Developer: HypeTrain Digital
Plataforma: PlayStation 4, Xbox One, Nintendo Switch e PC
Data de Lançamento: 25 de Março 2021
Primeiro que tudo aviso já que Breathedge é um jogo cómico, com uma narrativa bastante peculiar, com elementos malucos e sem qualquer sentido em alguns momentos. O próprio jogo informa logo no início que tudo aquilo a que vamos assistir não passa de um brincadeira e claro, para ninguém se ofender, caso veja alguma coisa mais fora da caixa.
O cenário montado é hilariante. Nós somos um astronauta que estamos no espaço para fazer uma espécie de funeral ao nosso avô que também era um astronauta e como tal decidiram fazer um evento para espalhar as suas cinzas no espaço, juntamente com uma data de outros exploradores espaciais.
Para mal dos nossos pecados, algo corre mal e uma explosão fortíssima deixa aparentemente tudo morto, menos nós, e leva o caixão para o espaço à deriva, juntamente com milhares de detritos e materiais que nos vão ser bem úteis para sobreviver. A partir daqui é connosco, sozinhos à procura de salvação.
Falta aqui introduzir outro dado bizarro. Na verdade, não estamos sozinhos, porque há uma galinha que estará connosco. Não me perguntem bem o porquê, mas até mete graça. A galinha é usada para colocar fim a curto-circuitos e é bastante útil. Mais, há fotos antigas espalhadas pelo que resta da nossa nave, do avô com a galinha. Não sei se é a mesma, mas até acredito que seja.
Essa parte da nossa nave funciona como base, onde vamos poder misturar os materiais que apanhamos em cada expedição que fazemos fora da nave. É nesse espaço que todos os perigos de Breathedge entram em ação. Como jogo de sobrevivência, à boa maneira de Subnautica, mas no espaço, vamos precisar de oxigénio, manter o corpo hidratado, comer e mais uma data de necessidades que são fundamentais para conseguir sobreviver. É também preciso colecionar materiais para construir instrumentos que nos ajudarão a ultrapassar os obstáculos que vamos ter pela frente. Algo que nos ajude a perfurar ou a detonar peças que vamos encontrando, bem como ferramentas para agarrar ou extrair algo são peças chave para sermos bem sucedidos.
A matriz do jogo é repetitiva e isso cria algum desconforto. Sair da nave para explorar, agarrar o máximo de materiais possível e voltar à nossa base para depois ir criando as várias ferramentas, criar rações e melhorar a nossa indumentária. Tudo isto se faz com muita calma e alguma paciência. Breathedge não nos dá nada de mão beijada, a não ser a tal galinha. Não bastam umas poucas viagens até fora da zona de conforto para termos tudo o que precisamos. São precisas dezenas, centenas de viagens até termos tudo aquilo que aquela galáxia nos pode dar.
Entre os perigos de falta de oxigénio, vamos ter de criar, ou encontrar “salas” intermédias para podermos respirar à vontade e assegurar que não nos falta o ar a meio de uma expedição. É preciso ter cuidado com o frio, uma vez que quando passamos por essas zonas ficamos com a visão praticamente congelada sem saber exatamente em que direção estamos a ir. E esses são segundos que podem ser fundamentais para continuar vivo ou ir desta para melhor. Também a radiação que existe é um problema, até diria que é “o problema”, isto porque quanto mais afastados tivermos da nossa base, mais radiação vamos apanhar e é preciso ter um equipamento bom para passar isso sem dificuldade. O que não achei fácil foi arranjar os materiais para esse equipamento, mas nada que umas horas de exploração não resolva.
O ritmo lento de Breathedge colocou-me num dilema. Por um lado, adorei a parte de estar a voar no espaço sem pressas, envolto com a música calma do jogo, não há muitos jogos que nos relaxem de tal maneira depois de um dia duro de trabalho. Por outro, esta calma é sinónimo de paciência necessária quando se quer avançar no jogo e isso não ajuda em nada a experiência. Os entraves que o jogo nos coloca para atingirmos certas zonas faz com que o jogo se torne chato em vez de divertido como era suposto. O ciclo repetitivo das viagens não ajuda em nada à imersão do jogo. Sair da nave, colecionar materiais, voltar à nave, combinar esses materiais e fazer novos para chegar mais longe na próxima viagem torna-se um procedimento tão automático que não é bom para a diversidade que esperava deste jogo de sobrevivência.
Não é que seja a solução, mas uma das soluções pode ser colocar o jogo num modo mais fácil. No modo “história”, onde a dificuldade não é tão grande. Aí deu para apreciar todos os detalhes de um jogo que quer ser cómico e conseguiu colocar-me a rir com alguns disparates e maluquices. Um exemplo disso foi quando encontrei dois astronautas mortos, ambos com comandos na mão e com um ecrã a dizer “Fatality”, numa clara alusão a Mortal Kombat. Há cartazes hilariantes, calendários mais atrevidos e cassetes para colecionar e ver com toda atenção. Há imenso conteúdo para explorar e o próprio interface do jogo ajuda nisso mesmo. Além das tarefas que temos para fazer aparecerem detalhadas, podemos mudar as cores dos indicadores das mesmas, o que permite fazer viagens e saber exatamente onde é que está o quê.
Para ajudar na exploração vamos também receber mensagens de uma Babe. O jogo chama-a assim e pela foto parece aquele spam que às vezes nos vai parar ao Facebook ou ao Instagram. Essa Babe vai nos dando informações de localização bastante úteis para explorar e encontrar novos materiais e novas zonas que se vão revelar fundamentais para alcançar o nosso objetivo. Há muito mesmo para explorar em Breathedge e preparem-se para umas boas 20 horas de jogo se quiserem terminar todos os capítulos. É claro que podem perder mais tempo a explorar e a encontrar tudo o que o espaço tem para nos oferecer e aí o tempo de jogo aumentará substancialmente.
A nível visual o jogo tem uma boa apresentação, tal e qual como se estivéssemos num filme ou numa série sobre alguém que está perdido no espaço. As cores e o design das peças e dos materiais assumem uma imagem mais retro, mas sem perder a real beleza do ambiente em que está inserido. A banda sonora é relaxante como já vos disse anteriormente e mistura momentos de jazz com algo mais experimental com sons bastante diferentes daqueles a que estamos habituados.
Breathedge é um jogo bastante peculiar e cómico que nos coloca com um sorriso no rosto em alguns momentos hilariantes e sem sentido. Pena que, com o avançar do tempo, devido ao seu ritmo lento, esse sorriso vá esmorecendo ao ponto de se tornar quase aborrecido. O jogo vale pelo o seu conceito, afinal de contas, não é todos os dias que podemos estar perdidos no espaço a tentar sobreviver com uma galinha para nos ajudar. Há quem diga que ir é o melhor remédio, neste caso diria que rir é o melhor remédio para as longas horas de exploração que vão ter pela frente.