Developer: Kruger & Flint Productions
Plataforma: PC
Data de Lançamento: 18 de julho de 2023

Sempre existiram first-person shooters que nos transportam para cenários extremamente grotescos. Doom foi um dos pioneiros nesse sentido, mas ao longo dos anos, muitos outros surgiram. Com o lançamento do seu remake, esse género ganhou nova vida, dando origem a novos jogos, novas ideias, e com muitos estúdios a tentarem a sua sorte com este conceito.

Bloodhound emerge nesse cenário como um claro exemplo de boomer shooter, procurando inspiração em clássicos como Doom e Quake. Estes são gigantes no universo dos videojogos, e embora seja difícil para o primeiro jogo da Kruger & Flint Productions atingir esses patamares, o jogo consegue oscilar entre momentos promissores e falhas comprometedoras, resultando numa experiência que deixa o jogador um tanto hesitante.

O estúdio tentou criar um universo intrigante, com a narrativa a desenrolar-se em bandas desenhadas, sem qualquer texto ou som, quando estamos no início dos níveis, para termos um enquadramento do que se passa. Embora seja uma escolha interessante, com uma atmosfera única que oferece uma característica diferente do habitual, nem sempre consegue envolver os jogadores.

Depois temos ainda a escolha da temática satânica e a inclusão de elementos de nudez, destinados a chocar. Parecem artifícios para chamar a atenção, em vez de uma integração orgânica na atmosfera do jogo. Esta abordagem controversa não só falha em convencer, como pode até afastar alguns jogadores.

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Apesar de Bloodhound oferecer uma seleção intrigante de armas, a execução da jogabilidade deixa a desejar. Um ponto crítico é a falta de peso nas armas, comprometendo a sensação de impacto, um elemento crucial para a autenticidade dos boomer shooters. O design linear dos níveis do jogo, apesar de criar ambientes macabros, torna-se cliché com o avançar do jogo, faltando ideias inovadoras nas situações de combate.

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Um ponto crítico e talvez o pior do jogo é a abordagem do sistema de spawn de inimigos, juntamente com a restrição do jogador a determinadas áreas durante o combate, contribuindo para uma experiência repetitiva e, em muitos casos, frustrante. Não faz sentido limpar uma sala cheia de inimigos, apenas para ser surpreendido por uma nova onda chegar perto da porta de saída. Ainda para mais, quando estes aparecem nas costas, como que por magia, com spawns absurdos, e sem sentido. Em muitos casos levará, certamente, à desistência do jogador.

Algo que certamente agradará é o arsenal diversificado de Bloodhound, embora a experiência de combate seja prejudicada pela falta de impacto nas armas. Ainda assim, o jogo proporciona ações secundárias para cada arma, permitindo que o jogador crie novas estratégias durante o combate, apesar de, por vezes, isso não consiga ser explorado devidamente por causa do caos, tornando esse recurso irrelevante e perdendo a oportunidade de proporcionar uma experiência de jogo mais profunda e envolvente.

Apesar dos seus problemas, Bloodhound possui aspectos positivos. A variedade de inimigos e os power-ups proporcionam alguma diversidade nas batalhas, oferecendo momentos em que o jogo se destaca. Mecânicas únicas, como a transformação em besta, merecem destaque, mas muitas vezes são ofuscadas pelas falhas mais abrangentes do jogo.

Graficamente, o jogo possui momentos satisfatórios, mas carece de animações convincentes ao empunhar armas, comprometendo a imersão. A inclusão de elementos de nudez, embora chame a atenção em alguns momentos, parece forçada quando olhamos para o contexto do jogo. Além disso, as texturas deixam a desejar, pois o jogo não se posiciona como um título retro, nem como um jogo que adote uma estética actual.

A banda sonora é claramente influenciada por Doom Eternal, mas não consegue manter a mesma intensidade durante o jogo, o que é uma pena, pois é um elemento essencial nesse tipo de jogos. Os efeitos sonoros poderiam ser melhores, e a ausência de sons para o spawn de inimigos contribui para uma experiência sonora abaixo das expectativas, afetando a imersão do jogador.

Diria mesmo que uma característica apreciada em alguns indies é a capacidade de criar algo totalmente diferente, surpreendendo até os estúdios de jogos AAA. Neste caso, parece que o estúdio teve medo de inovar, optando por algo mais convencional.

Bloodhound é um jogo que oscila entre ideias intrigantes e a frustração do jogador. O jogo falha ao tentar destacar-se com elementos controversos, especialmente quando apresenta deficiências na jogabilidade, narrativa e apresentação. Num cenário de boomer shooters cada vez mais saturado, Bloodhound torna-se mais um jogo que não se destaca em relação aos outros. Ainda assim, tem o seu potencial, mas a execução das suas ideias e conceitos deixou a desejar, e com mais cuidado em certos aspectos, o jogo poderia alcançar patamares mais razoáveis.

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Geral
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Rui Gonçalves
Desde o tempo do seu Spectrum+2 128k que adora informática. Programador de profissão nunca deixou de lado os jogos, louco por RPGs e jogos de futebol. Adora filmes de acção e de ficção científica, mas depois de ver o Matrix nunca mais foi o mesmo.
analise-bloodhound<h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #339966;">SIM</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Boa quantidade de armas</li> <li style="text-align: justify;">Transformação em besta é uma ótima ideia</li> </ul> <h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #ff0000;">NÃO</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Maneira como a narrativa é contada deixa a desejar</li> <li style="text-align: justify;">O spawn dos monstros é absurdo</li> <li style="text-align: justify;">Falta de sentir as armas</li> </ul>