora filmes de acção e de ficção científica, mas depois de ver o Matrix nunca mais foi o mesmo.
analise-blood-of-mehran<h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #339966;">SIM</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Ambiente gráfico bem conseguido</li> <li style="text-align: justify;">Linearidade dos níveis</li> <li style="text-align: justify;">Combate diversificado consoante o tipo de arma usada</li> </ul> <h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #ff0000;">NÃO</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Combate pode frustra devido a algumas falhas</li> <li style="text-align: justify;">Voice acting muito abaixo do esperado</li> <li style="text-align: justify;">Algumas quebras de frame rate</li> </ul>