Developer: CD Projekt Red
Plataforma: Nintendo Switch 2
Data de Lançamento: 5 de junho de 2025

O lançamento da Nintendo Switch 2 foi um sucesso para a Nintendo, tanto em número de consolas vendidas como na quantidade de jogos que chegaram no próprio dia de lançamento. Muitos desses jogos tive a oportunidade de jogar logo no dia em que a consola ficou disponível, e o que vi deixou-me bastante impressionado. No entanto, faltava aquele verdadeiro teste — aquele jogo que mostrasse claramente do que a consola era mesmo capaz, sobretudo no campo dos títulos third party. Já que os exclusivos da Nintendo habitualmente estão sempre optimizados de maneira exemplar.

Dentro do catálogo third party que acompanhou o lançamento, havia um título que saltava imediatamente à vista: Cyberpunk 2077: Ultimate Edition. O jogo da CD Projekt Red infelizmente teve uma estreia atribulada nas consolas da geração passada (Xbox One e PlayStation 4), que não ofereciam o desempenho necessário para o jogo correr de maneira exemplar. E depois de o ver a correr no PC e nas consolas de nova geração como a PlayStation 5 e a Xbox Series X|S, a ideia de ver Cyberpunk 2077 a funcionar numa portátil da Nintendo parecia, sinceramente, quase impossível.

É precisamente por isso que Cyberpunk 2077: Ultimate Edition tornou-se, para mim, no “derradeiro teste” da Nintendo Switch 2. Se este corre, qualquer outro jogo lançado até hoje consegue correr — desde que o estúdio esteja disposto a fazer o esforço necessário para isso acontecer. Este é a tal cereja no topo do bolo, um marco técnico que coroa uma consola que tem, até agora, surpreendido tudo e todos.

Bem sei que o primeiro impacto do jogo passa pelo seu mundo futurista e pelos visuais impressionantes. Mas para quem o joga verdadeiramente, aquilo que fica entranhado — aquilo que nos liga emocionalmente ao jogo — é a sua profundidade narrativa, tanto nas personagens como na própria cidade de Night City.

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A história é centrada em V, uma figura moldada pelo seu passado, onde podemos escolher entre três origens: Nómada, Marginal ou Corporativo. Embora estas opções sirvam sobretudo para dar contexto e personalidade à personagem, não afectam atributos nem opções de combate — são escolhas puramente narrativas, com impacto nos diálogos, nas interacções e nas oportunidades de interpretação ao longo do jogo.

Se optarmos pelo Nómada, o nosso passado é o de alguém que cresceu nas estradas, afastado da cidade, um espírito livre que abomina aquilo em que o mundo se tornou e a que chamamos de modernidade. Já a escolha do Marginal liga-nos directamente às ruas de Night City, a gangues, traficantes, e a uma vida onde a violência é quase uma necessidade. Por fim, o Corporativo representa a vida no topo da cadeia alimentar empresarial, onde manipulação, chantagem e ambição desmedida fazem parte do ADN.

Nenhuma destas origens representa uma vida tranquila ou um exemplo de cidadania. Todas partem de ambientes duros, o que faz de V uma figura complexa desde o início. Após essa escolha inicial, encontramos Jackie Welles, uma das personagens mais carismáticas do jogo. Jackie é mais do que um parceiro de missões — é uma âncora emocional, alguém com quem criamos uma verdadeira ligação. É com ele que conhecemos as rotinas de Night City, os trabalhos de mercenário e os primeiros conflitos morais.

É a partir de um desses trabalhos que não corre da melhor maneira que tudo muda. Somos forçados a instalar um biochip experimental no cérebro, o que dá início à verdadeira história do jogo. Esse chip não só começa a deteriorar o corpo de V, como também aloja a consciência digital de Johnny Silverhand — o famoso roqueiro interpretado por Keanu Reeves —, cuja presença constante dá origem a alguns diálogos incríveis e até a diversos conflitos durante o jogo.

Algo que é notável é a evolução da relação entre a nossa consciência e a de Johnny. Inicialmente é claro o confronto e a rejeição constante, mas à medida que vamos progredindo na história, a ligação entre ambos transforma-se numa aliança frágil, quase forçada, mas progressivamente mais complexa. A relação é tensa, contraditória, carregada de emoção, levantando até algumas questões filosóficas, como quem somos, ou se o nosso corpo será apenas um invólucro.

Night City é o grande palco do jogo, mas é até mais que isso. A cidade é quase uma personagem. Brutal, vibrante e decadente. Está cheia de vida, cheia de perigo, e cheia de história. É impossível não ver nela inspirações em Blade Runner, com um ambiente denso, intrigante; repleta de personagens memoráveis, diálogos sarcásticos, injustiças gritantes e decisões moralmente ambíguas. Cada rua parece ter uma história, e o mundo aberto ganha uma dimensão própria que se impõe até nos momentos mais calmos.

Uma das maiores qualidades de Cyberpunk 2077 é a forma como nos obriga a tomar decisões difíceis. Vamos trair um aliado? Lutar por um ideal? Ou simplesmente tentar sobreviver, custe o que custar? Tal como acontece na franquia The Witcher, as escolhas aqui têm um peso real. Os múltiplos finais dependem das decisões que tomamos ao longo da história, e não se tratam apenas de pequenas variações, são conclusões distintas, emocionalmente fortes e que reflectem muito bem as consequências das nossas escolhas.

Uma das mecânicas mais marcantes é o sistema de Braindance — uma ferramenta de investigação baseada em memórias sensoriais, que nos permite reviver momentos da vida de outras pessoas. Claramente inspirado no filme Strange Days, este sistema revela traumas, pistas e perspectivas únicas, obrigando-nos a ver o mundo pelos olhos de vítimas, criminosos ou simples civis. Não é apenas uma mecânica — é uma forma narrativa que aprofunda ainda mais a experiência.

Importa também destacar que esta versão inclui a expansão Phantom Liberty, perfeitamente integrada na narrativa principal. Aqui, V torna-se um agente involuntário ao serviço do governo, a operar em Dogtown — um bairro isolado e dominado por forças paramilitares. A introdução de Solomon Reed, interpretado por Idris Elba, traz uma história paralela centrada na espionagem, na lealdade e nas conspirações políticas. É uma narrativa com o seu próprio tom, com personagens novas, novos aliados, dilemas fortes e momentos de tensão que se ligam de forma orgânica à história original.

E se as missões principais são incríveis, as missões secundárias não ficam atrás e merecem ser destacadas. Estas não servem apenas para aumentar o tempo de jogo. São autênticas mini-narrativas, escritas com enorme qualidade, que aprofundam personagens, nos levam a conhecer novas áreas. É algo que acrescenta verdadeiramente à narrativa, e especialmente nas escolhas, visto que muitas vezes somos obrigados a tomar decisões difíceis.

Outro dos pontos fulcrais de Cyberpunk 2077 é o seu sistema de combate, que oferece uma versatilidade verdadeiramente impressionante. Podemos optar por abordagens corpo-a-corpo, com katanas, bastões ou lâminas afiadas, usar armas inteligentes com balas teleguiadas, ou adotar um estilo mais cerebral e furtivo através do netrunning — a capacidade de invadir e manipular sistemas, máquinas e até cérebros humanos à distância.

A juntar a isso, temos as modificações cibernéticas, que elevam ainda mais a personalização do combate. Desde lâminas retráteis nos braços até implantes oculares com mira térmica ou slow motion. O corpo de V é moldado por nós ao detalhe — um verdadeiro projecto biotecnológico ao serviço da nossa criatividade. Estas alterações são feitas pelos ripperdocs, cirurgiões de implantes que se encontram espalhados por Night City. Cada um tem o seu próprio catálogo de opções e melhorias.

Temos também o sistema de atributos, dividido em cinco pilares fundamentais: Corpo, Reflexos, Técnica, Inteligência e Sangue-Frio. Cada um destes atributos desbloqueia árvores de habilidades específicas, ligadas a estilos de jogo distintos. Podemos apostar em força bruta e combates intensos ou seguir um caminho mais subtil, apostando no stealth, nos hacks e nas abordagens silenciosas. As possibilidades de construção de personagens são praticamente ilimitadas. Esta liberdade total de abordagem faz com que o combate nunca se torne repetitivo, já que somos nós a definir como queremos jogar.

No aspecto da exploração, como já devem ter percebido pela forma como me referi a Night City, esta merece ser vivida até ao mais pequeno recanto. A cidade divide-se em diversos distritos, cada um com a sua identidade muito própria — desde zonas de luxo e opulência empresarial, a áreas altamente tecnologizadas, até bairros mergulhados na miséria, onde o crime e o abandono ditam as regras. É verdadeiramente uma cidade onde cada rua tem algo a dizer.

Para além das missões secundárias que já mencionei, Cyberpunk 2077 está recheado de atividades paralelas: gigs atribuídos por fixers, contratos variados, corridas de carros ilegais, ou infiltrações em esconderijos de gangues rivais. Nada disto parece artificial ou apenas “conteúdo para encher” — tudo está integrado no ecossistema da cidade, com consequências reais. Mais uma vez, as nossas decisões, mesmo nestas tarefas aparentemente menores, moldam a história da forma que a escolhemos contar.

Incrível é também a maneira como o jogo chegou à Nintendo Switch 2, já que oferece uma qualidade que poucos esperavam ver. É mesmo surpreendente como este port foi concretizado — está verdadeiramente incrível. O jogo oferece dois modos, o modo Qualidade e o modo Performance, sendo que estes podem ser escolhidos separadamente tanto no modo portátil como em dock. Caso optemos pelo modo Qualidade, o jogo corre a 30 FPS, oferecendo um visual impressionante e bastante cinematográfico. Já no modo Performance, o foco é a fluidez, fixando-se nos 40 FPS. É importante referir que isto acontece sem quebras no modo portátil, graças ao ecrã com suporte para VRR (Variable Refresh Rate), enquanto no modo dock esse benefício depende de termos uma televisão com taxa de actualização de 120 Hz/HFR (High Frame Rate).

Além disso, o jogo utiliza DLSS, uma tecnologia da Nvidia que promete ser uma presença regular na maioria dos títulos third party que chegarão à consola. Este sistema permite um equilíbrio notável entre desempenho e qualidade visual, reduzindo a carga de processamento sem comprometer a nitidez da imagem. E se já ficamos surpreendidos com o que a consola mostra na TV — com reflexos, partículas e iluminação em tempo real a correr com estabilidade —, é no modo portátil que o espanto se torna ainda maior. Ver Night City com este nível de detalhe, nas palmas das mãos, é algo que até há bem pouco tempo parecia impensável.

Poder ter Night City em qualquer lugar com uma qualidade verdadeiramente impressionante é algo que poucos acreditavam, mas que agora é bem real. Seja a caminhar pelas ruas cheias de NPCs, a entrar em bares cheios de néon ou a conduzir pelas avenidas ao entardecer, a cidade mantém-se densa, vibrante e repleta de vida. A direcção de arte ajuda bastante — cada zona tem a sua identidade visual, desde a decadência de Pacifica aos tons dourados de Corpo Plaza, passando pelas cores saturadas de Japantown. A iluminação dinâmica, os reflexos nos carros, o brilho dos painéis publicitários e a forma como a luz atravessa o fumo criam um ambiente visual que nos prende o olhar e mostram verdadeiramente as potencialidades que a consola da Nintendo consegue oferecer.

Ainda assim, não posso deixar de referir que, por vezes, pode acontecer uma ou outra quebra, essencialmente em zonas da expansão, mas que ainda assim são extremamente raras. Em todas as horas que joguei — e foram muitas — isso só me aconteceu duas ou três vezes, o que demonstra bem o quão optimizado e surpreendente este port está. Esses pequenos soluços ocorrem quando há muita densidade de elementos activos no mapa, no entanto, são momentos ligeiros, passageiros, e que não comprometem a jogabilidade.

Depois temos as novas possibilidades de jogar, que chegaram com todo o tipo de controlos que a Nintendo Switch 2 permite. Isto mostra que a CD Projekt Red não se limitou simplesmente a fazer um port funcional, mas sim a explorar verdadeiramente o hardware da consola e a integrar todas as suas capacidades. Desde logo, temos o giroscópio, que permite apontar ou fazer mira com mais precisão, ideal para quem gosta de um controlo mais directo e natural. Os controlos de movimento também estão presentes e permitem, por exemplo, recarregar a arma com um gesto ou activar itens rapidamente. Mas o grande destaque vai, como não podia deixar de ser, para o modo mouse, onde podemos usar o Joy-Con 2 como se fosse um rato, oferecendo assim ainda maior precisão na mira das armas, como a navegar por toda a interface do jogo. Falando em interfaces, também é possível usar o touch screen da consola, permitindo navegar pelos menus ou fazer escolhas com um simples toque.

Algo que também me agradou bastante foi a existência de cross-progression. Isto é, caso tenham o jogo associado à vossa conta da CD Projekt Red, podem continuar o vosso progresso noutra plataforma, seja no PC ou noutra consola. Esta funcionalidade transforma totalmente a experiência, permitindo, por exemplo, explorar Night City na Nintendo Switch 2 enquanto estão fora de casa, e depois continuar o jogo noutra plataforma.

Cyberpunk 2077: Ultimate Edition fica incrível na Nintendo Switch 2, é um port verdadeiramente notável, que prova como os estúdios podem, se quiserem, trazer experiências de alto calibre para esta consola híbrida. Como tinha dito, este era o jogo que poderia mostrar do que é realmente capaz a nova consola da Nintendo, e tanto o jogo como a consola passaram este teste com distinção. Tornou-se, sem dúvida, uma das melhores formas de usufruir de Night City, já que permite mergulhar neste mundo fascinante em qualquer lugar, sem comprometer a ambição e a qualidade da experiência original.

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Rui Gonçalves
Desde o tempo do seu Spectrum+2 128k que adora informática. Programador de profissão nunca deixou de lado os jogos, louco por RPGs e jogos de futebol. Adora filmes de acção e de ficção científica, mas depois de ver o Matrix nunca mais foi o mesmo.
analise-cyberpunk-2077-ultimate-edition-nintendo-switch-2<h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #339966;">SIM</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Um port extremamente competente</li> <li style="text-align: justify;">Chegar com a versão Ultimate onde a expansão está incluida</li> <li style="text-align: justify;">Graficamente está incrível</li> <li style="text-align: justify;">Modo mouse é uma mais valia em comparação com as outras consolas</li> <li style="text-align: justify;">Cross-progression é uma mais valia</li> </ul> <h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #ff0000;">NÃO</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Alguns jogadores irão implicar por não chegar aos 60 FPS</li> </ul>