Developer: Kruger & Flint Productions
Plataforma: Xbox Series, Xbox One, PlayStation 4, PlayStation 5 e PC
Data de Lançamento: 16 de Agosto de 2024

Lançado num cenário algo saturado, Bloodhound é mais uma tentativa de recuperar a essência dos boomer shooters — um subgénero que ganhou novo fôlego graças à popularidade de títulos como DOOM. Desenvolvido por um estúdio independente de pequena escala, Bloodhound procura conquistar o seu espaço sem grandes ambições narrativas ou inovações mecânicas, apostando sobretudo numa jogabilidade rápida, numa estética infernal estilizada e numa experiência visceral que remete diretamente à década de 1990.

Mas, num mercado onde todos os jogos acabam por ser inevitavelmente comparados aos gigantes do género, a pergunta que se impõe é: será que basta evocar o passado para se destacar no presente? Bloodhound é, no fundo, um jogo que sabe exatamente o que quer ser — um festival de tiros e sangue ao estilo antigo. A sua curta duração impede que se torne aborrecido, mas também impede que deixe marca. É, acima de tudo, uma experiência de fim de semana: intensa, direta, por vezes divertida — e facilmente esquecível.

É um jogo que não esconde as suas inspirações nem as suas ambições. Desenvolvido pela Kruger & Flint Productions, um estúdio polaco, foi pensado claramente para agradar a esse nicho de jogadores que continua a procurar títulos crús, intensos, e onde a história é apenas um pano de fundo, visto o foco estar todo na acção. Longe de competir com orçamentos milionários ou tecnologias de ponta, o estúdio aposta na estética retro, na violência exagerada e num game design que privilegia a adrenalina constante.

A narrativa é apresentada numa breve sequência de estilo comic book: um motard sem rosto ataca um culto satânico, abre sem querer um portal infernal e parte numa jornada sangrenta para impedir Astaroth de libertar as forças do Inferno. Após esse arranque, a história praticamente desaparece, cedendo lugar a uma sucessão de combates sem muito contexto ou desenvolvimento. Embora este estilo “minimalista” de contar histórias seja comum no género, Bloodhound leva-o ao extremo, deixando a sensação de que algo mais poderia ter sido feito para dar ao jogador uma motivação emocional ou intelectual.

 

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Ainda assim, o combate rápido e o arsenal variado conseguem, por momentos, recriar a sensação de caos controlado que define os melhores exemplos do género. O problema é que Bloodhound revela todas as suas cartas demasiado cedo — ao entregar quase todas as armas nas primeiras horas e ao não introduzir novas mecânicas ou inimigos que alterem significativamente o ritmo. O resultado é uma experiência que, embora intensa, perde o fôlego antes do tempo.

À primeira vista, o jogo oferece exatamente o que promete. Somos atirados para o meio da acção com apenas um revólver e uma catana, enfrentando avalanches de inimigos em arenas recheadas de sangue, fogo e carne demoníaca. A estrutura é simples: avançamos, matamos tudo o que mexe, recolhemos armas, e passamos à próxima área. Em poucas horas, o arsenal fica completo — um detalhe que, embora inicialmente entusiasmante, acaba por prejudicar o ritmo da progressão.

Com tudo disponível tão cedo, o jogo perde a capacidade de surpreender e entra rapidamente em repetição. Ainda assim, é inegável que o combate tem momentos de pura adrenalina, graças ao ritmo frenético e à constante pressão de manter-se em movimento. Por outro lado, todas as armas — grandes ou pequenas — têm uma sensação semelhante no manuseamento, o que enfraquece o feedback, cuja falta de peso afecta ligeiramente a satisfação sentida durante o combate.

A variedade de armas, no entanto, é inegável. Nenhuma das armas pertence à mesma categoria, o que garante uma diversidade mecânica entre elas. Além disso, cada arma (à exceção da catana) possui uma habilidade secundária ativada com o botão LT. Em três das armas, essa habilidade permite empunhar duas armas temporariamente; nas restantes, há variações como a espingarda que pode empurrar os inimigos com a coronha. Estas habilidades acrescentam uma componente táctica interessante, embora a sua utilização dependa de um tempo de relaod que limita o impacto durante os momentos mais caóticos.

 

 

O jogo também disponibiliza três habilidades adicionais, activadas pelo d-pad, que incluem: munição infinita por alguns segundos, desaceleração temporal (bullet time) e um aumento temporário do HP. Apesar de parecerem úteis no papel, a verdade é que o jogo raramente coloca o jogador em situações onde a sua activação seja urgente ou necessária. Como resultado, essas habilidades são facilmente esquecidas — e é possível completar grande parte da campanha sem recorrer a elas mais do que duas ou três vezes.

O mesmo se aplica ao sistema de rage, activado após encher um círculo no ecrã: ainda que aumente temporariamente o dano, a sua presença parece mais cosmética do que decisiva no fluxo dos combates. O ritmo dos confrontos é acelerado, sim, mas raramente desafiante no sentido mais profundo. A ausência de finishing moves contribui para uma sensação de brutalidade menos gratificante, embora a boa qualidade das animações de desmembramento ajude a manter algum impacto visual.

Em termos de inimigos, Bloodhound procura manter o jogador constantemente sob pressão, com criaturas que variam nos seus padrões de ataque, armas e mobilidade. Essa diversidade inicial é bem-vinda e permite alguma exploração estratégica, com o jogador a ter de adaptar à movimentação e às fraquezas de cada inimigo. No entanto, a dificuldade não evolui de forma significativa ao longo do jogo, e os encontros começam a repetir-se com demasiada frequência. Pior ainda, os combates com bosses — uma oportunidade ideal para quebrar a rotina e introduzir novas mecânicas — são praticamente indistinguíveis das lutas normais, e funcionam mais como esponjas de dano, sem padrões que exijam leitura ou adaptação estratégica.

Apesar do seu orçamento limitado, Bloodhound apresenta um esforço visual consistente e funcional, sobretudo quando considerado o enquadramento em que se insere.  Aposta num estilo artístico agressivo violento, com ambientes infernais, texturas carregadas e um uso intenso de vermelhos e negros, de modo a construir uma atmosfera opressiva e visceral que condiz com o tema demoníaco da narrativa. Embora essa escolha estilística seja competente no geral, existem limitações técnicas visíveis que prejudicam o impacto visual a longo prazo.

 

 

Os inimigos destacam-se como um dos aspetos mais trabalhados no campo gráfico. O seu design é criativo e varia de forma assinalável — seja nas formas grotescas, no design das armas ou nas animações durante o combate. Particularmente satisfatórias são as animações de desmembramento, que ocorrem frequentemente e ajudam a sublinhar a brutalidade da acção. Neste particular, Bloodhound acerta em cheio no espírito do género, entregando um espetáculo visual que evita o fotorrealismo moderno em favor de uma identidade visual muito própria.

Um ponto interessante e positivo é a inclusão de um modo gráfico retro, intitulado “juicy retro style”, acessível através do menu de opções. Este modo permite ajustar a resolução de forma personalizada, variando de 240p a 1080p, o que simula o aspecto pixelizado dos shooters clássicos. É uma adição bem-vinda que mostra atenção ao legado visual do género e pode agradar aos puristas ou nostálgicos que procuram uma experiência mais autêntica. Embora não altere os modelos ou os efeitos visuais em profundidade, a alteração estética é suficiente para oferecer uma sensação distinta e apropriada ao estilo do jogo.

A componente sonora de Bloodhound é um misto de intenções louváveis, mas de execução inconsistente. A música cumpre o seu papel com energia e estilo, mas o design sonoro das armas e dos inimigos carece de variedade e impacto. Tal como acontece em outras áreas do jogo, sente-se aqui o esforço de uma pequena equipa com recursos limitados, que apesar de algumas soluções criativas, não consegue ocultar totalmente as suas limitações técnicas.

Bloodhound não reinventa o género, nem tenta competir com os grandes nomes que o definiram. Em vez disso, posiciona-se como uma proposta honesta e agressiva dentro de um nicho cada vez mais activo, mas ainda marginal, do panorama atual: o dos shooters retro, rápidos, brutais e cheios de estilo. Se esse é o tipo de experiência que procuras, então Bloodhound pode não só satisfazer essa sede nostálgica, como também surpreender pontualmente com o seu charme anárquico.

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Nuno Mendes
Completamente obcecado por tudo o que tenha a ver com futebol, é daqueles indesejados que passa mais tempo a editar as tácticas do PES do que a jogar propriamente. Pensa que é artista, mas não conhece as cores primárias, e para piorar, é ligeiramente daltónico. Recusa-se a acreditar que o homem foi à Lua.
analise-bloodhound-2<h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #339966;">SIM</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Ritmo intenso</li> <li style="text-align: justify;">Estilo visual retro eficaz</li> <li style="text-align: justify;">Combate visceral</li> </ul> <h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #ff0000;">NÃO</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Curta duração</li> </ul>