Developer: Edgeflow Studio
Plataforma: PC
Data de Lançamento: 26 de setembro de 2024

“Joguinhos de naves e tirinhos?! Ai isso é para o Dias!”

É sempre essa a frase que se ouve quando chega à nossa redacção um jogo do género, mesmo quando se trata de um RPG, deckbuilder, com combate por turnos. Efectivamente tem naves, tem tirinhas, mas é uma acção muito mais calculada e fria.

Em Breachway, o jogador explora um mapa galáctico navegando entre diferentes pontos, onde se depara com inimigos, eventos, estações espaciais, entre outros. O objetivo é construir e personalizar um baralho de cartas ao longo da campanha, com o intuito de derrotar o Boss final e alcançar um objetivo que poderia ser de qualquer filme de ficção científica. Apesar de algumas inovações, esta mecânica de progressão parece ser o ponto mais fraco do jogo atualmente.

Uma das principais diferenças em relação a outros jogos do género é a camada política presente no mapa estelar. Cada planeta é controlado por uma das várias facções, e a relação de cada uma delas com o jogador depende do tipo de nave escolhida no início e das decisões tomadas ao longo da campanha. Visitar um planeta hostil provavelmente resultará em combate, enquanto uma facção aliada pode oferecer suporte ou oportunidades comerciais. Esse sistema interliga os eventos e o mapa, permitindo ao jogador desenvolver a sua própria narrativa.

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No entanto, a falta de variedade nos eventos e a escrita genérica acabam por enfraquecer esse elemento. Muitas vezes, as missões resumem-se a tarefas repetitivas, como “Derrote três naves inimigas por uma recompensa” ou “Investigue um farol neste planeta”. Essas missões carecem de escolhas significativas ou consequências que envolvam o jogador e criem uma narrativa mais cativante. Essa é uma área que pode ser aprimorada durante o período de Acesso Antecipado, à medida que a Edgeflow Studio introduz novos conteúdos para enriquecer o jogo.

A maioria das interações acaba em combate, o que exige a gestão do combustível e a escolha das rotas para aceder a estações espaciais onde se pode reparar e melhorar a nave. No entanto, até agora, a exploração espacial em Breachway não se mostra tão imersiva ou envolvente quanto em títulos como FTL, que têm uma narrativa marcante que liga os eventos ao desenvolvimento dos personagens e à história pessoal do jogador.

A progressão no jogo também é limitada. Embora seja possível desbloquear naves e atualizações ao atingir certos marcos, completar várias campanhas sem grandes recompensas ou desenvolvimento tangível desmotiva, especialmente para um roguelike que depende dessa sensação de evolução contínua. A ausência de incentivos claros, como desbloquear naves especiais ao cumprir missões específicas, enfraquece a vontade de continuar a jogar, até mesmo para um fã de jogos de naves e tirinhos. Felizmente, o combate estratégico, que é o ponto alto do jogo, compensa em parte essa limitação.

Em Breachway, o combate é altamente estratégico e baseado na construção de baralhos, onde a aleatoriedade desempenha um papel significativo. A nave é composta por módulos específicos, como lasers, lançadores de foguetes e sistemas de escudo, cada um com um conjunto de cartas associadas. A gestão dos três tipos de energia do reator da nave é essencial para maximizar os recursos e adaptar as táticas em tempo real, como na clássica situação de “desviar toda a energia para os escudos!” comum em batalhas espaciais.

Além disso, o sistema de cooldown e aquecimento adiciona uma camada de complexidade. As cartas, após serem jogadas, vão para a pilha de cooldown e, dependendo do calor gerado, o jogador pode enfrentar penalidades como sobreaquecimento da nave, que bloqueia o uso de novas cartas. Esse sistema cria uma ligação direta entre a jogabilidade e o tema das batalhas espaciais, intensificando a estratégia.

O combate também envolve decisões sobre o uso de escudos, que perdem força gradualmente, e exige um equilíbrio cuidadoso entre defesa e ataque, pois cartas de escudo em excesso podem limitar as opções ofensivas do jogador. A variedade de armas, como canhões de trilho e sistemas de hacking, amplia ainda mais as possibilidades táticas, compensando a falta de diversidade na parte roguelike do jogo.

Os membros da tripulação também influenciam o combate, trazendo habilidades específicas para os módulos que supervisionam, como aumentar o poder de ataque ou fornecer energia extra. As suas habilidades são limitadas por cooldowns e recursos restritos, tornando a sua utilização uma decisão estratégica importante.

Visualmente, Breachway é extremamente agradável. Os desenhos das personagens naves e estruturas são todos estilizados em formato comic, com uma ligeira aparência de anime,  com os contornos reforçados e cores vibrantes. Tem aquele ar de ficção científica de alguns desenhos animados, com uma mistura de cel-sharing moderno. Em alguns momentos, nomeadamente o dos confrontos entre as naves espaciais, faz lembrar algumas iterações de videojogos do Star Trek, o que lhe confere um ar aprazível e interessante, quebrando alguma da monotonia que as missões e diálogos redundantes que o jogo tem.

Como ainda está em Acesso Antecipado, há algumas animações e efeitos técnicos que precisam de melhoramento, como quedas de framerate durante explosões ou algum arrasto. Apesar desses problemas, o Edgeflow Studio conseguiu criar um sistema de construção de baralhos que se encaixa perfeitamente à temática do jogo, com um combate espacial complexo e envolvente que já se destaca nesta fase inicial. No entanto, para atingir o mesmo nível de excelência de outros jogos do género, a componente roguelike precisa de mais variedade e recompensas que mantenham o interesse do jogador a longo prazo.

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Pedro Moreira Dias
Fundador do Site - Salão de Jogos, o Commodore Amiga 500 foi o seu melhor amigo durante décadas e ainda hoje sabe de cor a equipa principal do Benfica do Sensible Soccer 94/95. Nos tempos vagos ainda edita as botas dos jogadores do FIFA e do PES.
analise-breachway<h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #339966;">SIM</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Desenho estilo cartoon</li> <li style="text-align: justify;">Simples mas difícil ao mesmo tempo</li> <li style="text-align: justify;">Humor negro e apetecível</li> <li style="text-align: justify;">150 níveis desafiantes</li> </ul> <h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #ff0000;">NÃO</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Alguns níveis são deveras difíceis por isso tentem não espreitar as respostas</li> <li style="text-align: justify;">O jogo pode acabar por se tornar monótono </li> </ul>