Developer: Ingame Studios
Plataforma: PC (via Epic Games Store)
Data de Lançamento: 28 de Março de 2023
Devo confessar que quando este jogo foi anunciado fiquei com muitas expectativas, a proposta de ser uma espécie de GTA na primeira pessoa “meets” Payday, fez-me pensar que poderia encontrar finalmente um jogo para jogar com os meus amigos e gerir um império do crime. Obviamente que há outros títulos que já o tentam fazer, como foi o caso mais recente do Saints Row, o reboto que analisámos o ano passado, mas aqui seria com uma componente mais táctica, mais “stealthy” e com um forte vertente cooperativa. Será que foi isso que a Epic e a 505 Games conseguiram nos dar?! É isso que vamos ver.
Comecemos pela história do jogo e pelo seu modo de campanha. Aqui o protagonista é Travis Baker (Michael Madsen), um criminoso determinado a tornar-se o novo chefe de Rockay City, mas que logo vai descobrir que é preciso uma verdadeira empreitada para o fazer. O problema que vamos encontrar no jogo vai ser recorrente, e há uma razão pela qual já o estou a anunciar à partida, é que as personagens não têm em si grande profundidade, apesar do elenco de luxo, não existe uma narrativa preponderante para nos sentirmos na pele do protagonista e de criarmos ligação com as outras estrelas do jogo. No fundo não percebemos porque é que encarnamos aquela personagem, não sabemos os seus motivos, ou melhor, sabemos e é apenas e só querer dominar a cidade, o que, em termos de narrativa acaba por ser fraco.
Temos assim, a difícil tarefa de guiar Travis Baker , um criminoso interpretado pelo lendário Michael Madsen, na sua luta pelo trono. Obviamente que este caminho será feito de inúmeras actividades ilícitas que passam por assaltos a lojas, a joalharias, a carros armados ou armazéns. Para além disso, temos que conquistar terreno aos gangues rivais, investindo em homens para ocupar as zonas ou a roubar as zonas dos rivais. Ao fazê-lo vamos ganhando dinheiro que vamos reinvestindo na capacidade bélica da nossa quadrilha, da equipa que vamos organizando para estas actividades e o gerenciamento, bastante básico diga-se, das vendas dos items que roubámos.
A questão é que tudo acontece de uma forma muito desgarrada, isto é, temos 3 personagens centrais na nossa equipa: Nasara (Damion Poitier), o jovem intelecto que vai dando dicas, mas que não fazemos a mínima ideia de onde o conhecemos, e Casey (Kim Basinger) que é a nossa gestora financeira, que também não sabemos a ligação com Troy, e que nos ajuda gerir o império que vamos construindo.
Baker’s Battle, como é apelidado este modo de campanha, é assim o modo single player em que a nossa personagem olha para um mapa da cidade dividido em territórios e realiza ações diárias para ganhar dinheiro, ou roubar um território de um líder do gangue rival – que vai resultar numa missão de tiroteio até que apareça o Boss “esponja” de balas e o derrotemos. Pelo meio há umas cutscenes porreiras destes famosos actores de Hollywood que se prestaram a participar no jogo, e que dizem um conjunto de linhas de texto, um bocado ao desbarato, antes de voltarmos ao quadro com o mapa para planear o passo seguinte do nosso dia-a-dia.
Há algumas coisas interessantes pelo meio, como por exemplo, o facto de roubarmos items de valor, como jóias, drogas ou electrónicos e que temos que ir avaliando, dia-a-dia, qual será a melhor altura de os vendermos no mercado negro, de forma a rentabilizar o seu preço, isto é, a lei da oferta e procura. Outra ideia interessante, é o facto de se a nossa personagem central, Troy Baker morrer, recomeçamos a campanha do início, mas com buffs que ganhámos, como dinheiro extra, mais capagangas contratados, mais vida, entre outros. O problema é que para esta mecânica de tentativa/erro era preciso que o jogo em termos de jogabilidade fosse impecável, e está muito longe disso, portanto torna-se só enfadonho.
Nesse capítulo é um tradicional First Person Shooter em que a mira é muitas vezes o nosso próprio inimigo, feita para dificultar a vida e para um upgrade que poderemos fazer mais lá para frente no jogo. Ainda existe uma tentativa de ser um jogo em que vamos tentar roubar os vários locais de forma silenciosa, ameaçando os inimigos apanhados desprevenidos e atando-os com braçadeiras, mas as animações são muito fraquinhas na sua execução e os erros de palmatória deste lado mais stealth, como estarmos atrás de uma caixa e uma câmara de segurança nos ver à mesma, ou estarmos do outro lado de uma parede e um segurança sentir o nosso cheiro, torna esta componente quase impossível de executar e acabamos aos tiros a tudo e todos. A situação só melhora quando desbloqueamos as armas com silenciadores, mas mesmo assim estes erros acabam sempre por nos fazer soar os alarmes.
Além das pequenas diferenças entre um assalto e outro, tudo se resume sempre a encher os sacos com bens valiosos e entregá-los na carrinha que está à nossa espera com o motor a roncar e pronta a arrancar. A dificuldade apenas se altera com o tipo de forças policiais que nos interpelam na nossa tentativa de roubo. Se demorarmos muito tempo a realizar o roubo começam a chegar a SWAT que é muito mais implacável, para além de serem uma esponja de balas. O interessante é o facto dos nossos capatazes terem morte permanente, isto é, se morrerem em combate e não os conseguirmos reviver a tempo, vão ficar mesmo estendidos no chão e vamos ter que contratar mais “pessoal”. E isso às vezes é algo problemático, porque se contratarem alguém como o Mozart, um 007 do roubo, nunca mais vão querer largar tal personagem pelas skills e armamento que dispõem. Portanto há aqui uma parte de gestão do pessoal que é um dos melhores pontos do jogo.
Como perceberam a história é um pouco vaga, parca e sem uma grande construção, por mais hollywoodesca que o seu casting seja. O que salva um pouco a honra é mesmo os restantes modos de jogo.
O primeiro é Crime Time, que é o seu modo de jogo rápido para entrar de chapa num assalto. Basicamente temos um mapa de Rockay City onde os roubos e furtos surgem a cada poucos segundos e podemos escolher o que fazer. Se preferirem existe também um contrato que nos obriga a gastar algum dinheiro para fazer , mas também dá mais recompensas. Alguns destes contratos mais complexos têm que ser desbloqueados em Baker’s Battle, e se quiserem companheiros de esquadrão para além dos genéricos, vão ter de dos desbloquear no Urban Legends, o outro modo de jogo.
Urban Legends é uma série de, atualmente, seis mini-campanhas, e também o modo mais interessante de todo o jogo. Aqui podemos jogar uma espécie de três níveis seguidos interligados por uma espécie de história solta. Por exemplo, atacar um gangue rival, como o liderado pelo Vanilla Ice, roubar as drogas que possuem e depois vender aos polícias. Se falharmos alguma dos níveis, ou das fases, se preferirem, vamos ter que começar do início. A imediata deste modo, o facto de estar dividido por fases e ter uma espécie de história simples, com princípio, meio e fim, acaba por ser o mais bem concretizado do jogo, até porque tem um sentido de risco/recompensa, bem mais elevado do que os restantes.
De facto, o melhor de Crime Boss Rockay City é mesmo o jogar com amigos em formato cooperativo. Aí esconde um pouco o sentimento de frustração da jogabildade com o divertimento do caos que acontece em cada assalto, mas funciona melhor neste Urban Legends, especialmente porque é mais objectivo. É engraçado, neste modo, podermos utilizar o dinheiro que recolhemos para abrilhantar o nosso esconderijo e nos apetrecharmos de “soldados” melhorzinhos, mas toda a ideia de ser uma jogo de comunicação e estratégia e furtividade não acontece devido às mecânicas pouco limadas para o efeito.
A inteligência artificial do jogo é extremamente fraca, fazendo com que os aliados pareçam estar noutro jogo qualquer durante os tiroteios e os inimigos muitas vezes ignoram a nossa presença, mesmo quando estamos dentro do seu campo de visão. A diversão acontece a espaços, lá está, mas jogar sozinho é extremamente cansativo e frustrante, por causa dos bots.
Graficamente o jogo também oscila, até porque, para tirar partido do jogo, é preciso ter um computador robusto. Como podem ver pelos requisitos mínimos e recomendados.
Requisitos Mínimos
- SO: Windows 10
- CPU: Intel Core i7-470|AMD Ryzen 5 1600
- Memória: 16 GB de RAM
- GPU: NVIDIA GeForce GTX 1650 de 4 GB|AMD Radeon RX 570 de 4 GB
- Armazenamento: 90 GB
- DirectX: 12
Recomendados
- SO: Windows 10
- CPU: Intel Core i5-10600K|AMD Ryzen 5 3600XT
- Memória: 16 GB de RAM
- GPU: NVIDIA GeForce GTX 1070 de 8 GB|AMD Radeon RX Veja 56 de 8 GB
- Armazenamento: 90 GB
- DirectX: 12
Rodámos o jogo num portátil HP Omen com uma NVIDIA GeForce GTX 1070 e um processador Intel(R) Core(TM) i7-6700HQ CPU @ 2.60GHz 2.59 GHz e posso dizer que tivemos alguma dificuldade em ajustar os gráficos para tirar o melhor partido do jogo. Existem muitas opções nesse sentido, sendo que o modo automático não tira o maior partido da máquina que temos e só numa configuração manual e de tentativa/erro, é que conseguimos fazer com que a imagem não fique demasiado pixelizada ou distorcida para que o Frame rate não seja comprometido. Com isso, conseguimos notar que as cutscenes é onde existe um maior detalhe gráfico, com as texturas no decorrer do jogo a parecerem algo desprovidas de vida e o mundo um pouco oco. Bem sei que a comparação com Payday 2 é fácil, mas a verdade é que Crime Boss parece ter sido feito na mesma altura, isto é, há 10 anos e levou um face-life com reflexos e efeitos de iluminação dos tempos modernos.
Crime Boss Rockay City é daqueles exemplos de que ter um elenco de luxo com Michael Madsen, Kim Basinger, Michael Rooker, Danny Trejo, Vanilla Ice e o lendário Chuck Norris, simplesmente não chega, se toda a base for de vidro. Para um FPS, a mira e o hit spot funcionam mal e, em termos de furtividade, o jogo não permite que a componente estratégica e de comunicação funcione da melhor maneira. Jogar com amigos em modo cooperativo e no modo Urban Legends acaba por ser divertido, mas é efémero.