Developer: The Wild Gentlemen
Plataforma: PlayStation 4, Nintendo Switch, Xbox One e PC
Data de Lançamento: 5 de novembro de 2020
Chicken Police – Paint it RED é um jogo bizarro onde as cabeças dos personagens são animais. Galinhas, cães e gatos são só alguns exemplos do que vamos ter pela frente neste jogo desenvolvido pela The Wild Gentlemen que nos coloca no papel de um detetive para desvendar crimes.
O ambiente que o jogo cria é, digo eu, perfeito para aquilo que se pede. Um jogo a preto e branco, bem ao estilo de Grim Fandango, mas que se passa nos anos 40 com uma sonoridade bem inspiradora numa zona onde imperam os clubes de música jazz. O primeiro encontro com Chicken Police passa-se em Clawville que tem um enredo mais do que bem preparado para nos fazer suar em barda até descobrirmos a verdade.
O primeiro capítulo está montado. É véspera de Ano Novo e o nosso personagem, detetive Sonny Featherland que vive afastado do mundo do crime há 10 anos recebe uma inesperada visita no seu quarto de hotel. É uma misteriosa mulher com cabeça de impala a falar-lhe de algo desconfortável do seu passado e dá-lhe informações que deixam Sonny a pensar que tem de regressar ao ativo como detetive. Para isso ele vai pedir ajuda a um ex-colega de departamento, mas que não se falam há uma década devido a um último caso em que pelos vistos aquilo acabou quase à pancada. De orgulho ferido, lá foi o Sonny falar com Marty McChicken, um detetive com cabeça de galinha e juntos decidiram ir investigar o caso. E a partir daqui não quero entrar em grandes pormenores da história para não estragar a beleza do que é ser um bom ou mau detetive.
A última e talvez única vez que joguei um jogo de detetives foi com L.A. Noire e apesar de algumas semelhanças nos ambientes, a maneira de jogar não é parecida, apenas nas partes de maior interrogatório. Chicken Police usa cutscenes para nos enquadrar com a cena e depois tem um estilo cartoon onde apresenta as personagens e nós interagimos com a imagem através de um ponto de mira no ecrã, tal como point black fazia, mas nesse caso para disparar.
Quando queremos interagir com qualquer pessoa, objeto, cartaz ou outras coisas basta apontar com essa mesma mira e carregar no botão respectivo para haver uma interligação. E se quando carregamos em cartazes ou carros, os dois detetives falam entre si, quando abordamos outros personagens a história é outra. Existem vários tipos de interação, desde olhar para uma pessoa e perceber quem é e o que faz ou fez, perguntar sobre informações que o próprio jogo vai colocando para não perdermos o fio à meada e depois há a parte que gostei mais que é a de interrogar.
Antes de chegarmos aí, há vários pontos que precisam de ser estudados e ouvidos com atenção. Para nosso bem existe um bloco de notas, onde o nosso detetive aponta tudo, desde os personagens, passando pelo seu temperamento enquanto pessoas com cabeças de animais e até deduções e locais que possam ser importantes para desvendar o caso.
Depois, e chegada a hora de um interrogatório mais a sério temos de definir muito bem a abordagem aos outros sob risco de parecermos nabos no assunto e ser classificados com uma estrela na maneira como conduzimos o interrogatório. À medida que vamos perguntando coisas, várias outras perguntas surgem à nossa disposição. Podem ser mais ágeis, mais diretos ou assunto ou tentar levar as coisas a bem. Esta maneira de abordar vai dar-nos mais ou menos pistas sobre o que precisamos. A cada pergunta existe uma barra que nos indica se o personagem está mais nervoso, mais disposto a falar ou se pelo contrário está farto das perguntas. No final aparece então o nosso ranking de detetive num sistema de estrelas entre uma e cinco.
O jogo é extremamente engraçado, não só pelo conceito, mas também porque usa metáforas para as grandes questões desta sociedade moderna. A maneira como Chicken Police usa o sarcasmo é genial numa aventura bastante independente e diferente de muitos dos jogo a que estamos habituados. É certo que o jogo é de muita palavra com falas em texto, mas isso lembrou-me o início do estilo de jogo RPG ou de narrativas, onde basicamente o videojogo era só através de texto. Aqui junta-se a isso personagens carismáticas capazes de nos fazer viver uma experiência nova no que toca a jogos.
Claro que isto não são só rosas. Muito texto também cansa e às vezes dei por mim perdido no meio do bloco de notas a procurar algo que fosse relevante para poder avançar no jogo. Existem estes momentos em que o desespero pode tomar conta de nós e que na prática nos faz ficar com uma cabeça de animal qualquer capaz de tudo e mais alguma coisa.
Chicken Police – Paint it RED abre ainda mais o nosso horizonte e quando pensarmos que já tudo foi feito nos videojogos, lembrem-se deste em que somos um detetive num mundo completamente louco onde os personagens têm corpo de humanos e cabeça de animais. Isto bastava para despertar a atenção, mas se ainda juntarmos algum humor, sarcasmo e metáforas com grandes questões atuais, está criado o ambiente para pelo menos experimentar o jogo. É preciso ter paciência e bastante concentração para não deixarmos escapar nada de importante. Isso pode fartar, mas jogado na dose certa, vão ter uma agradável surpresa.