Developer: General Interactive Co
Plataforma: Xbox One, Xbox Series S|X e PC
Data de Lançamento: 07 de abril de 2021
Lembro-me com alguma facilidade que num dos últimos episódios do 4 Bits de Conversa, o nosso podcast gaming que levamos a cabo ao lado de KingWiseman, eu tinha referido este jogo como um dos que me tinha chamado a atenção na mais recente apresentação do ID@Xbox. Um point-and-click à antiga, com um grafismo pixelizado, fazendo uma espécie de homenagem a como surgiram os primeiros do género.
Devo dizer que a primeira memória que me veio à cabeça foi o mítico Operation Stealth que joguei no Commodore Amiga 500 do meu primo e que foi uma dor de cabeça para acabar. Foi aquele sentimento do “puxar pela cabeça” que mantenho desde então e que me fascina ainda nos dias de hoje. E o curioso deste jogo, deste Chinatown Detective Agency, é que invoca algumas dessas memórias até no seu sentimento mais primordial, de como conseguir deslindar aquela pista, de como é que eu vou saber de que autor é aquela frase chave para desbloquear a próxima cena?!
Hoje temos a internet para nos facilitar a vida, antigamente ou conseguíamos lá chegar por nós mesmos, ou passávamos meses à espera que viesse a solução numa revista. No entanto, o sentimento dessa procura “física” pela resposta, de utilizarmos as nossas próprias armas e não só aquelas que nos surgem no ecrã para chegarmos às respostas continua a fascinar-me.
Chinatown Detective Agency arranca com uma breve reflexão sobre o papel do Homem no mundo de hoje e para onde vamos num futuro, mais ou menos próximo. A partir daí a narrativa desenrola-se com a história da ex-policial Amira Darma. Após abandonar a sua esquadra, Amira decide criar uma agência de investigação particular no bairro Chinatown, em Singapura. Em pouco tempo, vemo-nos envolvidos em casos bizarros com detalhes sombrios que extrapolam aquilo que acontece na sua cidade e que podem afetar todo o mundo.
A história é dividida em episódios. Em cada um é apresentando um novo caso com um puzzle para resolver. Amira terá assim que ir até ao local indicado para descobrir pistas até conseguir encontrar uma solução. Pode ser uma palavra, um código, ou até uma localização, sendo que a resposta leva à reosulução do caso em questão.
O modelo de gameplay é que é o mais curioso do jogo. Em termos de apresentação temos no lado esquerdo o nosso telefone onde podemos fazer chamadas para algumas das personagens que vamos encontrando ao longo do jogo, assim como ler as mensagens que vamos recebendo e ainda ver as notícias. Depois, na barra inferior, temos as tabs de acções que podemos fazer, desde o mapa para nos deslocarmos, as viagens que podemos fazer, esperar por determinado período do dia ou navegar na internet. Este último é tal qual o que disse; é mesmo abrir o browser do Google para procurarmos informações que nos possam ajudar a desvendar algumas das pistas que tenhamos.
É engraçado como o layout nos faz pensar e sentir que estamos na pele de Amira, que usa apenas o seu sentido de dedução, a sua cultura geral e o seu smartphone para deslindar os casos que surgem. Dá uma perspectiva bastante pessoal e é diferente ao que estamos habituados a ver no género.
O mais interessante é a proposta por detrás dos desafios. Em vez de termos que resolver o caso internamente, temos que fazer o nosso próprio trabalho de investigação. Como dizia antes, vamos usar muitas vezes o Google para encontrarmos algumas respostas às pistas que nos são lançadas. Por exemplo, logo no início do jogo, o livro e o seu autor, a partir de uma frase que nos é fornecida como pista. Há mais tipos de códigos e em alguns, basta usar mesmo a dedução, a lógica ou até alguma cultura geral. Como podemos ver em baixo, este era de associar letras a números até termos uma localização.
Como já perceberam, vamos viajar bastante por entre várias localizações mundo fora e, todas elas, têm a mesma vibe cyber-noir, sempre com o lado futurista da obra. Os cenários e os objetos dispostos ajudam na percepção de como a vida ocorre no universo imaginado, com fortes traços de urbanidade, modernidade e decadência.
Para viajar, é necessário gastar dinheiro e é preciso ter cuidado com o nosso budget. Vamos ter de gerir muito bem este factor para não ficarmos agarrados ao longo do jogo. Até porque, conforme vamos andando, temos mais encargos, desde o aluguer do espaço da nossa agência, passando por um auxiliar que vamos contratar, entre outros pormenores. Deixo a sugestão: não andar a gastar dinheiro em viagens que não fazem sentido para o caso. No entanto, se forem rápidos a a resolver os casos, o dinheiro não será grande problema.
Infelizmente, apesar de Chinatown Detective Agency ter um grafismo pixel art muito interessante e uma gamplay diferente, o jogo tem vários pontos fracos. Um deles é o factor repetição que começamos a sentir a meio do jogo, depois a própria história acaba por cair em alguns clichés de histórias de detectives.
Outro problema é a dobragem, que não está muito boa com a Agente Amira a estar um patamar acima de todas as outras interpretações. Todas as outras personagens não têm expressão e muitas delas parecem ter as falas mal cortadas, algo que me fez muita confusão. E digo mesmo cortadas porque não correspondem ao que está escrito nos logs da conversa ou nos balões de falas.
Aliás, num determinado momento, é necessário encontrar a solução de um código Morse, mas a resposta oferecida difere da conversão do código. E é especialmente perceptível que se trata de um erro, pois a solução que o jogo considera errada deve ser utilizada no capítulo seguinte.
Chinatown Detective Agency é um jogo de investigação com uma proposta diferente do habitual. Tem um estilo próprio, tem uma arte pixelizada muito interessante e algumas mecânicas e até propostas fora da caixa. No entanto, esbarra em alguns bugs e problemas nas dobragens e nos textos apresentados que, aliados a vários clichés das narrativas de detectives, acaba por ficar a meio caminho. Talvez um maior polimento que venha a exisitir em futuros updates ajudem nesse capítulo.