Developer: FYQD-Studio, PLAYISM
Plataforma: Xbox Series, PlayStation 5, Nintendo Switch e PC
Data de Lançamento: 21 de Julho de 2022

Decorria o ano de 2019 quando Bright Memory se deu a conhecer aos jogadores através do Steam Early Access. Um jogo que apanhou muita gente de surpresa pela sua jogabilidade frenética, mas especialmente por ter sido obra de uma única pessoa. Zeng Xiancheng, um developer chinês decidiu tratar de tudo, e entregou um trabalho verdadeiramente impressionante, lançando a versão final em 2020.

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Mas, sendo tão curto, era difícil ser levado a sério. Era quase como uma demo de algo que podia ter um formato de episódios, em que este era apenas o primeiro. Porém, chamou a atenção, e rapidamente se formaram planos para o passo seguinte. Todavia, em vez de um segundo episódio, agora com a ajuda de uma pequena equipa, Xiancheng e o seu estúdio FYQD, decidiram pegar no conceito de Bright Memory e fazerem uma espécie de reboot. O objectivo era de tornarem o original ainda melhor, maior, e muito mais ambicioso.

E assim nasceu Bright Memory Infinite, uma tech demo com o propósito de demonstrar o poder das Nvidia RTX’s, e mais em particular do Ray Tracing, influenciando reflexos, iluminações e sombras. Ficámos todos boquiabertos quando pudemos ver uma amostra de gameplay na showcase de revelação da Xbox Series X, e imediatamente começamos a contar os dias para que pudéssemos finalmente ter acesso ao jogo nas consolas da nova geração.

A versão final traz sensações mistas. Embora claramente melhor do que o seu antecessor, sabe novamente a pouco, dado que é possível acabá-lo entre uma a duas horas. Uma vez que a visibilidade e os recursos agora eram outros, acho que foi mesmo aqui desperdiçada uma excelente oportunidade de ter sido desenvolvido um dos FPS’s mais marcantes dos últimos dois anos. Se tivesse sido pensado como um jogo mais longo, e se houvesse um maior investimento no story telling, e possivelmente teríamos aqui uma viagem imperdível.

Isto porque Bright Memory Infinite tem um potencial tremendo – não só no aspecto gráfico, mas igualmente na jogabilidade. Enquanto dura, é absolutamente viciante, e até a história, se fosse mais trabalhada, tinha condições para entregar um extraordinário conto de ficção cientifica. O problema é que foi criado para apresentar todas as suas virtudes num curto espaço de tempo, prejudicando o ritmo da narrativa e fazendo com que esta seja demasiado apressada.

Num futuro próximo em 2036, Sheila Tan é uma agente de uma força especial especializada em estudar ocorrências sobrenaturais, com o nome de SRO (Science Research Organization). Quando um dia, vários buracos negros começam a surgir inexplicavelmente um pouco por todo o mundo, Sheila é enviada para investigar. Rapidamente descobre que este estranho fenómeno está relacionado com um antigo mistério, e que para piorar, provocou também a atenção de uma organização com interesses obscuros.

Não existe um grande esforço para que a história faça sentido, já que a narrativa apenas trata de colocar um acontecimento em cima do outro. A perplexidade da protagonista só vai aumentando, já que além dos super soldados da organização maléfica que tem de enfrentar, terá ainda de combater guerreiros ancestrais de uma outra realidade que está naquele momento a cruzar-se com a nossa. No fundo, são ideias até bastante interessantes, mas que precisavam do seu tempo para se desenvolverem adequadamente.

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Mas, incrivelmente, damos por nós a tolerar uma história algo trapalhona, graças à jogabilidade que é extraordinária. Aquilo que podemos fazer no campo de batalha às vezes parece não ter limites, e as possíveis combinações proporcionam uma sensação de estilo e poder que, quando embala, torna o combate simplesmente brilhante. É um jogo que lança o jogador para um gameplay cheio de velocidade, e com ferramentas para todas as circunstâncias, inspirando-se, provavelmente, em franchises como Shadow Warrior e DOOM. Não tem o mesmo polimento, obviamente, até porque não nos podemos esquecer que foi feito por um estúdio independente, mas sem dúvida que impressiona.

Equipada com uma espada e uma assault rifle, vamos sendo apresentados às inúmeras mecânicas de combate. A espada não serve só como um simples melee, porque também consegue deflectir balas que venham na nossa direcção, e até lançar inimigos no ar para depois lhes desferir espetaculares combos – como um Devil May Cry na primeira pessoa. Quanto às armas de fogo, além de munições especiais, iremos ainda apanhar uma shotgun e uma sniper rifle, para podermos responder a diferentes situações.

Existem diversas habilidades que vamos desbloqueando através do SRO Skill Enhancement System. Para isso, teremos de apanhar itens com o nome de Reliquaries para depois gastar nas habilidades que queremos accionar ou melhorar. São bastante uteis e todas elas muito vistosas, como o Blade Slash Whirlwind – golpeando a vitima sem piedade – ou o Tractor Beam, que puxa o inimigo até nós através de um poder de telequinese.

Em pouco tempo já estamos adaptados, identificando as melhores alturas para utilizar as habilidades, a espada (crucial para certos inimigos), e as armas de fogo, de maneira a usarmos a distância como uma vantagem. O peso e a palpabilidade das armas estão fantásticos, assim como os controlos, que estão bem definidos, intuitivos, e fáceis de aprender. Quando todos estes recursos são combinados nos momentos certos, tornam-nos uma força imparável e uma sensação de poder que apenas uma lista pequena de jogos consegue.

O ritmo é sempre elevado, e a IA é agressiva. Não é a mais astuta, mas oferece um desafio razoável, principalmente porque nos obriga a ajustar estratégias conforme o tipo de inimigo. Adicionalmente, temos ainda fases de plataformas de dificuldade reduzida em que iremos aplicar movimentos como o duplo salto, o slide, o wall run, e ainda dar uso ao grappling hook. Ajuda a diversificar a jogabilidade e a realçar as características atléticas da protagonista, que é um traço muito comum em heróis orientais.

Quanto ao aspecto gráfico há que dizê-lo: dá lições a muitos estúdios com orçamentos AAA. É visualmente assombroso, e atinge um contraste perfeito entre luzes, sombras, e reflexos. Mas o que realmente surpreende é alto nível da optimização que resulta numa performance inacreditável. Sempre bastante leve e fluido, e nem quando activamos o Ray Tracing sentimos qualquer impacto na taxa de quadros. Algumas animações relativas às habilidades podiam estar ligeiramente melhores, mas nada que tire o encanto a tudo o resto. A parte sonora está igualmente bem conseguida, com música que encaixa bem no contexto do jogo, tal como o som das armas e de outros efeitos relacionados com a jogabilidade.

Não sei se Bright Memory Infinite eventualmente virá a ter outros episódios, ou se não passará apenas de uma demo alargada, todavia, ficará para sempre alguma frustração por sabermos o que poderia ter sido. Tirando isso, é um incrível feito de um estúdio pequeno, já que nos traz uma uma excelente qualidade gráfica, além  das melhores jogabilidades em shooters de acção que encontrámos nos últimos tempos.

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Nuno Mendes
Completamente obcecado por tudo o que tenha a ver com futebol, é daqueles indesejados que passa mais tempo a editar as tácticas do PES do que a jogar propriamente. Pensa que é artista, mas não conhece as cores primárias, e para piorar, é ligeiramente daltónico. Recusa-se a acreditar que o homem foi à Lua.
analise-bright-memory-infinite<h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #339966;">SIM</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Um regalo visual</li> <li style="text-align: justify;">A jogabilidade é excelente</li> <li style="text-align: justify;">O combate é bastante versátil</li> </ul> <h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #ff0000;">NÃO</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Demasiado curto</li> </ul>