Developer: Activision, Treyarch
Plataforma: Xbox Series, Xbox One, PlayStation 5, PlayStation 4 e PC
Data de Lançamento: 25 de Outubro de 2024
O lançamento de Call of Duty: Black Ops 6 representa sempre um dos momentos mais importantes do ano para a indústria dos videojogos. Desde que Call of Duty emergiu como um dos maiores fenómenos do entretenimento digital, cada novo título deste franchise gerou, sistematicamente, uma enorme onda de expectativa global, mobilizando milhões de jogadores e dominando as conversas no meio gamer.
No entanto, este ano, essa expectativa foi elevada a um novo patamar. Black Ops 6 não é apenas o mais recente capítulo de uma das séries mais populares e influentes da última década, mas também o primeiro título a ser lançado sob a bandeira da Microsoft, após a gigante de tecnologia concretizar uma das aquisições mais ambiciosas de sempre na história dos videojogos. COD foi o principal alvo de uma jogada para tentar reposicionar a Microsoft num lugar de destaque no sector, e alimentar a perspectiva de que mudanças significativas estavam para surgir.
Mais importante ainda, Black Ops 6 estreia directamente no Xbox Game Pass, uma estratégia ousada da Microsoft que visa transformar o serviço de assinatura numa peça cada vez mais central da sua estratégia de longo prazo. Até então, títulos de Call of Duty eram sinónimo de vendas massivas logo no dia de lançamento, com milhões de cópias vendidas a preços bastante elevados. Colocar o jogo disponível no Game Pass significa uma mudança radical, onde, em vez de um custo inicial de 79.99 euros, o acesso ao título estará acessível por uma taxa mensal, “democratizando” o acesso e ampliando o alcance da franquia de forma inédita.
Este movimento foi um verdadeiro “all-in” por parte da Microsoft, que coloca em jogo o futuro do Game Pass como elemento diferenciador no seu ecossistema. O sucesso ou fracasso deste lançamento poderá redefinir o papel das grandes franquias de videojogos dentro do modelo de assinaturas, um formato que ainda está em fase de experimentação, mas que promete moldar o futuro da indústria. A empresa espera que a presença de um nome tão icónico no catálogo atraia uma base significativa de subscritores, legitimando o serviço e estabelecendo-o como uma plataforma onde os grandes lançamentos estão ao alcance de todos.
Essa aposta, no entanto, acontece num contexto de certa turbulência para a série Call of Duty. Embora o reboot de Modern Warfare em 2019 tenha conseguido reacender o interesse no franchise, as últimas iterações da série não foram capazes de manter o entusiasmo do público, cujos jogadores têm expressado algum cansaço com a repetitividade da fórmula. Isso coloca Black Ops 6 numa posição delicada, com uma pressão intensa para que seja não apenas mais uma entrada na saga, mas um verdadeiro retorno, capaz de cativar tanto veteranos quanto novos jogadores.
Call of Duty: Black Ops 6 explora uma narrativa que regressa ao coração da sub-série Black Ops, focando-se mais em temas de espionagem, traições e intrigas políticas, o que marca um contraste em relação ao estilo explosivo e de acção pura que caracteriza a série Modern Warfare. A história posiciona-se dez anos após os eventos de Black Ops Cold War, mais especificamente em 1991, num pós-Guerra Fria que nos mergulha numa trama densa e labiríntica, típica dos thrillers de espionagem e teorias da conspiração.
O jogo começa numa sala de interrogatório na sede da CIA, onde as personagens são confrontadas sobre o fracasso de uma missão crítica — a extração do Ministro da Defesa iraquiano, Saeed Alawi, na fronteira entre o Iraque e o Kuwait. A operação parecia estar a correr como planeado para Case – a personagem principal –, o seu camarada Troy Marshall e a sua supervisora, Jane Harrow, até que os Pantheon entrem em cena – uma força paramilitar misteriosa, que muda completamente o rumo dos acontecimentos.
É uma abordagem que lembra o clássico “The numbers, Mason” do primeiro Black Ops, mas agora elevado a outro nível, integrando momentos de reflexão, dilemas morais e até questões sobre lealdade e ideologia. A narrativa leva os jogadores por missões variadas, desde operações furtivas em cenários mais urbanos, até incursões em zonas de conflito, como no Kuwait e no Iraque, locais que são apresentados em excelente detalhe e com uma incrível atmosfera e realismo.
As missões iniciais estabelecem um ritmo de tensão, com infiltrações e operações secretas, enquanto a trama lentamente se aprofunda em revelações que envolvem traição, manipulações de governos e redes de influência global. Além de oferecer uma experiência de campanha mais complexa e densa, as decisões e as relações construídas podem afectar a percepção do jogador sobre os eventos, envolvendo-nos emocionalmente, e tornando a narrativa mais imersiva e cativante.
Tudo isso é complementado por mecânicas de jogo que incentivam a exploração e a interação com NPCs entre as missões. Um bom exemplo é a safehouse chamada de The Rook, onde os jogadores podem conversar com as personagens e descobrir pistas que oferecem significado ao enredo. É um sistema similar àquele que podemos encontrar em Infinite Warfare, e funciona como um ponto de apoio central para o jogador entre missões, desempenhando um papel fundamental na narrativa e na jogabilidade da campanha.
Além do aspecto narrativo, The Rook é importante também na progressão das habilidades e equipamentos. Durante as missões, o jogador descobrirá dinheiro e outros recursos, que podem depois ser usados para melhorar a safehouse, desbloqueando novas perks e habilidades. Isso incentiva o jogador a explorar mais os mapas e a investir em upgrades, o que impacta diretamente o gameplay e a forma como enfrentará desafios futuros. No fundo, é um sistema de progressão básico e mascarado, mas que se encaixa na perfeição no contexto da história, tornando a experiência mais recompensadora.
O aspecto sandbox das missões em Call of Duty: Black Ops 6 representa uma mudança significativa para a franquia, trazendo mais liberdade na abordagem e uma estrutura que lembra outros jogos de ação furtiva, como Hitman e Sniper Ghost Warrior Contracts. Este novo design permite que o jogador enfrente os objectivos de maneira não-linear, explorando as áreas cuidadosamente e optando pela melhor estratégia de infiltração e combate, ao invés de seguir o típico “corredor” linear de outras campanhas de Call of Duty.
Dentro das missões, o jogador geralmente recebe múltiplos objectivos que podem ser completados de várias formas, dependendo do estilo de jogo. Por exemplo, em algumas missões, há múltiplas rotas de acesso, diferentes pontos de entrada e oportunidades para uma aproximação essencialmente stealth. Assim, o jogador pode optar por ir directamente ao encontro dos inimigos, ou escolher uma abordagem mais tática, explorando o ambiente e encontrando caminhos alternativos que evitam confrontos de forma mais exposta.
A campanha de Call of Duty: Black Ops 6 é, sem dúvida, uma das melhores dos últimos anos na franquia. E destaca-se, fundamentalmente, por dar ao jogador uma autonomia que vai para além do estilo linear típico de outros Call of Duty. A narrativa, repleta de mistérios e conspirações, leva-nos a diferentes cenários históricos e locais icónicos da Operação Desert Storm, enquanto personagens familiares da série reaparecem, enriquecendo ainda mais a trama. Black Ops 6 consegue capturar o espírito dos clássicos da sub-franquia e ainda apresenta novidades que elevam a experiência. É uma campanha que não só honra o legado de Black Ops, mas também estabelece um novo padrão para futuros lançamentos da série.
O Modo Zombies é outro dos regressos de Call of Duty aos bons velhos tempos, no entanto, com uma abordagem moderna e cheia de novas mecânicas. A Treyarch voltou ao formato de sobrevivência por rondas, proporcionando uma sensação nostálgica pela qual muitos fãs esperavam, contudo, agora adicionando alguns elementos de personalização e progressão que melhoram a experiência.
A Treyarch melhorou a ambientação e a atmosfera dos mapas, criando uma experiência imersiva e assustadora. Em Black Ops 6, o enredo actua como uma continuação do enredo de 2020, na qual eventos paranormais desempenham um papel central. Embora não haja uma fusão direta entre os eventos da campanha e do Modo Zombies, ambos partilham o mesmo pano de fundo narrativo e estão ligados pela existência de organizações e projetos secretos, como o Project Janus.
Os jogadores poderão explorar dois mapas principais no lançamento – Liberty Falls, uma pequena cidade americana tomada pelo caos, e Terminus, uma prisão aterrorizante e claustrofóbica. Foram introduzidas mecânicas como o Omnimovement, que permite uma liberdade de movimento ainda maior, incluindo a capacidade de correr e deslizar, facilitando fugas rápidas em momentos de aperto. Além disso, sistemas como os Augments e os GobbleGums permitem aos jogadores adaptar as suas habilidades e power-ups, tornando cada partida única.
No geral, o modo Zombies em Black Ops 6 oferece uma experiência robusta e imersiva, combinando as suas características mais clássicas com inovações que mantêm o modo fresco e excitante. Há bastante potencial para futuras actualizações e novos mapas, prometendo assim continuar a cativar a comunidade. Os novos recursos acrescentam complexidade e a possibilidade de personalização ao modo, permitindo aos jogadores explorar diferentes estilos de combate e táticas de sobrevivência. E, tudo isto, sem sacrificar os elementos modernos que a série desenvolveu ao longo dos anos.
Todavia, foi sobre os alicerces do seu modo multiplayer que a série Call of Duty construiu sua reputação. É, há anos, o principal motivo pelo qual milhões de jogadores continuam a voltar para a série. Com a chegada de Call of Duty: Black Ops 6, essa tradição é reafirmada, e o peso do sucesso do jogo reside, mais uma vez, na sua capacidade de elevar a experiência multiplayer. No curto prazo, os modos de campanha e de zombies podem ser pontos de atracção, mas no médio e longo prazo, é a componente multiplayer que realmente determina o legado de cada título na série.
O multiplayer de Call of Duty: Black Ops 6 introduz algumas novidades interessantes e revisita elementos clássicos da série, num esforço para equilibrar a familiaridade com inovação. Este título traz consigo um conjunto de mapas e modos diversificados, bem como a introdução de mecânicas de gameplay que visam renovar a experiência de jogo. Temos um total de 16 mapas, que variam em tamanho e design, proporcionando uma variedade de experiências para os jogadores. Foram projectados para fornecrem uma experiência envolvente e desafiadora, ajustando-se às novas mecânicas de movimentação introduzidas nesta edição do jogo.
Black Ops 6 apresenta tanto modos tradicionais quanto novas adições. Modos clássicos como Team Deathmatch, Domination, Search and Destroy, Kill Confirmed, Free-For-All, Hardpoint, Gunfight, Headquarters, Control e o novo modo Kill Order estão disponíveis no formato 6v6. Onde, entre os mapas principais 6v6, estão Babylon, Derelict, Lowtown, Payback, Protocol, Red Card, Rewind, Scud, Skyline, Subsonic, Vault e Vorkuta, enquanto os modos Strike, que podem ser jogados em 2v2 ou 6v6, incluindo opções como Gala, Pit, Stakeout e Warhead.
O Kill Order é uma das principais novidades e oferece uma dinâmica de pontuação única: cada equipa designa um “High Value Target” (HVT), e a eliminação desse alvo específico rende as maiores recompensas, incentivando uma estratégia equilibrada entre proteger o HVT da sua equipa e eliminar o HVT adversário. Este foco em alvos prioritários acrescenta uma dose de estratégia e planeamento, aumentando assim a intensidade das partidas.
O multiplayer não só traz novas funcionalidades, como se compromete a evoluir o que já funcionava na série, propiciando uma experiência de jogo rápida e carregada de adrenalina. Além disso, a inclusão do sistema Omnimovement permite que os jogadores se movam com mais liberdade e criatividade quando se enfrentam. Estas novas mecânicas, combinadas com mapas bem desenhados e modos de jogo para todos os gostos, indicam que Black Ops 6 está muito bem posicionado para agradar até aos fãs mais exigentes.
No que diz respeito aos gráficos, Call of Duty: Black Ops 6 está simplesmente incrível. Os efeitos visuais, como as explosões, as nuvens de poeira e fumo, ajudam bastante na imersão que proporcionam ao cenário e às circunstâncias da batalha, enquanto os efeitos de iluminação dinâmica reforçam a atmosfera. Tudo foi desenhado com o propósito de capturar a essência da ambientação e criar uma experiência visualmente impactante, desde as sombras das construções até aos detalhes mais minuciosos dos objectos espalhados pelo cenário.
As armas, gadgets e outros tipos de equipamentos especiais são outro ponto de destaque, com animações detalhadas que dão vida ao combate. Isso é perceptível tanto nos momentos de acção mais frenéticos, como nas cenas de diálogo e cinemáticas, garantindo que o jogador se sinta verdadeiramente mergulhado num ambiente visual que é credível e muito bem executado. Aspectos estes que, todos somados, tornam-se centrais para a construção da atmosfera intensa e envolvente do jogo, seja qual for o modo.
O áudio e a música também não desiludem e contribuem significativamente para a ambientação e a intensidade da experiência. E, cada som, foi imaginado para reflectir a realidade dos combates e tornar cada tiro, explosão ou impacto algo tangível. Podem parecer pequenos pormenores, mas é algo que tem uma enorme importância ao posicionar o jogador dentro do ambiente, onde a direcção do som permite a percepção precisa de ameaças próximas, ajudando a criar uma sensação de apreensão e de urgência. Tal como a banda sonora, que foi composta para acompanhar o ritmo de cada fase e situação – seja na ação da campanha, no suspense dos mapas de Zombies ou no dinamismo dos combates no multiplayer.
Call of Duty: Black Ops 6 traz uma experiência completa e refinada que honra a longevidade e a popularidade da série. Não só recupera aquilo que fez desta franchise uma das mais importantes da indústria, como consegue adaptar-se aos tempos modernos, mantendo o jogo relevante e empolgante para a base de jogadores actual.