Developer: Minimol Games
Plataforma: Xbox Series, Xbox One e PC
Data de Lançamento: 5 de Dezembro de 2023
Nos vastos reinos do cenário dos jogos independentes, um elemento singular tem conseguido ser um constante farol de inovação e desafio: os quebra-cabeças. Longe das miríades de títulos convencionais, o mercado indie tem habilmente lançado enigmas tão ricos nos seus enredos, alimentando um subgénero que floresce na originalidade e tem redefinido repetidamente as expectativas dos jogadores.
Os puzzles, longe de serem simples obstáculos, tornaram-se uma forma de expressão artística no universo dos videojogos, desenhando fronteiras fluídas entre a realidade e a ficção, ao mesmo tempo que desafiam a mente e cativam os sentidos. Na verdade, tornaram-se autênticos arquitetos dos mundos virtuais, construindo pontes entre narrativas envolventes e a participação ativa do jogador.
O espaço independente proporciona um terreno seguro para a gestação de ideias, onde estúdios audaciosos nos têm apresentado aos limites da criatividade. Estes desafios mentais não são meramente adições estéticas, mas sim pedras basilares na construção de experiências imersivas e intelectualmente estimulantes.
A originalidade, característica intrínseca do DNA dos jogos independentes, encontra a sua expressão mais vívida no reino dos quebra-cabeças. Enquanto os grandes estúdios podem às vezes hesitar em desviar-se do comum, os estúdios independentes abraçam a variedade, explorando o inexplorado e criando abstracções que transcendem as fronteiras da previsibilidade.
Assim, cada puzzle se torna uma obra de arte única, uma síntese cuidadosa de desafio, narrativa e estilo, moldando mundos digitais onde a resolução de enigmas é uma jornada artística e emocional. Essa diversidade não apenas mantém a experiência do jogador fresca e envolvente, mas também demonstra a versatilidade criativa que os jogos independentes proporcionam.
No vasto espectro dos jogos, há um ilustre veterano que continua a cativar mentes e a compor estratégias há séculos: o xadrez. Embora muitos jogos busquem novas formas de intrigar, o xadrez permanece como uma escolha intemporal. A sua simplicidade aparente, combinada com a complexidade estratégica, confere a este jogo milenar uma posição única, que muitas vezes é depois aproveitada para outro tipo de criações.
Chessarama é um desses exemplos, e, provavelmente, um dos mais criativos de sempre. Não só é desafiante para praticantes casuais de xadrez, como é igualmente didático para quem quer aprender o movimento das peças e algumas dinâmicas mais básicas do popular jogo de tabuleiro. Mas não é um jogo apenas direccionado para quem tem algum interesse no xadrez, dado que a inventividade dos seus puzzles servem para qualquer pessoa que goste de quebra-cabeças.
Desenvolvido pelo estúdio brasileiro Minimol Games, é de louvar como numa ideia tão simples, encontraram forma de criar a base para puzzles que se podem tornar tão complexos nas suas soluções. Mas o que destaco mais, é como conseguiram relacionar essa lógica a outros temas, tornando cada quebra-cabeças não apenas diversificado na resolução, como na maneira de ser jogado. Este aspecto por si só, acrescenta um enorme potencial para receber conteúdo no futuro, cujas possibilidades são quase infinitas.
Os modos de jogo estão divididos entre dois grupos (Campaigns e Battles), e que incluem quatro tipos de mini-jogos em cada. Inicialmente, nas Campaigns, somente o Farm Life está desbloqueado, e consiste em usar o movimento do cavalo, para ir cultivando os quadrados do tabuleiro. Cultivando todos os quadrados do tabuleiro e terminamos o nível. A dificuldade, aqui, é que cada vez que ocupamos um terreno que já foi cultivado, vamos ter de o cultivar novamente; além de outros que quadrados que só podem ser cultivados uma vez; e peças que se movem em pares, ocupando dois terrenos simultaneamente. São pormenores que podem complicar a obtenção de melhores recompensas, porque quantos menos movimentos fizermos para chegar à solução, maior a quantidade de XP que ganhamos.
Esse XP será utilizado depois para desbloquearmos outros tipos de mini-jogos, sendo que na Campaign ainda temos o Street Soccer, a Lady Ronan e o Dragon Slayer. No Street Soccer iremos usar os movimentos das peças existentes para criar uma combinação de jogadas e colocar a bola. O desafio vai aumentando porque começamos a encontrar pinos no tabuleiro, que nos vão obrigar a pensar em caminhos alternativos para chegar ao golo.
Há um objectivo claro de ensinar algumas situações mais fundamentais no xadrez, e que vão de encontro a algumas das maiores dificuldades dos iniciantes. Se no Farm Life, podemos praticar e entender os movimentos do cavalo – uma peça sempre difícil de prever –, no Street Soccer compreendemos como é essencial pensarmos nas características das peças no seu conjunto.
Quanto ao Lady Ronin, é uma demonstração do poder da rainha, que livre para percorrer todo o tabuleiro, tem o propósito de chegar ao rei adversário. Utiliza o misticismo da cultura japonesa para criar o enredo de um excelente puzzle disfarçado de jogo de combate por turnos, uma vez que o shogun (rei), está protegido samurais, ou seja, outras peças que terão de cair primeiro até nos podermos focar no rei indefeso.
O Dragon Slayer é outro exemplo da genialidade destes mini-jogos. E se não estão muito familiarizados com o xadrez, quando um peão chega ao outro lado do tabuleiro, acontece a regra da promoção, onde ser-nos-á dada a opção de trocar esse peão por qualquer outra pela. Sim, incluindo a rainha. E sim, quantos peões conseguirmos promover. Em Dragon Slayer o objectivo é precisamente esse: proteger um peão no seu percurso até à promoção. No entanto, não pensem que será fácil, porque enquanto isso, vamos tentar sobreviver aos ataques de um dragão gigantesco, e só destruindo o seu coração – o que sucede no momento da promoção – é que conseguiremos sair vitoriosos.
Já no modo Battles, temos mini-jogos em que tentaremos dar checkmate ao adversário. A diferença de este estilo de quebra-cabeças para os mais convencionais em que temos de descobrir a solução para dar checkmate em uma, duas, ou três jogadas, é que neste caso temos um tabuleiro lotado de peças, onde muitas delas são iguais, transformando o jogo por completo. É quase como se fosse um híbrido entre as damas e o xadrez, mas que serve para que o jogador compreenda como uma troca bem planeada pode ser extremamente vantajosa.
Dentro dos objectivos principais de cada jogo, temos ainda conquistas que oferecem bónus de XP. Encaixa bem na proposta de jogo, e proporciona uma dificuldade adicional para quem gosta de completar este tipo de desafios. Obriga-nos ainda mais a planear cada passo com antecedência, o que é útil, tendo em conta que é um tipo de raciocínio vital para interpretarmos melhor a multiplicidade de cenários que encontraremos numa partida de xadrez.
Graficamente é o que se podia esperar de um jogo de puzzles. Uma direcção artística com muita cor, com um suave estilo animado, que vai deixando o jogador descontraído enquanto pensa e imagina todas as possibilidades. O mesmo se pode dizer da banda sonora, com música divertida que nos relaxa nas alturas de maior frustração. Ambas as componentes funcionam muito bem neste género e o estúdio limitou-se – e bem – a seguir uma fórmula que resulta.
Chessarama foi uma das boas surpresas deste ano. Os puzzles são ótimos, e cada modo de jogo é interessante à sua maneira. Apesar de estar somente disponível para Xbox e PC, acredito que era na Nintendo Switch e nos dispositivos móveis que encontraria as suas plataformas ideais, visto que é óptimo para passar o tempo.