Developer: Bend Studios
Plataforma: PS5
Data de Lançamento: 25 de Abril de 2025
Esta é a história de um jogo que levou porrada até dizer chega, que lhe foi alegadamente negada a hipótese de ter continuação em moldes muito específicos e que mesmo assim continuou a ser falado. Days Gone sofreu com os bugs de lançamento, mas foi melhorando ao ponto de na passagem da PS4 para a PS5, muitos que ainda não tinham experimentado o jogo decidiram fazê-lo e aí já era quase unânime que afinal era bom, ao contrário das primeiras impressões que ficaram.
Mais recentemente o jogo chegou também ao PC, com uma versão toda bem aprimorada e com resposta positiva por parte dos jogadores. Faltava ainda a cereja no topo do bolo para aqueles que eventualmente ainda não o tenham jogado ou mesmo para quem tenha ficado com a primeira má impressão sobre o jogo. Days Gone Remastered chega com esse propósito, mas talvez também ganhe espaço e desbrave terreno para uma sequela que já foi sonhada outrora.
Passaram seis anos desde o lançamento oficial de Days Gone. Lembro-me como se fosse hoje da primeira vez que o joguei, ainda antes do lançamento oficial, uma vez que estava a escrever a análise do jogo aqui para o Salão de Jogos. Era um dos meus jogos mais esperados daquela altura. Não por ser num ambiente novo, não por ser inovador no estilo, mas por ter as hordas com centenas de “mortos-vivos” a correr desalmadamente atrás de nós. Era essa a parte que mais me interessava e intrigava. Felizmente, esta nova versão até vem com um modo dedicado a essas hordas.
Começo já por aí, o Horde Assault agarra naquilo que Days Gone fez de melhor e transforma-o num modo de jogo à parte, onde enfrentamos hordas repletas de zombies e humanos que nos querem matar, espalhado por diversos locais bem conhecidos do mapa do jogo. O objetivo é sobreviver o máximo de tempo possível, completando vários objetivos, acumulando equipamento novo para quando morrermos termos uma pontuação alta e estarmos mais bem equipados para hordas futuras. Mesmo que não seja pelo jogo em si, acho que o custo total deste remastered, para quem já tem o jogo base, são 10 euros bem dados, porque a diversão e o desafio estão mais que garantidos só com este novo modo, já para não falar na beleza gráfica que o jogo também apresenta.
Talvez um jogador que tenha acompanhado Days Gone na PS4 e já depois na PS5 e PC não sinta uma grande mudança, mas quem jogou em 2019 e só regressa agora, vai ter uma agradável surpresa. As cores mais vivas, os pormenores da mota, a iluminação e o modo desempenho, principalmente, fazem justiça a este remastered e embora saibamos que é o mesmo jogo, a verdade é que parece outro, com outro brilho e mais preparado para concorrer com os jogos que ainda hoje são lançados.
Se nunca jogaram o original esta é a altura perfeita para o fazer. É sem dúvida a melhor versão do jogo, aproveitando todo o potencial que mostrou na altura, mas que não o conseguiu mostrar no lançamento. Para quem desconhece por completo que jogo é este, sem estragar os spoilers que já os devem ter evitado ao longo destes anos, saibam que jogamos a maior parte do tempo com Deacon que logo no início de Days Gone é forçado a separar-se da sua esposa Sarah, que é levada para ser tratada depois de ter sido atacada por Freakers, uma das espécies espalhadas por Farewell, a localidade fictícia nos Estados Unidos onde se desenrola a aventura.
Deacon fica com o seu grande amigo Boozer e após esta primeira cena do jogo, são passados dois anos e aparentemente Sarah morreu durante esse tempo e por isso resta aos motards de serviço lutar para sobreviver e ir ganhando o seu espaço neste mundo pós-apocalíptico e cheio de surpresas. Tudo isso enquanto tentam descobrir o que realmente aconteceu a Sarah e como é que podem pôr fim à maneira como vivem.
Nas novidades deste remastered posso incluir o uso do Dualsense. O comando da PS5 que parece não ser bem aproveitado na maior parte dos jogos, assume aqui um papel importante na hora de dar uma maior imersão ao cenário devastador que encontramos por Days Gone. Os gatilhos usam o já habitual noutros jogos, ficando mais pesados ou mais suaves conforme a arma que usamos, mas é no haptic feedback que ganhamos uma sensação de poder sobre a condução da mota, a grande aliada nesta aventura. Sente-se os solavancos normais de quem anda por colinas a dar saltos, percebemos que estamos em terreno lamacento e que vai ser difícil sair de lá sem esforço e ainda podemos perceber os pingos da chuva através da sonoridade do comando.
De resto, nos pontos principais o jogo mantém-se idêntico com as coisas boas e más que já tinha. Uma das boas é a relação com a mota e todas as suas mecânicas associadas. Cada um pode fazer as mudanças que necessitar ao seu veículo, desde equipar, trocar peças, fazer melhoramentos para aguentar mais dano ou andar mais rápido, mas há algo que independentemente da sua estrutura ou beleza, não se consegue mudar e ainda bem. Falo da necessidade de combustível que a mota tem de ter para poder andar. Adoro esta mecânica de garantir que a moto tenha gasolina suficiente para ir onde quero, caso contrário há o risco grande de ficar apeado e dar de caras com uma horda.
Outra das coisas boas são as missões em que recordamos os momentos com Sarah, antes do seu desaparecimento e as missões do NERO que nos levam a descobertas surpreendentes. Do lado negativo, apesar de gostar da história, continuo a achar que se alonga demais a certa altura e podia ter contado o mesmo com menos missões de história principal, nomeadamente nas primeiras horas do jogo onde as missões parecem mais repetitivas.
Olhando para trás, percebe-se que a Bend Studio tinha conseguido ter uma boa história, missões interessantes e mecânicas de jogo que ainda não tínhamos visto até então, quer no uso da mota, quer no combate às hordas, mas foi traída pelo mau desempenho do jogo, quer em glitches visuais, quer de performance. Não me esqueço que fiquei preso numa missão porque a estrada desaparecia, ou que morria por embater contra carros que nem lá estavam. Foram tempos difíceis e tumultuosos para se conseguir jogar Days Gone em condições, mas ainda assim eu já na altura consegui e aguentei-me bem, gostando do jogo.
Ora se eu já gostava, mesmo com todas as dificuldades técnicas, o tempo e a dedicação desta equipa devolveu a Days Gone o bom nome e merece que daqui a uns anos haja a tão esperada sequela. Para quem viu Sons Of Anarchy ou era fã de The Walking Dead tem aqui a junção perfeita entre mundos. Esta versão tornou-se mais acessível a jogadores com várias opções disponíveis para facilitar a visão ou a audição do que quer que seja no próprio jogo e vem também com um modo fotografia bastante interessante, que apesar de não ser dos melhores que já vi, é bem competente.
Days Gone Remastered é a melhor versão do jogo e marca o esforço e dedicação que toda a equipa teve durante estes anos para corrigir bugs e melhorar a performance. É ideal para quem nunca se aventurou pelos pântanos de Farewell e perfeitto para fazer regressar aqueles que tiveram saudades de derrotar hordas, agora com um modo de jogo próprio. É também um jogo que pode vir a abrir portas para o futuro de uma franquia que tem um enorme potencial para explorar.